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CAPÍTULO  V



CAPÍTULO  V

 

A moça árabe dançava a luz bruxuleante das fogueiras do acampamento. De um cordão en­feitado de pedras, preso aos seus quadris, pendiam véus que esvoaçavam, seguindo os movimentos cadenciados que ela fazia. As costas e o ventre estavam descobertos, e a pedra presa no umbigo cintilava conforme os movimentos. Os braços estavam enfeitados com braceletes e os tornozelos com pequenos guizos que ela fazia soar, acompanhando o ritmo sensual da música. De repente, a melodia parou, e a dançarina continuou a movimentar o corpo só ao som dos tambores. Aproximou-se do tapete onde o sheik estava sentado, ao lado de Diane, e cur­vou-se diante dele, sempre movimentando os quadris e o ventre cadenciadamente. Ele se inclinou para frente e colocou uma corrente de ouro no pescoço da moça. Hiriz jogou os cabelos para trás e olhou firme para Khasim, Os olhos escuros e enor­mes pareciam suplicar algo, mas ele apenas deu uma risada lacônica e continuou a comer.

Quando Diane se deitou para dormir, ainda ouvia o ritmo compassado da música. Pensou até que nem fosse conseguir adormecer, porém não foi o que aconteceu.

Momentos mais tarde, acordou, sobressaltada, sentindo que alguém a sacudia de leve. Sentou-se, atordoada, e viu uma figura ao lado da cama.

— Sou eu... Hiriz — murmurou uma voz ao ouvido de Diane.

— Trouxe um cavalo, está aí fora, e aqui está à roupa para você usar no deserto.

— Mas ainda é noite... — Sonolenta, Diane saiu da cama.

— Onde está o sheik — perguntou, enquanto colocava a roupa.

— Está dormindo. Depressa. Não quero que ele acorde e me encontre aqui... Peguei um dos melhores cavalos dele, e está selado...

Diane não pôde deixar de imaginar Khasim dormindo na cama de Hiriz, depois de ter desfrutado o prazer da companhia da jovem.

— Não sei como lhe agradecer. Sei que está se arriscando, e eu... Sou-lhe imensamente grata.

— Se você conseguir fugir antes que ele descubra, então estarei recompensada. — Hiriz examinou a figura de Diane, vestida com roupa de homem. — Agora, sim, parece mesmo um rapaz. Espero que saiba cavalgar como um homem.

Diane a tranqüilizou quanto a isso.

— Você se lembrou do cantil com água?

— E claro. Está aqui. Agora, vamos.

Hiriz havia cortado com uma faca a parede do fundo da tenda, e, por ali, as duas passaram sorrateiramente. Diane segurou firme as rédeas do cavalo que estava amarrado lá fora e, ignorando a dor do tornozelo machucado, montou com segurança.

Hiriz desamarrou o animal e ficou parada com os cabelos negros soltos sobre os ombros. Diane não pôde deixar de admirá-la.

— Fuja depressa! Espero que não nos encontremos novamente.

— Eu também.

Diane bateu levemente com os calcanhares na barriga do cavalo e, assim que o animal reagiu a seu comando, percebeu que realmente Hiriz arranjara uma das melhores montarias do sheik. A galope, afastou-se rápido das tendas do douan A areia abafava o som das patas.

À medida que o acampamento ia ficando distante, Diane sentia aumentar a euforia, a tal ponto que nem chegava a se preocupar com o que teria de enfrentar depois que o sol nascesse, o dia ficasse abrasador e as areias se estendessem diante dela a perder de vista. Seu objetivo principal, por enquanto, era se afastar o máximo possível do sheik Khasim, pois sabia que ele iria procurá-la assim que notasse sua ausência. Não em consideração a ela, é claro, mas simplesmente para impedi-la de chegar a Dar-Arisi,

Diane não tinha a menor intenção de procurar a polícia e provocar um escândalo, no entanto o sheik poderia pensar que faria isso. Ela só queria telegrafar para o avô, dizendo que estava voltando para casa. Sentir-se segura outra vez na velha casa da Bretanha em companhia do avô era o que mais desejava.

O céu começava a mudar de cor, passando dos tons de lilás para o dourado suave. Uma brisa acariciava o rosto dela, e Diane respirou fundo, como se quisesse fazer uma reserva de ar fresco para quando o sol tornasse quase impossível respirar. Temia o amanhecer, pois sabia que então começaria a sentir sede e o cavalo ficaria mais lento. Olhou ao redor e ficou ima­ginando como alguém poderia amar o deserto. A imensidão era intimidante. Contudo, seu avô dizia amar, e o homem de quem estava fugindo falava do deserto com um amor que jamais demonstraria por nenhuma mulher...

Diane percorreu a paisagem ondulante e dourada que para ela parecia um oceano petrificado, impressionante, aterrador, algo realmente indescritível.

O cavalo continuava o galope elegante, golpeando a areia com seus cascos firmes. Passaram por um agrupamento de rochas, e ela viu de relance um gato selvagem fugindo de um gavião que se preparava para atacá-lo. De vez em quando, via a ossada de algum animal, mas nada de trilhas por onde pas­savam caravanas cruzando o deserto.

Diane sabia que elas eram assinaladas por pedras empilha­das indicando a localização de um oásis ou de uma cidadezinha. Enquanto não encontrasse uma dessas marcas, sabia o quão vulnerável estava, à mercê do deserto e do homem do qual tentava desesperadamente escapar.

Sabia que ele não pouparia esforços para encontrá-la. Kha­sim era como o deserto. A força e o perigo corriam em suas veias. Não iria deixar escapar assim a oportunidade de vin­gança que esperara por tantos anos!

Os olhos dela começaram a doer com a claridade excessiva. O sol fazia a areia brilhar, os grãos pareciam cristais cinti­lando... O calor começava a ficar insuportável. Sentindo a gar­ganta seca, procurou pelo cantil.

Tomou um gole do líquido e imediatamente cuspiu, tossin­do... O gosto era horrível! A água estava misturada com sa­bonete perfumado, para que ela não pudesse bebê-la.

Diane ficou olhando para o cantil, inconformada. Não podia acreditar que alguém pudesse ser tão cruel a ponto de fazer uma coisa dessas, ainda mais uma garota como Hiriz! Ficou chocada e depois sentiu medo. Não sabia quanto tempo levaria até achar um oásis, e a única água que possuía não servia para matar sua sede! Ela se lembrava muito bem da sensação horrível de ter sede no meio do deserto.

Uma onda de raiva a invadiu. Por que Hiriz fizera uma coisa dessas? Isso parecia vingança, mas por quê? Afinal, o sheik passara a noite com ela! Ou será que não? Será que ele não dormira na tenda de Hiriz?

Suspirando, pendurou o cantil na sela. Não poderia usar aquela água para beber, mas poderia usá-la ao menos para umedecer a peie, o que lhe proporcionaria um certo alívio. O sol já estava alto e quente, com certeza, ao meio-dia, pareceria uma labareda de fogo. Então, ela e o cavalo seriam forçados a descansar, a procurar uma sombra perto de um agrupamento de rochas. Os animais selvagens não atacavam a essa hora causticante, só quando começava a anoitecer, horário em que eles saíam para caçar. Ah, se ela tivesse a sorte de encontrar uma trilha de cara­vanas, marcada pelas patas dos camelos e pelos excrementos dos animais! Nessa região, os camelos são os "navios do de­serto", que deslizam pelo oceano de areia. São muito mais re­sistentes do que qualquer veículo motorizado. Suportam o calor muito bem e percorrem longas distâncias sem beber água, pois possuem um reservatório próprio em seu organismo. Trans­portam pessoas e mercadorias desde os tempos bíblicos.

Diane, que gostava tanto de ouvir as histórias do avô e ficava fascinada por elas, sentia agora na pele os perigos do deserto. Cavalgava, segurando as rédeas com firmeza e olhando ao redor. Acima de tudo, precisava manter o controle do cavalo e de seus próprios nervos. Não podia de modo algum se des­controlar, ficar nervosa... Pelo menos ela estava livre, não era mais prisioneira de um homem impiedoso, que pretendia co­bri-la de infâmia. Se for seu destino morrer nessa terra es­tranha, ao menos morreria com dignidade!

Só de pensar nele, sentiu horror e olhou para trás com medo de vê-lo em sua perseguição. Mas não havia nada, a não ser a infinita extensão de areia pontilhada aqui e ali por formações rochosas que pareciam gigantes. Um arrepio lhe percorreu a espinha. Era um lugar terrível para ficar sozinha. Felizmente, tinha a companhia do cavalo, afinal era um ser vivo.

Percebeu, então, que ele estava bem mais lento e que co­meçava a suar. Imediatamente, fez com que diminuísse o passo, pois sabia que, se o animal suasse demais, iria querer beber e, não encontrando o precioso líquido ali, poderia muito bem voltar em disparada para o dauar, obedecendo ao instinto de matar a sede. O avô lhe contara que os árabes treinavam seus cavalos, tal como seus gaviões, para que soubessem voltar para casa e atender aos assobios do dono.

— Calminha, meu rapaz — disse ela, inclinando-se para frente e acariciando o pescoço do animal. — Logo encontrare­mos um lugar para nos abrigarmos, ou, quem sabe, a gente tem a sorte de achar a trilha dos camelos.

Nesse momento, Diane parou, boquiaberta, e ficou olhando, incrédula, para uma pilha de pedras redondas bem diante dela. Ali estava o marco que tanto desejara encontrar! Logo ela localizou a inconfundível trilha, um caminhozinho de areia ba­tida, com sinais recentes da passagem de alguma caravana.

Não era miragem! Diane suspirou, aliviada, e murmurou uma prece de agradecimento. Talvez a trilha não conduzisse a Dar-Arisi, mas, de qualquer forma, deveria levar para fora das regiões ermas e perigosas do deserto... Para longe do pesadelo de estar perdida e sem água. Guiou o cavalo para a trilha e sorriu quando o viu farejar o ar, como se já sentisse o cheiro de um oásis ou uma cidade onde pudesse descansar e matar a sede. Diane tinha um pouco de dinheiro numa bolsinha de couro e sentia-se con­fiante. Tinha certeza de que conseguiria chegar à sua casa na Bretanha, entretanto sabia também que levava consigo lembran­ças marcantes, que não iria esquecer tão fácil.

À medida que percorria o caminho, Diane ia vendo os restos deixados pela caravana de nômades que passara por ali. Deu graças a Deus por eles terem deixado vestígios e também por não tê-los encontrado. Se ela já achava rude o sheik Khasim, imagine então como não seriam os nômades! Afinal, eram pessoas que levavam uma vida selvagem e sem lei no meio do deserto. Quantas vezes ela não ouvira histórias aterradoras sobre o tráfico de escravas brancas naquele confim de mundo! Moças que caíam nas mãos desses nômades rudes e eram vendidas nos bordéis das cidades maiores e ali afundavam na lama do vício e da degradação.

Apesar da temperatura estar altíssima, Diane sentiu outro arrepio de horror só de pensar numa coisa dessas. Pressionou o cavalo para que andasse mais depressa, assim que vislumbrou algumas palmeiras e habitações. Ali deveria haver alguma au­toridade a quem Diane pudesse recorrer, já havia até preparado uma história para contar. Diria que tinha se perdido e que alguns árabes de uma tribo muito gentil lhe haviam dado abrigo e aquele cavalo para que pudesse voltar a Dar-Arisi. Naquele momento, tudo o que precisava era de que lhe indicassem o caminho para essa cidade. Lá ela pegaria a bagagem que ficara no hotel e embarcaria de volta para a França.

As coisas que ela achara tão assustadoras havia algumas horas, agora lhe pareciam muito simples. Conseguira escapar do sheik e conseguiria voltar para a França. Não via a hora de chegar em casa.

Na imensidão do deserto, entretanto, a noção de distância ficava alterada, e, quando se avistava uma cidade que parecia próxima, demorava-se muito ainda até se chegar a ela. E foi o que aconteceu. Diane cavalgou mais de uma hora até que pudesse ver de perto a muralha que protegia as moradias.

Havia no ar um cheiro forte de eucalipto, e o lugar era cir­cundado por várias árvores, algumas com tronco largo, parecendo couro de crocodilo, e folhas grandes. Diane conduziu o cavalo por uma alameda sombreada, e foi enorme o alívio que sentiu, depois de ter passado tantas horas exposta ao sol inclemente. Respirou fundo várias vezes. O ar ali era fresco, pois a área de árvores era tão grande que chegava a formar quase um bosque, cheio de perfumes estranhos e cantos de pássaros e cigarras. Algumas árvores estavam carregadas de frutos.

— Estamos salvos! — exclamou ela, desmontando. Segurou com firmeza a rédea, fazendo com que o cavalo abaixasse a cabeça. Então, aproximou-se e afagou o focinho do animal. — Como vou fazer para devolvê-lo a seu dono ?!

Ela diria que fora o povo de Beni-Haran que lhe dera hospi­talidade e pediria que devolvessem o cavalo ao cádi. Ninguém imaginaria que ela tivera de fugir dele. Agora, tudo isso já passara! Poderia esquecer as coisas que Khasim dissera e os beijos que ele a forçara a dar. Será que poderia mesmo esquecer?

Segurando o cavalo pela rédea, Diane cruzou o portal de en­trada e viu-se numa enorme praça, onde havia várias fileiras de bancos, protegidos do sol por toldos que formavam arcos. Era meio-dia, e o local estava quase deserto. Não havia muitas pessoas por ali, a não ser algumas que cochilavam à porta de suas casas. Diane precisava encontrar alguém que a levasse até alguma autoridade. Olhou ao redor e viu um garoto maltrapilho, catando lixo ali perto, então pegou algumas moedas na bolsinha e aproximou-se dele. O rapaz ergueu a cabeça e encarou Diane assim que ouviu o ruído de passos, mas, quando viu a cor dos olhos dela, dos cabelos e da pele, imediatamente deu um passo para trás, amedrontado.

— Não tenha medo — disse Diane em francês, sabendo que muitos falavam essa língua para pedir esmolas aos turistas. — Não vou lhe fazer nada, eu lhe darei dinheiro se você me mostrar onde fica a prefeitura ou onde haja alguma autoridade com quem eu possa falar. Com esse dinheiro, poderá comprar bastante comida...

Os olhos escuros do menino brilharam ao ver as moedas, e ele estendeu a mão para pegá-las, entretanto Diane fechou a mão.

— Não. Primeiro mostre-me a casa da autoridade, depois lhe darei o dinheiro, certo?

O menino examinou-a da cabeça aos pés, como se estivesse indeciso, sem saber se ela era homem ou mulher. Diane sorriu, lembrando-se de que estava com roupas masculinas e de que devia estar mesmo com uma aparência muito estranha.

— Ouça, você vai trocar este dinheiro por esse lixo que pegou? — ela perguntou, mostrando de novo as moedas.

O menino olhou para os restos de comida que pegara do lixo e, de repente, jogou tudo fora.

— Venha — ele falou, chamando-a com um gesto.

Diane suspirou de alívio e seguiu-o, sempre segurando firme a rédea do cavalo que caminhava a seu lado. Atravessaram a praça, passaram por uma ruazinha estreita com lojas e casas velhas, até que viraram umas esquinas e entraram numa rua mais larga, com casas grandes, pintadas de branco, varandas em arco e pátios internos. Entre elas, destacava-se uma velha mesquita, circundada por palmeiras. Apesar de antiga, estava bem conser­vada. As paredes eram de pedra e as torres, verdes. As portas e as janelas eram ovais e alongadas. Vista de perto, a porta principal era toda esculpida, formando estranhos desenhos.

Continuaram a caminhar e passaram diante do mercado, onde se vendia artesanato de cobre, artefatos de couro, incenso, perfume, sedas e pedrarias. Só que aquela era a hora da sesta, e tudo estava fechado. Então, o menino parou diante de uma enorme construção, cercada por um muro alto, onde havia um portão de ferro. Parecia um palácio.

— Casa do Agha — disse ele, com um olhar de expectativa. Diane tentou abrir o portão, mas devia estar trancado, e parecia não haver ninguém por ali. Olhou para o garoto e perguntou se não havia outro meio de entrar. Ele respondeu que não e fez um gesto, indicando que ela deveria chutar o portão. Diane achou que não seria uma atitude gentil, porém parecia não haver outra maneira de atrair a atenção. Fez o que o menino disse e ime­diatamente ouviu os latidos de um cachorro.

— Obrigada — ela agradeceu, entregando as moedas ao garoto. Ele a olhou e sorriu, com candura. Em seguida, pegou o dinheiro e desapareceu correndo. E lá ficou Diane, esperando que lhe abrissem o portão.

Bruscamente, ele se abriu, e surgiram dois homens de tú­nica. Um deles segurava com firmeza a coleira de um enorme cão de guarda. Ambos olharam-na da cabeça aos pés, analisando-a, depois um dos homens olhou para o cavalo, que estava um tanto inquieto por causa do cachorro. Aproximou-se mais e examinou o cavalo de perto, em seguida disse algo em árabe para o companheiro.

— Gostaria de falar com o prefeito... O Agha — Diane falou em francês. — Preciso que ele me ajude a chegar a Dar-Arisi. Será que poderiam fazer o favor de me levar até ele para que eu explique pessoalmente?

O guarda mais alto olhou para Diane de cenho franzido, depois apontou para o cavalo e perguntou para ela como con­seguira o animal. Imediatamente, eía contou a história que inventara, disse que o cavalo era emprestado, más daí o guarda tocou no ponto fraco, perguntando por que alguém de Beni-Haran não a escoltara até Dar-Arisi. Ela estava bem longe da cidade, distanciara-se rumo ao sul.

— Quero falar com o chefe de vocês — disse ela, nervosa. — Quer fazer o favor de me levar até ele? Sou européia e quero voltar para casa.

O guarda conversou com o outro em árabe. Diane estava can­sada e com sede. O tornozelo estava doendo e ela, começando a ficar com medo. Será que a situação não piorara? Agora, estava numa cidade estranha, com um cavalo puro-sangue que sabia que nenhum árabe emprestaria a uma mulher. Será que a ajudariam?

— Acompanhe-nos, moça.

Diane hesitou por instantes, mas imediatamente um dos guar­das pegou a rédea do cavalo e não lhe restou outra alternativa senão acompanha-lo. O outro fechou o portão assim que ela entrou.

O pátio era cheio de fontes, algumas de mármore. O local parecia calmo e repousante. Havia exatamente sete fontes, e Diane começou a ficar cada vez mais desconfiada e apreensiva.

— A senhora está cansada. Deve ter cavalgado muito, não foi?

— Preciso falar com alguém que possa me ajudar. Que lugar é este? Quem manda aqui? E o Agha? Quero falar com ele.

— A senhora vai vê-lo. — Um dos guardas a segurou pelo braço e conduziu-a para dentro. — O Agha não está em casa agora, mas assim que ele chegar será avisado de sua presença aqui. Enquanto isso vou levá-la para comer e beber algo. Por aqui, faça o favor.

Apesar da desconfiança e do medo, ela o seguiu. Não havia mais nada a fazer. O outro guarda encarregou-se do cavalo. Entraram em uni saguão cheio de arcos. O chão de mosaicos estava enfeitado com tapetes lindíssimos. Havia vários divãs nos recantos e, diante deles, mesas baixas de madeira enta­lhada. O lugar era tão extravagante que Diane sentia-se como num pesadelo. Tudo era muito estranho, e ela estava mais nervosa ali, naquele ambiente desconhecido, do que no deserto. Perfumes exóticos invadiram-lhe as narinas... O árabe indi­cou-lhe um divã, dizendo-lhe para se sentar, e ela obedeceu pouco à vontade.

— A senhora será servida de água e comida — ele infor­mou, mal disfarçando a curiosidade com que olhava para os cabelos dela.

Diane fitou-o e ergueu o queixo, com ar de desafio.

— Diga-me, vou poder ver o Agha ainda hoje?

— Sabemos que ele está para chegar, mas não temos certeza se será hoje.

— Ah, meu Deus... — Ela mordeu o lábio. — Não há outra pessoa que possa me ajudar? Só quero que alguém me conduza a Dar-Arisi... Uma vez lá, pego minhas coisas no hotel e em­barco de volta para casa. Preciso embarcar o quanto antes e... Tenho certeza de que o Agha não se importará de alguém me acompanhar até Dar-Arisi!

— Ao contrário, o Agha não gostaria que a deixássemos partir, sem que ele tivesse tido a oportunidade de falar com a senhora. Além disso, há o problema do cavalo.

— Mas eu já lhe expliquei... — Diane bateu os pés com impaciência. — Eles me emprestaram o cavalo, e o animal não sofreu nada! Sou boa amazona!

— Deve ser mesmo. O animal é um garanhão puro-sangue, e poucas mulheres sabem lidar com um cavalo desses. A senhora percebeu que ele tem uma pequena marca na parte traseira?

— Deve ser a marca de Beni-Haran, não é? Eu lhe contei que eles foram muito gentis comigo.

— Continuo achando que seria muito mais gentil da parte deles terem mandado uma escolta acompanhar à senhora... O deserto é imenso, e poderia ter-se perdido. Além do mais, a marca que há no cavalo significa que ele só pode ser usado pelo líder da tribo, portanto, acho melhor que consiga explicar ao Agha como conseguiu montar esse precioso animal. Enquan­to isso, vou mandar servirem-na.

— Não roubei o cavalo — disse ela, com raiva. — Quero que ele seja devolvido a Beni-Haran.

— Pode ficar sossegada, ele será devolvido.

O guarda saiu da sala, e a cortina de miçangas fechou a entrada de novo. Diane levantou-se, como se quisesse fugir dali, mas logo desistiu da idéia, percebendo o quanto estava cansada. Precisava comer e descansar, era o mais sensato que tinha a fazer. Tomara que o dono da casa chegasse logo, assim poderia providenciar sua saída daquele país que só lhe trouxera infortúnios! Com uma careta de dor, tirou a bota e começou a massagear o tornozelo machucado.

Qual seria o castigo para quem roubava cavalos? Ela ouvira dizer que, em certos lugares do Oriente, mandava-se cortar a mão de quem roubava... Olhou para fora e, ao ver a janela gradeada, teve a sensação de estar prisioneira. Percebeu tam­bém que havia alguém de guarda na entrada, talvez para im­pedi-la de sair. Sentiu um calafrio.

Depois, sentiu-se injustiçada, e uma onda de raiva a inva­diu... Como essa gente se atrevia a aprisioná-la? Ela diria al­gumas coisinhas a esse Agha quando o encontrasse! Imagine... Ela, ladra de cavalos! E tudo por causa daquele maldito sheik Khasim... Por causa dele se metera naquela complicação toda! Ainda bem que não o veria nunca mais!

Nesse momento, uma criada surgiu, trazendo comida e café. Diane agradeceu e começou a refeição, apesar de estar ressen­tida com o guarda lá fora. Era de admirar que lhe tivessem trazido uma refeição tão deliciosa! Já que era prisioneira, de­veriam ter lhe dado só pão e água. Ela comeu tudo com apetite e tomou café, depois, sentindo-se reanimada, foi até a janela para ver a paisagem. Ficou surpresa com a beleza do jardim cheio de flores. Ah se pudesse sentar-se lá, em vez de ficar presa naquela sala sombria!

Foi até a porta e afastou a cortina. Imediatamente, o árabe que estava ali, parado, virou-se para ela. Diane pensou que fosse desmaiar ao ver aquele rosto marcado pela cicatriz.

— Você?! — O coração dela batia, descompassado, ao reconhecê-lo.

— Em pessoa! — Ele a olhou, com ironia. — Esperei até que terminasse de comer. Não queria estragar seu apetite, Diane.

— O que está fazendo aqui? Mandaram buscá-lo?.

— Minha querida, moro aqui!

— Como assim? Disseram-me que quem mora aqui é... O Aghal

— Pois é! — Ele fez uma reverência. — E você está diante dele, Diane. Será que não percebeu que o meu cavalo a trouxe a Shemara?

— Ah... Essa não! — Diane sentiu uma fraqueza nas pernas e deixou-se cair no divã.

Bem que ela desconfiara ao ver as sete fontes no pátio. Continuou a olhar, incrédula, para a figura daquele homem de quem tentara fugir.

— Se não fosse pela inteligência de Rumh, você estaria cor­rendo perigo de vida — disse ele, severo. — Mas parece que acha que sou mais perigoso do que o deserto.

— Sim, acho mesmo... — ela murmurou, sem conseguir des­viar o olhar daquele rosto moreno e autoritário. — O que vai fazer comigo agora? Punir-me, como se eu fosse um mero ladrão de cavalos?

— Até que não seria má idéia! Vai me dizer quem a ajudou a fugir do douar, ou quer que eu adivinhe?

— Vi o cavalo pastando e resolvi pegá-lo...

—- Mentirosa! — exclamou, com a voz carregada de ironia. — Os cavalos são muito valiosos e, portanto, muito bem guar­dados. Foi alguém de minha confiança que lhe deu Rumh! Sabe, você cavalga bem melhor do que eu imaginava.

— Espero que tenha examinado seu cavalo para se certificar de que não causei nenhum mal a ele.

— Sem dúvida. Você aprendeu a montar muito bem. Se tivesse feito algo errado com um garanhão puro-sangue como Rumh, ele a teria jogado para fora da sela! Fico contente em saber que não perdeu a coragem. — Ele sorriu. — Essa é uma das coisas que admiro em você, Diane. E, sem dúvida, por causa dessa admiração, Hiriz ficou enciumada e resolveu aju­dá-la a fugir. Só que você foi ingênua ao confiar nela...

— Ela me deu um cantil com água de sabão!

— Está vendo? Acho que aquela garota está precisando de uma lição. Vou dar um jeito nisso. — Ele a fitou nos olhos. — Parece que você gostou da dança de ontem à noite. Estava tão interessada que nem percebeu que, durante o espetáculo, um de meus homens veio falar comigo. Ele acabava de chegar de Dar-Arisi... Eu devia ter falado com você ontem à noite, Diane.

— Só que, ontem à noite, você estava pensando em outra coisa, não é? Mas o que tem para me dizer? E sobre meu avô?

— Por que diz isso?

— Porque estou sentindo, porque quero voltar para ele, e você precisa me deixar ir!

— Tenho de lhe dizer algo, Diane... — Ele a segurou pelo braço, com firmeza. — Fui informado de que chegou um telegrama para você no hotel, pedindo-lhe que voltasse para casa. Philippe Konay sofreu um ataque do coração e foi levado para um hospital, onde morreu antes de voltar a si. Sinto muito, mas não irá vê-lo nunca mais, Diane. Ronay descansou para sempre.

Ela ficou atordoada e, instintivamente, agarrou-se ao manto do sheik. Ele a abraçou e afagou-lhe os cabelos. Diane aceitou o afago passivamente. Estava magoada demais para ter qual­quer reação. Nem mesmo conseguia chorar... Estava chocada.

— E verdade? — murmurou ela.

— Sim, infelizmente para você.

— Ele morreu por sua causa... Você queria torturá-lo!

De repente, ela sentiu um desejo enorme de ferir o homem que a abraçava. Num impulso rápido, arrancou a faca que ele trazia presa à cinta e cravou-a no corpo dele, sentindo a lâmina afundar. Khasim praguejou baixinho, afastou-se dela e colocou a mão sobre o ferimento de onde o sangue começava a escorrer.

— Isso a faz sentir-se melhor?

— Espero que faça você se sentir pior! — Diane tremia. — Você matou vovó... Afinal, conseguiu se vingar, não é?

— Será que consegui, Diane? — O sheik pressionava o fe­rimento com o manto, e ela olhava o sangue escorrer, como se estivesse hipnotizada.

— Ah... Seu maldito! Espero que esteja doendo muito!

—- Posso lhe garantir que dói mesmo. — Ele a observou em silêncio por alguns instantes. — A notícia da morte de seu avô chegou ao hotel logo depois que você havia saído para visitar o forte. E nós dois, Diane, apenas nos encontramos muito mais tarde naquele dia. Portanto, ele morreu antes que eu pudesse me vingar dele. Morreu em paz, mas eu não quero morrer. Vamos, preciso que cuidem de meu ferimento! Não quero lhe dar o prazer de morrer na sua frente.

— Seria esperar demais! — disse ela, ríspida. — Para matar um demônio como você, é preciso muito mais que uma facada!

— Quer dizer que não está arrependida? Então, por que está tremendo? De medo do que vou fazer com você?

— Não pode fazer mais nada para me magoar. Deve estar decepcionado com a morte de meu avô, não é? Agora, ele está fora de seu alcance.

— Ele pode estar, mas você não!

— Não vai querer me manter aqui, não é? Não há mais motivo...

— Como você é inocente! — zombou ele. — Já se esqueceu do que falei? O que tem de ser, será!

— Não! Tenho de voltar para casa! — O coração dela batia, acelerado. — Vovô não tem mais ninguém no mundo a não ser eu...

— É claro. Uma neta que desapareceu no deserto. Vamos, conforme-se, minha querida.

— Não se atreva a me chamar de querida. — Ela fez menção de esbofeteá-lo, porém o sheik agarrou-lhe os pulsos com força. — Não vou admitir ser tratada desse jeito...

Nesse momento, ele chamou um de seus guardas, que ime­diatamente entrou e segurou Diane.

— Leve-a para o harém — ordenou Khasim. — Cuidado, pois ela é uma gata selvagem. Ainda precisa aprender a ser mulher. Deixe-a aos cuidados de Lalla Hathaya e diga para não deixarem nada cortante perto dela.

— Seu bruto... Selvagem! Não pode fazer isso comigo... — Mas o guarda já a levava para longe do sheik, que apenas esboçou um sorriso. — Espere só! — gritava ela. — Da próxima vez, acertarei o coração!

— Cale-se! — O guarda a sacudiu. — Nenhuma mulher pode falar com o cádi de Shemara desse jeito!

De repente, foi como se ela tomasse consciência de toda sua desgraça e desatou num choro desconsolado, soluçando como uma criança. E foi assim que transpôs a porta que vedava o harém do sheik Khasim.

Era um quarto amplo e suntuoso, iluminado a pela luz suave dos lampiões mouros. A mobília era de cedro entalhado, o chão coberto de tapetes finíssimos e o teto forrado de espelhos coloridos, que formavam diversos desenhos. Diane espreguiçou-se e abriu os olhos, ainda sentindo o langor do sono. Ela adormecera logo depois de ter tomado a bebida que haviam lhe trazido e que provavelmente continha alguma erva para acalmar seus nervos.

Ficou deitada na enorme cama quadrada, com uma estranha sensação de irrealidade. Olhava aquele ambiente e parecia estar sonhando. Os lampiões de cobre exalavam um perfume agradável. Não havia relógio no quarto, portanto Diane não sabia quanto tempo se passara desde que entrara ali, em prantos.

As lágrimas já haviam secado, mas o sentimento de desolação continuava a machucá-la. Sentia um aperto no coração e uma tristeza profunda de saber que nunca mais veria o avô. Agora, não havia mais ninguém no mundo que se preocupasse com o que pudesse lhe acontecer. Naturalmente, o desaparecimento dela já devia ter sido comunicado às autoridades de Dar-Arisi, porém, depois de algumas buscas, concluiriam que ela sucumbira à fúria sutil e misteriosa do deserto e encerrariam a questão.

O olhar de Diane vagava pelo quarto, analisando as minúcias da decoração tão diferente, até que o langor cedeu lugar à curiosidade. Sentou-se, então, na cama e percebeu que estava com uma linda camisola de seda. Os lençóis também eram finíssimos e o leito, majestoso.

O sheik ordenara que ela fosse levada para o harém, e lá estava ela, cercada de todo aquele luxo sensual! Ficou imagi­nando o que iria lhe acontecer.

Nesse momento, ouviu o ruído de uma chave girando na fechadura. A porta se abriu, e Khasim surgiu, imponente, ves­tindo uma túnica de seda branca. Ele ficou parado ali por alguns instantes, com os olhos semicerrados, um charuto preso entre os dentes, exalando fumaça languidamente.

Quando ele fechou a porta atrás de si, ela involuntariamente se retraiu, abrigando-se nos travesseiros. O olhar que o sheik lhe lançou provocou-lhe um arrepio.

— Descansou bastante? — perguntou ele. — Você dormiu um bocado, hein?

Os olhos dele brilhavam, como duas brasas numa fogueira.

— Quanto tempo dormi? — Ela puxou o lençol sobre o corpo, tentando se esconder dele.

— Desde o momento em que foi trazida para cá, e isso foi ontem à tarde.

— Quem me pôs na cama?

— Não fui eu infelizmente. — Ele sorriu, com malícia. — Eu estava aos cuidados do médico. Não vai perguntar se estou me sentindo melhor?

— Não é necessário. Estou vendo que está bem. Aliás, sua aparência nunca esteve tão saudável. Você é forte como um cavalo.

— Obrigado pelo interesse. Você também está em excelente forma. — Sorriu novamente quando viu que ela enrubescia.

— Ah... É como perseguir a caça!

— Com todas as mulheres que tem, admira-me que ainda se interesse por outra.

— Mas é claro! É como possuir um brinquedo novo.

—Não sou nenhum brinquedo, e muito menos de sua propriedade!

— Não queira se iludir, Diane. — Deu uma tragada no charuto.

— Você é tão meus quanto os animais que caço no deserto. Escolhi-a para mim, e ninguém no mundo vai conseguir impedir isso. Aqui, sou a autoridade máxima, e você não tem a quem recorrer. E, mesmo que não fosse, nesta parte do mundo, um homem faz o que quiser com a mulher que escolhe, os outros não interferem. Portanto, é melhor se resignar com sua situação, minha querida. Afinal, não é tão terrível assim! Você tem todo o luxo e o conforto, e, se comportar bem, posso permitir que saia para conhecer a cidade. Irá achá-la fascinante.

— Como uma prisão pode ser fascinante? — Ela o fitou com a angústia de quem sente sua liberdade roubada.

— Só será uma prisão, se você quiser encarar assim. Seria mais sensato considerar isso aqui seu lar, Diane.

— Meu lar fica na Bretanha! Como se atreve a me dizer que devo considerar esse harém meu lar? Quem pensa que é? Não sou oriental, não fui educada para ser o brinquedo de um homem!

-— Minha linda criança, assim quer o todo-poderoso Alá! -— 0 sheik apagou o charuto no cinzeiro. — Ele fez a mulher para agradar aos olhos, ao tato, a todos os sentidos. Por isso, fê-la com pele macia, bem-proporcionada e delicada.— Não. Ele quer que as pessoas se amem... — Então, deixe que eu te ame! — Ele se aproximou da cama lentamente, até ficar bem perto dela. — Vamos, doçura, seja meiga comigo...

Khasim puxou o lençol com que ela se cobria, e imediata­mente Diane pulou da cama e correu para o outro canto do quarto, mas estava tão agitada que não percebeu as almofadas no chão, tropeçou e caiu.

Com passos rápidos, o sheik chegou bem perto dela, antes mesmo que tivesse tido tempo de se levantar. Ajoelhou-se ao seu lado e segurou-a com as mãos fortes. Diane olhou-o ater­rorizada, quase sem fôlego. A respiração dele estava alterada, e os olhos brilhavam. Apertou-a de leve e puxou-a para junto de si, encostando o corpo tremulo dela ao seu,— Não... Não. Por favor!

— Não tenha medo, querida. — Ele a fitou, e Diane viu naqueles olhos a escuridão perigosa da noite no deserto. — Não tenho a menor intenção de machucar uma pessoa tão delicada e indefesa corno você. Vou conduzi-la com cuidado e dedicação a um mundo de prazer.

Então, Khasim se levantou, erguendo-a nos braços. Diane sentia os músculos rijos dele contra seu corpo. Ele a carregou para a cama, e ela sentia emoções tão confusas que nem tinha forças para resistir.

— Quando quero uma mulher, sei como fazê-la perder a timidez e a inibição. — O sheik sorriu, afastando uma mecha de cabelos dos olhos dela. — Ah... Você tem os olhos tão azuis e a boca tão macia...

Aproximou os lábios dos de Diane devagar, deixando-a pri­meiro sentir o hálito quente e perfumado, um misto de fumo e menta, depois sorriu mais uma vez, deixando à mostra os dentes alvos e perfeitos. Ela ficou paralisada, até que ele afinal se apossou de sua boca.

Diane estava imaginando que Khasim iria tratá-la com bru­talidade, mas, ao invés disso, ele a beijou suavemente.

Vários beijos se sucederam, prolongados e ternos, como se estivesse despertando nela sensações adormecidas. E realmente Diane se sentiu arrastar por um turbilhão de emoções desco­nhecidas. O resto do mundo foi esquecido, e a única coisa que percebia era a presença viril, viva e quente.

Ele se afastou um pouco, e ela notou que o sheik analisava seu rosto. Diane também fitou bem de perto o rosto moreno que a amedrontava tanto quanto a fascinava. Era curioso, mas a cicatriz não o deixava feio, ao contrário, acentuava sua apa­rência de força e autoconfiança.

— Minha cicatriz desperta repulsa em você?

Ela ia responder que não, porém achou que precisava de­fender-se dele.

— Bem, não posso dizer que ela o embeleza, não é? Mas acho que a cicatriz acentua sua posição. Um tirano deve ter aparência assustadora, não é assim?

— Quer dizer que para você sou um tirano?

— Sim, sheik Khasim, tenho certeza de que domina e acha natural que os outros aceitem seu domínio. Você mesmo disse agora a pouco que é um líder árabe e que, como tal, tem muito poder.

— É verdade, estrangeira! Tenho poder, no entanto não me acuse de usá-lo mal ou de abusar dele.

Imediatamente, o rosto dele se contraiu, e a expressão mu­dou. Ele a beijou novamente, mas, dessa vez, com agressivi­dade. Diane sentiu o corpo másculo sobre o seu, o joelho insi­nuando-se com força entre suas pernas. Ficou apavorada e tentou resistir, porém suas tentativas só serviram para pro­vocar mais a brutalidade dele.

— Se chama um homem de tirano, não espere que ele se comporte como um cavalheiro! — Khasim riu. ■— Você é muito ingênua mesmo! Ainda não aprendeu que, se agradar a um homem e tratá-lo com jeito, consegue abrandá-lo, mas, se o desafiar, só conseguirá torná-lo inflexível.

— Agradar-lhe? — De punhos cerrados, ela o socou. — Você é cruel... Ultrajante, violento, não passa de um selvagem! Quero que vá para o inferno!

— Mas antes vou ao paraíso, minha querida. Agora, fique quietinha, senão vou machucá-la mais do que o necessário.

No auge do desespero. Diane lembrou-se do ferimento que lhe fizera, que era um ponto vulnerável e deu uma joelhada com força. Khasim gemeu, e ela percebeu que ele sentia muita dor. — Por Alá! Você é mesmo uma gata selvagem! Ele se sentou na cama devagar e respirou fundo, depois colocou a mão por dentro da túnica, apalpando-se com uma careta de dor.

Diane percebeu que estava pálido e começou a ficar apreensiva. Ela agira sem pensar, apenas instintivamente, tentando se defender.

— Está sangrando?

— E claro. Você pretende mesmo lutar até o fim, não é, Diane?

— Sempre que for preciso. Se o machuquei, a culpa é sua.

— Diga-me, Diane, o que quer? A maioria das minhas mu­lheres, em toda a minha vida, conquistei com beijos e presentinhos... Mas você é diferente, não é? O que quer que eu lhe dê? Diamantes, rubis? Um cavalo árabe? Deve haver algo que deseje, que me permita tê-la em meus braços sem correr perigo de vida. Se outra mulher tivesse feito o que você fez, eu a chicotearia.

— E por que hesitou comigo?

— Sua pele branca não suportaria... Ficaria marcada. — Ele colocou a mão sobre a perna de Diane. — O que posso lhe dar para torná-la dócil?

— Minha liberdade.

— Droga! Essa é a única coisa que me recuso a lhe dar.

— Por quê? — Ela o fitou, súplice. — Será que é tão im­portante assim para você me manter aqui para me atormentar? Não pode mais magoar meu avô com isso e sabe que nunca vou deixar de odiá-lo,

— Será que não? — Ele sorriu, insinuante. — Você fica muito atraente quando odeia um homem, minha querida. Por quê, ao invés disso, não me ama? Eu poderia acabar me en­joando da submissão costumeira! Aí está, Diane, você tem uma escolha. Apaixone-se por mim, e a deixarei partir. Ela arregalou os olhos.

— Eu nunca poderia nem fingir amá-lo — disse, com amargura.

— Você não tem compaixão nem solidariedade... E um árabe!

— Sim, e, por isso, para você, não passo de um selvagem. Principalmente quando a toco, e você nota a diferença da cor das nossas peles. Por acaso, Ronay incutiu-lhe que ser branco é ser superior? Que os árabes são primitivos, mercadores, que tratam as mulheres como objeto de uso? Se formos um povo rude e des­confiado, estrangeira, é porque o deserto e os que tentaram nos subjugar nos ensinaram muito bem que amor e confiança tornam as pessoas fracas e tolas. Somos como o deserto, não podemos nos dar ao luxo de sermos dóceis e benevolentes, mas temos orgulho e linhagem tanto quanto os franceses que se gabam disso.

—■ Não foi isso que eu quis dizer... — Ela mordeu o lábio e olhou para a mão dele sobre a brancura da sua perna. Aca­riciou-a de leve, causando-lhe um leve estremecimento.

— Você é uma criança romântica, que pensa que o amor é um sentimento cheio de fantasia, e não um desejo ardente. — Bruscamente, o sheik se curvou e a beijou de novo. — Minha querida, vou lhe ensinar tudo o que precisa aprender. Vai ser uma experiência esclarecedora para nós dois. Irá descobrir que nossa cultura e nosso modo de vida são tão interessantes quanto sua educação anglo-francesa.

— Então... Pretende mesmo me manter aqui?

— Sim. Não se sente lisonjeada? Há várias mulheres nesta casa que adorariam estar em minha companhia.

— Só que elas estão aqui porque querem, mas eu sou sua prisioneira.

— Tem razão. — Ele sorriu e afagou os cabelos dela. — Sabia que antigamente, no tempo dos paxás, uma mulher com a pele como a sua e com os cabelos dessa cor valia uma fortuna? Os piratas vasculhavam os mares ã procura desse tipo de mulher para vender nos haréns. Era muito raro uma loira num harém.

— Tire a mão de mim! — Diane retraiu-se. — Você não é muito melhor do que esses piratas bárbaros! Deve haver uma expedição de busca à minha procura... O que fará se vierem a Shemara fazer indagações? Algumas pessoas me viram, e um garoto maltrapilho me trouxe para cá. Ele vai se lembrar de mim, dei dinheiro a ele!

— Se estava maltrapilho, então era nômade. Essas pessoas vão e vêm constantemente. Já deve estar longe. Pode me achar um tirano, Diane, mas, na minha cidade, não há pobreza. Te­mos escolas para todas as crianças e instituições para cuidar dos órfãos e desamparados. Nós nos preocupamos com eles.

— Sou órfã e desamparada, mas está pouco se importando comigo! Para você, sou apenas um corpo!

— E mesmo? — Ele riu. — Será que é tão ingênua que não sabe quanto é atraente? Sabe, aqui no harém, costumamos dar um nome apropriado para cada mulher quando ela chega, e acho que a chamarei de Opalina, por causa de sua pele branca, dos cabelos loiros e dos olhos azuis... Está vendo, não penso em você apenas como um corpo. Aliás, há corpos muito mais exuberantes do que o seu em Shemara!

— E todos a seu dispor, não é? Ora essa! Opalina! Muito obrigada, mas gosto do meu nome e prefiro mantê-lo.

Ele ficou analisando-a em silêncio, pegou outro charuto numa caixinha e acendeu-o. Diane começou a ficar nervosa. Aquela presença viril a perturbava.

— Gostaria que visse seus olhos agora — murmurou ele. — Sua mãe era inglesa, não era?

— Não é da sua conta! O que lhe interessa minha mãe? Ah... Como odeio isto aqui! — exclamou, abrangendo o quarto com um olhar.

— Não precisa ter medo de ficar confinada neste quarto. Sabe montar muito bem, por isso permitirei que cavalgue pelo deserto comigo.

— Isso se eu for boazinha e acatar suas ordens, não é? —■ ela indagou, escondendo a euforia de poder cavalgar pelo de­serto sem medo de se perder.

— Você gostou da idéia, não é? Mas não pense que vai ter oportunidade de me enganar. Acho que gostará muito do de­serto, da amplidão dourada, das dunas e dos vales que escon­dem povoados, do silêncio do amanhecer, das cores do pôr-do-sol e do mistério da noite. A noite no deserto tem uma luminosidade diferente, as estrelas parecem mais próximas, dão a impressão de que podemos tocá-las... Sim, acho que vai sentir muita afi­nidade com isso tudo, Diane.

— Hum... Que romântico! — caçoou ela. — Não duvido que o deserto possa ser fascinante, porém para alguém que não seja um prisioneiro.

— Prisioneiro do amor? — zombou ele. ■— Todas as mulheres escondem no fundo do coração, ao mesmo tempo, o medo de amar e o desejo de amar.

— Amor! Não tem nada a ver com... essas coisas que você tem em mente!

— E o que tenho em mente, além da preocupação de pro­porcionar luxo e conforto à minha prisioneira?

— Não preciso responder, não é mesmo, sheik Khasim?

— Quem a ouve pode até pensar que sou um monstro! Sou tão monstruoso assim para você?

— O seu comportamento é monstruoso. E as mulheres jul­gam os homens pelo modo como são tratadas por eles.

— Por acaso, já lhe ocorreu, Diane, que tratamento estaria tendo se tivesse caído nas mãos dos nômades? Estaria dormindo no chão sobre um trapo sujo, comendo numa lata uma vez por dia, apanhando das outras mulheres se desobedecesse e rece­bendo atenções de homens bem menos refinados do que eu, que pelo menos sou limpo, tomo banho sempre. — Ela sentiu um calafrio. Sabia que ele tinha razão. — Como dizemos aqui, Diane, é preciso olhar a esfinge dos dois lados. Um pode estar na sombra, mas o outro sempre estará banhado de sol.

— Está bem, sei disso, mas quando vim para o Saara não tinha a menor intenção de ficar morando aqui. Vim só passear. Minha pátria é a Bretanha, e amo minha terra!

— O que é o amor, afinal? — murmurou ele de olhos semicerrados, com ar pensativo. — E uma miragem... parece real e tangível, como um oásis onde se pode chegar, mas, quan­do se vai alcançá-lo, desaparece num piscar de olhos, como um sonho. A Bretanha era a sua terra, Diane, agora é Shemara, e você vai aprender a se adaptar ao novo ambiente.

— Mas por quê?! — Ela se ajoelhou na cama, fitando-o com olhar súplice, esquecendo-se da transparência da camisola.

O sheik a observou atentamente, com olhar profundo.

— Esta é a pergunta mais tola que poderia fazer, minha querida. — Ele sorriu. — Você sabe bem por quê, portanto, não banque a inocente, como se ainda acreditasse na cegonha. É uma mulher, e eu sou um homem.

Diane enrubesceu, porém não se deixou encabular.

— O deserto fez de você um líder cruel. Quando quer algo, não tem escrúpulos para consegui-lo, não é? Meus sentimentos não significam nada para você... Diz que tenho de me adaptar...

— Ordeno isso! — ele bradou, com arrogância. — Como toda mulher, começa com acusações e falatório quando fica nervosa-

— E, como todo homem, só pensa no que quer e não aceita opiniões. Não se importa de saber que eu o odeio?

— O ódio é como o amor, uma árvore com muitos ramos.

— Vocês, árabes, têm provérbios para tudo.

— Sim, gostamos muito de citá-los, eles têm sempre um fundo de verdade. As pessoas gostam de dizer que odeiam ou amam algo, mas o que querem dizer com isso, na verdade, é que esse algo as perturba e excita profundamente e, se de repente lhes falta isso, elas caem na apatia ou no desespero.

— Por acaso, está querendo dizer que sentirá minha falta, se eu for embora? Logo você, que tem tantas mulheres?

Ele olhou para ela em silêncio por alguns instantes, e, quan­do ia dizer algo, a porta se abriu bruscamente e uma mulher surgiu, vestida com roupas de seda verde e coberta de jóias. Em princípio, Diane pensou que fosse uma das mulheres do harém, mas, observando atentamente os olhos escuros dela, adivinhou que aquela era a irmã do sheik.

— Não conseguiu conter a curiosidade, hein, minha cara irmã? — Ele se ergueu. — Teve de vir correndo ver a nova aquisição!

— Então é ela? — Morgana entrou no quarto. Devia ser dois anos mais jovem que o irmão e era muito bonita. Parou perto da cama e examinou Diane da cabeça aos pés. — Estou vendo que já conseguiu o que quer dela...

— Minha irmã tem muito em comum com você, Diane. Há dois anos aproximadamente, conseguiu me convencer a deixá-la visitar Paris, Roma e Veneza e aí pegou o costume europeu de ser irreverente e falante. Mas ela é boazinha... Gostaria que vocês se tornassem amigas.

— Será que ela precisa de amiga, tendo a companhia viril de meu irmão? — Morgana sorriu.

As duas moças trocaram um olhar cúmplice, e Diane sentiu que a irmã do sheik simpatizara com ela. Será que Morgana aprovava as atitude de Khasim? Ou será que, apesar do contato com a cultura européia, ela acatava como lei à palavra do irmão?

Morgana aproximou-se dele, andando com elegância, fazendo farfalhar a seda, e, então, ficou na ponta dos pés e murmurou algo no ouvido de Khasim. Ele ouviu, com a cabeça meio inclinada, e Diane notou um ar de surpresa tomar conta do rosto dele... Depois, o sheik olhou para Diane.

— Vou deixar vocês a sós, para que se conheçam melhor — disse ele, dirigindo-se para a porta. Antes de sair, Khasim a avisou: — Por favor, Diane, não perca tempo pedindo para minha irmã lhe arranjar um cavalo. Já a preveni sobre os perigos do deserto e garanto que está muito mais segura aqui.

— Isso, segundo sua definição de segurança — ela respondeu.

— Bem, pelo menos por enquanto, pode se considerar a salvo, não é? — Ele riu.

A porta se fechou, e Morgana, sorrindo, sentou-se no divã que havia no quarto.

— Você tem medo do meu irmão?

— Tenho motivos para isso, não acha?

— Sempre ouvi dizer que os Ronay são corajosos, ou será que só meu irmão consegue fazer Diane Ronay tremer?

— Então sabe quem sou? — Diane sentiu-se humilhada por estar aprisionada.

— Você tem um sobrenome perigoso. Meu irmão é muito orgulhoso e não perdoa fácil os que o ferem.

— Eu nunca o feri... — ela se interrompeu bruscamente, lembrando-se da faca que enfiara nele. — Ele não tem o direito de me manter aqui. Você sabe que não!

— Preferia estar perdida no deserto do que recebendo cui­dados na casa de meu irmão?

— Está distorcendo os fatos. Assim, ele parece estar certo, e eu pareço uma tola.

— Ele é o cádi, e até eu, que sou irmã dele, devo lhe obedecer, como todos em Shemara. Quando viajei, pude perceber que as mulheres européias têm muito mais liberdade do que nós, orien­tais, e, durante algum tempo, rebelei-me contra o controle que Khasim exerceu em minha vida. Eu me apaixonei por um rapaz enquanto estava fora e escrevi a meu irmão, dizendo que iria me casar. Pouco depois, chegou um emissário que ele mandou para me trazer de volta. Tive vontade de matar Khasim naquela ocasião, porém, mais tarde, percebi que ele agira certo, impe­dindo que eu fizesse uma besteira. Ele sabia que eu era jovem demais para saber o que queria.

— Acontece que você é irmã dele, mas eu sou uma cidadã anglo-francesa e estou sendo mantida aqui contra minha vontade. Ele pode ter direito de exercer controle sobre você, porém não sobre mim! Não sou parente dele!

Morgana sorriu e brincou com uma de suas pulseiras.

— Será que deseja mesmo deixá-lo? Ele é muito charmoso quando quer. Talvez no fundo você...

— Eu lhe garanto que sou imune ao charme dele! Não tenho a menor intenção de fazer parte de seu harém!

— Ah, esse harém não existe! Meu irmão ganhou várias moças de presente de outros sheiks, mas, diplomaticamente, conseguiu arranjar casamento para elas com oficiais dele ou primos. Todas as que moram aqui são casadas e estão com os maridos. As pessoas gostam de fazer fofocas e dizer que ele tem uma coleção de mulheres, no entanto é porque nunca en­traram nesta casa. — Morgana riu. — Imagine! Olhe bem para o meu irmão, ele não é do tipo que leva uma vida devassa, que só pensa nos prazeres do corpo. E um homem do deserto, que gosta de cavalgar e governar bem sua tribo. — Morgana fez uma pausa e olhou para Diane com seriedade. — Ele tra­balha muito, tem muitas preocupações, afinal, é líder de uma tribo enorme, que se espalha por várias regiões do deserto. Há muitos acampamentos do povo de Bení-Haran. Grandes rebanhos de carneiros e cabras, sem falar na criação de cavalos puros-sangues, que são vendidos para criadores do mundo todo. Khasim poderia, como vários outros sheiks que têm poder, viver viajando pela Europa, mas ele adora o deserto. E lá que busca consolo e paz de espírito para governar bem sua tribo.

Diane ouvira em silêncio, fascinada, imaginando a figura imponente do sheik: o físico bem-proporcionado, o rosto moreno, os olhos escuros e cheios de vida... Não, ele não parecia mesmo um devasso... Mas por que insistia em mantê-la prisioneira?

— Então, por que seu irmão me deixa trancada aqui desse jeito? — Diane suspirou. — Meu avô morreu, não há mais possibilidade de vingança. O que mais o sheik Khasim quer?

— Você, é claro! Já que não quer ser dele espontaneamente, ele a terá à força.

— E você não condena essa atitude? Será que ninguém nesta casa pode impedi-lo de me transformar num brinquedo?

— Ele é quem manda...

— Você é uma mulher instruída, Morgana, e mesmo assim se submete à vontade dele e ainda acha que devo fazer o mes­mo? Será que todas as mulheres no Oriente são escravas?

— Em alguns aspectos, sim — Morgana respondeu. — Talvez porque, no fundo, a mulher goste da dominação do homem. Vou lhe dizer uma coisa, Diane. Os homens árabes não con­sideram a mulher igual a eles pelo simples motivo de acredi­tarem que ela tem "poderes mágicos". Por exemplo, o fato de ela conceber um filho. Isso torna a mulher importante aos olhos de um árabe, coisa que não acontece com o europeu. A mulher pode confortar o homem, aliviar as preocupações e as tristezas e pode ainda lhe dar prazer físico. Quando eu estava na França, tinha inveja das mulheres com a mesma liberdade que você tem, porém, depois que voltei para Shemara, percebi que gostava de me sentir sob a proteção de meu irmão. Sabia que os símbolos de nossa casa são o pombo e o falcão?

— Não... Mas você não tem sede de liberdade? Costuma cavalgar no deserto?

— Quando estou inspirada, sim. Entretanto, logo vou me casar e então irei embora daqui, vou morar em Casablanca com meu marido. Ele é um diplomata do povo de Beni-Haran lá- O nome dele é Rauf Al Ahmar, e meu irmão permitiu que nos conhecêssemos e conversássemos...

— Você o ama? Foi você quem o escolheu para marido?

— Eu o acho atraente e sei que aprenderei a amá-lo. Foi sugestão de Khasim essa união, e concordo com ele. Acho que formamos um belo par. Minha mão foi pedida por um príncipe muito rico, só que ele tem sessenta anos. Rauf tem trinta e cinco, por isso meu irmão preferiu Rauf, pensando na minha felicidade. Ele quer que eu tenha um marido viril, que possa fazer com que me sinta mulher.

— Mas não preferiria escolher sozinha? Namorar?

— Sei que nossos costumes parecem estranhos para você, Diane, mas é natural. Se eu não tivesse gostado de Rauf, Kha­sim não insistiria no casamento. Mas Rauf é forte e bonito, um homem do deserto, corajoso e destemido, como meu irmão. Sabe, acho que você leva muito a sério essa idéia de que um homem e uma mulher precisam estar loucamente apaixonados para se casar... O amor pode deixar a gente cega para os de­feitos. Uma mulher apaixonada pode não perceber que o homem que ela ama é cruel e egoísta e depois sofrerá com isso.

— Seja como for, ainda acho que todo mundo tem o direito de fazer sua escolha afetiva, mesmo que cometa erros. Acho uma atitude ditatorial um irmão decidir a vida amorosa da irmã.

— E a nossa maneira de viver, e não questionamos isso. Os homens árabes acham que precisam proteger as mulhere



  

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