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O Jardim das Acácias 10 страница



Sabrina tentou imaginai o que seria ficar sentado na escuridã o entre pessoas que podiam ver, e teve vontade de pegar a mã o dele para deixá -lo saber que ela o compreendia. Quis descrever tudo que estava vendo... mas, naquele dia, ele pertencia a Nadi. Olhou para a outra, mas, em vez de estar contando o que acontecia a sua volta, a moç a falava com Douglas como se ele pudesse ver.

— Acho que será uma boa ideia irmos para terra mais tarde — sugeriu algué m. — Assim, poderemos participar do carnaval. — O que diz Nadi?

— Será maravilhoso. Por favor, algué m quer encher o meu copo?

O amigo de Ret chegou com as roupas e ele desceu para se vestir. Sabrina deu uma olhada para Douglas e viu que estava com o testa franzida.

— Terá que me desculpar. Nadi. Nã o irei à praia. Serei um estorvo no meio de toda aquela alegria.

— Mas, querido, nã o posso deixá -lo sozinho aqui!

— Pode e vai deixar, meu bem. — Sua voz era firme com uma rocha — Eu serei um transtorno. Prefiro continuar aqui no iate.

— Douglas, meu amor. você fala como se fosse um inú til!

— E é o que sou no meio de uma multidã o. O barulho me confunde, nã o há nenhum encanto em se levar cotoveladas e empurrõ es por causa de alguma coisa que nã o se pode ver.

— Meu pobre querido! — Nadi abraç ou-o pelo pescoç o, trazendo a cabeç a morena para perto do peito coberto de seda verde. — Entã o, ficarei com você. Sentaremos à sombra e conversaremos, enquanto esses malucos estiverem danç ando no meio da bagunç a.

Douglas afastou-se.

— Nadi, nunca passaria pela minha cabeç a impedi-la de se divertir. Acredite: se eu pudesse ver, estaria tã o ansioso como você s em me juntar a tanta alegria. Faç o questã o de que vã e nã o quero discussõ es.

— Como o meu querido ê bravo! — Nadi beijou os cabelos pretos de Douglas. — Tem certeza? Sabe é o meu primeiro carnaval.

— Sim. Ficarei bem e em seguranç a aqui. E o almoç o? Estou com tanta fome que, daqui a pouco, vou dar uma mordida na primeira mulher apetitosa que passar por perto.

— Entã o, serei eu. — Com uma risada rouca, Nadi se afastou para ver a mesa que os garç ons tinham arrumado. — Achei melhor servir o almoç o à americana. No salã o, lá embaixo, ficaria muito formal. E hoje, també m, está muito quente. — Sirvam-se, todos, venham! Douglas, o que gostaria de comer? Temos salada, camarõ es fritos, pernil, peru, batatas assadas...

— Quero um prato cheio de tudo.

Todos riram e houve um alegre tilintar de taiheres quando os convidados se reuniram em volta da mesa, onde grandes pratos de madeira, tí picos da ilha, estavam cheios das coisas mais apetitosas. As bebidas e o café estavam numa mesa separada. Instintivamente, Sabrina encheu uma xí cara de café preto, como Douglas gostava.

Monsier — disse, baixinho — achei que gostaria de um pouco de café.

— Sabrina — o sorriso de Douglas estava um pouco tenso —. ainda de serviç o?

— É o há bito. Pegue — colocou a xí cara entre as mã os dele. — Está muito quente, tome cuidado.

— Sabrina, deixe, eu cuidarei de Douglas. — Pequeninas chamas de fogo iluminavam os olhos verdes de Nadi, que chegava acompanhada por um garç om carregando uma bandeja. — Vá logo almoç ar, antes que a comida acabe.

Dispensada e sem fome, Sabrina serviu-se de um pouco de presunto, salada e uma fruta e escapou para um cantinho no convé s inferior. Nã o tinha nada em comum com aquela gente. Só Douglas importava, e ele estava com Nadi. Lembrou do modo como sorriu quando lhe deu o café. Havia um pouco de melancolia em seu rosto, como se ele també m se sentisse deslocado.

De repente, Sabrina ouviu passos e algué m chamando. Era Ret, e nã o queria que ele a encontrasse. Escondeu-se atrá s de uma vela dobrada e ouviu-o aproximar-se com passos largos e elá sticos, feito um felino atrá s da presa. Ficou muito quieta, prendendo a respiraç ã o, mas alguns grã os de areia entraram em suas narinas e ela espirrou. Ret se virou rapidamente e a viu. Com uma expressã o de raiva, ele se inclinou, puxou-a e sacudiu-a com forç a.

— Estava se escondendo de mim? Está querendo brincar comigo? Se é

isso...

— Ret! — Todas as emoç õ es represadas faiscaram nos olhos de

Sabrina, num misto de dor e fú ria.

— Por que nã o me deixa sossegada? Será que nã o consegue entender

que quero ficar em paz?

— Você está se escondendo aqui para poder ficar sozinha com Douglas quando todos forem à praia! Sua pateta! Sabe que ele vai fazer a operaç ã o e que, se nã o morrer, poderá ver de novo? Aí, nem olhará para você. Quer ficar com ele enquanto puder, nã o é? Está tã o desesperada que suporta ver Nadi abraç ando-o.

A cada palavra, Ret apertava os braç os dela com mais forç a, empurrando-a contra a grade do iate. Sabrina ficou com medo.

— Ret, o que esta fazendo?

—- Por uma vez na vida, enfermeira, você vai admitir o que está guardado no fundo do seu coraç ã o. — Apertou-a contra a grade. — Tem medo de tubarõ es. Sabrina? Eles estã o lã no fundo, esperando por uma presa, nadando em silê ncio.

— Ret! — A voz dela estava aguda, com uma nota de sú plica e incredulidade. — Nã o faç a brincadeiras tolas...

— Gosto de jogar, mas detesto que me enganem. Você me prendeu com esses olhos grandes e nã o liga para mim. Posso atirá -la lá embaixo como um pedaç o de papel.

— Nã o! Você está me machucando!

— Pois é isso mesmo que quero fazer! Diga que ama Douglas! Confesse que nã o pode viver sem ele, e entã o ficarei satisfeito. Saberei que estamos no mesmo barco, sofrendo por amar algué m que nã o podemos ter...

— Solte a moç a!

As palavras cortaram o ar como uma chicotada, vindas da escada que levava à cobertura superior. Ret virou-se, surpreso. Por cima de seu ombro, Sabrina viu a figura alta de Douglas delineada contra o sol. Seu coraç ã o quase parou de bater. Ele estava muito perto do primeiro degrau! Mais um passo, e cairia.

— Douglas! Nã o se mova... nã o...

Foi tarde demais. Naquele exato instante em que ele podia ter atendido o alerta e se afastado do perigo, Nadi apareceu atrá s dele e pegou sua manga. Douglas puxou o braç o com forç a e perdeu o equilí brio, caindo de cabeç a pela escada de metal.

Algué m gritou e gotas de sangue mancharam a vela branca. Tudo começ ou girar à volta de Sabrina que se soltou dos braç os de Ret e correu, como se estivesse num pesadelo, até onde Douglas estava caí do, muito quieto.

Nas horas e dias que se seguiram, houve muito o que fazer. No entanlo, para Sabrina, foi como se ficasse imó vel como um í dolo, aos pé s de seu deus ferido, rezando todo o tempo.

O aviso do furacã o tinha chegado à s seis horas daquela manhã e as notí cias eram tã o alarmantes que todas as janelas do hospital foram reforç adas.

Pouco depois, o dr. Damien Williams chegou de helicó ptero, com seu anestesista e uma enfermeira. Era um homem magro, claro, com olhos azuis muito vivos e mã os fortes, de dedos quadrados.

Enquanto a sala de operaç õ es era preparada, tudo em volta do hospital parecia parado, numa estranha calma. As longas folhas das palmeiras permaneciam caí das, como lí nguas secas sob o calor. A qualquer momento, o furacã o podia chegar.

Os olhos de Laura Saint-Same mostravam o pavor que sentia. Um quarto perto do de Douglas tinha sido colocado á sua disposiç ã o e ela implorou a Sabrina para que ficasse com ela.

— Preciso de você, minha filha. Quero que fique comigo enquanto eles estiverem operando meu neto. e nã o na sala de espera, com Ret e aquela moç a. Fique comigo, Sabrina; preciso da sua calma, ou vou enlouquecer.

Ningué m jamais saberia, nem mesmo a pró pria Sabrina, como conseguia parecer composta, quando cada batida de seu coraç ã o gritava o nome de Douglas. Só Laura tinha podido vê -lo, desde que foi internado no hospital.

— Ele estava tã o quieto, Sabrina... E sempre tã o estranho vê -lo assim.

— Laura torcia um lenç o de cambraia por entre as mã os. — Oh, meu Deus, o que vai acontecer?

Tudo estava muito quieto e a velha senhora olhava, assustada, para a porta, quando ouvia passos abafados no corredor. A operaç ã o tinha começ ado, apesar da ameaç a do furacã o, porque o dr. Williams disse que nã o podia esperar mais, se quisessem salvar a vida de Douglas.

Algumas horas depois, ou até poderiam ser minutos, uma jovem enfermeira entrou no quarto, trazendo duas xí caras de café. Falou baixinho, dizendo que havia uma esperanç a do furacã o se desviar para o mar.

— Oh. Deus, só espero que, se ele chegar, seja mais tarde, depois que a operaç ã o tiver terminado. Quanto tempo mais vai demorar?

— Nã o há previsã o — disse a enfermeira, com um sorriso. — Coisas assim nã o podem ser apressadas. — Saiu, fechando a porta

silenciosamente. Sabrina tomou o café sem nem mesmo sentir o gosto ou perceber se

estava quente ou frio.

— Você o ama, Sabrina?

A pergunta repentina deixou-a tonta, sem saber o que responder. Podia. dizer que nã o, mas estaria negando tudo que sentia por Douglas e que continuaria sentindo, quer ele vivesse para casar com Nadi. ou morresse. Sentiu um arrepio quando um inseto com grandes e delicadas asas verdes pousou em seu braç o. Ela o soprou e ele saiu voando para a persiana, onde ficou pousado, tré mulo como seu coraç ã o.

— Nã o... nã o pude deixar de amar. — Foi um enorme alí vio conseguir, finalmente, dizer aquelas palavras, as mesmas que Ret queria arrancar dela à forç a. — Ele é o primeiro homem forte e real que já conheci, o primeiro que se dignou a me notar... porque... porque nã o podia me ver.

— Menina, você nã o deve se diminuir assim!

Sabrina pensou no desejo de Ret. que nã o podia ser chamado de amor. Desde aquele terrí vel momento em que Douglas rolou os degraus do iate, o rapaz nã o tinha tido coragem de encará -la.

— Vai ficar conosco, nã o é. Sabrina? Se Douglas sobreviver... se for essa a vontade de Deus...

— Eu... nã o sei.

— Ele vai precisar dos cuidados de uma enfermeira e de muito carinho para se recuperar de tudo isto.

— Eu sei, mas, e Nadi? Ela nã o gostará que eu fique.

— Ela ainda nã o é a dona de Snapgates. — Por um rá pido instante, Laura Saint-Same ficou extremamente parecida com o neto: obstinada e decidida a ter o que queria. — Você é bem-vinda em nossa casa por quanto tempo desejar ficar.

— Muito obrigada.

— Sabrí na só respondeu para acalmar aquela mulher idosa e muito preocupada, de quem gostava tanto. No fundo do coraç ã o, sabia que seus dias na ilha estavam contados. Se, com a graç a de Deus, Douglas sobrevivesse e recuperasse a visã o, nã o precisaria mais da enfermeira Muir. Ela sairia de lá sem fazer alarme, lal como tinha chegado, e continuaria seu trabalho em outro lugar.

Eram cerca de trê s horas quando Ret veio ficar com Laura, enquanto Sabrina saí a para andar um pouco no corredor. As venezianas estavam fechadas e tudo parecia muito quieto e sombrio. De repente, uma porta se abriu e uma figura vestida de branco saiu, tirando da cabeç a o gorro verde-azulado usado pelos mé dicos nas saias de operaç ã o. Por um momento terrí vel, Sabrina pensou que ia desmaiar: aquele era o dr. Williams, o neurologista, e estava pá lido e abatido.

— Ah, você é a moç a que vi com a sra. Saint-Same. Enfermeira Muir,

nã o é?

— Sim, senhor. — Olhou para ele, suplicante. Nã o seria é tico

perguntar, porque nã o era da famí lia.

-— O paciente está na sala de recuperaç ã o, enfermeira. — De repente, o mé dico sorriu. — Ele vai ficar bom, é claro. Nunca tive um paciente com tanto desejo de viver. Diga-me: seu nome é Sabrina?

— Sim, senhor. Oh, estou tã o contente, tã o feliz!

— Acredito... Sabrina. Ele repetiu seu nome enquanto dormia. Bem, agora, se me der licenç a, vou dizer à sra. Saint-Same que o pior já passou.

— Dr. Williams?

— Sim, enfermeira?

— Ele vai se recuperar... totalmente?

— Se está querendo saber se ele vai ver de novo... sim, por etapas. Em cinco ou seis meses, estará completarnente curado e voltará a ser o homem forte e ativo de antes.

O mé dico saiu andando em direç ã o do quarto de Laura, enquanto Sabrina se apoiava na parede para nã o cair. Estava tudo acabado. Douglas havia escapado da escuridã o. Douglas, que agora dormia e recuperava as forç as... Pobre querido! Desperdiç ando energias repetindo o nome dela!

O nome dela? Sabrina cobriu o rosto com as mã os, cambaleou e saiu correndo para fugir dali. Estava chegando na escada, quando todo o pré dio do hospital começ ou a balanç ar, como sacudido por mã osgigantescas. O furacã o! Ele chegou, furioso, vindo do nada, para arrancar á rvores, virar barcos e elevar telhados de casas.

Durou vá rias horas e, por causa dele, Sabrina teve que ficar no hospital. Por volta da meia-noite quando, finalmente, o vento amainou, Douglas Saint-Same começ ou a ficar inquieto. Chamou por ela e foram buscá -la.

Sabrina ficou parada por alguns instantes ao lado da cama. Depois,

puxou uma cadeira para perto e segurou a mã o dele.

Douglas estremeceu e agarrou os dedos de Sabrina. Sua cabeç a e rosto estavam enfaixados deixando apenas o nariz e os lá bios livres.

— Sabrina...

Sorriu e voltou a dormir.

Nos dias seguintes, ele nã o perguntou nem uma vez por Nadi nem falou no nome dela. Numa certa manhã de sol, o Lady Fay partiu do ancoradouro.

— O verdadeiro amor — disse Laura a Sabrina — tem a ver com o coraç ã o, e Douglas descobriu o caminho para o seu, como um falcã o que encontra o ninho no meio da escuridã o. Agora, vai ficar tudo bem em Snapgates. Haverá novamente o riso de crianç as e poderei desfrutar a minha velhice em paz,

Poré m, Sabrina continuou temerosa, até o dia em que Douglas a viuclaramente pela primeira vez.

— Sempre soube — disse ele — que seus olhos seriam capazes de conter tudo que há de bom no cé u e na terra. Venha para os meus braç os, querida. Quero que se sinta amada, segura, como sempre me senti com você. Quero que fique segura no meu coraç ã o, nos meus braç os e na minha casa.

— Douglas... — Segurou a cabeç a enfaixada com extremo cuidado. — Olhe para mí m e veja bem se nã o está cometendo um erro. Você sempre viveu cercado de mulheres bonitas e sofisticadas, e amou Nadi, a mais linda de todas.

— Naquela é poca, Sabrina, eu só via rostos. Só depois de ficar cego é que aprendi a sentir a essê ncia das pessoas, o que havia de realmente verdadeiro nelas,

— Pensei... que ainda amava Nadi, no dia em que fomos ao iate.

-— Minha querida enfermeira, aceitei o convite porque senti vontade de levá -la a uma festa. Você nã o tinha oportunidades de se divertir, estava sempre tã o sobrecarregada de trabalho. Querida, há muito tempo Nadi nã o significava mais nada para mim.

— Mas ela é tã o linda!

— Pode ser, mas você é o meu amor. A princí pio, foi a sua voz que me cativou. Depois, aos poucos, passei a amar você por inteiro. Tive certeza disso naquele dia em que ficamos presos na caverna, quando pude, por algumas horas preciosas, protegê -la como costumava- fazer comigo.

— Sofri tanto, Douglas, imaginando que você só tinha Nadi no pensamento. Aqueles brincos de brilhante... você os separou para ela.

— Nã o, meu amor. Você nã o podia saber, mas guardei aqueles brincos porque foram o ú ltimo presente de meu pai à minha mã e, antes de morrer. Ela os adorava e eu jamais poderia vendê -los.

— Oh, Douglas...

— Sabrina, minha doce crianç a, perdoe se a fiz sofrer. Eu a amo tanto! Quero-a todinha para mim. Sabe, querida? Afinal, vai haver mais uma acá cia no jardim dos Saint-Same. A mais linda de todas.

 

 

                             F I M

 

 



  

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