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O Jardim das Acácias 6 страница



— Nã o finja que se importa com ele! Me largue!

Sabrina começ ou a bater nos ombros de Ret para se libertar e a bolsa escapou por cima da grade, indo cair no piso de má rmore do saguã o, onde se abriu, espalhando seu conteú do. O fecho da caixa com os brincos se soltou e os diamantes ficaram brilhando como lá grimas no chã o. — O que precisou fazer para ganhar um presente desses? –

— Nã o sã o meus! — As palavras saí ram, desesperadas. — Sã o para Nadi! Ele os separou para ela! E Nadi vai ganhá -los muito mais cedo do que Douglas imaginava. Ele nã o sabe, mas ela está aqui, na ilha!

Ret ainda a segurava pela cintura, quando uma figura escura saiu da sombra sob a escadaria. Douglas ficou ali parado, com o rosto virado para cima.

— Sabrina? — A voz profunda ecoou pelo saguã o. — Quer vir já para

baixo, para repetir o que acaba de dizer a Ret? Sim, eu sei que ele está com você!

Muito pá lida. Sabrina desceu a escada enquanto Ret a observava, debruç ado na grade.

Mais alguns passos, e ela estaria frente a frente com Douglas... e o iní cio de uma amizade mais profunda entre os dois terminaria. Ia ter que contar sobre Nadi, e logo os olhos cinzentos se incendiariam com o desejo de tocá -la, de ouvir novamente a voz dela.

CAPÍ TULO Vil

— É verdade, senhor.

Sabrina ficou parada, olhando para ele, com o conteú do da bolsa espalhado a seus pé s.

— Vi a srta, Darrel chegar num iate. — Foi quando saí mos do clube e está vamos indo para o carro.

— E por que nã o me contou? — Douglas continuava com a testa franzida e tinha um ar insuportavelmente severo. Segurava a bengala branca com tanta forç a que os nó s dos dedos apareciam sob a pele morena e arranhada.

— Eu... achei que nã o tinha nada com isso.

— Oh, nã o. Pelo contrá rio, foi excesso de cuidado. Pensou que seu paciente ia ficar emocionado e isso nã o seria bom para ele. nã o é? Agora, diga-me: como estava ela? Charmosa, vestindo alguma coisa sofisticada'. '

— Sim. E linda, mais linda em pessoa do que nas fotos.

— Quer dizer que resolveu nã o me dizer nada. Que exagero, enfermeira! Que preocupaç ã o com meus sentimentos! Nã o sou crianç a; nã o precisa ficar afastando de mim os brinquedos que podem me machucar. Na segunda vez, a dor nã o é tã o grande como na primeira. Uma cicatriz é insensí vel e você, como enfermeira, já devia saber disso. — Douglas começ ou a se virar para sair do saguã o e seu pé bateu num dos brincos. — O que foi isso?

— Deixei cair minha bolsa lá de cima... ela se abriu.

— Entã o, pegue tudo, menina! Nã o fique parada aí, feito uma idiota! Sabrina se ajoelhou e começ ou a recoiher as coisas, arrasada pela presenç a escura, alta e assustadora a seu lado e pela batida irritada da bengala no chã o. Os brincos pareceram pedras de gelo entre seus dedos e suas mã os tremiam, quando guardou as jó ias nas caixas de veludo.

Ret continuava no alto da escada. Sabrina nã o levantou os olhos, mas sabia que ele sorria, divertindo-se com sua humilhaç ã o. Bem, se a cena servia para convencê -lo de que nã o significava nada para Douglas, entã o, seu sofrimento nã o estava sendo em vã o.

— Como é, pegou tudo?

— Sim, senhor.

— Venha comigo ao estú dio, para me ajudar a guardar as jó ias no cofre.

Douglas saiu andando na frente, com a habitual seguranç a que mostrava quando se movimentava pela casa. Só tinha errado o caminho no jardim porque seu pensamento estava naquela moç a que nã o conseguia esquecer. Na mulher que tinha pedido que fizesse a operaç ã o que poderia matá -lo!

Abriu a porta e afastou-se para deixá -la passar. Os abajures estavam

acesos porque, apesar da cegueira, ele nunca ficava no escuro. Sabrina foi

até a poltrona de veludo e acariciou o espaldar, sentindo a vibraç ã o da

presenç a de Douglas, que parecia impregnada nela.

Sem ser especialmente bonito, ele tinha uma aura, uma atraç ã o primitiva que outros homens de beleza perfeita, como Ret, jamais conseguiriam ter. O modo como sentava, a cabeç a orgulhosa, a voz profunda faziam com que Sabrina o amasse ainda mais, com uma â nsia, um prazer e uma dor que ningué m, a nã o ser ela mesma, poderia jamais

ficar sabendo.

Douglas abriu o cofre, que ficava atrá s de um painel, e estendeu a mã o, pedindo as jó ias.

— Ret deve ter ficado curioso, nã o? Será que pensou que eu a estava recompensando por serviç os nã o incluí dos no manual de enfermagem?

— Foi mais ou menos isso.

Pensou que ele fosse abrir a caixa dos brincos para tocá -los e sentiu uma estranha satisfaç ã o quando o viu guardá -los sem nenhuma atenç ã o especial.

Douglas tirou de uma das prateleiras do cofre uma peç a pequena,

branca e esculpida em formato de livro.

— Veja, isto é chinê s, muito antigo. É de jade e tem umas palavras gravadas. Pegue, sinta como parece vivo, macio e, ao mesmo tempo, firme como o corpo de uma mulher jovem. — Suspirou. — É estranho como um homem solitá rio acaba se apaixonando por certos objetos.

— O que está escrito. Cada figurinha representa uma palavra, nã o é?

— Que a vida é cheia de contrastes. Que nã o há amor sem dor, alegria sem tristeza, ou risos sem lá grimas. Que o amor deveria ser evitado, mas que, como a morte, é inevitá vel...

— Que lindo! — Havia um pouco de tristeza na voz dela. Devolveu a peç a a Douglas.

— É a histó ria da vida, Sabrina.

Ele trancou o cofre e depois abriu a tampa do reló gio braille para ver as horas.

— Ainda temos tempo para um copo de vinho antes do jantar. Nã o, é melhor um pouco de conhaque. Já tratou do seu arranhã o? Pelo modo como Nan falou, parece que se machucou bastante.

— Nã o foi nada...

Sabrina estava se afastando em direç ã o do pequeno bar quando ele a pegou pelo pulso. Agora, já conhecia sua altura e conseguia achar facilmente a posiç ã o do rosto.

— Foi deste lado que o espinho pegou?

— Sim, senhor. —- Fez o possí vel para nã o tremer,

— Pelo amor de Deus! Vai começ ar essa histó ria de " patrã o e empregada", só porque perdi a paciê ncia com você '. ' Ora, nã o sei porque imaginou que eu nã o tinha o direito de saber sobre Nadi. — De repente, num gesto quase brusco, Douglas abaixou a cabeç a e, como se pudesse ver, pressionou levemente os lá bios na pele machucada do rosto de Sabrina.   

— Hum! Anti-sé ptico... Aposto que está toda empertigada e engomadinha e nã o gostou do que eu fiz. Foi um beijo de agradecimento. Você foi muito valente, entrando no meio dos espinhos para me salvar. O que faria se eu entrasse numa fogueira?

— O mesmo, acho.

Afastou-se, delicadamente, e foi servir o conhaque. Estava tré mula e sentia necessidade de um estimuiante.

— Será que os deveres de uma enfermeira vã o até o sacrifí cio da pró pria pele?

— É só... bem, nã o gosto de ver as pessoas se machucarem, monsieur,

— Ah, assim está bem melhor. Você tem coraç ã o mole, Sabrina, e isso pode ser muito mais uma carga do que uma bê nç ã o. Gostaria de poder pô r minhas mã os no malvado que machucou seu coraç ã ozinho, na Inglaterra.

— Por quê? — A garrafa de conhaque quase escapou da mã o da jovem.

— Porque nunca tive uma irmã. Se tivesse, tenho certeza de que seria

parecida com minha mã e e com você: gentil, carinhosa, sempre pronta a se sacrificar pelos outros e incrivelmente valente. Nossa, mas como você demora para servir uma bebida! Acho que está mais acostumada com remé dios!

— Ê verdade. — Sabrina sorriu e pô s o copo nas mã os dele. Ficava

feliz em poder servi-lo, estava disposta a ser uma criada, uma escrava,

mas jamais uma irmã!

— Vai tomar um pouco també m?

— Sim. — Bateu o copo de leve contra o dele e olhou para cima, com os olhos cheios de um amor atormentado. — Saú de!

— Saú de para você també m. — De repente, o tom de Douglas ficou muito rí spido. — E agora, preste bem atenç ã o. Na pró xima vez que me vir em perigo, nã o arrisque o pescoç o para me salvar. Isso é uma ordem!

Ela recuou, quase assustada, e tomou um gole da bebida para disfarç ar. Era sempre assim. Douglas sempre tinha que contrabalanç ar os momentos de ternura com uma exibiç ã o de dureza. Tinha levado um choque quando Nadi rejeitou seu amor por causa da cegueira e agora só conseguia manter seu isolamento sendo cruel com os outros, apesar de precisar desesperadamente de um pouco de carinho.

Tomavam o conhaque em silê ncio, quando Charles veio avisar que o jantar seria servido.

Durante toda a refeiç ã o, Douglas conversou sobre os mais variados assuntos e nem uma vez mencionou para a avó que Nadi Darrel estava na ilha. Seu rosto estava sem expressã o e Sabrina teve a certeza de que tentava esconder as emoç õ es, porque parecia muito tenso.

Mais tarde, quando tomavam café no salã o, ouvindo mú sica suave, Douglas relaxou na poltrona e fechou os olhos. Sabrina deu um suspiro de alí vio. A tensã o fazia mal a ele: podia trazer uma daquelas terrí veis dores de cabeç a que o deixavam de cama por dias seguidos.

Sentada fora do campo de visã o de Laura, que se distraí a fazendo palavras cruzadas. Sabrina pô de olhar para Douglas sem se preocupar em ocultar o que sentia, enquanto se deixava envolver pelo perfume das flores e pelos raios de luar que entravam pelas janelas que se abriam para o jardim.

— Ah, como foi bom — murmurou Douglas, quando a mú sica terminou. — Bem que estava precisando de um pouco de repouso depois de um dia tã o tumultuado. Vovó, tenho uma coisa para lhe contar.

— Estou ouvindo, querido. — Laura levantou os olhos da revista, com uma expressã o pensativa. — Mas antes, me diga uma palavra de sete letras que signifique trê s rostos sob uma touca. Diz aqui que é algo que está no livro Alice no Paí s das Maravilhas.

— Nã o se lembra, Nan? É uma flor. A violeta... tã o pequenina e, no entanto, tã o valente para enfrentar as intempé ries.

— Violeta... Deixe-me ver. Oh, Dougias, você é tã o inteligenle! Nã o sei a quem puxou. Seu pai só pensava em aviõ es. Acho que é uma exceç ã o dos Saí nt-Same.

— Eslou certo de que sou. Agora, quer prestar atenç ã o? Quero lhe contar o que conteceu.

— Pode falar, querido. Sabrina levantou-se da poltrona.

— Com licenç a, posso me retirar? Você s devem ter assuntos particulares para conversar, e estou com muito sono.

— É claro, minha filha. Vá já para a cama e veja se descansa bastante. Está um pouco abatida, deve estar exausta.

— Acho que hoje forcei Sabrina um pouco alé m dos limites. Precisa tentar se envolver menos com os pacientes, enfermeira. Excesso de dedicaç ã o nã o é bom para uma moç a. Amanhã mesmo, vou contratar uns homens para fazer uma boa limpeza na quadra de té nis e na piscina. É muito mais seguro nadar nela do que no mar. — Fez uma pausa e virou a cabeç a, tentando localizar a posiç ã o de Sabrina. — Vai poder jogar té nis com Ret, Se nã o souber, garanto que ele terá prazer em ensinar-lhe. E entã o, nã o tem nenhum comentá rio a fazer?

— Será ó timo poder nadar, sem ter que me preocupar com os tubarõ es.

Douglas deu uma risada.

— Boa noite, enfermeira. Bons sonhos,

— Obrigada. Boa noite, sra. Saint-Same.

Quando estava subindo para o quarto, Sabrina parou em frente do retrato da noiva com a corrente que agora ela estava usando. Seus dedos se fecharam sobre a concha de jade e sentiu-se um pouco culpada por estar com uma jó ia tã o ligada ao passado daquela famí lia.

Com passos silenciosos, continuou andando pelo corredor. Tinha dito que estava com sono, mas, na verdade, sentia-se inquieta e nervosa. Foi para o terraç o e sentou-se numa poltrona de vime.

A noite estava linda e silenciosa, como se até os grilos tivessem sido hipnotizados pelo luar. O barulho do mar, vindo de longe, a fez lembrar do que havia acontecido na praia.

Nã o era para ela que Douglas estava mandando fazer uma limpeza no casarã o. Sabia que Nadi viria vê -lo mais cedo ou mais tarde, e queria fazer o possí vel para manté -la junto dele. Sabrina podia entender essa necessidade profunda e secreta. Só desejava, por amor a ele, que a moç a fosse mais sincera, mais consciente da solidã o e do desespero que Douglas sentia tantas vezes. Fazia pouco tempo que estava cego e ainda ia demorar muito para aceitar as mudanç as que isso representava em sua vida e em sua pró pria maneira de ser,

Tinha necessidade de se sentir amado, com calor, simpatia e paixã o, mas Sabrina compreendera imediatamente, só ao ver Nadi Darrel, que era o tipo de mulher capaz de amar uma ú nica pessoa: ela mesma. Com um suspiro, levantou-se da poltrona e foi para a cama.

Douglas era um homem de palavra. No dia seguinte, vá rios trabalhadores já estavam ocupados na limpeza e reforma da quadra de té nis e da piscina.

Quando o mato e as trepadeiras foram cortados e as grades de ferro começ aram a ser pintadas de branco, tudo foi mostrando sua verdadeira beleza.

Enquanto acompanhava o serviç o, Laura contou a Sabrina sobre o pavilhã o de festas, construí do como presente para a moç a que estava retratada com a corrente e a concha de jade.

— Dizem que o marido era muito mais velho do que ela, e també m

que... — Laura fez um gesto expressivo — a ganhou num jogo de cartas...

— Está brincando!

— Nã o, é a pura verdade. Os homens eram assim naquele tempo. O. pai dela era um jogador inveterado. Quando perdeu tudo que possuí a, Paul Saint-Same nã o aceitou uma promissó ria. Pediu Clarice, a moç a. como pagamento. Ela chegou a Snapgates no dia seguinte e eles logo se casaram. Por incrí vel que pareç a, viveram muito felizes até a morte dele. Clarice estava só com trinta anos, mas nã o quis mais casar. Daí em diante, viveu só para os dois fiihos.

Parece incrí vel!

— Muito româ ntico. As moç as de hoje nã o conseguem entender essas coisas apesar de você parecer do tipo que acredita que o amor pode nascer nas mais estranhas circunstâ ncias.

— Porque sou feinha e só poderia esperar um casamento se algué m me ganhasse num jogo de cartas?

— Por que se diminui tanto, Sabrina? Nã o vou dizer que é uma grande beleza, mas tem seus atributos, meu bem. Posso ser franca?

— E claro.

— Por que nã o usa cores mais vivas?

— Porque sou enfermeira.

— Sim, entendo, mas nã o estou falando quando está de serviç o. Certos tons mais fortes, vermelho ou laranja, combinariam melhor cò m seu tom de pele e realç ariam seus olhos, No entanto, você parece ter uma grande inclinaç ã o para o bege e o azul pá lido, que nã o lhe ficam bem. Se quiser encontrar um marido, querida, precisa usar uma plumagem mais vistosa. Nã o está sentida comigo por dizer isso, está?

— Nã o, sra. Saint-Same. Só que parece que a senhora pensa que estou ansiosa para arranjar um casamento, o que nã o é verdade. Gosto da minha carreira e estou muito satisfeita com o meu trabalho.

— Fico feliz por saber disso. À s vezes, Douglas pode ser muito difí cil. A maioria das enfermeiras que trabalharam aqui saiu quase fugida, com lá grimas. Nã o permita que ele a deixe perturbada.

— Estou acostumada a tratar de crianç as mimadas. — Sabrina serviu uma outra xí cara de chá, para nã o ter que ficar olhando dí retamente para Laura. Ela era esperta, e a moç a temia deixar transparecer seus verdadeiros sentimentos.

— Acha que ele é muito mimado?

— Bem, o sr. Saint-Same é um homem rico, que sempre teve tudo da vida, antes de sofrer o acidente. É triste ser cego, quanto a isso nã o há dú vida, mas há milhares de pessoas que só conhecem o sofrimento e as privaç õ es.

Laura deu um longo suspiro e ficou mexendo nos ané is.

— Preocupo-me tanto com o futuro... Ontem à noite, ele me contou que mandou vender as jó ias da famí lia, que, em circunstancias normais, deviam ser da esposa dele. Tentei conversar com ele, mas Douglas insiste em dizer que nã o pensa em casar, que jamais traria uma mulher para esta casa para ser um fardo para ela, Ah, Sabrina, fico tã o triste em vê -lo assim, sem esposa, sem filhos, que poderiam alegrar um pouco sua vida. Mas, o que posso fazer? Como convencê -lo? Ele foi sempre tã o teimoso... Acabamos brigando, quando eu quero conversar, tentanto fazê -lo entender o meu ponto de vista. " Nã o quero que ningué m case comigo por piedade. " É só isso que insiste em dizer...

Sabrina sentiu um aperto no coraç ã o. Douglas, tã o orgulhoso e obstinado, preso à quela â nsia por uma mulher que sabia que nunca conseguiria viver a seu lado.

-— É preciso ter paciê ncia, sra. Saint-Same. Daqui a alguns anos, o sr. Douglas já terá se acostumado com a cegueira e talvez se sinta de modo diferente em relaç ã o ao futuro. Poderá começ ar uma nova carreira.

— Você está sempre falando em carreiras, Sabrina! Nada neste mundo pode substituir o amor, e é isso que quero para o meu neto! Algué m que goste dele, que fique a seu lado, depois que eu me for. Terei no má ximo mais dez anos de vida e nã o podemos contar com algué m como você eternamente. Sei que está contente aqui, mas, mais cedo ou mais tarde, vai querer ir para outro lugar, para continuar a subir nessa carreira de que tanto fala.

Sabrina nã o conseguiu evitar uma expressã o de dor, só ao pensar na

possiblidade de se afastar de Douglas.

— Perdoe, querida. Acho que fui um pouco dura. É que simplesmente nã o consigo entender uma moç a que só pensa no trabalho. Nunca pensei em nada, senã o em casar e ter filhos, e nã o perdi muito tempo para realizar meu sonho.

— A senhora ainda é muito bonita. Imagino que havia centenas de rapazes querendo cortejá -la.

— Hummm, devo dizer que foi muito agradá vel. Sim, foi tudo maravilhoso. Fui a muí tas festas, tive muií os namorados e casei com um homem encantador. Meu casamento foi muito feliz e posso dizer que a minha vida foi sempre um mar de rosas... — Laura olhou fixamente para Sabrina. — Sua vida nã o tem sido cheia de rosas, nã o é?

— Nã o, sempre houve mais espinhos — falou   num tom despreocupado, mas os olhos desmentiam as palavras,

—- Admiro algué m que sabe enfrentar a vida e ainda goste de sorrir da adversidade.

— Oh, sempre costumo dizer que nã o adianta chorar por causa do inevitá vel.

— Bem, no final das contas, o que realmente importa numa moç a é a coragem, a personalidade, e nã o uma carinha bonita. Mas, como já disse, você faz muito pouco para ser notada. Penteia os cabelos desse modo tã o severo, que nã o lhe fica bem, e usa roupas muito sem graç a.

— Sã o roupas que combinam comigo, sra. Saint-Same. Em primeiro lugar, sou uma enfermeira, e nã o ficaria bem andar por ai vestida de vermelho.

— Pois acho que vermelho ficaria muito bem em você

— Ret també m... — Sabrina parou de falar e ficou muito corada.

— Acha meu sobrinho atraente?

— Só uma cega... — Novamente Sabrina se interrompeu, sentindo o rosto em fogo. — Sou uma boba, quando se trata de homens. Nunca tive uma amizade í ntima com nenhum deles. Nã o sou atraente, sra. Saint-Same.

E entã o, procura consolo na carreira?

— Todos precisamos de algum coisa e sei que sou competente no meu trabalho.

— Nã o preferia ser amada?

— Tento nã o viver de sonhos.

— A juventude é a é poca de sonhar, nã o de fazer planos para uma vida de solteirona. O que é isso, Sabrina? Por que tantos complexos? Tem medo do amor, só porque acha que nã o é bonita? Querida, acredite em mim: há sempre um parceiro para cada mulher neste mundo. Mas, se ficar se convencendo de que nã o tem encantos, vai acabar transmitindo isso aos outros, Os homens detestam esse modo frio, como se usasse uma placa dizendo: " É proibido tocar". Sabrina riu.

— Acho que a senhora devia estar muito satisfeita por eu ser feinha e fria. já que há dois jovens solteiros nesta casa.

Laura levantou os olhos para ela e ficou examinando-a com um ar pensativo.

— Há algo de misterioso em você. Algo profundo. Ret deve ter notado... é melhor tomar cuidado.

— Ret gosta de brincar comigo, é só isso. Em certos aspectos ele é muito infantil.

— E o que acha de Douglas? Ele é bem adulto e nunca foi santo.

— Nã o. — Sabrina deu um sorriso triste. — Ele tem outra imagem no pensamento e ningué m...

— Ningué m poderá competir com a imagem de Nadi, nã o era isso que ia dizer?

— Sim. Ele lhe contou?

— O quê?

— Que Nadi está na ilha'? Laura levantou de um salto.

— Nã o... meu Deus, vai começ ar tudo de novo? A dor, a saudade, o sofrimento, quando ela se for pela segunda vez? Oh, por que ela nã o ficou longe? Vou ter que procurar Nadi, pedir que nã o venha vè -lo. Douglas nã o pode ficar sabendo...

— Ele já sabe que ela está aqui, sra. Saint-Same. O sr. Douglas é um homem feito e nã o se pode querer protegê -lo ou dirigir sua vida. Ele vai querer vê -la... vai querer desesperadamente... e ningué m deve interferir.

— Mas, Sabrina...

— Sinto muito, mas tenho que ser franca. Como enfermeira, sei que tensõ es acumuladas podem fazer muito mais mal do que bem. A srta. Darrel é como um brinquedo perigoso, mas muito desejado. Talvez seja melhor deixá -lo brincar um pouco.,. do que ficar sofrendo.

— Sim... é isso que ela é: nada mais do que uma bonequinha. Douglas, agora, nã o tem mais ilusõ es. É inteligente demais para se deixar enganar pensando que e! a o ama de verdade. Poré m, é um Saint-Same e nenhum de nó s tem uma natureza fria e calculista. Temos grandes paixõ es, que á s vezes nos dominam.

Laura deu um suspiro dolorido e seus olhos se encheram de lá grimas. — quando os mé dicos me disseram que ele estava cego, quis morrer ali mesmo, antes de ver qual seria a reacã o de Douglas. Sabrina foi impressionante, ele aceitou tudo num silê ncio incrí vel e seu rosto se transformou numa má scara de aç o. Pensei que Nadi fosse ficar ao lado

dele, confortando-o, mas ela começ ou a gritar como uma histé rica, implorando para que o operassem! Supliquei ao dr. Damien Williams que nã o fizesse isso, mesmo que Douglas exigisse a operaç ã o. Meu neto só tinha uma chance em cinquenta de viver e. mesmo que sobrevivesse, poderia ficar totalmente paralisado, Douglas tem só trinta e seis anos. Sabrina! Tudo que os Sainl-Same fizeram morreria com ele. Ret só pensa em si mesmo e nada restaria de Snapgates se ele herdasse os bens da famí lia. Venderia tudo e, em dez ou doze anos. o dinheiro estaria acabado. Mas Douglas, mesmo cego, é um homem capaz e inteligente. Sei que à s vezes é grosseiro, mas...

Sei muito bem o tipo de homem que ele é... — Sabrina mordeu o lá bio para nã o deixar escapar palavras pessoais ou apaixonadas. — Uma enfermeira acaba por ficar conhecendo muito bem os pacientes. Sei que o sr. Saint-Same tem muito cará ter e personalidade, que ningué m vai conseguir impedi-lo de ver a mulher que ama. Talvez...

— Sim?

— Talvez ele nem mesmo queira vê -la. É capaz de se fechar no estú dio. Mas. como continua a ser o chefe da famí lia, a palavra final terá que ser dele.

— Acha, entã o, que devemos lhe contar, se ela aparecer em Snapgates?

— Nã o vai ser preciso: ele logo ficará sabendo. Será imperdoá vel nã o lhe contar. nã o deixar que faç a a pró pria escolha. O sr. Douglas a ama. e todos sabem que o amor é um misto de prazer e tortura. Envolve riscos, mas també m tem seus encantos.

Houve uma longa pausa e se ouviam as abelhas zumbindo em volta das flores do caramanchã o, — Minha querida...

Sabrina levantou rapidamente, retomando a atitude profissional e disciplinada.

— Bem, quer me dar licenç a, sra. Saint-Same? Fiquei de responder algumas cartas para o sr. Douglas, assim que ele voltasse do passeio com Brutus. Já devem estar chegando.

— É claro, minha filha.

Enquanto se afastava, sentiu que os olhos de Laura a acompanhavam e seu coraç ã o deu um salto. Teria demonstrado o que sentia? Era difí cil uma mulher nã o perceber certas entonaç õ es de voz, certas atitudes, e tinha se arriscado muito ao falar em amor ao se referir a Douglas.

Oh, nã o tinha pedido por aquilo, nã o queria estar apaixonada por um homem que nem sabia como ela era. Um homem a quem Sabrina desejava proteger, mas que, igual a ela, nã o podia ser protegido das armadilhas do amor.

 

                                                   CAPITULO VIII

 

 

Durante um de seus passeios pela ilha, Sabrina descobriu uma pequena cabana coberta de sapé e, imediatamente, transformou-a num refú gio, para onde ia nas horas de folga, para ler ou simplesmente descansar na praia. Guardava lá o maio e uma toalha para poder tomar banho de mar se sentisse vontade. A piscina da casa já estava pronta, mas sentia uma certa relutâ ncia em usá -la. Tinha sido preparada para Nadi. Tudo e todos, em Snapgates, pareciam esperar por ela. Sabrina sentia-se feliz em poder escapar para sua cabana, quando Douglas nã o precisava dela.

Havia um sofá de vime com almofadas e algumas mesinhas; e, como o chã o era de pedra, a cabana era fresca e fá cil de ser mantida limpa.

Estava lá no dia que Nadi Darrel chegou, finalmente. Viu Brutus descendo pela trilha entre os rochedos e correu em sua direç ã o, imaginando que Douglas estava com ele.

No entanto, era Ret que descia atrá s do cachorro. Quando a viu, encostou-se preguiç osamente numa pedra.

— Ah, aí está, enfermeira. Meu primo mandou vir procurá -la: quer apresentá -la a uma amiga.

Sabrina ficou olhando fixamente para ele. Tinha nadado na baí a e seus cabelos estavam emaranhados e molhados. Vestia jeans e uma camiseta velha cheios de areia, e sabia que estava feia e desarrumada. E cada batida de seu coraç ã o dizia que a visifante era Nadi Darrel.

— Preferia nã o ir. Por favor, diga a eles que nã o conseguiu me encontrar.



  

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