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O Jardim das Acácias 5 страница



— Nã o. Sinto muito, parece que estamos sem gasolina.

— Nã o diga! — Douglas deu uma gargalhada divertida. — Sei que isso costuma acontecer, mas, geralmente, é ao contrá rio, com a moç a no lugar da ví tima.

— Sou uma boba! Fiquei conversando com sua avó quando saí mos e nem reparei no marcador.

— Normalmente, o tanque permanece cheio, mas pode ser que Ret tenha usado o carro. Parece que tudo que é meu o atrai. Bem, descreva exatamente onde estamos e poderei ter uma ideia de quanto teremos que caminhar até Snapgates.

— Estamos no iní cio da subida. Há uma mata à direita, cheia de á rvores com flores roxas e cor-de-rosa, e, do outro lado, a estrada acaba numa inclinaç ã o que vai até a praia.

— O que significa uma longa caminhada debaixo desse sol... A nã o ser que sigamos pela praia até os rochedos. Aí, subiremos a trilha e estaremos em Snapgates. Levaremos mais de uma hora, mas, pelo menos, nã o morreremos de calor na estrada asfaltada. Desç a, Sabrina, e vá ver se há algum caminho para descermos até a praia.

— Mas...

— Nã o sou tã o inú til assim, enfermeira! Por acaso, está achando que vai ter que me carregar no colo?

— Nã o, claro que nã o.

Sabrina saiu do carro e foi para a beira da estrada. Abriu um espaç o entre os arbustos e viu uma pequena trilha no mato que ia até uma praia de ondas muito grandes, com coqueiros em toda a extensã o. A colina nã o era muito í ngreme; poderia guiar Douglas sem grandes dificuldades. Desceriam devagar e, depois que chegassem à areia, nã o haveria outro obstá culo mais sé rio até alcanç arem a baí a de Snapgates. Talvez tivessem que subir no escuro, por que o sol já estava começ ando a descer no horizonte, mas, como Douglas tinha dito, seria muito mais agradá vel do que caminhar morro acima na estrada asfaltada. Voltou ao carro e explicou a situaç ã o.

— Ó timo. Acho que levaremos uma hora até a nossa praia e chegaremos a tempo de ver o crepú sculo. Isto é, você vai ver. Só poderei me lembrar de como é. Como outros quadros, está claro e ví vido em minha mente.

Ele começ ou a descer do carro e Sabrina teve que refrear o impulso de ajudá -lo. Esta tinha sido a liç ã o mais difí cil de aprender, desde que trabalhava com Douglas Saiat-Same: nunca devia tentar auxiliá -lo, a nã o ser que fosse absolutamente indispensá vel.

— Tranque o carro, Sabrina. Charles tomará as providê ncias para mandar buscá -lo. Tudo pronto?

— Sim.

— Entã o, mocinha, mostre-me o caminho.

 

                                                     CAPÍ TULO VI

 

Sabnna olhou para trá s e viu as pegadas na areia sendo lentamente apagadas à medida em que as ondas passavam sobre elas. O sol já começ ava a baixar no horizonte e as grandes vagas que batiam nos recifes brilhavam com reflexos. Douglas parou e virou o rosto em direcã o do mar.

— Ele é implacá vel e primitivo como o amor. Ouç a essa mú sica, Sabrina. Ela fala de tantas coisas, eternas e ilimitadas... Os recifes sã o como o coraç ã o do homem, que é maltratado num momento e acariciado no outro.

Sabrina sentia a vibraç ã o do mar em todo o corpo e pensou que nunca em sua vida tinha experimentado uma sensaç ã o igual de estar tã o integrada à natureza.

— O pô r-do-sol está muito bonito?

— Como sabe que o sol já está se pondo?

— Porque nã o posso senti-lo no meu rosto. Está caindo como uma bola de ouro sobre o mar?

— É um espetá culo maravilhoso, mas acho que devemos continuar nosso caminho. Logo vai ficar escuro e...

— Entã o, serei eu quem irá guiá -la. A noite é minha amiga: todos os sons ficam mais ní tidos e posso segui-los como se fossem pequenos sinais. Preste atenç ã o, Sabrina: consegue ouvir os caranguejos correndo levemente peia areia á procura de comida? Acho que nã o, mas eu sei onde eles estã o. Sabe?, é diferente poder conversar sobre isso como estou fazendo. Antigamente, nã o era assim. Havia sempre tanto a fazer... As pessoas com quem eu convivia naquela é poca nunca conseguiriam entender a mudanç a que houve em mí m, desde que precisei usar meus outros sentidos.

Douglas ficou em silê ncio, fazendo marcas na areia com a ponta da bengala. A brisa do fim de tarde balanç ava suavemente as folhas das palmeiras.

— Hoje em dia, a beleza de uma voz tem muito mais significado do que a beleza de um rosto. Agora, sou um homem que julga os outros pelos seus passos e perfumes. Você, por exemplo: eu a imagino como uma corç a, tí mida e, ao mesmo tempo, valente; graciosa e, algumas vezes, desajeitada. Seu perfume é muito delicado, e estou certo de que se veste de modo discreto... e os seus desejos estã o acorrentados. — Enquanto falava, Douglas se aproximou e, subitamente, ficou muito perto de Sabrina. Ela se afastou automaticamente e abafou um grito de surpresa, quando bateu com as costas no tronco de uma palmeira.

— Você fala como se fosse... pura — continuou Douglas. — Tem medo de um cego? Se corresse de mim, nã o poderia alcanç á -la, e sei que deve ser rá pida como uma corç a. — Levantou a mã o, procurando o rosto dela. — Está chorando? Que bobinha! É porque a deixo nervosa?

— Foi você mesmo quem disse. — Sabrina sentia-se sufocada pelas lá grimas, tã o difí ceis de controlar, e pela presenç a de Douglas, forte, quente e vital. — As pessoas nã o ficam com piedade quando sã o magoadas.

—- Fica magoada quando falo dos seus desejos? Onde os deixou? Na Inglaterra? Ah, é mesmo, prometi que nã o ia mais perguntar... mas quando uma moç a como você aparece em Snapgates assim, sem mais nem menos, tenho que saber o porquê. É a melhor enfermeira que já tive. Como farei para substituí -la, se algum homem a chamar de volta?

— Por que tem tanta certeza de que seria por causa de um homem? — Sabrina lutava desesperadamente contra as lá grimas. — Eu poderia ter roubado alguma coisa, ter dado um remé dio errado, há tantas outras razõ es para...

— Nada disso combina com você.

— Acredita que me conhece tã o bem assim?

— Ah, agora me pegou. Você, de todas as pessoas que vivem à minha volta, é a que menos conheç o. Quando penso em Nan, Ret ou em algué m que conheci antes de ficar cego, ainda posso me lembrar de como sã o.

Douglas passou os dedos pelo rosto de Sabrina e novamente ela prendeu a respiraç ã o, emocionada. Os dedos fortes tocaram de leve seus lá bios, subiram pelas faces tí midas e chegaram aos olhos. Ela fechou as pá lpebras para que ele pudesse sentir melhor.

— Como seus olhos sã o grandes, Sabrina.

— Sã o para ver você melhor — ela tentou brincar, mas estava toda tremula. Sabia onde Douglas pretendia chegar: estava tã o curioso em descobrir se havia existido um homem em sua vida, que queria comprovar por si mesmo se ela já tinha alguma experiê ncia no amor.

Ficou tensa contra a á rvore, temendo aquele beijo, rezando para Douglas soltá -la, mas ele a pegou pelos ombros com mais forç a ainda, e ela sentiu a respiraç ã o acelerar.

— Nã o... por favor!

— Por quê? Nã o é é tico... ou nã o é desejado?

O coraç ã o de Sabrina começ ou a bater alucinado, como o mar nos recifes de coral.

— Você só está fazendo isso porque tem curiosidade sobre mim. Nã o tem o direito de se valer disso. Nã o é justo, porque é mais forte do que eu, porque paga o meu salá rio e porque nã o pedi o presente que me deu!

A mã o de Douglas procurou a correntinha e a concha presas no pescoç o de Sabrina. O calor daqueles dedos era como uma deliciosa tortura. Ela ansiava por ser tocada, abraç ada, mas sabia que isso só lhe traria sofrimentos. Douglas logo ia saber que a mulher de seus sonhos estava na ilha e, entã o, nã o pensaria nela senã o como a sua enfermeira.

— Quando... quando aceitei o presente, nã o pensei que tivesse que pagar por ele.

As palavras foram ditas... agora era tarde demais. Como numa represá lia brutal, Douglas a fez gritar, quando a enlaç ou com braç os fortes, destruindo toda a resistê ncia de seu corpo franzino. Tomou seus lá bios entreabertos com sofreguidã o, e seu beijo foi quase implacá vel. Estava escurecendo, e, na escuridã o, ele era o senhor. Quando a soltou, Sabrina estava ofegante e tré mula, sem saber o que fazer.

— Muito obrigado — disse Douglas, num tom cí nico. — O que eu ganharia, se tivesse lhe dado os diamantes?

Aquele beijo tinha aberto as portas do cé u para Sabrina... e aquelas palavras a levaram ao desespero.

— Acho que é melhor irmos andando.

— Há algo melhor para se fazer? — Foi a resposta iró nica.

Sabrina mordeu o lá bio, envergonhada, e depois notou que a bengala estava caí da na areia. Abaixou-se, pegou-a e prendeu-a no braç o de Douglas.

— Está me colocando no devido lugar?

— O que quer dizer?

— Um cego nã o pode ser objeto de amor, nã o é?

Com essas palavras, Douglas começ ou a andar, sem esperar por ela. Quando chegaram à trilha que subia pelos rochedos, foi Sabrina quem tropeç ou.

— Esse é um daqueles casos paté ticos: um cego guiando outro cego. Talvez seja melhor esperarmos pela lua.

— Seria bom mandar iluminar este caminho. A noite nos tró picos cai tã o depressa e é tã o escura! Deve ser para compensar o brilho do sol durante o dia.

— E a lua é sempre mais brilhante. Como estava ela, naquela noite em

que você veio nadar?

— Muito linda, quase dourada,

— Cor-de-champanhe?

— Nã o sei, nunca bebi champanhe.

— Pobre menininha carente! Entã o,  é isso! Apaixonou-se por um jovem mé dico... bonito e dedicado... pobre e trabalhador, que nã o podia...

— Por favor, pare!

— Nã o gosta de falar sobre seu amor perdido?

— Você també m nã o gostaria que lhe perguntasse sobre Nadi Darrel! — Droga, mais uma vez, tinha dito o que nã o queria!

Haviam chegado ao alto dos rochedos e Douglas ficou parado como uma está tua, enquanto os grilos escondidos nas folhagens enchiam a noite com ruí do e as estrelas começ avam a surgir no azul-escuro do cé u.

— Quem lhe falou sobre Nadi? — perguntou, á spero. — Como ficou sabendo sobre ela?

— Vi as fotografias na sua escrivaninha. Eu a reconheci imediatamente. É uma modelo famosa, está em todas as capas de revistas.

— Í amos casar, sabia disso també m? Ela estava comigo no dia que os mé dicos deram a palavra final: a cegueira ou a morte. — Um tom de profunda amargura surgiu na voz de Douglas, enquanto falava, parado no alto dos rochedos, com os olhos voltados para as estrelas que nã o podia ver. — Nenhum homem quer morrer assim, como um galho se quebrando...

— Como uma á rvore sendo abatida — murmurou Sabrina, muito pá lida.

O vento tinha desmanchado seus cabelos, que esvoaç avam como uma nuvem em volta do rosto delicado, pequeno demais para os olhos grandes e expressivos. As feiç õ es de Sabrina eram incomuns. Se vivesse em outra é poca, poderia ter servido de modelo para um pintor como Renoir, mas ela nã o tinha consciê ncia disso. Os jovens mé dicos a achavam esforç ada, competente, mas sempre distante. Os pacientes logo percebiam que nã o era do tipo que gostava de brincadeiras e procuravam por enfermeiras mais atrevidas. Só as crianç as sempre a tinham amado. Complexada e totalmente dedicada ao trabalho, Sabrina nã o fazia ideia de como era graciosa.

— Diga-me: acha que errei em escolher a vida em vez da morte, mesmo indo contra o desejo de uma mulher muito amada?

— Nã o. Na minha opiniã o, é errado algué m dizer: " Eu o amo, mas só se puder me ver". Isso nã o é amor, é egoí smo.

— Nadi é uma criatura maravilhosa, cheia de vida, de alegria... teria sido injusto, desastroso, pedir que continuasse a meu lado.

— Ela se ofereceu?

Douglas ficou em silê ncio por alguns instantes e depois encolheu os ombros.

— Nã o teria durado muito tempo. Logo eu começ aria a desconfiar de que estava olhando para outros homens. Um cego é desconfiado, e ela jamais conseguiria viver numa ilha, isolada de tudo. Nã o sou mais o homem por quem se apaixonou. Nã o posso comandar meu barco, participar de torneios internacionais de pó lo ou levá -la a um baile de gala. Nã o posso praticar surfe ou jogar té nis. De repente, nó s... nã o tí nhamos mais nada em comum.

Douglas parou de falar e deu um suspiro profundo.

— Tenho minhas â nsias... â nsia por posiç ã o social, por dinheiro, por comida... por amor. Posso nã o ser um anjo, mas jamais teria coragem de arrastar uma mulher para viver com um cego; muito menos, algué m como Nadi. Se ela chegasse a esta ilha amanhã... O que foi, Sabrina? Levou um susto?

— Foi... foi uma mariposa —mentiu. — Saiu voando do escuro.

— Algumas sã o enormes, nã o? Muito bem, enfermeira, vamos continuar nosso caminho. Está na hora do jantar e você deve estar morrendo de fome, depois de toda esta caminhada.

Sabrina foi acompanhando Douglas, sentindo como se flutuasse numa né voa, sem poder acreditar no que tinha ouvido, que ele pudesse estar falando com tanta facilidade de algué m cuja beleza ainda permanecia em seu pensamento e perturbava seus sonhos. Que era ainda mais desejá vel porque sempre seria como ele a tinha visto pela ú ltima vez: provavelmente, no aeroporto, quando Douglas partia para aquela viagem trá gica. Nadi estaria vestindo algum traje sofisticado, como só as modelos profissionais conseguem usar, e seu perfume nã o seria só uma coló nia delicada...

O que ia acontecer? O que faria Douglas, quando soubesse que a

ex-noiva tinha chegado à ilha?

Estava tã o distraí da com seus pensamentos, que nem reparou que Douglas havia errado o caminho para casa e estava entrando por outra passagem entre os canteiros do jardim. Antes que pudesse avisá -lo ou alcanç á -lo, ele se embrenhou numa massa de roseiras que cresciam quase selvagens na entrada da quadra de té nis abandonada.

Os espinhos e os galhos retorcidos se agarraram nele, como se fossem coisas vivas, esperando por uma ví tima.

— Diabo! Onde estou? Sabrina!

— Nã o se mexa, por favor! — Os espinhos arranharam as mã os dela, enquanto tentava fazer Douglas tirar o paletó para soltá -lo do meio das roseiras. Um dos galhos escapou com mais violê ncia e ela nã o conseguiu reprimir um grito de dor, quando um espinho arranhou profundamente seu rosto.

— Rosas, hein? — Douglas cheirava as flores. — Pensei que tivesse caí do num vespeiro. Você está bem?

— Estou. — Ele nã o tinha como saber que o sangue escorria pelo rosto de Sabrina, enquanto ela o guiava até a entrada do casarã o. — Suas mã os estã o muito arranhadas, precisamos passar um desinfetante.

— Está vendo como é? — gemeu Douglas — Um passo em falso, eestou na maior encrenca.

— Foi minha culpa. Nã o prestei atenç ã o, quando tomou o caminho errado.

— Nã o foi culpa de ningué m... é a maldita ironia do destino! Sou um inú til!

— Nã o diga isso...

— Me largue! — Douglas puxou o braç o. — Chame Charles, ele cuidará dos arranhõ es. Já estou farto de enfermeiras!

Sabrina recuou, como se tivesse sido ferida novamente, e subiu as escadas para chamar o criado. Brutos veio recebê -la alegremente e estava dividindo suas atenç õ es entre ela e o dono, quando Laura apareceu no saguã o. Vinha sorrindo, mas sua expressã o logo mudou ao ver o rosto ferido de Sabrina e as mã os do neto.

— Meu Deus! O que aconteceu? Sofreram um acidente?

— Nan! — Douglas estava furioso. — Nã o comece com mimos, ou vou começ ar a xingar! Entrei no meio das roseiras, como o idiota cego que sou, e Sabrina teve que me salvar. Foram só uns arranhõ es sem importâ ncia.

— Mas, o rosto da menina!

— O quê?

Sabrina fez um gesto para Laura se calar, mas nã o foi suficientemente rá pida.

— Pobre crianç a, se tivesse sido um pouco mais para cima, teria atingido o olho! Como foram parar no meio das roseiras? O que estiveram fazendo?

— Eu estava violentando a moç a! — gritou Douglas, e, antes que Sabrina pudesse recuar, agarrou a mã o dela e tateou-Ihe o rosto. — Sua bobinha! Devia ter chamado os criados! Deve estar doendo como o diabo! Sua pele é muito fina!

— Estou aqui para cuidar do senhor — ela falou, formal, quase com frieza. Laura Saint-Same jamais poderia ficar sabendo que ele a havia beijado com aquela violê ncia e que, para protegê -lo, ela teria se atirado no meio do inferno. Afastou-se de Douglas. — Se nã o se importa, senhor, Charles está aqui e poderá cuidar das suas mã os, enquanto vou tratar do meu ferimento.

— É claro. Nan, quer ajudar Sabrina, por favor?

— Nã o, pode deixar. — Subiu a escada tentando parecer calma, mas quando se viu no corredor, correu até o quarto.

Finalmente sozinha, sentiu uma sú bita exaustã o tomar conta de seu corpo. Mal podia acreditar que tinha passado por um dia tã o incrí vel e agora sentia que precisava desesperadamente de um banho relaxante. Estava toda colorida, tensa. Estava ferida, cansada da caminhada e ainda sentia a violê ncia do beijo e do abraç o de Douglas.

Um rubor de vergonha começ ava a tomar conta de seu rosto, fazendo latejar a ferida sob o olho esquerdo. Ele a beijara com a avidez de um homem que hã longo tempo nã o tinha qualquer contato com uma mulher. Sabrina sabia que nã o havia nada de pessoal naquele beijo: tinha sido apenas um impulso momentâ neo de algué m desesperado por sentir nos braç os o calor de um corpo jovem. Douglas nunca iria ficar sabendo que, para ela, aquela beijo havia sido o paraí so.

Sozinha, no quarto decorado com extrema elegâ ncia e bom gosto, tã o diferente dos outros em que tinha vivido, podia admitir a si mesma que o amava e que estava completamente dominada por aquela emoç ã o profunda. Amava Douglas com toda a forç a de seu coraç ã o ansioso e sensí vel c começ ava a sentir o despertar de sensaç õ es que faziam com que notasse tudo mais vivo à sua volta. Era como se nada tivesse sido real antes de conhecê -lo. Douglas nã o era um homem paciente, nem mesmo gentil. Havia aspectos de sua personalidade que a amedrontavam: poç os profundos, desconhecidos para uma moç a sem nenhuma experiê ncia no amor. Muitas vezes, ele se revoltava contra a cegueira, mas, ao mesmo tempo, conseguia enfrentar os maiores obstá culos com enorme

tenacidade.

Sabrina tinha uma batalha a lutar, que seria um desafio para sua mente, seu corpo e seu espí rito. Nã o podia demonstrar o que sentia, especialmente agora, que Nadi Darrel tinha chegado à ilha. Ela estava ali para vê -lo! Ia atormentá -lo novamente! E Sabrina sabia que nã o havia nada que pudesse evitar esse encontro.

Enquanto esperara a banheira encher, lavou o rosto e passou um anti-sé ptico no ferimento. Fez uma carinha triste, ao se olhar no espelho. O arranhã o era grande e profundo. Prendeu os cabelos comparando-se com a moç a que vira chegando no iate, mostrando toda a fria arrogâ ncia de quem sabe que tem o mundo a seus pé s.

Sentiu uma onda de alí vio por Douglas nã o poder vê -la. Tinha ficado preocupado com seu rosto, mas, se um milagre acontecesse, teria um olhar de desdé m, quando visse a verdadeira Sabrina Muir. Uma criatura magrinha, sem estilo nem charme. O tipo de pessoa que se perdia na multidã o, cujos cabelos castanhos eram tã o finos e rebeldes que tinham que ser usados curtos, o que a deixava ainda mais sem graç a.

Os cabelos de Nadi Darrel eram cheios, brilhantes e macios, e seus olhos faiscavam como as asas de uma lí bé lula, como tinha dito Ret. Ret! Quais seriam os sentimentos dele por Nadí Darrel? Ele a descrevera com palavras quase româ nticas e nã o havia dú vidas de que era convencido de sua beleza e de seu charme com relaç ã o à s mulheres... sem mencionar uma certa queda por tudo que pertencia a Douglas.

Enquanto se ensaboava, Sabrina pensava em Ret e Nadi e, em sua mente, os via como um par perfeito; ele, tã o louro, ela, tã o morena; Ret, tã o vistoso, e a moç a, tã o encantadora...

Nã o pô de evitar uma certa curiosidade e um intenso desejo de proteger o homem que amava. Nadi era o tipo de mulher que devia se achar no direito de ter todos os homens à sua volta e Ret nã o teria escrú pulos de tentar uma nova conquista.

Saiu do banho e, quando começ ou a se enxugar, viu que tinha esquecido de trazer a roupa de baixo para o banheiro. Enrolou-se na grande toalha alaranjada e foi para o quarto. Estava escolhendo uma calcinha na gaveta, quando ouviu uma batidinha na porta. Pensou que fosse Lucille, a camareira, trazendo uma xí cara de café, como era seu há bito.

— Pode entrar!

A porta se abriu, e foi tarde demais para Sabrina escapar de volta para o banheiro. Red Saint-Same entrou no quarto.

Estava vestido a rigor e sorria, os dentes brilhando, tã o brancos como os babados da camisa. Mas ficou imediatamente sé rio, ao ver a Corrente no pescoç o de Sabrina.

— Por que veio aqui? — Ela pegou a roupa de baixo e começ ou a andar para o banheiro. — Com licenç a, estava me vestindo. Pensei que fosse Lucille.

— É estranho... você parece muito mais atraente com pouca roupa. — Ret deu um sorriso malicioso e fechou a porta. Seu olhar tinha deixado a concha de jade e agora examinava o ferimento no rosto dela. — O que ele andou fazendo? Levou uma mordida?

— Nã o seja ridí culo!

— Nã o é tã o ridí culo assim. Você é jovem e ele é homem, e nenhum membro desta famí lia tem vocaç ã o para santo, apesar do nome. Por falar nisso, vejo que está usando uma das jó ias dos Saint-Same. É a mesma que está naquele retrato no fim do corredor.

Ret deu um passo à frente e estendeu a mã o, como para pegar a corrente. Sabrina levantou o braç o para proteger-se e a toalha quase caiu. Virou-se rapidamente e entrou no banheiro para vestir-se. Quando ficou pronta, parou por um instante em frente ao espelho, segurando o berloque de jade.

O que diria Ret, quando soubesse da venda das jó ias em benefí cio de crianç as abandonadas? Nesse instante, lembrou das peç as em sua bolsa e voltou rapidamente para o quarto. Ele estava em frente da penteadeira, examinando distraidamente a fotografia de um menininho. colocada entre os poucos vidros de perfume e cosmé ticos e uma caixinha de grampos.

— Bonitinho -— disse Ret, num tom arrastado. — Um de seus pacientes, sem dú vida. Você me disse que nã o tem famí lia.

— Sim, cuidei dele por uns tempos.

Enquanto falava, Sabrina notou sua bolsa atirada sobre a cama. Ficou revoltada com aquela intromissã o e palavras de fú ria começ aram a subir a seus lá bios. Ret tinha mexido na bolsa! Ela a deixara na mesinha-de-cabeceira! Quis apanhá -la para ver se as jó ias ainda estavam lã, mas achou melhor nã o demonstrar preocupaç ã o. Numa voz fria, perguntou o que ele tinha vindo fazer em seu quarto.

Ret encostou-se na camiseira e ficou examinando Sabrina de alto a baixo. Com o vestido branco, um broche na lapela e os cabelos bem penteados era a pró pria imagem da enfermeira eficiente.

— Você é uma pessoa enganadora.

— Nã o entendo o que está querendo dizer, — Era mentira, claro. Sabia muito bem que Ret tinha visto as caixas de jó ias na sua bolsa e havia concluí do que ela estava se aproveitando da siluaç ã o para ganhar presentes de Douglas.

— Parece fria e empertigada, mas acredito que nã o é nada do que aparenta ser. Deve haver muita coisa aí por dentro que nã o se percebe à primeira vista. — Ret levantou uma sobrancelha, numa expressã o de desdé m. Ficava extremamente atraente naqueles trajem de noite e que combinavam tã o bem com sua personalidade. Na certa, tinha um compromisso importante, e Sabrina nã o conseguiu deixar de pensar se iria se encontrar com Nadi Darrel.

— Pode dizer o que quiser, sr. Saint-Same, nã o lhe devo explicaç õ es.

— Nossa, como está cheia de formalidade. Deixe disso, vamos. Sabe'?, até que é bonitinha, quando está mais... à vontade. Devia usar cores mais fortes, um quimono vermelho...

— Pare com isso! Já lhe disse que sei que nã o sou atraente. Nã o precisa desperdiç ar seu sarcasmo...

— Nã o venha me dizer que nã o gosta de saber que Douglas pensa que você é bonita e charmosa. Ele está todo encantado com sua voz de feiticeira. E você, já foi seduzida por ele?

— Como se atreve?

— Ah, está se fazendo de difí cil para arrancar uma proposta de casamento'. '

— Deve estar maluco!

Sabrina agarrou a bolsa e foi para a porta do quarto. Quando a abriu, Ret pegou-a pelos ombros e fez com que se virasse para ele.

— Vou dizer de novo, enfermeirinha: nã o pense que me engana com esse arzinho inocente. Começ ou a se fazer de anjo logo que soube que meu primo era cego. Uma companhia dedicada, uma verdadeira escrava! Sua fingida! Mas, de onde e que está vindo mesmo? É melhor me dizer logo, antes que eu escreva para as autoridades de Londres polindo informaç õ es. Nã o vã o estranhar, é só dizer que estou preocupado com meu pobre primo, cego e vulnerá vel, à mercê de uma pessoa que talvez nã o seja de confianç a.

— Você realmente faria isso, nã o?

Sabrina falou com dificuldade, sentindo a pressã o da balaustrada de ferro em sua cintura. Ret a tinha empurrado atravé s do corredor, falando num tom baixo, cheio de fú ria e agora estava bem junto dela, forç ando-a. contra a grade. Sentia-se impotente nas mã os daquele homem forte e musculoso, que sô precisava de um pequeno empurrã o para atirá -la no andar de baixo. Estava apavorada. Havia ó dio nos olhos de Ret.

— Pode ter certeza de que escreverei amanhã cedo.

— E por que nã o hoje?

— Porque esta noite tenho um encontro com uma mulher que faz você parecer uma freirinha abandonada. Só que você nã o é nenhuma santa, certo? Esses olhos grandes estã o famintos pelas coisas boas da vida. nã o é? Pois, queridinha, se quiser alguma delas, vai ter que usar sua voz. Tenha certeza: sua voz é mesmo muito agradá vel. Parece feita especialmente para cantar canç õ es de ninar para criancinhas... ou para seduzir um homem perdido numa escuridã o sem saí da.



  

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