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O Jardim das Acácias 4 страница



 Laura fez um gesto de impotê ncia. Sua vontade era proteger o neto vinte e quatro horas por dia. Por ela, todas as pedras da ilha seriam jogadas ao mar, para Douglas nã o tropeç ar. Sabrina entendia muito bem o que a velha senhora sentia, mas sabia que ele tinha que ser encorajado a enfrentar o mundo.

— Está tudo bem, sra. Saint-Same. Sou boa motorista e há pouco trâ nsito na estrada, irei bem devagar.

— Vamos parar com todos esses mimos, você s duas. Vou falar com o gerente do banco, Nan, e depois pretendo fazer algumas compras e levar a enfermeira para almoç ar. E ela vai dirigir na velocidade que eu mandar!

— Douglas, você é realmente um monstro quando quer! — Laura se inclinou e beijou o rosto do neto. — Nã o vá amolando essa pobre moç a. Ela pode ficar nervosa e é capaz de sair da estrada ou bater em alguma coisa. Sabrina, faç a o possí vel para ignorar as instruç õ es dele e procure manter a calma.

— Pode ficar tranquila, sra. Saint-Same. — Olhou para Douglas, que estava muito sé rio, apertando com forç a a bengala branca. Em outros tempos, seria ele quem estaria ao volante, dirigindo em alta velocidade, como Ret, com uma mulher sentada ao lado dele.

— Podemos ir, monsieur?

— Mal posso esperar, enfermeira. Se eu ficar bonzinho, promete me comprar algodã o doce e um baldinho para brincar na areia?

— Douglas!                     ,

— Pode deixar, sra. Saint-Same. Já estou acostumada com toda essa

ironia. É sinal de que ele já está totalmente recuperado.

— Entã o, é melhor se cuidar, Sabrina! — Douglas deu um sorriso malicioso, enquanto ela ligava o carro. — Diga-me, Nan; Sabrina está bonita? Toda de cor-de-rosa, talvez, com os cabelos brilhando, emoldurando o rosto?

— Laura deu um olhar curioso para a moç a, que vestia um casaquinho bege e uma camisa de seda branca, e estava com os cabelos presos no coque de sempre.

-— Até logo, sra. Saint-Same — disse, tentando esconder o embaraç o.

— Prometo dirigir com todo cuidado.

— Até logo, filha, E comporte-se, menino!

— Ora, vovó, faz tempo que passei da idade.

Laura acenou e eles seguiram peia alameda que levava aos portõ es de entrada da propriedade. O porteiro apareceu para abrir, sorrindo.

— Bom dia, patrã o. Esta um lindo dia para um passeio.

— Parece mesmo, Josh. Como estã o passando Janie e as crianç as?

— Muito bem, patrã o. Nasceu mais um menino. Sã o cinco agora.

— Uma boa conta. Transmita meus cumprimentos à sua senhora.

— Obrigado, sr. Douglas. — Os dentes muito brancos de Josh

brilharam no rosto escuro.

— As acá cias devem estar floridas — disse Douglas, depois de alguns minutos. — Sabe?, temos um costume na famí lia: cada vez que há um casamento, planta-se um pé de acá cia na alameda. Agora, só haverá outro, se Ret casar.

— É uma pena — murmurou Sabrina. — Devia haver uma á rvore para o senhor de Snapgates.

— Nã o; o senhor nã o terá uma companheira. Nã o haverá uma noiva para colocar o primeiro punhado de terra sobre as raí zes da acá cia. Nã o haverá á rvore, nem ramos cobertos de flores... e nã o me venha com aquela histó ria de dizer que sou igual aos outros homens!

— Nã o ia dizer isso.

— É?

— Nã o há duas pessoas iguais no mundo.

-— Espertinha, hein?

-— Uma simples questã o de ló gica, monsieur.

— Deixe a ló gica para os filó sofos, Sabrina, ela nã o combina com moç as bonitas.

— Por favor... — Estava para implorar que parasse de dizer que era bonita, quando viu uma á rvore caí da no meio da estrada e teve que fazer uma manobra complicada para passar por ela.

— Você dirige muito bem. Quem ensinou?

— Frequentei uma auto-escola. Sempre achei que uma carteira de motorista seria muito ú til na minha profissã o. Cheguei a comprar um carro, que vendi antes de vir para cá.

— Agora conte por que, realmente, saiu da Inglaterra?

— Já contei.

— Disse que estava querendo mudar de clima... mas talvez um dia me conte por que há sempre uma certa tensã o na sua voz, quando menciono a Inglaterra. Nã o tente me enganar, sabe muito bem como sã o os meus ouvidos.

Sabrina ficou em silê ncio e tirou os olhos da estrada para dar uma olhada rá pida para o perfil do homem a seu lado. Era moreno, orgulhoso, com as feiç õ es fortes marcadas pela vida. O paletó branco assentava em seus ombros largos sem uma ruga e a gravata estava perfeitamente no lugar. Devia ter permitido que Charles o ajudasse a se vestir com tanto apuro. Os cabelos pretos estavam brilhantes e bem penteados, e a barba bem escanhoada indicava que tinha sido feito com navalha e, nã o com o barbeador elé trico que ele usava quando se arrumava sozinho.

Sabrina sabia que era uma tolice, mas, naquele dia, nã o pretendia fazer nenhum esforç o para lutar contra a atraç ã o que sentia por Douglas. Por algumas horas, nã o ia pensar nele como seu paciente e queria ser tratada como se fosse Nadi Darrel.

 

                                                           CAPÍ TULO V

 

Sabrina estacionou o carro perto do antigo mercado de escravos, pró ximo ao porto. Era dia de feira e toda a á rea fervilhava de gente. As barracas de frutas e verduras eram verdadeiras explosõ es de cor, e a enorme variedade de crustá ceos e peixes brilhava como prata ao sol alegre da manhã.

— Me dè seu braç o — disse Douglas. — Vai me guiar até o banco. Se estivermos bem na frente do mercado, poderá ver o banco à direita, do outro lado da rua.

— Sim, já vi onde é.

O banco ficava num antigo pré dio restaurado, branco, com colunas, que devia ser tã o velho como o porto. Toda a á rea estava preservada, mantendo o aspecto dos tempos coloniais, e os pequenos barcos a vela ancorados junto a chatas cheias de cachos de banana contribuí am ainda mais para trazer à lembranç a os dias tristes, quando correntes de ferro prendiam os pulsos e tornozelos daquele povo tã o jovial.

Agora, os homens vestiam camisas coloridas, indo e vindo com suas mercadorias, conversando alto, dando gargalhadas gostosas, e as mulheres formavam grupinhos alegres em volta das barracas, discutindo preç os e qualidade. Os lamentos do tempo da escravidã o tinham sido substituí dos pelos calipsos cheios de ritmo que vinham dos rá dios portá teis, e em vez do arrastar das correntes, ouvia-se o alegre tilintar dos colares e brincos de metal dourado.

Douglas parou por um instante e respirou fundo o ar carregado de aroma de flores e especiarias.

— Dia de feira é uma festa, nã o acha, Sabrina?

— Sim, nunca vi tantas cores juntas. Se algué m pintasse um quadro e

levasse para a Inglaterra, diriam que era imaginaç ã o do artista. Cuidado com os degraus!

— Degraus, sempre degraus! — resmungou Douglas, mas conseguiu subir sem tropeç ar e apertou o pulso de Sabrina, como que para mostrar sua satisfaç ã o por ela nã o ter deixado claro para as outras pessoas que ele era um cego, guiado por uma enfermeira.

Assim que entraram no banco, um funcioná rio veio recebê -los para levar Douglas ao escritó rio do gerente. Ele devia ter telefonado com antecedê ncia, pois parecia estar sendo esperado. Sabrina ficou na saleta, olhando o movimento dos clientes e funcioná rios, observando os tipos diferentes, os trajes coloridos, querendo absorver todas aquelas impressõ es para o dia em que estivesse de volta à cinzenta e sombria Inglaterra.

Virou-se, surpresa, quando um funcioná rio veio chamá -la.

— O sr. Saint-Same pediu para a senhorita ir ao escritó rio do gerente. Quer sua opiniã o sobre um certo negó cio.

— Opiniã o? — Intrigada, seguiu o homem, que indicou uma porta no fundo do corredor.

Douglas estava sentando em frente de uma luxuosa e pesada escrivaninha que devia estar ali desde os á ureos tempos dos grandes plantadores de cana-de-aç ú car e café. O gerente, apresentando-se como sr. Warren, puxou uma cadeira para Sabrina, que viu, à sua frente, sobre a mesa, uma caixa de cofre aberta.

— A enfermeira Muir é minha confidente — disse Douglas. — Já está sabendo o que acabo de lhe dizer. Afastei definitivamente a ideia de um casamento; portanto, essas jó ias de famí lia nã o tê m mais utilidade para mim e nã o vejo razã o para continuarem fechadas num cofre, quando poderiam ter melhor uso. Sabrina, quero que escolha um colar e um broche para minha avó e uma peç a adequada para uma moç a da sua idade. O resto será vendido e o dinheiro revertido para uma instituiç ã o de caridade da qual sou membro do conselho consultivo.

Sabrina olhou o tesouro à sua frente e virou-se para Douglas, muda de espanto. O rosto moreno mostrava uma sombria determinaç ã o. Algumas das jó ias eram muito antigas, deviam estar na famí lia há sé culos, e o fato de ele querer se desfazer delas mostrava que nã o tinha mais qualquer esperanç a para o futuro. Teve vontade de conversar com ele, de tentar fazê -lo mudar de ideia, de dizer que nem todas as mulheres eram como

Nadi Darrel e que um dia ainda poderia ser feliz. Ainda poderia encontrar algué m, mã os amorosas dispostas a guiá -lo por toda a vida. Nesse dia, talvez lamentasse a decisã o de se desfazer de jó ias que uma esposa teria todo o direito de usar... como aquelas pé rolas sedosas que deviam ter adornado tantos vestidos de noiva.

— Vamos, Sabrina. — Douglas estava impaciente. — Escolha logo. O sr. Warren cuidará da venda do resto. Nã o seja sentimental com simples enfeites! Há muitas crianç as passando fome, enquanto coisas como essas, que jamais serã o usadas, estã o fechadas em caixas de aç o.

— Está certo, sr. Saint-Same. —- Ela hesitou por alguns segundos e depois começ ou a examinar as jó ias. — Há um colar de pé rolas de trê s voltas que tenho certeza que sua avó vai adorar. E o broche de safira com pé rolas combina muito bem com ele. É lindo... Quer senti-lo? As pé rolas vã o diminuindo de tamanho e sã o encantadoras. Acho que jó ias assim nã o devem sair de sua famí lia.

— Ponha-as em minha mã o. — Douglas segurou as pé rolas, sentindo-as escorrer por entre os dedos. — Parecem seda, nã o? Está certo; ficarã o muito bem em Nan e a safira vai combinar com a cor dos olhos dela. Agora, escolha a outra... para uma moç a.

Sabrina deu um olhar de desâ nimo para aquele rosto tã o decidido e começ ou a abrir as caixas menores. Uma delas era de veludo azul e, quando levantou a tampa, nã o pô de evitar uma exclamaç ã o de espanto e encantamento: era uma correntinhà de ouro com um pendente de jade em forma de concha, num extraordiná rio trabalho de ourivesaria.

— Estou... estou certa de que qualquer moç a iria adorar esta — disse, pondo a jó ia na mã o de Douglas.

Ele passou os dedos pela peç a por alguns instantes e depois colocou-a na palma da mã o de Sabrina e a fez fechar os dedos sobre ela.

— É para você. Agora, continue procurando. — Sei que deve haver -um par de brincos de brilhantes em alguma dessas caixas.

Confusa com o presente e ainda nã o muito certa se devia aceitar, Sabrina foi abrindo as caixas, até encontrar o que ele queria. Quando viu os brincos, soube imediatamente a quem estavam destinados. Eram dois diamantes em forma de lá grimas que ficariam extraordiná rios numa mulher sofisticada, realç ados por uma cascata de cabelos escuros e ondulados! — E entã o, encontrou?

— Sim, sr. Saint-Same.

— Muito bem. Ponha tudo na sua bolsa e deixe o resto com o sr. Warren. Ele já sabe o que fazer.

— Senhor, está absolutamente certo de que quer se desfazer das jó ias? -— O gerente parecia muito preocupado. — Naturalmente, conseguiremos o melhor negó cio. Serã o levadas para nossa matriz em Londres, que se encarregará de oferecê -las aos mais renomados compradores. No entanto...

— Sem hesitaç õ es, Warren. Já sabe para onde enviar o dinheiro. Estou certo de que será suficiente para encher muitas barriguinhas durante alguns anos. É muito mais gratificante satisfazer a fome das crianç as do que a vaidade das mulheres. E agora, enfermeira, está na hora de irmos.

Despediram-se do gerente e se dirigiram para a porta principal. Sabrina nã o pô de deixar de notar os olhares de curiosidade e pena dos clientes e funcioná rios e ficou feliz por Douglas nã o ter condiç õ es de saber o que estava se passando. De repente uma mulher tola e irresponsá vel nã o conteve uma observaç ã o e os ouvidos sensí veis captaram imediatamente as palavras.

— Como é horrí vel ver Douglas Saint-Same desse jeito! Ele que sempre guiou todo mundo agora tem que ser guiado!

Sabrina sentiu o estremecimento de fú ria que passou pelo corpo de Douglas.

— Tire-me daqui! — murmurou, tenso. — Depressa, antes que eu mande essa mulher e sua piedade para o inferno!

Quando saí ram do banco e se aproximaram dos degraus, Sabrina apertou o braç o dele.

— Por favor, cuidado. Uma mulher como aquela nã o merece uma queda.

— Você també m? Está com pena do pobre ceguinho?

— Nã o preciso dizer o que sinto. Sei que continua a ser um leã o, mas as pessoas que nã o o conhecem intimamente nã o podem saber. Mantenha a calma e conseguiremos andar pela rua sem nenhum problema.

Douglas apertou o braç o dela com forç a e Sabrina aceitou a dor com uma espé cie de alegria. Ele podia adorar Nadi Darrel com uma paixã o sem esperanç as, mas precisava de Sabrina Muir. Ela era seu escudo contra aqueles que o encaravam com olhos cheios de piedade.

Provavelmente, ia ficar com manchas roxas no braç o, mas isso nã o tinha importâ ncia, porque, de repente, teve certeza de quanto o amava. Quando atravessaram a rua, ela perguntou:

— Para onde vamos agora? Você disse que queria fazer compras.

— Mudei de ideia. Charles pode cuidar disso. O que preciso é de uma bebida! Um copo bem grande de gim com tó nica. Ainda estamos em frente do banco?

— Sim...

— Entã o, vamos entrar na primeira travessa à esquerda, e logo você verá um bar chamado Bellafonda.

— Um esconderijo?

— O que está querendo dizer?

— Nã o se faç a de desentendido. Está com medo de ouvir outros comentá rios sobre sua cegueira.

— Maldita seja, mulher!

-— Pode me amaldiç oar à vontade. Estou só dizendo a verdade.

— Quando quiser ouvir a verdade, eu peç o. Faç a o seu serviç o e cumpra as minhas ordens.

— Você disse que í amos almoç ar no Colony Club. Estou ansiosa para sentar no mesmo salã o onde esteve a princesa.

— Ah, é uma pedante, també m? Zé -povinho com mania de realeza?

— Pode dizer o que quiser: já estou acostumada com maus modos.

— Nã o sou uma das suas crianç as.

— Pois está se comportando igual. Será que é tã o importante o fato de uma mulher idiota sentir um pouco de pena de você? Se eu estivesse com uma perna quebrada, até que gostaria de um pouco de simpatia.

— Está bem, está bem, chega de discussã o. Vamos logo a esse maldito clube! Acho que, pelo menos, merece que lhe pague um bom almoç o por aturar o meu gé nio ruim — disse Douglas, pondo a mã o nas costas de Sabrina, para indicar a direç ã o que deviam tomar.

De repente, o toque dos dedos dele ficou surpreendentemente gentil. Estavam bem juntos, à sombra das marquises dos pré dios na rua quase deserta, afastada do burburinho da feira em frente do mercado de escravos. Sabrina ouviu Douglas prender a respiraç ã o. Nã o sentiu medo, quando os olhos cinzentos ficaram brilhantes e escuros revelando um desejo solitá rio e intenso por uma mulher que pudesse tornar sua cegueira mais suportá vel.

Os dedos finos e morenos deslizaram pelo pescoç o dela.

— Nã o está com a corrente que lhe dei. Nã o gostou dela?

— Eu... é claro que gostei. Está... está aqui na minha bolsa.

— Entã o, use. Uma concha é um sí mbolo de proteç ã o contra o mal e é ' do que precisa, quando começ o a maltratá -la como um bruto. Sua pele é macia e posso sentir os ossos sob os meus dedos. Você é magrinha, Sabrina; nã o come bem?

— Como o suficiente, monsieur. — As mã os dela tremiam de emoç ã o por ser tocada de modo tã o í ntimo, e foi com dificuldade que abriu a bolsa, pegou a jó ia e fechou em volta do pescoç o.

— Pô s a corrente?

— Sim — disse, baixinho, emocionada, enquanto Douglas tateava a correntinha e a concha de jade, bem junto ao pescoç o quase como uma gargantilha. — Foi... foi muita generosidade sua me dar um presente como este. Prometo cuidar muito bem dele. Obrigada.

— No dia em que nos separarmos, você já terá merecido muito mais do que isso. Bem, vamos almoç ar. Temos que dar a volta no mercado para entrar na avenida principal. E a que tem as palmeiras imperiais. O clube é um pré dio branco, comprido, cheio de terraç os com trepadeiras e hibiscos vermelhos no jardim, pelo menos, é assim que me lembro dele.

Apesar de todo o movimento da feira, Sabrina conseguiu guiar Douglas sem maiores problemas, se bem que sentisse que ficava inseguro, quando apertava seu braç o com forç a, sempre que algué m esbarrava nele. Como todos estavam muito ocupados, comprando e vendendo, ningué m pareceu prestar muita atenç ã o naquele cego sendo conduzido por uma jovem de cabelos castanhos.

A avenida era larga e muito mais tranquila, e puderam andar mais à vontade, sentindo a brisa fresca que vinha do mar. Quando chegaram ao clube, foram conduzidos a uma mesa no terraç o, à sombra de uma trepadeira florida. Quando o garç om entregou o cardá pio a Sabrina, Douglas disse, num tom agradá vel:

— Escolha alguma coisa que nunca experimentou. Amor, pensou ela.

— Ostras — disse em voz alta.

— Espera encontrar uma pé rola?

— Seria ó timo.

— Sem dú vida. Nã o há quem nã o goste de pé rolas. — Douglas virou o

tosto em direç ã o do garç om. — Ostras para os dois como entrada. Depois, filé à Diana, uma salada e batatas fritas... minha enfermeira nà o precisa se preocupar com as calorias,.

Quando foram servidos e ficaram sozinhos. Sabrina olhou ansiosa, enquanto Douglas comia as ostras diretamente da casca.

— Nã o precisa ficar tensa. Seu bebé nã o vai derramar molho na

roupinha nova!

— Nã o seja ridí culo. Nem posso imaginá -lo como um bebezinho.

— Pois garanto que nã o cheguei a este mundo precisando me barbear duas vezes por dia. Por falar nisso, estou pensando em deixar crescer a barba; seria muito menos trabalhoso. Que tal?

— Acho que vai ficar com cara de bandido.

— Muito obrigado pelo cumprimento!

 —- Você é tã o moreno para um inglê s!

— Bem, acontece que, nã o só sou um daqueles Saint-Same que nascem de cabelos pretos, como també m sou filho de uma francesa. Meu pai ficou conhecendo minha mã e quando o aviã o dele foi abatido durante a guerra. Eles fugiram juntos da Franç a e casaram em Dover, numa capelinha semi-destruí da pelas bombas. Muito româ ntico, nã o? Fico feliz por ela ter morrido antes de me ver cego. Sou filho ú nico e fui a razã o de ser da vida de minha mã e, desde que meu pai morreu, pouco antes do fim da guerra.

— Quer dizer que somos ambos ó rfã os.

— Tem vivido muito solitá ria, Sabrina?

— Enfermeiras sã o muito requisitadas. Há sempre algué m precisando de cuidados.

— Nã o foi isso que eu quis dizer. Queria saber sobre os homens de sua vida. Mas agora percebo que fui extremamente grosseiro. Hum... esse bife está delicioso. A comida aqui sempre foi excelente.

— Está ó timo. Nem sei como lhe agradecer por ter me trazido a um lugar tã o agradá vel.

— O mar deve estar muito bonito, nã o? Pelo barulho das ondas, noto que está calmo. Precisamos ir nadar um desses dias.

— Você...

— Sim. — O tom de voz de Douglas voltou a ficar seco. — Para mim a á gua é mais segura do que uma rua. Nã o ha trâ nsito nem pessoas se acotovelando. O ú nico perigo maior que poderia encontrar seria um tubarã o mais ousado, arriscando-se a vir para perto da praia. Mas, como nã o posso ver, nã o entraria em pâ nico... e, por isso, ele certamente me deixaria em paz.

— É interessante: você desenvolveu sentidos que fazem com que nã o tenha medo de coisas de que eu, por exemplo, teria. A natureza nunca é totalmente cruel. Sempre há suas compensaç õ es.

— Enfermeiras també m tê m que fazer curso de sabedoria?

— É uma profissã o que exige que se seja compreensiva.

— E você acha que me compreende?

— Talvez, até certo ponto. Entendo que a cegueira traz uma grande amargura e, como você nunca foi uma pessoa doce e gentil, mesmo quando podia ver, nã o haveria motivos para começ ar a agir como um anjo de bondade.

— E acha que pode aguentar o oposto, o anjo do mal?

— Já vai começ ar de novo?

— Um dia desses, vou acabar fazendo você chorar, nã o é, Sabrina? — Douglas deu um sorriso amargo. — Muito bem, chame o garç om: vamos escolher uma sobremesa para adoç ar a conversa.

Pediram pê ssegos em calda com creme e ficaram conversando sobre a ilha, o povo, o contraste entre a vida na Europa e nos tró picos, evitando qualquer assunto mais pessoal.

Foi um almoç o memorá vel para Sabrina, mas só depois que saí ram do clube e estavam andando pela calç ada que dava para o mar é que o dia tomou um significado muito mais especial.

Parte da á rea era usada como marina pelos membros dos vá rios clubes, e Sabrina estava admirando a variedade de barcos ancorados quando viu entrar um grande iate branco e azul, vindo vagarosamente em direç ã o do ancoradouro. Uma moç a morena, com os cabelos esvoaç ando ao vento, estava inclinada sobre a grade do convé s. Usava um conjunto de bustiê e calç a bufante de seda verde-clara, fazendo um impressionante contraste com a pele queimada de sol. Quando a jovem levantou os olhos para a amurada da avenida, Sabrina viu que eram verdes, maravilhosos, quase metá licos.

Dessa vez, foi ela quem tropeç ou, e Douglas teve que ampará -la.

— Cuidado, menina, nã o vá cair —disse, brincalhã o.

Sabrina olhava fascinada para a moç a no iate. Nadi Danel... chegando à quela ilha, onde Douglas lutava para esquecê -la!

Sentiu um desejo intenso de protegê -lo contra a linda e impiedosa mulher que, por alguma razã o, voltava à vida dele. Inventando uma desculpa, guiou-o para o outro lado da avenida e procurou pela primeira travessa que os levasse para longe da marina. Douglas nã o podia ver Nadi, mas ela poderia reconhecê -lo imediatamente, mesmo a distâ ncia, e Sabrina sabia que ele nã o estava preparado para um encontro. No entanto, seria inevitá vel.

Voltaram a Snapgates numa velocidade moderada. A tarde parecia sonolenta depois de toda a atividade que tinham visto pela manhã.

— Está muito quieta, Sabrina.

Douglas fumava, e a fumaç a, levada pelo vento, batia no rosto dela, dando-lhe uma sensaç ã o de intimidade que agora era quase insuportá vel.

— Em que está pensando? — ele insistiu.

— Que nunca vou esquecer a beleza desta ilha,

— Nã o fale como algué m que está esperando ir embora a qualquer momento. Estou muito satisfeito com seu serviç o. E você, tem queixas de mim?

— Claro que nã o,., mas é que a vida pode mudar de um momento paraoutro. É um erro ficar gostando demais de algum lugar.

— E de certas pessoas, nã o é? — Uma ponta de cinismo sublinhou as palavras.

— Isso é ainda mais perigoso.

— Está pensando em algué m em particular? Ah, lá vou eu de novo, querendo saber dos seus segredos. É um pé ssimo costume, eu sei, mas o problema é que os sentidos ficam mais aguç ados quando nã o se pode ver. Senti uma certa mudanç a em você, desde que saí mos do clube.

— Estou concentrada na estrada. — Sabrina tentou parecer despreocupada. — O sol está batendo nos meus olhos e esqueci de trazer ó culos escuros,

— Entendo, Lembro muito bem como é este caminho. O sol já deve estar brilhando por entre as á rvores e a sucessã o de luz e sombra ofusca a vista. Douglas concordava com ela, mas Sabrina sabia que continuava curioso e ia se tornar cada vez mais insistente, A relaç ã o entre eles tinha mudado sutilmente, desde o episó dio da venda das jó ias. Nã o eram mais apenas um paciente e sua enfermeira. Douglas tinha aberto uma das portas de seu

í ntimo e permitido que ela entrasse... portanto, ia começ ar a exigir o| mesmo. Acabaria por se apoderar de seu segredo; ficaria sabendo de sua â nsia de, um dia, significar algo de especial para algué m. E ia fazer isso sem nem mesmo sonhar que esse algué m era ele.

Sabrina quis implorar para que fosse distante e indiferente, mas, no í ntimo, sabia que Douglas podia fazer o que quisesse com ela. Aceitaria qualquer coisa para tornar sua cegueira mais tolerá vel.

Ela era a mã o que o ajudava na escuridã o, a pessoa que servia de bode expirató rio, quando estava magoado, querendo ferir algué m. Ela o estimulava a pensar, porque o intrigava com um segredo. Douglas precisava dela, mesmo que nã o fosse como mulher; nã o passava de uma mí sera sombra daquela criatura sofisticada e desejá vel que tinha deixado lembranç as inesquecí veis de seu charme e de sua alegria de viver. Sabrina Muir estava ali para mantè -lo em seguranç a, para cuidar dele, e nunca seria considerada mais do que sua enfermeira feinha e devotada. Ningué m jamais poderia desconfiar de quanta dor e prazer sentia, só em estar ao lado dele.

— Você acaba de tomar uma decisã o — disse Douglas. — Senti isso claramente. Começ ou a dirigir com mais confianç a e seu corpo ficou mais rí gido. Por acaso, esteve pensando em me deixar à mercê de uma nova enfermeira e mudou de ideia?

— Para ser franca, sim.

— Por quê? Será que trabalhar com crianç as é menos desgastante? Sabrina quis dizer que era menos perigoso, mas, como tinha tomado a

decisã o de ficar e nã o deixar transparecer seus sentimentos, ia responder com uma palavra de confianç a, quando o carro começ ou a perder velocidade e logo parou. Ficou olhando para o marcador de gasolina... estava a zero! -— Paramos para você admirar o panorama?



  

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