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Prisioneira do Deserto. Violet Winspear. Ser sequestrada por um sheik árabe nem passou pela cabeça de Diane, ao visitar o deserto do Saara. Porém, foi o que aconteceu. Khasim ben Haran era um homem poderoso e arrogante, cujo ún



 

 


                                                 

 

 

Prisioneira do Deserto

“The Sheik’s captive”

Violet Winspear

                                    

 

Ser sequestrada por um sheik árabe nem passou pela cabeça de Diane, ao visitar o deserto do Saara. Porém, foi o que aconteceu. Khasim ben Haran era um homem poderoso e arrogante, cujo único objetivo, ao fazer dela sua prisioneira, era vingar a morte da mãe. No entanto, esse mesmo homem que a aterrorizava, com ameaças cruéis, também a fascinava. E a figura altiva e exótica não saía da mente de Diane nem por um instante...

 

                   

CAPÍTULO  I

 

Era uma região inóspita, crestada pelo sol. Uma imensidão de areia que se estendia para além do horizonte, formando dunas ondulantes que davam a im­pressão de um oceano dourado. Em alguns lugares, havia ca­minhos pedregosos e enormes formações rochosas: pedras gran­des, arredondadas e esculpidas pela erosão dos séculos. Um silêncio inquietante e ameaçador envolviam tudo, como se fosse prenúncio de algo terrível.

De repente, no céu avermelhado e abrasador, surgiu um gavião, cortando o espaço num vôo altaneiro. Voou em círculos e depois desceu, como se tivesse vislumbrado uma presa. O pássaro pousou numa rocha e fixou o olhar penetrante em algo que se movia, já quase sem forças, enterrando as unhas na areia, como se quisesse se agarrar a alguma coisa segura. Era uma jovem que, de olhos semicerrados, fitava o infindo e im­piedoso oceano de areia que parecia querer tragá-la.

O pôr-do-sol incendiava o céu e a terra. Ela fez mais um mo­vimento, e um gemido escapou de seus lábios ressequidos. Sua pele queimada ardia e incomodava, dificultando a movimentação. O rosto, o pescoço e as mãos estavam quase em carne viva, e as pálpebras estavam tão inchadas e doloridas que piscar era uma agonia. Tentou erguer a cabeça, mas sentiu uma pontada dilacerante e afundou-a de novo, escondendo o rosto nos braços.

E pensar que um enxame de gafanhotos fora à causa de tudo! Fora isso que fizera seu cavalo disparar. Os gafanhotos haviam invadido subitamente o oásis em que ela estava e, como uma nuvem negra, envolveram-na antes que ela tivesse tido tempo de controlar o cavalo e desviar a direção.

Um dos insetos entrara pela gola de sua camisa, causando-lhe certo pânico, que ela transmitira ao cavalo... Ainda era de manhã quando a nuvem de gafanhotos invadira Fetna, e agora o sol já estava se pondo... Diane percebeu que havia passado o dia todo ali, no deserto. Lembrou-se de como o cavalo a jogara para fora da sela e disparara a galope, deixando-a só e indefesa, observando-o, desesperada, até ele sumir de vista. E, ainda por cima, ela torcera o tornozelo na queda.

A dor era intensa demais para conseguir andar. Então, en­faixara o tornozelo com o lenço que usava no pescoço e pusera-se a caminhar, mancando, suportando a dor, querendo desesperadamente sair daquele inferno, até que tropeçara numa pedra escondida na areia e caíra de rosto no chão.

Agora, as lembranças do que acontecera de manhã lhe in­vadiam a mente. Estava tão animada com aquele passeio a cavalo até o oásis, onde havia as ruínas do forte de pedra! Ali, seu avô tinha passado muito tempo quando ainda era jovem. Ele havia sido designado para um posto importante, coman­dando os impetuosos spahis, homens nativos que serviam no Exército francês, os arrojados e audaciosos soldados do deserto que vestiam longas túnicas vermelhas e usavam botas de cano alto. Sob o turbante branco, os rostos morenos tinham sempre uma expressão de alerta e ameaça, como a dos gaviões.

Desde menina, Diane adorava ouvir as histórias que o avô contava sobre as legiões do deserto e sobre as batalhas que haviam sido travadas nessa área do Saara. Agora que estava mais velha, ela não pudera resistir à tentação de conhecer de perto o forte que fora cenário de tantas coisas interessantes que ouvira do avô. Pena que ele não pudesse ter viajado com ela, pois já estava idoso e adoentado para esse tipo de aventura. Passava, agora, a maior parte do tempo cuidando do jardim em casa, na Bretanha, e escrevendo suas memórias.

— Vá você e veja tudo por mim, minha filha — dissera ele a Diane. — Porém, siga meu conselho, não vá sozinha até o forte! Está me ouvindo?

Diane moveu de leve a cabeça que doía... Tudo teria sido bem diferente e nenhum acidente teria acontecido, se ela tivesse seguido o conselho do avô e não tivesse ido sozinha visitar Fetna. Mas acontece que no hotel de Dar-Arisi só havia o tipo de pessoas que Diane achava tremendamente cansativo e de­sagradável: turistas ruidosos e tagarelas, com seus livros-guias e suas máquinas fotográficas, ou então casais em lua-de-mel, desligados do mundo. Ela era de natureza um tanto tímido e preferia mesmo ficar sozinha, por isso fora até a cocheira onde alugavam cavalos, em Dar-Arisi, escolhera uma boa montaria e partira em direção a Fetna, levando um cantil com água depen­durado na sela e uma pequena arma de fogo presa à cintura.

O lugar era maravilhoso e tranqüilo e tinha, para ela, um significado especial, devido à lembrança das histórias que ou­vira desde pequena. Tudo ia muito bem, até que surgira aquele enxame de gafanhotos...

Ah... Mas como ela fora idiota de perder a cabeça só porque um dos insetos entrara pela gola de sua camisa! No entanto, ficava arrepiada só de pensar no contato daquelas perninhas na sua pele. Não pôde evitar se debater sobre a sela até conseguir se livrar do gafanhoto, o que acabara assustando o cavalo.

Isso poderia vir a lhe custar a vida! Estava ali havia horas, exposta ao sol tórrido, sedenta, queimada, correndo o risco de uma insolação. Chegara a ficar num estado sonolento de semiconsciência. Só melhorara um pouco porque a temperatura refrescara com o entardecer, o que a fez recuperar o senso de realidade.

— Nunca deixe que o nervosismo prevaleça sobre a disciplina — dizia sempre seu avô. — Quando se perde o controle, perde-se a batalha.

Perder... Era isso. Estava perdida! Diane sabia que estava a quilômetros de distância de Dar-Arisi, no meio do deserto, sem saber o caminho de volta. E, como não tinha feito amizade com ninguém no hotel, ninguém se preocuparia com sua au­sência. Sua única esperança era que o dono do cavalo que ela alugara fosse até o hotel falar com o gerente para reclamar a devolução do animal. Com isso, poderia despertar algum inte­resse quanto ao seu paradeiro.

Diane esforçava-se para lembrar se havia ou não comentado que iria visitar o forte de Fetna, lá onde alugara a montaria. Era pouco provável. Lembrava-se de ter pedido um cavalo vi­goroso e bom de galope, porque ela sabia montar muito bem. Só que não contava com aquela maldita nuvem de gafanhotos.

E, agora, o que faria? Tendo sido criada pelo avô francês, com quem morava havia nove anos, ela, em geral, tinha reações tipicamente gaulesas, possuía nervos resistentes e controlava bem as situações. Só que, naquele momento, estava se sentindo exausta e muito amedrontada. Sabia que o Saara era imenso e que não havia ninguém por ali, a não ser alguns nômades. E esses eram homens rudes, sem leis, que comerciavam entre um povoado e outro por onde passavam. Para eles, uma mulher branca seria considerada apenas uma presa fácil, que poderia ser vendida no mercado ou servir de escrava para eles em Timbuctoo. O avô conhecia bem o deserto e ensinara a ela os múltiplos perigos que ali se escondiam. Ela havia prometido ser ajuizada e não fazer nada arriscado, mas o ar do deserto a inebriara, como um vinho forte e saboroso, levando-a a co­meter a insensatez de ir sozinha a Fetna.

Porém, fora porque não arranjara nenhum amigo no hotel e queria tanto ver as ruínas do forte e poder imaginar como ele tinha sido no tempo do coronel Philippe Gérard Ronay! No dia em que o coronel reunira, com toque de corneta, os spahis, e saíram todos a cavalo, galopando, para enfrentar os árabes que queriam expulsar os franceses do deserto. Do ponto de vista dela, a colonização francesa fizera muito por essa terra indômita, contribuindo para o progresso e a civilização. Opinião essa que naturalmente não era a mesma dos nativos. Por isso, o Exército estava lá, naquele forte, para proteger os coloniza-dores franceses do ataque dos árabes que eram ferozes e im­piedosos na sua luta pela independência, na ânsia de se livrar do domínio francês.

Diane sabia que o avô apenas cumprira seu dever. Afinal, também obedecia às ordens de seus superiores.

Ah, se ela tivesse obedecido às ordens do avô! Agora, era tarde demais para se arrepender. Num esforço supremo, tentou se sentar, lutando contra a forte dor em suas têmporas. A areia que o vento levantava fustigava sua pele. Sem querer, um grito lhe escapou da garganta. O gavião emitiu um som estridente, depois abriu as asas como se fosse atacá-la. Diane apavorou-se e agitou os braços diante do rosto descontrolada-mente, numa tentativa de se defender, mas logo percebeu que a ave não olhava mais para ela e que movia a cabeça como se estivesse atenta a algum outro ruído.

Diane fitava o animal, com um aperto no coração, esforçan­do-se para não perder a consciência. Então, viu o gavião le­vantar vôo e instintivamente se encolheu. De repente, ouviu com clareza um assobio, longo, quase melódico, que se repetiu por três vezes seguidas, e percebeu que o som agudo era para chamar a ave. Devia ser o dono dela de algum lugar daquele imenso deserto. O coração de Diane quase parou. Não sabia se ficava alegre ou triste por saber que havia um outro ser humano por perto. Os árabes nômades eram quem costumavam criar gaviões, que sempre os acompanhavam em suas andanças, portanto era bem mais provável que essa pessoa que se apro­ximava fosse um homem do deserto, e não alguém da cidade.

Diane deixou-se cair de novo sobre a areia, desanimada, com uma sensação de fatalidade, e ficou lá, imóvel e sem forças para gritar por socorro, esperando apenas ser descoberta.

De novo, ela ouviu o assobio, e, dessa vez, o gavião, que sobrevoava sua cabeça, respondeu. Logo em seguida, vários cavaleiros apareceram. Meio nebulosamente, ela viu a silhueta de homens de túnica, montando belos e elegantes cavalos.

À medida que eles se aproximavam, Diane percebeu que um dos homens vinha à frente do grupo, com a túnica esvoaçando e cobrindo as ancas de sua montaria. Quando chegou perto dela, ele se virou e gritou algo para os outros que o seguiam, e o som gutural daquela frase em árabe encheu Diane de pavor. Ela estremeceu e ficou observando de olhos arregalados enquanto o gavião pousava no ombro esquerdo do dono e este se aproximava devagar, até que fez o cavalo parar a poucos passos dela.

Por alguns instantes, ele ficou ali, olhando-a com uma ex­pressão indecisa, como se não conseguisse descobrir se ela era uma garota ou um rapaz. Realmente era fácil confundi-la na­quela penumbra do entardecer. Ela cortara os cabelos antes de fazer essa viagem e estava vestindo calça comprida e camisa branca. O árabe desmontou, colocou o gavião sobre a sela e pegou o cantil que estava amarrado ali.

Diane ficou paralisado, olhando as botas dele bem perto de seu rosto. A garganta estava seca, e o coração, cheio de medo, batia descompassado.

— Roumia! — exclamou ele e se agachou ao lado dela enquanto abria o cantil. — Ora, mas é claro, sem dúvida! — acrescentou ele em francês, olhando o corpo feminino da cabeça aos pés, detendo-se nos seios que arfavam no ritmo da respiração nervosa dela. — Com licença disse ele, colocando a mão sob a cabeça de Diane e erguendo-a um pouco. Depois, aproximou o cantil dos lábios ressequidos para que ela tomasse a água.

Diane engoliu o liquido e, após o primeiro gole, descobriu que era uma limonada fresquinha e deliciosa. Ele deixou que ela bebesse mais um pouco e depois afastou o cantil, fitando-a com um olhar penetrante.

— Agora, chega! Daqui a pouco, você bebe mais. Mas como você foi ficar desse jeito?! Onde estão seus companheiros?

Após ter feito o comentário em francês, ele passou a se dirigir a Diane num inglês com sotaque carregado, como se algo na aparência dela o tivesse feito pensar que era daquela nacionalidade. E, na verdade, ela era em parte. Sua mãe era inglesa, e fora dela que Diane herdara os cabelos loiros, cor de ouro, e os olhos azuis.

— Estou sozinha — respondeu ela, sem se dar conta de que poderia ser perigoso confessar isso a um estranho. No entanto, estava fraca demais para raciocinar com sensatez. — Meu ca­valo disparou... Jogou-me fora da sela há algumas horas e... Quando caí, torci o tornozelo... Posso tomar mais limonada, por favor? Minha garganta está tão seca...

— Não é para menos, depois de passar tantas horas expostas ao sol! — Ele colocou novamente o cantil nos lábios dela, e Diane bebeu com avidez, fitando o rosto dele.

Seus olhos eram a coisa mais impressionante que ela já vira. Pareciam duas brasas ardentes, capazes de esconder mis­térios insondáveis. O rosto era altivo como o de um falcão, e havia uma cicatriz profunda numa das faces. Diane percebeu que a túnica dele era azul e o pano que lhe cobria a cabeça estava preso por duas cordas, o que era um símbolo de auto­ridade. Mas bastaria a expressão em seu rosto para que se soubesse que se tratava de um líder.

Com um suspiro, ela afastou o cantil. Conseguira aliviar a sede, porém sua pele ainda ardia, como se tivesse sido queimada com fogo. O sol atravessara até o tecido da roupa que usava, e o corpo todo estava sensível e incomodando muito. Além disso, o tornozelo distendido doía ao menor movimento.

— Muito obrigado. Puxa... Como eu estava com sede! Onde estou? Será que Dar-Arisi fica muito longe daqui?

— Ah, então é lá que você está? No Jardim dos Prazeres, é? — perguntou ele, sarcástico. — Sua família e seus amigos devem estar preocupados com sua ausência.

— Não estou com minha família... — Diane se interrompeu bruscamente e mordeu o lábio. Esse homem era um árabe! Que tolice contar a ele que estava sozinha, sem parentes e amigos que pudessem se preocupar com ela! Recobrou a sensatez e pro­curou consertar o que dissera. — Mas meus amigos já devem estar aflitos com minha demora... Será que você poderia me levar de volta ao hotel? Eu lhe ficaria imensamente grata...

— Não sou guia turístico nem carregador, minha cara — ele falou, com arrogância, olhando-a da cabeça aos pés. — Que belos amigos você tem, não é ?! Como a deixaram se aventurar a cavalgar sozinha pelo deserto? E você deve ser ótima amazona para ter levado um tombo desses! — exclamou, com ironia. — Olhe só para essas queimaduras! Vai ver como estará se sen­tindo amanhã... Vamos, é melhor passar a noite no meu douar.

Douar? — repetiu ela, tão assustada que a voz mal saiu.

— Sim. No meu acampamento. — A voz dele era sonora, com um certo tom sensual. — Já anoiteceu, e eu não pretendo deixá-la aqui, servindo de alvo para os selvagens que caçam no escuro! Qual é o problema, menina? Não gostou de ter sido convidada para ficar em minha tenda? Será que acha isso mais perigoso do que ficar aqui no deserto sozinha, enfrentando a noite?

— E que... Nem conheço você — respondeu, nervosa. — Você obviamente conhece Dar-Arisi, e não acho que seria tanto trans­torno assim se me levasse até lá:

— Meus homens e eu estivemos caçando o dia todo! Estamos cansados e famintos, e, além disso, inglesinha, não recebo ordens de uma simples garota. Você vai fazer exatamente o que eu disse!

— Não sou um de seus lacaios para que fale comigo desse jeito! — exclamou, indignada. — Quem pensa que é?

— Sou o cádi de Beni-Haran. — Ele fez um gesto altivo. — Sou o sheik Khasim ben Haran, e você está em meu território, o deserto de Shemara. Assim sendo, será uma hóspede em Beni-Haran, e não uma apetitosa fêmea que vai servir de sobremesa no meu jantar. Sem dúvida, deve ter a cabeça cheia de histórias terríveis sobre bárbaros beduínos, que acham as mulheres brancas irresistíveis! Mas, no estado em que você se encontra, assim queimada e com os cabelos cheios de areia, acho que não está nem um pouco irresistível. Portanto, inglesinha, se está preocupada com sua castidade, pode tirar essa idéia da cabeça. E absurda!

— Obrigada!

Como neta de um ilustre oficial francês, Diane não conhecera homens rudes, entretanto agora sabia que estava diante de um homem para o qual as mulheres eram apenas objetos de prazer ou escravas. Um cádi é um chefe do deserto que tem muita autoridade e é respeitado, mas Diane sabia que os árabes não tinham consideração alguma pelas mulheres.

— Bem, vamos! Coloque os braços em torno do meu pescoço, inglesinha, assim não vai sentir muita dor quando eu a erguer.

Não havia nada a fazer senão obedecer. Diane não conseguiu reprimir um gemido de dor ao levantar os braços para fazer o que ele mandara.

— Quando chegarmos ao douar, minhas criadas tratarão de suas queimaduras — disse ele, e ergueu-a sem o menor esforço.

O sheik carregou Diane até seu cavalo e colocou-a na sela, depois montou na garupa e envolveu-a com um pedaço de sua túnica, pois a noite se tornara repentinamente fria, e Diane estava tremendo. Ela se comportara de forma submissa, acei­tando tudo o que ele fazia sem contestar. Estava exausta. Afi­nal, a verdade era que estava nas mãos desse homem e era melhor concordar com e\e. Não tinha ânimo para discutir ou persuadi-lo a levá-la até o hotel em Dar-Arisi. Sem dúvida, ele não era do tipo que se deixava convencer e mudava de idéia com facilidade. Sua decisão era lei.

Ela o ouviu falar em árabe com os outros homens, e a única palavra que pôde entender foi roumia, que significava mulher estrangeira. Com toda a certeza, ele lhes contava o que acon­tecera a ela. Em seguida, o cavalo começou a galopar ao longo da enorme extensão de areia, e o sheik segurou Diane com firmeza, encostando o corpo dela no seu. Ela estava tão cansada e atordoada que apoiou a cabeça no ombro dele involuntaria­mente. Um cheiro de arreios de couro invadiu suas narinas, misturado a um aroma de fumo forte e ao cheiro da pele dele. Eram aromas bem masculinos que fizeram com que ela se lembrasse do avô e não se sentisse tão assustada quanto antes.

Amparada por aquele peito forte e musculoso, ela chegou a adormecer, repetindo para si mesma que não estava sendo raptada, embora estivesse sendo levada para o acampamento de um árabe no meio do deserto. O cádi, sem dúvida, apenas lhe daria de comer, iria deixá-la descansar e, na manhã se­guinte, providenciaria para que fosse levada de volta ao hotel. Seria apenas uma aventura inconseqüente, mas Diane não contaria nada ao avô. Ele não acharia graça alguma em saber que ela caíra nas mãos de um árabe. Para o avô, homens como esse sempre seriam inimigos. Ele admirava a coragem e a valentia deles, porém nunca deixara de erguer o sabre para algum deles em defesa dos colonizadores franceses e de suas famílias. Diane sabia muito bem que o avô sempre seguira a lei do deserto: olho por olho, dente por dente.

O movimento do cavalo parecia niná-la, e o ranger do ar­reios embalavam seu sono numa estranha canção. Assim que o animal parou, ela abriu os olhos e viu que haviam chegado ao acampamento. Lá estavam as tendas do douar.

Com um movimento rápido e preciso, o sheik desmontou e estendeu os braços para pegar Diane.

— Não se mexa -— murmurou ele enquanto a tirava da sela.

Ele sabia que as queimaduras doíam muito e que qualquer movimento seria um sacrifício quase insuportável. Por isso, ela obedeceu e ficou imóvel em seus braços, enquanto ele a conduzia para uma tenda grande, onde um criado de túnica e turbante brancos esperava na entrada. Os dois trocaram pa­lavras em árabe, e Diane, apesar do cansaço, não pôde deixar de notar a entonação de autoridade que havia na voz do sheik, quando ele falava em sua língua nativa. Já quando falava em francês, a voz era quente e macia. Sem querer, passou pela mente dela a idéia maluca de que ele provavelmente falava francês quando fazia amor com uma mulher.

Depois, Diane começou a examinar detalhadamente a enor­me tenda em que estava. As paredes eram de tecido azul do mesmo tom da túnica do sheik. O tecido das cortinas era lin­díssimo, com estampas e tons maravilhosos, e sem dúvida tinha vindo de Shiraz. O chão era coberto por tapetes espessos e muito bonitos. Havia uma espécie de divã largo, cheio de al­mofadas, ao lado do qual ficava uma mesinha baixa de madeira entalhada. Ali também havia uma caixa de madeira trabalha­da um isqueiro e um cinzeiro. Diane imaginou-o reclinado no divã, fumando, e uma garota ajoelhada no tapete ao lado dele, com roupas transparentes, olhando-o, apaixonada.

No entanto, logo afastou a imagem, assustada, pois não era próprio dela ter idéias românticas e fantasiosas sobre a vida no deserto. O avô sempre lhe dissera que os árabes gostavam muito mais de seus cavalos, da caça, da luta e dos gaviões do que de suas mulheres. E Diane lembrou-se do gavião que acom­panhava o sheik.

O criado saiu, fechando a cortina que vedava a entrada da tenda, e o sheik colocou Diane no chão com cuidado. Assim que o pé esquerdo dela tocou o solo, ela fez uma careta de dor.

— Razouk foi buscar uma criada para vir cuidar de você — disse o cádi, fitando-a da cabeça aos pés com seus olhos escuros e profundos, como se quisesse examiná-la melhor à luz do lampião que iluminava a tenda.

Diane olhou para ele, ciente de que devia estar causando uma péssima impressão. Sentia que estava horrorosa com a pele vermelha, queimada demais, e os cabelos finos empastados de suor e areia. Em contraste, o sheik parecia muito senhor de si, envolto na túnica leve e esvoaçante que realçava o corpo esguio e altivo. Possuía uma grandiosidade meio selvagem e indômita... E a cicatriz no rosto podia ser sinal de uma luta corajosa contra algum inimigo de outra tribo!

Ele a observava com uma expressão sarcástica, arqueando levemente as sobrancelhas, como se adivinhasse os pensamen­tos dela. Seus olhos pareceram a Diane duas brasas incandes­centes, onde a crueldade e a paixão se fundiam. Ela não co­nhecia muito bem os homens, mas intuiu que esse era do tipo que podia fazer uma mulher conhecer o céu e o inferno.

Os dois se olhavam em silêncio, e Diane sentiu uma força poderosa tomar conta do ambiente... Como se estivesse por vir uma tempestade. Seu coração começou a bater mais forte, e todos os seus nervos vibraram. A presença dele era perturba­dora, embora não entendesse bem por quê. Ergueu a mão e começou a mexer, nervosa, no medalhão de ouro que usava pendurado ao pescoço. Tanto mexeu que a corrente acabou arrebentando, e o medalhão caiu no chão.

Imediatamente, o sheik o pegou e, com curiosidade, abriu-o para ver o que tinha dentro. Ficou olhando fixamente para a foto que havia ali, de um oficial francês em uniforme de gala, e Diane percebeu que a fotografia lhe causara um certo impacto.

— Quem é este homem? — perguntou ele, franzindo o cenho e fitando-a com um brilho estranho no olhar que a fez estremecer.

O cádi de Beni-Haran estava pálido.

__Meu avô... — As palavras saíram com dificuldade, a voz parecia estar presa na garganta.

— Coronel Philippe Gérard Ronay? — A voz dele era como um açoite.

— Sim... ele é meu avô — repetiu ela, sentindo que havia um certo perigo no ar.

— Seu sobrenome é Ronay, então?

— Sim. Eu me chamo Diane Claire Ronay — respondeu ela, vendo-o cerrar os punhos, apertando o medalhão como se quisesse esmagá-lo, e depois a fitar com um olhar assustador. — Será que pode me devolver a medalha? Você vai estragá-la...

— Eu gostaria de apertar assim o pescoço desse homem que está na fotografia! — ele exclamou e, num acesso de fúria, jogou a jóia aos pés de Diane. — Esse homem foi um inimigo cruel de meu povo! Ele o destruía sem piedade... minha mãe foi uma das vítimas dele!

Diane ficou horrorizada com essas palavras. Seus olhos se arregalaram ainda mais.

— Vovô era um oficial... não acredito que ele tenha matado uma mulher indefesa alguma vez!

— Ouça, inglesinha, não pense que vou permitir que me chame de mentiroso.

Com um passo, ele eliminou a distância que os separava e agarrou Diane pelos ombros, com crueldade. Seus dedos aperta­vam a pele delicada dela. Diane gemeu de dor e fitou, assustada, os olhos dele, que refletiam ódio e hostilidade. Os músculos da face do sheik estavam contraídos, como se ele estivesse se esfor­çando para conter a violência. Ela estava apavorada, nunca vira uma expressão tão assustadora no rosto de um homem. Não pôde conter um soluço e ergueu as mãos como se quisesse se proteger. Ao ver esse gesto, ele estreitou os lábios e largou-a com tanta brutalidade que ela perdeu o equilíbrio e caiu.

— Foi exatamente isso que minha mãe fez. Ergueu as mãos numa patética esperança de se proteger — ele falou, ríspido.

Diane estremeceu. Como poderia acreditar que o avô que tanto amava fizera uma coisa dessas? Aquele homem encur­vado, que cuidava com carinho das flores de seu jardim na Bretanha? Não era possível!

— Acho que está enganado — disse ela, com veemência. — Vovô não seria capaz de fazer uma coisa dessas...

— Não, não estou enganado. Jamais esquecerei aquele ho­mem maldito! Foi ele quem deu a ordem para os spahis atacarem o acampamento, e eu vi minha mãe ser golpeada por um sabre. Corri para ela e também fui golpeado no rosto pelo mesmo sabre onde ainda corria o sangue dela!

Diane mordeu o lábio, pois sabia que o avô lutara implacavelmente contra os árabes, principalmente em certa ocasião em que uma família inteira de colonizadores franceses fora massacrada. Ele mesmo contara isso.

— Seu povo trata os franceses com a mesma crueldade — replicou ela, na defensiva.

— Meu povo é o de Beni-Haran, e ninguém aqui comete cruel­dade sem motivo — ele falou entre os dentes. — Jurei vingar-me do coronel Ronay! Jurei desforrar-me... Ele ainda está vivo?

— Sim, mas não está na ativa há muito tempo. Ele agora é um militar reformado. — Diane olhava fixamente para o rosto insensível do sheik. Estava nervosa. — Você... não está pensando em fazer mal a um velho, não é?

—A um velho, não!—ele exclamou, com desprezo, observando-a de um modo estranho. — Se é que Ronay é capaz de gostar de alguém, acho que ele gosta de você, não é? Ele está em Dar-Arisi?

— Não... — Diane respirou fundo, sentido o coração palpitar.

— Ele está muito longe da África, muito longe de você!

— Sim, mas sua neta está aqui! — Bruscamente, o sheik aproximou-se de Diane e ergueu-a do chão, depois a segurou pelo queixo, imobilizando o rosto dela bem perto do seu. — Aposto como você ouvia as histórias que ele contava sobre o deserto e agora quis verificar pessoalmente se o lugar era tão fascinante quanto ele descrevia, não é isso? Humm... espero que, depois que tiver tomado banho e que essas queimaduras melhorarem, fique um pouco mais apresentável, porque agora está parecendo um camarão frito! Sei que os franceses tomam conta das mulheres jovens tanto quanto nós, portanto creio que ainda é inocente e casta e não conhece homens. Estou certo?

Apesar de estar cansada e dolorida, Diane sentiu um impulso de se mostrar forte e de não deixar que esse árabe percebesse o pavor que suas palavras despertaram nela. Ficou arrepiada só de pensar que ele pudesse tocá-la. Nunca sentira tanto medo quanto naquele instante, nem mesmo quando estava perdida no deserto, achando que morreria de insolação,

— Vim a Dar-Arisi com uma dama de companhia — mentiu ela. — A essa hora, já devem ter formado uma expedição de busca para me procurar, portanto acredito que seria melhor para você se mandasse alguém me levar de volta ao hotel, antes que a expedição me encontre aqui...

— Se estivesse mesmo com uma dama de companhia, ela não a teria deixado sair a cavalo sozinha pelo deserto! Pensa que pode me enganar? Não é à toa que sou líder de uma tribo. Conheço bem as pessoas e sei que você está morrendo de medo. Não há amigo algum procurando por você, ninguém vai des­cobrir onde está. Depois de dois dias, se não voltar a Dar-Arisi, vão imaginar que você morreu de insolação no deserto. Sem dúvida, a polícia mandará uma pequena expedição para pro­curar seus restos mortais, e, como não encontrarão nada, vão concluir que algum animal arrastou sua carcaça para algum esconderijo. Isso é muito comum, sabia?

Diane estremeceu de novo e sentiu as pernas moles. Teve vontade de se atirar no divã e chorar para desabafar seu de­sespero. Mas isso daria prazer a ele. Era justamente o que queria: aterrorizá-la! Por isso, ela se conteve.

— Você não conhece meu avô — disse desafiadoramente.

— Ele não vai desistir enquanto não me encontrar. Ele conhece bem o deserto e o tipo de homens que vive nele.

— Então, minha cara, se seu avô conhece o deserto e o tipo de homem que sou, quando a encontrar, ele saberá que já não será a jovem casta e inocente que chegou aqui, iludida pelas his­tórias românticas de um certo coronel que comandava os spaJiis.

Diane estava tão atordoada e confusa que levou alguns ins­tantes para compreender o que ele dissera. Quando afinal en­tendeu, olhou, desesperada, para a abertura da tenda e saiu correndo, esquecendo o machucado do tornozelo. Porém, a dor foi forte demais, e ela perdeu o equilíbrio. Entretanto, antes que caísse, os braços fortes do sheik a ampararam. Então, ele a pegou no colo e a conduziu até o divã.

— Foi o destino que a colocou, indefesa, nas minhas mãos!

— zombou ele. — Você sabe que nós, árabes, acreditamos em destino, não é? Há muito tempo que venho esperando e dese­jando uma oportunidade para punir o coronel Philippe Ronay. Eu não poderia ir atrás dele com um revólver, porque não posso abandonar Beni-Haran, mas agora, graças ao destino, posso feri-lo mais do que se atirasse nele. Uma bala na cabeça seria uma morte muito rápida, no entanto ele sofrerá tormentos do inferno quando souber que a neta tão amada caiu nas mãos de um árabe, um dos inimigos dos velhos tempos. Não direi meu nome, é claro, mas ele sabe que deixou vários inimigos aqui no deserto. Sinceramente, estou admirado por ele a ter deixado fazer essa viagem! Por acaso ficou maluco ou esclerosado, depois que passou para a reserva?

O insulto final foi demais. Instintivamente, Diane ergueu a mão para esbofeteá-lo, mas Khasim foi mais rápido e segurou o pulso dela, antes que a mão atingisse seu rosto.

— Ah, então gosta de combate, hein? — Ele sorriu, e os dentes alvos e perfeitos contrastaram com a pele morena. — Bem... real­mente estou cansado de pessoas dóceis e submissas, mas agora você não está em condições para o tipo de combate que tenho em mente.

Diane olhou para ele de olhos arregalados e retraiu-se, as­sustada. Desde os onze anos, ela vivia com o avô, protegida e tranqüila. Ele a tirara do colégio interno depois que os pais dela morreram numa avalanche na Suíça e a educara com a ajuda de uma governanta francesa. Diane não tinha muito contato com rapazes. Talvez o avô temesse que ela resolvesse se casar cedo demais ou fizesse alguma tolice. O coronel nunca perdoara o filho Raoul, pai de Diane, por ter se casado, ainda estudante, com uma corista inglesa. Diane crescera cada vez mais parecida com a mãe: os cabelos loiros e sedosos, o corpo bem-feito, as pernas compridas e elegantes...

O avô a tutelava com zelo e dedicação, mas sem severidade. Ela o respeitava e admirava muito. Quando ela pediu para fazer essa viagem ao Norte da África, ele até gostou de saber que a neta queria conhecer de perto os lugares por onde ele havia passado durante tantos anos, como oficial de cavalaria.

— O deserto é misterioso e belo — dissera o avô —, porém não se fie nele! Se me prometer que tomará cuidado e que não cometerá imprudências, eu a deixarei ir sozinha. Acho que será uma experiência interessante para você! Não há no mundo coisa igual ao pôr-do-sol no deserto!

Só que ela quebrara a promessa. O avô confiara nela, e Diane o traíra! Se tivesse lhe obedecido, não estaria ali, agora, naquele acampamento árabe, nas mãos daquele homem, e sim no hotel, preparando-se para jantar com os outros hóspedes. Ah, como toda aquela gente que ela achara chata e cansativa lhe parecia ma­ravilhosa nesse momento! Daria tudo para estar com eles.

No entanto, lá estava ela agora, sem saber o que fazer para sair daquela situação. Contudo, talvez devido a sua indolência, ela abrigava, no fundo do coração, a esperança de que Khasim ben Haran estivesse só querendo a assustar para se divertir um pouco. Afinal, ele era um homem de responsabilidade, um líder tribal, e não poderia estar realmente com intenções de fazer o que estava lhe dizendo!

— Acho que está querendo apenas me amedrontar — Diane falou, olhando-o com audácia.

Ele se ergueu e encarou-a em silêncio, com as feições severas, como que talhadas em pedra, e o perfil orgulhoso, dominador e impiedoso, como o de um gavião.

— Há um antigo provérbio árabe que diz que quando alguém salva a vida de outra pessoa torna-se dono dessa vida — ele disse por fim. — Parece uma ironia do destino que a vida que salvei pertença a uma jovem parente direta do homem que mais odeio. Quando saí para caçar, hoje cedo, nem sonhava que encontraria uma garota assustada e perdida, que tem a infelicidade de ter o mesmo sangue que o de meu maior inimigo! Se algum outro árabe descobrisse isso, poderia tê-la matado! Mas sou um pouco mais civilizado e sei apreciar a beleza dos olhos cor de safira... Você vai ficar aqui, na minha tenda, e, depois que estiver melhor das queimaduras e com uma apa­rência mais agradável, vou descobrir como ficam seus olhos quando é beijada e se seus lábios são macios como imagino.

Ao ouvir aquelas palavras, Diane ficou realmente amedron­tada. Olhou ao redor, desesperada, examinando a tenda, mas sabia que não havia como escapar. Ainda mais com o tornozelo daquele jeito! Ela mal podia andar, quanto mais correr! E esse árabe era forte e ágil como um leopardo, poderia dominá-la com facilidade e fazer dela o que quisesse.

Começou a tremer e sentiu-se enfraquecer. O avô sempre estava por perto para socorrê-la e ampará-la quando precisava, porém, dessa vez, ela estava completamente sozinha e enfren­tando a pior situação de sua vida.

O sheik a fitava em silêncio, como se imaginasse como ela era sem as queimaduras... Dirigia-lhe um olhar perturbador que a incomodava. Subitamente, ele sorriu.

— Será que entendeu o que estou pretendendo fazer com você? Ou quer que eu lhe explique mais detalhadamente? — ele indagou, com malícia.

— Não precisa me dizer o que acontece com uma mulher que cai nas suas garras — Diane respondeu, furiosa. — Basta olhar para você para saber como trata as mulheres... Mesmo que meu sobrenome não fosse Ronay, duvido que escapasse ilesa de suas mãos!

— Minhas mãos de árabe? — perguntou, mostrando as mãos morenas, magras e de dedos longos. — Se sabia tão bem o que os árabes fazem quando encontram uma mulher branca, então o que estava fazendo sozinha no deserto? Quem sabe estava pro­curando uma aventura amorosa com um de nós? Será que não pretendia encontrar algum selvagem de pele morena que a jogasse na areia e a tratasse com menos delicadeza do que os franceses?

— Você está maluco? Como ousa dizer uma coisa dessas? Eu devia era ter tido mais juízo, isso sim!

— É verdade, não teve um pingo de juízo saindo sozinha do hotel.

— Sei que não — concordou ela. — Devia ter me lembrado de que o deserto está cheio de chacais.

— As mulheres sempre sentem necessidade de insultar quando estão com medo.

— Não estou me curvando diante de você, nem me enco­lhendo de medo! — Diane exclamou, olhando-o com desprezo e esforçando-se para ficar de pé, sem demonstrar o tremor.

Ela nunca havia visto um homem assim, tão másculo e in­dómito! Esse tipo de virilidade não fazia parte da aparência dos homens das grandes cidades havia muito tempo. Ele com­binava bem com o deserto e com as roupas que usava.

— E o que a mantém assim empertigada? Força de vontade? Orgulho?

Khasim se aproximou dela, e Diane não pôde deixar de se afastar. Ao fazer isso, esbarrou o joelho no divã e perdeu o equilíbrio. Caiu e ficou encolhida enquanto o sheik se ajoelhava ao lado do divã e a olhava em silêncio, com ar sarcástico.

— Não... — murmurou ela, desviando o olhar dos lábios sensuais e perigosos.

Diane já se imaginava sendo beijada por ele.

— Não? O que devo fazer? — Seu olhar a deixava atordoada. — Você não disse que os árabes só querem as mulheres para uma coisa?! Sou um árabe, minha cara, para que gastar saliva me implorando clemência?

— Não... estou implorando nada.

— Ah, não está mesmo? Seria capaz de jurar que vi isso nos seus olhos.

— Eu não me rebaixaria a ponto de lhe suplicar algo!

— E eu não ouviria suas súplicas nem que se ajoelhasse a meus pés!

— Preferiria morrer a me ajoelhar diante de você!

— Tenho certeza de que fala sério. Mas prefiro que seja assim. Se você se rendesse facilmente, sem resistência, minha vitória não teria graça. Estragaria meu prazer.

— É assim que sente prazer? Dominando uma mulher com chicotadas?

— Não uso chicote com mulheres. Minhas armas com elas são mais sutis e eficientes.

— Seus beijos me dariam nojo, se é a isso que está se re­ferindo! — ela bradou.

— Beijos... e outras coisinhas mais — disse ele, insinuante. — Se não estivesse tão queimada e tão esgotada, eu lhe daria uma pequena demonstração agora mesmo.

— Tenho pena do povo de Beni-Haran por ter um líder tão bruto e cruel como você. Pena que aquele sabre só atingiu seu rosto, e não seu coração!

— Não diga isso! — ele exclamou, furioso, e a segurou pelos ombros, com força, sem se importar com a pele sensível e dolorida, e sacudiu-a com brutalidade. — Você é mesmo uma Ronay! Se eu fosse tão cruel como está dizendo, eu a agarraria agora mesmo e a torturaria até que gritasse por clemência. Você se sentiria como se estivesse sendo esfolada viva... É isso o que quer?

— Pouco me importa, sei que, quando tirar suas garras de cima de mim, vou querer morrer!

— Então que seja assim!

Ele a soltou e em seguida se levantou. Diane ficou enca­rando-o em silêncio. Todos os perigos e os mistérios do deserto estavam estampados naqueles olhos escuros.

Ela ficou imóvel, como que hipnotizada, observando Kha­sim... Os olhos dele a atraíam irresistivelmente, e ela se sentia semelhante a uma mariposa que procura a luz onde vai morrer queimada.

 



  

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