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O Jardim das Acácias 9 страница



— Que grande honra receber a visita da valorosa enfermeira Muir. Está servida a almoç ar comigo?

Sabrina nã o respondeu. Enquanto colocava a cesta na mesa. viu vá rias revistas com os mais modernos modelos de automó veis. Teve certeza de que Ret nã o tinha passado a manhã trabalhando muito.

Ele abriu a cesta e olhou.

— Há mais do que suficiente para dois e tenho tuna garrafa de vinho no armá rio. Vamos, a galinha e as casquinhas de siri devem estar deliciosas. Estou um pouco solitá rio e morrendo de calor você parece tã o calma e fresca. Nã o sente calor, enfermeira?

— É claro, mas procuro nã o pensar muito nele.

— Ah, a forç a da mente!

Ret tinha sorriso malicioso, enquanto a examinava de alto a baixo. Sabrina usava um vestido de algodã o listrado e estava com os cabelos penteados como de costume. O sol forte da ilha começ ava a dar um tom rosado a sua pele clara, que combinava com a cor dos seus olhos e com os cabelos clareados pelos banhos de mar.

— E entã o, enfermeira, quer comer comigo? Pode perder uma hora com este pobre solitá rio?

Ela hesitou, pois os trabalhadores estavam do outro lado do cafezal e o bangalò parecia muito isolado. No entanto, pela expressã o de Ret, adivinhou o que diria se recusasse, que ela nã o se incomodava de ficar sozinha com seu primo,

— Sente-se — disse ele, indicando uma poltrona. — Está muito quente para ficarmos brincando de esconde-esconde. Seja sociá vel e deixe-me contar sobre o jantar que Nadi está planejando dar a bordo do iate. A propó sito, o barco nã o é dela, pertence a um amigo que o emprestou para esta viagem.

O nome de Nadi agiu como um imã, puxando Sabrina para a poltrona. Ele abriu o armá rio e pegou a garrafa de vinho e uma taç a de cristal.

— Tome, eu beberei da garrafa.

— Nã o, nã o quero.

— Nã o seja indelicada, Sabrina, quando estou lhe oferecendo minha humilde hospitalidade. — Encheu a taç a e deu a ela. — Dizem que o vinho é o macho è a taç a, a fê mea. Estranho simbolismo, nã o?

— Bastante. — Tomou um gole. — É muito bom.

— Da melhor safra. Douglas é um conhecedor — disse Ret, com um sorriso, malicioso. — Nadi está planejando dar um jantar no dia em que os moradores fazem a celebraç ã o anual do que conseguiram da terra e do mar. Há um verdadeiro carnaval e praticamente todos participam. Antigamente, era uma festa louca e havia muita gente por aqui. Mas, do jeito que as coisas vã o, logo esta ilha voltará a ser uma selva.

— Você bem que gostaria que seu primo a vendesse, nã o é? Para os americanos que querem transformar tudo isto num parque de diversõ es para turistas.

— E o que há de mal? Aqui há tudo o que um turista poderia desejar:

sol, praia e selva. — Ret sentou na ponta da mesa e começ ou a comer uma coxa de frango. — O problema com você s, sonhadores, é que acham que tê m direitos. exclusivos sobre o paraí so.

— E melhor do que ver tudo estragado por cassinos e estacionamentos, sem falar nessas praias lindas e selvagens cheias do barulho de rá dios portá teis e cada centí metro de espaç o ocupado por corpos oleosos e lixo atirado na areia.

— Sabrina, você é uma pedante.

— Nã o é isso. Amo a natureza. Amo a beleza pelo que ela é: nã o como um meio de obter lucros.

— Antes de ficar cego, Douglas só pensava em dinheiro.

— Mas nunca em relaç ã o com a ilha. Tenho certeza de que jamais pensou em vendê -la para aproveitadores.

— Você defende tudo que ele faz, nã o é?

— E você deveria fazer o mesmo. Afinal, leva uma boa vida aqui. Sabe muito bem que, em qualquer outro lugar, seria apenas mais um rapaz bonito. Na ilha, você é importante, por ser o primo do patrã o.

— Nã o hesita em dar golpes baixos quando luta pelos direitos dele, nã o é, Sabrina? Acho que ficaria feliz em vê -lo sempre como está. Douglas nã o precisaria mais de você, se recuperasse a visã o.

— Quando luta, Ret, seus golpes sã o crué is. Nã o gosto de ver algué m se aproveitando de um cego.

—- Está insinuando que me aproveito da cegueira dele?

— Estou acredito que foi ideia sua trazer Nadi para cá. Você queria revolver velhas memó rias, reabrir as feridas de Douglas para deixá -lo desesperado. Sabe que ela é a ú nica pessoa que pode realmente magoá -lo.

— Tem ciú me dela. enfermeira?

— Seria pura perda de tempo para algué m como eu. Só gostaria que Nadi tivesse um coraç ã o tã o lindo como o rosto, um pouco mais de compaixã o e menos egoí smo.

— É melhor nã o deixar Douglas ouvi-la falar em piedade. Talvez seja por isso que ama Nadi: ela é só paixã o.

— Agora, sei muito bem do que ele gosta ou nã o gosta.

— Ficou sabendo de tudo, quando estavam presos naquela caverna escura e solitá ria?

— Sabia que, mais cedo ou mais tarde, você ia mencionar isso,

— Nã o tenho conseguido pensar em outra coisa. Estou morto de inveja por nã o ser eu quem estava lá.

— Pois estou aliviada por nã o ter sido você.

— Como é malvada comigo! Será uma forma de autodefesa? Sabe que acabaria gostando de mim, caso se permitisse ser você mesma?

— Ret, você é incrí vel. Faz lembrar a histó ria de Apolo, o deus grego, que queria fazer amor com todas as mulheres que encontrava e conseguia conquistar a todas, até conhecer Dafne, que preferiu se transformar numa á rvore a se entregar a ele. Você é bonito como Apolo e sei que tem feito muitas conquistas, mas nã o pretendo ser uma delas. Já lhe disse antes; nã o vai virar minha cabeç a com suas mentiras charmosas. Simplesmente, nã o sou suficientemente bonita para acreditar numa só palavra.

— Quando fala comigo desse jeito, sinto uma coisa estranha. Tenho vontade de sacudir você, de comprometê -la de tal modo que nã o possa procurar ningué m, a nã o ser a mim. — A voz de Ret ficou á spera e ele tomou outro gole de vinho. — Sabe muito bem do que estou falando. Você é enfermeira, nã o pode dizer que é totalmente inocente sobre esses assuntos.

— Ret, gostaria que nã o falasse desse jeito!

— Está chocada? Bem, já era hora de algué m lhe dizer que muitos homens gostariam de vê -la se derreter em seus braç os. Feia... bonita? Sã o simples palavras. Seu problema, enfermeira santinha, é que é tí mida demais... ou reprimida demais. Acho que é por causa daquele maldito orfanato. Passou muito tempo lá. nã o foi?

— Sim, mas foi há muito tempo e isso é irrelevante.

— Pelo contrá rio, é muito importante. Você foi ensinada a esconder sua verdadeira personalidade e a demonstrar eterna gratidã o por quem lhe dava um prato de arroz e um pouco de verdura. Nã o ria! É verdade, e sabe disso melhor do que eu! — De repente, Ret se inclinou e, com inesperada suavidade, tocou o rosto de Sabrina. — Acha Nadi Darrel a mulher mais atraente do mundo, nã o é?

— Ela é linda.

— Nadi trabalha para isto. Sabe exatamente quais os cosmé ticos que deve usar e o tipo de roupa que realç a sua beleza. De muitos modos, ela é um produto dessa nova era artificial. Por acaso, pensou que aqueles cí lios de dois centí metros de comprimento eram naturais? Minha cara, já a vi sem eles e...

Ret parou de falar e. com um palavrã o em voz baixa, saiu da mesa e foi se encostar no batente da porta. Ficou parado lá com as mã os no bolsos das calç as, e Sabrina sentiu a tensã o em seu corpo magro e elegante. Ele quase tinha falado demais, e o silê ncio entre eles ficou pesado.

— Acho que o que falei soou pior do que devia — disse Ret, depois de alguns minutos. — Quando levei Nadi para o iate, ela estava muito nervosa. Entã o, a chuva começ ou, com todos aqueles raios e trovõ es e ela me pediu para passar a noite no barco. Vou lhe contar a pura verdade: fiquei na minha cabine e ela na dela. Lá pelas duas da madrugada, escutei algué m se atirando na á gua e corri para a coberta. Nadi estava nadando! Ajudei-a a subir a bordo e foi entã o que a vi completam ente sem maquilagem e com um mí nimo de roupa. Parecia uma menina desamparada. Sempre imaginei que fosse uma mulher sofisticada e segura de si, mas, quando a vi tremendo na coberta, sem nenhuma pose, soube que ficou com medo de casar com Douglas, nã o porque ele nã o podia mais admirar sua beleza, mas porque era ela quem precisava de um guia seguro. Senti pena dela... É até chocante ver uma boneca sem a pose e os modos estudados e, principalmente, sem pintura. Ret fez uma pausa para acender um cigarro.

— Nadi é muito menos real do que você. Sabrina. Eu a vi com o rosto lavado desde o primeiro dia que nos encontramos. Seus olhos nã o precisam de retoques... seus cí lios nã o se soltariam depois de alguns beijos.

— Você beijou Nadi? — A pergunta tinha que ser feita, por Douglas, nã o por ela.

— Fiquei com pena dela... sim, eu a beijei e depois a levei para a cabine e a coloquei na cama. Nã o fiquei com ela. palavra de honra.

— Nadi queria que ficasse?

— Sim.

— Por acaso, foi por respeito a Douglas que você nã o ficou?

— Para ser brutalmente franco, foi por pura falta de desejo. — Virou-se para Sabrina e seus olhos tinham um brilho estranho. — No dia seguinte, quando voltei a Snapgates. fiquei sabendo que você tinha passado todo o tempo da tempestade, sozinha, com Douglas na caverna. Tive ó dio dele... por estar com você. Fiquei imaginando-a nos braç os dele e senti ciú me. Sabrina, você fica sentada aí, tã o fria e comportada, tã o serena e inocente... Droga, nã o estou pedindo por compaixã o... nã o preciso dela. Mas quero que sinta algo por mim, ou a obrigarei a sentir!

— Está me ameaç ando ou exigindo? — Sabrina se levantou, tentando esconder o nervosismo. Estava sozinha com Ret e sabia que ele nã o tinha escrú pulos, quando queria conseguir algo. — Seja sensato, nã o sou seu tipo. Sou uma enfermeira empertigada e engomada de quem você sente vontade de judiar. E tudo. Agora, se já está satisfeito, vou levar o cesto de volta para casa.

— É você quem precisa ser sensata. Meu primo criou uma imagem sua que está muito longe da realidade. — Ret enfatizou a observaç ã o, amassando a ponta de cigarro com o calcanhar. — Poré m, eu posso ver a verdadeira Sabrina, seus olhos prometem o cé u. você é uma garota que pensa que os homens sã o crué is. Gostaria de lhe provar que eles també m podem ser gentis.

— Seja gentil agora. Ret, e pare de falar todas essas coisas. Preciso voltar ao trabalho. O sr. Saint-Same está me esperando para responder algumas cartas.

— Só isso?

Sabrina arrumou a cesta, recusando-se a perder a paciê ncia.

— Seu controle é verdadeiramente admirá vel, enfermeira. Acho que deve ser um tanto lisonjeiro ser considerada um anjo... mas, na verdade, você é um daqueles gé nios da floresta a quem os irlandeses costumam dar as sobras. Você deve ter juntado um monte de sobras, enfermeira: cartõ es de Natal das crianç as de quem cuidou, programas de teatro das peç as que foi assistir sozinha, alguns discos româ nticos para lembrá -la das vezes que nã o foi convidada para danç ar. Por falar nisso, sabe danç ar? Irá à festa no iate, se Nadi a convidar?

— Nã o creio que ela me convide.

— O que a faz ter tanta certeza? Nadi nã o a vê como uma rival. Você é contida demais para ela perceber seu fascí nio. Nadi nã o sabe que você pode lanç ar encantamentos.

— Nã o diga bobagens, Ret. e deixe-me passar.

— Se Nadi convidar, prometa que vai danç ar comigo.

— Nã o... nã o sei danç ar.

— É fá cil, como fazer amor ao som da mú sica. Você simplesmente se entrega ao homem e o deixa tomar todas as iniciativas. Vamos, prometa, e a deixarei voltar ao seu paciente.

— Isso é uma forma delicada de chantagem?

— Pode pensar o que quiser. Na verdade, eu a estou cortejando. — Com aquele sorriso enigmá tico e um brilho malicioso nos olhos, Ret a cumprimentou com uma inclinaç ã o da cabeç a e se afastou para deixá -la passar. — Até logo, Sabrina. Nã o corra nesse calor.

— Até logo.

Sabrina esforç ou-se para andar calmamente pela trilha entre o cafezal, e enquanto a gargalhada de Ret sumia na distâ ncia, sentiu-se melancó lica. Mordeu os lá bios e olhou para trá s. Depois, disse a si mesma para nã o ser boba. Ret conhecia todos os truques para brincar com as emoç õ es de uma mulher e provavelmente tinha feito alguma aposta consigo mesmo ou com algum amigo de que, em pouco tempo, a feia e solitá ria enfermeira Muir ia sucumbir a seus encantos.

Quando chegou em casa, descobriu que estava ofegante e que seus pé s tinham acompanhado o ritmo acelerado dos pensamentos. Era absurdo, mas, ao entrar no saguã o, parou em frente do espelho para se examinar cuidadosamente.

— Ah, aí está você, Sabrina! — Laura saiu da sala de visitas.

A ú ltima semana tinha sido indolente e calma, como se Snapgates estivesse isolada do resto da ilha. Agora, havia mú sica vinda do estú dio... uma sonata de Beethoven.

— O clima da ilha lhe fez muito bem. sabe? — Laura estudou Sabrina com olhos francos e sorridentes. — Quando chegou aqui, estava muito pá lida e abatida. Parecia tã o franzina que, confesso, duvidei de que conseguiria lidar com Douglas. Mas agora, sei que você tem muito mais forç a do que aparenta à primeira vista. É um modo de se fazer " sentida" nã o, vista. E está muito mais saudá vel, corada; seus cabelos estã o brilhantes, mais cheios de vida, e até engordou um pouco. Gostaria... — Laura deu um suspiro, — Sei que é tolice, mas fico pedindo a Deus que permita que nossa vida continue assim, sem interferê ncias de estranhos!

Sabrina sabia a quem ela se referia e sabia, també m, que logo aquela calma seria perturbada. Talvez, no dia seguinte, chegaria o convite de Nadi para o jantar no iate e Douglas nã o conseguiria resistir ao desejo de estar com ela novamente. Quando Nadi se visse sozinha com ele, passaria os braç os em volta dele e pediria num sussurro que, por favor, por favor, se submetesse à operaç ã o, porque o dr. Williams achava que o perigo agora era menor.

— Douglas precisa de uma esposa... — As palavras de Laura fizeram eco aos pensamentos dela. — Mas, nã o de algué m como aquela moç a, aquela modelo, com suas roupas sofisticadas e seu coraç ã o egoí sta!

Houve um silê ncio sú bito, quase terrí vel... a mú sica tinha parado e Douglas estava na porta do estú dio. Nã o usava a bengala e, sem ela, ningué m diria que era cego. Parecia que, a qualquer momento, ia sair andando pelo corredor, como se visse por onde andava.

Poré m, ele nã o se mexeu e seu rosto estava sombrio.

— Sabrina. — O nome foi dito quase com rispidez. — Há uma carta aqui que gostaria que lesse para mim. Acredito que seja da srta. Darrel. Lembro do perfume que ela costumava usar no envelope.

— Já estou indo. — Enquanto se aproximava de Douglas, já sabia qual era o conteú do da carta e qual seria a resposta.

As persianas do estú dio estavam fechadas e o ventilador zumbia suavemente no teto. Douglas fechou a porta e entregou a carta a ela.

— Abra as persianas. Nã o vá forç ar a vista.

Ela obedeceu e o sol entrou, iluminando o salã o e todas as coisas bonitas que ele continha. Teria Douglas precisado da tranquilidade da mú sica, antes de enfrentar as palavras escritas por Nadi?

—  Querido... — começ ava a carta, e Sabrina percebeu um ligeiro estremecimento nele, quando falou a palavra. Olhou para Douglas, mordendo os lá bios, e o viu lutando para manter o rosto controlado e quase severo.

— Continue. — disse ele.

Enquanto escutava a leitura da carta de Nadi, passava as pontas dos dedos num pequeno Buda de jade, cego como ele, mas muito mais sá bio do que Douglas jamais seria, pois o amor nã o é uma emoç ã o sabia.

 

                                                 CAPÍ TULO XI

 

O mar estava colorido e inquieto, e as ondas pequeninas e cheias de espuma faziam um barulho engraç ado quando batiam nos cascos dos barcos. As velas coloridas aumentavam o ar festivo que havia no porto,, com a avenida e as casas enfeitadas com bandeirinhas que danç avam alegremente ao vento. Havia uma enorme animaç ã o no ar e de todos os lugares vinha o som de mú sica e risos.

Vista da coberta do Lady Fay, a cena na praia era ainda mais excitante, e Sabrina batia a ponta do pé, acompanhando o ritmo dos sons de calipsos que chegavam até o iate.

Tinham sido convidados para passar o dia todo no barco para nã o perderem nenhum momento da festa, e agora Douglas conversava com Nadi e outros convidados, enquanto tomavam aperitivos no bar que tinha sido montado perto da proa.

Nadi tí nha escrito na sua carta que Douglas podia levar sua " pequena guia". Quando Sabrina quis recusar o convite, ele respondeu que " já era suficientemente desagradá vel o fato de a avó ter inventado uma desculpa para nã o ir. Nã o deixaria Sabrina ofender Nadi com outra recusa. Por isso, lá estava ela, parada no mesmo lugar onde a moç a tinha estado no dia em que a viu pela primeira vez.

Poré m, algué m que olhasse da amurada nã o veria uma figura sofisticada e impressionante, mas uma mocinha clara, com um vestido cor-de-rosa e com os olhos escondidos atrá s de ó culos escuros. Sabrina sentia-se desprotegida sem eles. Ningué m poderia adivinhar, muito menos Nadi, que seus sentimenios por Douglas eram mais do que profissionais. Precisava tomar todo o cuidado para nã o se trair. Tinha que vigiar cada olhar, cada sorriso.

O dia estava quente, muito claro, um cená rio perfeito para o festival.

Acima dos mastros enfeitados do iate, o cé u azul mostrava algumas nuvens douradas.

Sabrina olhou para cima. pensando que seria uma pena se chovesse, e depois foi para o outro lado do iate, de onde teria uma vista melhor do mar. Sentia uma estranha inquietaç ã o. Queria ficar a bordo e ao mesmo tempo, lutava contra o desejo de fugir. De repente, uma gargalhada alegre vinda da popa a fez apertar com forç a a grade da coberta, tentando ignorar a pontada de inveja no coraç ã o.

Nadi estava maravilhosa, quando foi recebê -los, com um sofisticado vestido de seda verde. Afastou Douglas de Sabrina assim que desembarcaram da lancha que os levou até o iate.

— Querido... — A voz era uma verdadeira carí cia. — Venha, quero lhe apresentar umas pessoas sensacionais. Sabrina, quer um aperitivo?

— Ainda nã o. srta. Darrel.

— Pode me chamar de Nadi — disse a outra, por cima do ombro coberto de seda, e se afastou de braç o dado com Douglas, de modo a poder guiá -lo sem chamar muita atenç ã o.

Sabrina olhava o alegre movimento de muitos barcos que passeavam pela baí a e seguia o vô o preguiç oso das gaivotas. Nunca tinha estado num iate antes e ficou imaginando como seria ir para o mar, longe de todos os problemas.

Sim, seria muito bom. Talvez, quando deixasse a ilha, voltasse à Inglaterra de navio. Escolheria um cargueiro, que custava mais barato e parava em vá rios portos. Hoje. por algum motivo, nã o conseguia afastar do pensamento o dia de sua partida. Ele estava como uma nuvem pesada e cinzenta no horizonte. De repente, ficou tensa. A uns quinze metros do iate, viu uma figura na á gua, enquanto uma lancha se aproximava dela em alta velocidade. 0 homem nadava com braç adas poderosas, mas a qualquer momento seria atingido pela embarcaç ã o.

Sentiu o coraç ã o dar um salto. Arrancou os ó culos escuros para ver melhor e percebeu, com pavor, que o nadador era Ret!

Ele nã o tinha ido com ela e Douglas porque já havia combinado um encontro com um amigo no clube para tomar alguns aperitivos antes do almoç o. Descera do carro com um sorriso malicioso, acenando para Sabrina. E agora, estava na á gua, a poucos metros de uma lancha que poderia fazê -lo em pedaç os!

Subitamente, a lancha fez uma curva fechada, quando o piloto viu Ret, e e! e mergulhou em direç ã o de um catamarã que estava perto, com as velas coloridas enfunadas pelo vento. Foi puxado para bordo e, enquanto Sabrina dava um suspiro de alí vio, sentiu uma ponta de raiva pelo modo atrevido como o viu rir, olhando para o iate, com a á gua escorrendo peio corpo musculoso.

O barco o trouxe até a escada do iate e um dos marinheiros o ajudou a subir. Ainda ria. quando passou por cima da amurada.

— Nã o estaria com essa cara, se tivesse sido feito em pedaç os por aquela lancha! — Sabrina falou furiosa. — Será que nã o tem nenhum sentido de perigo?

— Eu a assustei, queridinha? Foi uma aposta que fiz. Disse que nadaria do clube até o Lady Fay. Claro, todos sabí amos do movimento de barcos que há hoje, mas, se nã o fosse assim, nã o haveria graç a na aposta.. Gosto de fazer coisas que envolvam algum risco. Por que nã o experimenta algo assim, enfermeira? Talvez colocasse um pouco mais de cor na sua vida cheia de deveres.

— Já enfrentei uma aventura, quando vim para esta maldita ilha! — Sabrina pô s os ó culos, com um gesto decidido. —- Vai ficar na festa vestindo só um calç ã o?

— E por que nã o? Acha que Nadi se importaria? Pelo que vejo, ela está tã o feliz e distraí da que nem notaria se um escocê s de saiote entrasse no iate para almoç ar. Nadi conseguiu o que queria: convenceu Douglas a começ ar de novo, de onde eles pararam, e você sabe o que isso significa.

— Acho que sim.

— Se amasse algué m, Sabrina, esperaria que ele a amasse mais do que a pró pria vida?

— Gostaria... de ser mais razoá vel do que isso.

— Com você. seria o contrá rio, hein? Amaria um homem mais do que sua pró pria vida, nã o é?

— Ret, nã o acha que devia se enxugar?

— Ou calar a boca, hein? — Ele sorriu e tirou os pingos de á gua dos braç os com as mã os. — MacQueen, o amigo com quem fiz a aposta, deve chegar de lancha a qualquer momento com minhas roupas.

- Faz apostas sobre tudo?

— Elas dã o algum tempero à vida, embora deva confessar que nem

sempre ganho.

— Quer dizer que deve dinheiro?

— Exatamente, querida enfermeira. Sabe de uma coisa? Esse vestido fica muito bem em você, mas gostaria que tirasse os ó culos escuros. O que está tentando esconder?

A pergunta deixou-a mais nervosa. Ainda estava abalada por causa do incidente da lancha. Um dia, Ret iria longe demais e nã o se salvaria no ú ltimo minuto. Sua audá cia nã o o ajudaria numa crise real. Se ficasse aleijado ou cego, nã o teria a coragem e a forç a de Douglas.

— O sol está forte demais e o reflexo na á gua faz meus olhos lacrimejarem.

— Lá grimas? Porque teve que entregar seu paciente aos cuidados menos misericordiosos de Nadi? Bem, o amor é mais feito de paixã o do que de piedade, como já lhe disse. Na sua inocê ncia, você seria bem capaz de confundir as duas coisas.

— Nã o sou tã o infantil assim!

Sabrina virou-se com alí vio para o garç om que veio avisar que o almoç o seria servido em meia hora, convidando-a para ir se juntar ao grupo para tomar um aperitivo. Ela olhou para Ret, que ergueu as sobrancelhas, numa expressã o de caç oada.

— Agora está pedindo meu apoio moral, certo? Vestido do jeito que estou?

— Você conhece a maioria dos convidados.

— Sinto até as pernas moles ao saber que você deseja a minha companhia, meu bem.

Seguiram o garç om até a coberta superior, onde havia sido estendido um toldo colorido. Sabrina deu uma risadinha nervosa.

— Vamos fazer uma figura muito estranha no meio de todos essesconvidados!

— Você é uma quadrada. Está tã o acostumada a andar sempre de uniforme, que nem sabe que num iate como este todos se vestem como querem. Ningué m repara se algué m está de fraque ou de tanga!

Sabrina riu novamente e parou de repente, quando Ret tirou seus ó culos.

— Ret!

— Nã o vai precisar deles embaixo do toldo, boneca. Seus olhos sã o muito bonitos: nã o vou deixar que os esconda.

Depois, com todo seu charme displicente, Ret a pegou pelo braç o e levou-a até um cí rculo de convidados. Cumprimentou meia dú zia deles e pediu dois drinques ao garç om.

— Venha para cá, meu bem — disse Nadi, indicando para Sabrina uma cadeira de lona perto dela e Douglas. — Hoje nã o é dia para formalidades. Vou chamá -la pelo primeiro nome. E lindo.

Enquanto Sabrina se sentava, sentiu os olhos verdes passando por ela, como se dissessem: " Um nome como Sabrina devia pertencer a algué m bonita e excitante".

— Sabrina é a enfermeira de Douglas. Uma moç a extremamente dedicada.

Nadi fez uma apresentaç ã o para todos em geral, e a moç a foi cumprimentada por vá rios casais extremamente bem vestidos, com os sotaques mais variados: franceses, italianos e americanos. Todos pareciam ricos e tranquilos, exatamente os tipos de pessoas com quem Nadi gostaria de andar, mundanos e seguros de si. Mas, e Douglas? Será que passavam a maior parte do tempo sendo decorativos e divertidos? Na opiniã o de Sabrina, essas pessoas combinavam mais com Ret.

Entã o, como uma resposta a seus pensamentos, Ret se aproximou deles trazendo o copo de Sabrina e Nadi lhe deu um daqueles olhares charmosos, levantando as sobrancelhas sedosas.

— Ret, você sempre faz as coisas mais inconvencionais. Veio nadando?

— Sim, e quase nã o chego. Por pouco, nã o fui estraç alhado por uma lancha. E, ainda por cima, levei um puxã o de orelhas de Sabrina. Ela parece um anjinho, mas é terrí vel quando fica brava. Nã o é, Douglas?

— Já levei alguns cascudos. — Douglas virou o rosto na direç ã o da voz de Ret, e Sabrina nã o resistiu à vontade de olhar para ele. Parecia relaxado e era uma figura impressionante que dominava todos os homens presentes.

— Está bebendo alguma coisa, Sabrina. — perguntou, de repente.

— Sim, obrigada. — Como se controlava para nã o mostrar nenhuma emoç ã o, fez a voz soar fria como o gelo que tilí tiava em seu copo!

A frieza funcionou como um radar e fez Douglas voltar os olhos paraela... aqueles olhos incrí veis, brilhantes, que nã o pareciam cegos.

É injusto, gritou seu coraç ã o, um homem com a inteligê ncia e vitalidade de Douglas, ví tima da escuridã o total, sem poder ver o mar azul, os barcos alegremente pintados passando por entre os iates e escunas, cheios de frutas e peixes, e o movimento das pessoas no ancoradouro.



  

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