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CAPÍTULO VIII
Uma semana mais tarde Samantha voou de Antí gua para Londres, sem ter notí cias de Craig. Resistiu firmemente à insistê ncia de Carla e Howard, que queriam a todo custo que ela prolongasse sua permanê ncia até se recuperar inteiramente. Nã o havia ningué m à sua espera no aeroporto, o que nã o era nada surpreendente, pois nã o tinha avisado seus amigos. Do aeroporto telefonou para Thea Johnson, uma amiga de infâ ncia, com quem dí vida um apartamento antes de ir para Antí gua. Thea estava um tanto apressada, pois era muito cedo e se preparava para ir trabalhar. Disse que poderia voltar para o apartamento, pois suas coisas estavam lá e ningué m tomara os eu lugar. — Você está com a chave, nã o é, Samantha? — Sim. — Pois entã o venha diretamente para cá. Nó s nos veremos bem mais tarde, pois vou sair com um amigo apó s o trabalho. Entã o falaremos sobre a sua viagem. Aposto que está muito bronzeada! Bem, tenho de sair. Até logo! Carregando as malas com certa dificuldade, Samantha tomou o metrô. Uma hora e meia mais tarde, exausta da longa viagem, chegou ao pequeno apartamento. Estava exatamente como o havia deixado e parecia que fazia tanto tempo... Tinha a impressã o de aquela viagem se dera há um ano, mas nã o fazia nem um mê s que havia partido para Antí gua. Nã o desfez as malas, mas se deitou e dormiu quase o dia inteiro. Quando acordou já era noite e, apó s preparar uma refeiç ã o ligeira, telefonou para seus pais, avisando de sua volta. Nã o lhes contou que estivera com Craig, pois nã o queria discutir com a mã e. Quanto menos ela soubesse das complicaç õ es de seu relacionamento com ele, melhor. També m nã o disse nada a Thea, falando apenas da beleza das ilhas que tinha percorrido, dos Wallis e de algumas outras pessoas que conhecera. — Isso está me parecendo um verdadeiro paraí so! — disse Thea com um suspiro. — Talvez seja uma boa idé ia eu começ ar a economizar para ir até lá o ano que vem. O que pretende fazer agora? — Procurar um emprego. — Nã o vai encontrar com facilidade, ainda mais no seu ramo. Thea nã o se enganara. No final de sua primeira semana na Inglaterra, apesar de ter feito vá rias entrevistas, nã o conseguiu emprego. Na sexta-feira de manhã, enquanto pensava em ir a Epping passar o fim de semana com o pais, recebeu um telefonema. — Aqui quem fala é Marilyn Dowell, Samantha. Como vai? — Bem, obrigada. E você? — Mais ou menos. Aproveitou bem a viagem a Antí gua? — Sim, mas como sabe que fui para lá? — Algué m no escritó rio deve ter feito um comentá rio. Samantha, você está trabalhando no momento? — Nã o. Se estivesse você nã o me encontraria em casa numa manhã de sexta-feira, nã o é mesmo? — Imagino que nã o. Nã o gostaria de voltar a revista? — Exercendo que funç ã o? — perguntou Samantha, com certa cautela. — A mesma de antes. — O que aconteceu com os cortes por medidas de economia? — Ah, descobrimos que nã o funcionaram. E entã o, o que me diz, Samantha? Gostaria de começ ar segunda? — Bem... tenho de pensar no assunto. Recebi outras ofertas. Posso entrar em contato com você? — Mas é claro! Quando quiser! Foi um prazer falar com você — disse Marilyn. Pelo jeito nã o estava nem um pouco ofendida com a recusa de Samantha e desligou. A jovem nã o duvidou sequer por um momento de que Marilyn tivesse recebido instruç õ es de lhe oferecer um emprego. De quem teria partido a iniciativa? De Howard ou de Craig? E por quê? Nã o queria saber e nã o queria pensar no assunto, conforme havia dito que faria. Passaria o fim de semana fora e pretendia esquecer os problemas. Para seu grande alí vio, descobriu que seus pais estavam ocupados demais com os preparativos do batizado do primeiro neto e nã o fizeram muitas perguntas sobre a viagem ou sua vida pessoal. Logo se viu envolvida com a intensa atividade reinante na casa e ajudou a mã e a preparar a comida que seria servida na festa. Deu um passeio pela floresta com seu pai e os cã es e foi até o supermercado local fazer compras para sua mã e. O sá bado e o domingo passaram com tamanha rapidez que, quando tomou o metrô de volta a Londres, lembrou-se de que nã o tinha contato a sua irmã Jennifer de seu encontro com Pamela Wallis em Antí gua. Tudo aquilo agora parecia um sonho, constatou, enquanto percorria a rua em que morava. Era como se aqueles dias ensolarados, as á guas e o cé u muito azul, as praias de areias douradas, cheias de palmeiras, nã o passassem de fruto de sua imaginaç ã o. Se nã o tivesse estado em Antí gua, velejado até outras ilhas, se nã o tivesse sido seguida por Craig, regressando em sua companhia, numa bela noite de luar, nã o teria agora aquelas recordaç õ es. E estaria sofrendo pelo fato de desejar ficar com ele para sempre. Quando estava para abrir a porta do apartamento ouviu vozes e som de mú sica. Enfiou a chave na porta, mas ela foi aberta por Thea. Seus olhos brilhavam e ela sorria para Samantha. — Você tem uma visita do Canadá? — murmurou. — Quem é? — Os olhos de Samantha se arregalaram e seu coraç ã o começ ou a bater com forç a. — Nã o consegue adivinhar? — Quando foi que ele chegou? — Hoje à tarde. Nã o conseguir manda-lo embora. Disse que esperaria até você voltar. — Mas como foi que ele descobriu o meu endereç o? — Nã o sei. Cabe a você decifrar este enigma! — Nã o quero vê -lo — declarou Samantha, tomada de um pâ nico sú bito. — Por favor, diga a ele, Thea! — Você nã o deve fazer uma coisa dessa. Ele nã o viajou milhares de quilô metros para ouvir semelhante disparate. Veio especialmente para vê -la e... cá entre nó s, é um belo homem, nã o é mesmo? Acho você uma boba se nã o se explicar com ele e chegar a um entendimento. — Mas você nã o entende! — Entendo, sim! Entendo até muito bem! Você s se amam, mas acontece que você é orgulhosa demais para admitir esse fato. De repente, sem que Samantha pudesse dizer como, ela estava dentro do apartamento, muito pá lida. Craig se levantou e se aproximou. Usava uma calç a elegante de tweed e sué ter marrom e creme, mas seu modo de ser nã o tinha se modificado. Cheio de confianç a em si, ele avanç ou como uma ave de rapina que está para se lanç ar sobre sua presa. Samantha teve a impressã o de que seus nervos tinham alcanç ado o limite má ximo de resistê ncia. Voltou-se para fugir, mas Thea fechou a porta. — Thea! Por favor, fique! — Preciso sair, meu bem. Tenho um encontro. Vou dormir fora. Até logo! — Thea! Samantha quis ir correndo até a porta, mas Craig lhe barrou a passagem. — Você vai ficar aqui comigo — ele disse, autoritá rio como sempre. — Tem que me explicar muitas coisas. — Você també m tem muitas explicaç õ es para me dar — ela retrucou, erguendo o queixo, numa atitude petulante. — Está bem. Vamos conversar. — Craig notou o quanto ela estava pá lida e cansada e sua expressã o se suavizou. — Você parece fatigada. Venha sentar aqui. Ele pegou a mã o de Samantha e, embora ela achasse que nã o devesse corresponder ao gesto, o calor daqueles dedos era tã o reconfortante que nã o resistiu, deixando Craig leva-la para o sofá, onde sentou-se rapidamente, pois suas pernas começ avam a tremer. — Você nã o quer comer ou beber nada? — ele perguntou. — Já comi — respondeu Samantha, sem ter coragem de encará -lo. — Uma bebida até que iria bem, mas nã o sei o que temos em casa. — Cerveja e um resto de vinho do Porto, segundo me disse sua amiga. Tenho, poré m, uma garrafa de conhaque na minha sacola. Você sabe que jamais viajo sem ela, mas tomo o conhaque para fins puramente medicinais — disse Craig, com ar zombeteiro. — Ou quando quer espantar o frio... — ela murmurou, encostando-se nas almofadas e fechando os olhos. — Ou caso precise entreter uma mulher atraente, como está acontecendo agora. Samantha abriu os olhos e viu Craig indo para a cozinha. Poderia partir naquele momento, enquanto ele estava ocupado... No entanto sentia-se cansada de fugir do amor e de suas exigê ncias. — Nã o há copos para conhaque e teremos de nos contentar com estes — disse Craig, voltando para junto dela. — Você pô s bebida demais! Desse jeito vou acabar ficando alta. — E daí? Por que se preocupa tanto? Está em boa companhia! — ele afirmou, sentando-se ao seu lado. — Se você ficar bê bada eu a carrego para a cama. Bem, faç o um brinde a nó s dois. — Apó s tomar um gole, Craig colocou o copo sobre a mesa. — Pode começ ar, se quiser e me conte por que partiu de Antí gua com tamanha pressa. — Conforme deve estar lembrado, você sugeriu que eu poderia voltar para Londres depois que a nossa combinaç ã o chegasse ao fim. Como você foi para Toronto, presumi que nã o desejava prosseguir com o nosso arranjo. Assim que me senti bem, decidi voltar. Você poderia ter se manifestado antes de partir da casa de seu pai, comunicando sua ida. Por que esse silê ncio? Craig mudou de posiç ã o, tomou mais um gole de conhaque e, inclinando-se, apoiou os cotovelos nos joelhos. Nessa posiç ã o Samantha conseguia distinguir-lhe apenas o perfil, o queixo proeminente, o nariz e os cabelos muito negros, que lhe cobriam a orelha e a nuca. — Tive de viajar a Toronto para cuidar de negó cios. Do jeito como você se comportou, depois que fizemos amor na praia, deduzi que nã o estava mais disposta a continuar com a nossa combinaç ã o. Imaginei que nã o se importaria muito se eu partisse sem dizer nada. Cheguei mesmo a ter a impressã o de que você ficaria aliviada, se eu me afastasse mais uma vez. — Ele esvaziou o copo e o pousou sobre a mesa. — Pretendia regressar a Antí gua assim que pudesse, pois queria saber se você havia se recuperado da queda. Queria també m acabar com a nossa separaç ã o. Achei que você nã o estaria em condiç õ es de fugir de novo. Pelo visto me enganei. Fez-se uma breve pausa, durante a qual Samantha percebeu que Craig nã o iria dizer mais nada, esperando que ela se manifestasse. — Nã o me senti aliviada com a sua partida. Ao contrá rio, fiquei muito preocupada. — É mesmo? Por quê? — Porque no dia em que você partiu, comecei a me sentir muito melhor e me lembrei do que ia lhe dizer, pouco antes de me encontrar com a Morgana e ela me empurrar. — Samantha sentiu-se novamente trê mula e tomou mais um pouco de conhaque. — Ah, já ia esquecendo... Você nã o acredita que eu vi Morgana naquele dia, nã o é mesmo? Acha que eu imaginei que estava lá e me empurrou. É sua amiga desde os tempos da escola e nã o pode acreditar que ela seja capaz de fazer algo tã o desprezí vel. Craig passou os dedos pelos cabelos. — Morgana e eu nã o é ramos tã o amigos assim em nossa infâ ncia. Na realidade eu a via raramente e só passamos a nos encontrar com frequê ncia quando saí da universidade e fui trabalhar para a empresa de meu pai. Ela costumava me seguir, aparecendo nos lugares onde eu me encontrava! E como falava! O assunto girava sempre em torno dela mesma, da grande escritora que viria a ser. A coisa chegou a tal ponto que eu comecei a entrar em pâ nico todas as vezes em que me encontrava com ela. Agora sei com certeza que você nã o estava delirando ao dizer que ela a empurrou, mas quando você me contou o fato nã o pude entender que Morgana estivesse lá. Acreditei que ela tivesse partido com aquele homem que havia conhecido. Deve ter dado uma parada em casa, a caminho do aeroporto. Eu a vi em Toronto, quando voltei para lá. — Ah, sei... — disse Samantha, tensa. — Nã o precisa ficar desse jeito! Nã o fui procura-la. Ela é que me procurou, assim que soube que eu estava de volta. Começ ou a querer tirar informaç õ es a seu respeito, como sempre, e acabou por se trair. — Como assim? — Nã o lhe contei exatamente o que aconteceu com você. Disse apenas que você estava muito bem. Daí ela comentou que você parecia estar com ó tima aparê ncia, na ú ltima vez que a viu. Perguntei quando tinha sido. Ela respondeu que você acabava de praticar windsurf. Daí eu perguntei como sabia que você tinha praticado windsurfe naquele dia, já que ela havia partido de Antí gua. Nunca vi Morgana ficar tã o vermelha. Aproveitei esse constrangimento e a acusei de ter empurrado você na escada. — E o que ela disse? — Gaguejou, disse que foi um acidente, que você tentou pô -la de lado e que ela se limitou a se defender. — E daí? — Eu pedi a ela que nunca mais se aproximasse de nó s. Se ela insistisse, nã o hesitaria em acusá -la publicamente de tentar agredir você. Ela entã o partiu. Craig se levantou e foi até a cozinha, voltando com a garrafa de conhaque. Serviu-se e voltou a sentar-se ao lado de Samantha. — Bem, agora que nos livramos de Morgana, que tal você me dizer o que tinha em mente, quando a encontrou na escada? Samantha nã o conseguiu enfrentar o olhar dele e fitou o copo. Subitamente o sangue começ ou a ferver em suas veias e ela sabia perfeitamente que nã o era a bebida que provocava aquele efeito, mas o fato de estar tã o pró xima daquele homem. — Como foi que você descobriu que eu parti de Antí gua? — ela perguntou, tentando desviar o assunto. — Meu pai me contou, quando telefonei, esperando falar com você para dizer que voltaria logo. Ele me perguntou o que eu faria para impedi-la de ser divorciar de mim. Desde que soube que consultou um advogado, nã o pensa em outra coisa. No fundo, acha que você é capaz de fazer comigo o que mamã e fez com ele. É uma das razõ es por que a convidou a ir a Antí gua. — Eu sei. Ele me disse. — Foi també m por isso que persegui você atravé s das ilhas. É a mesma razã o que me levou a lhe pedir para fingir que a nossa separaç ã o tinha chegado ao fim. — Para agradar o Howard? — Para que ele se calasse e nã o pudesse dizer como devo governar a minha vida. Para que ele nã o a criticasse mais, dizendo que você é igual a minha mã e. — E quais eram as outras razõ es? — Uma delas era convencer Morgana de que ela nã o deveria ter a menor esperanç a em desmanchar o nosso casamento. Sabia que ela pretendia que nos casá ssemos, tã o logo Conrad assumisse a presidê ncia da Empresa Clifton. — E isso aconteceu? — Sim. Ele e eu conseguimos convencer papai a vender suas aç õ es. — E quanto à sua parte? — Vendi antes de papai. — Por quê? — Porque me ofereceram um bom preç o e eu queria aplicar o dinheiro em meu negó cio. — Você tem sua pró pria empresa? — Tenho, sim. — Mas nunca me disse nada? — Você nã o parecia estar especialmente interessada no que eu fazia quando saí a de casa para trabalhar. — É que... eu imaginava que fosse para a Clifton. E qual é o seu negó cio? — Financio produç õ es para televisã o, noticiá rios, filmes... O futuro está no ví deo e nos jornais ou revista, pois, gostemos ou nã o, educamos uma geraç ã o que prefere ver e ouvir a ler. O negó cio está crescendo cada vez mais e quis sair da empresa de meu pai para poder me dedicar inteiramente a essa iniciativa. Esperava també m dispor de mais tempo para minha mulher... Fez-se uma pausa e Samantha tomou mais um gole de conhaque, certa de que Craig tinha mais o que dizer. — A razã o mais importante que me levou a pedir-lhe para fingir que está vamos bem é que achava que isso acabaria acontecendo. Fui muito otimista. Quando é que você pretende iniciar o processo de divó rcio? As mã os de Samantha se puseram a tremer e ela derramou a bebida na saia. — Nã o pretendo — disse, perturbada. — Você disse que nã o pretende? — ele murmurou, sentando-se mais perto dela. Aquele perfume tã o familiar a envolveu. — Nunca tive a intenç ã o de me divorciar de você — ela declarou, cruzando as mã os sobre o joelho, para se impedir de tocar o rosto de Craig, desmanchar as rugas que tinham surgido recentemente em sua pele morena, criadas por um autocontrole exagerado e, possivelmente, pelo sofrimento. — Mas entã o por que foi consultar o advogado? — Fui pedir a ele para lhe escrever, sugerindo que nos encontrá ssemos e discutí ssemos a possibilidade de um divó rcio. Oh, eu simplesmente nã o sabia o que fazer! Os dois anos tinham chegado ao fim e você se manteve silencioso e distante o tempo todo. Eu tinha de fazer algo para chamar a sua atenç ã o e lembrar que eu ainda existia, pois você parecia ter esquecido. — Nã o esqueci de modo algum! Fiz o possí vel para que isso acontecesse, me entregando aos negó cios, trabalhando demais, viajando... — Saindo com Morgana... — ela interrompeu, num sú bito ataque de ciú me. — Nã o, isso nunca. — Mas saiu com outras mulheres. Ela me contou que você nã o foi fiel. — Ela estava apenas tentando armar confusã o, como sempre. E você, como sempre, acreditou nela. — Você entã o nega que existiram outras mulheres? — Saí com algumas mulheres, sim mas nã o foi nada sé rio. Elas nã o eram importantes. Fui fiel a você, à minha maneira. Agora nã o venha me dizer que nã o saiu com outro homem durante esse tempo todo, porque sei que nã o é verdade. Conheç o, por exemplo, Lyndon Barry. — Mas já lhe disse que nã o o amo e nã o dormir com ele. Os lá bios de Samantha começ avam a tremer. Queria se jogar nos braç os de Craig e lhe dizer que nã o desejava mais discutir. Algo, poré m, a impedia. — Eu també m nã o queria nada com outras mulheres — ele declarou, com uma ponta de cinismo. — Devo reconhecer, poré m, que nã o foi nada fá cil ser fiel... Samantha, num gesto impulsivo, levantou-se e Craig fez o mesmo, olhando-a com preocupaç ã o. — Pois entã o nã o resta mais nada a dizer — ela declarou, dando-lhe as costas. — Agora vá embora, por favor, e me deixe sozinha. — Nã o! — Craig agarrou-a pelo pulso, obrigando-a a encará -lo. — Nã o vou me retirar e nem deixá -la sozinha. Fiz isso há dois anos. Cedi aos seus desejos. Deixei você em Londres para fazer o que bem queria. Concordei com a opiniã o de sua mã e, quando ela disse que você era jovem demais para tomar uma decisã o madura. Mas precipitei o casamento. — Só para desafiar seu pai — declarou Samantha, interrompendo-o. — No fundo, ele queria que você se casasse com Morgana. Já tinha combinado tudo com Conrad Taylor. Foi ele mesmo quem me conto. Samantha nã o prosseguiu, subitamente receosa da expressã o do olhar de Craig. Ele a encarava como se quisesse agredi-la. — Casei com você porque me apaixonei e por nenhuma outra razã o! — ele gritou. — Nã o importa o que meu pai ou sua mã e tenham dito a meu respeito. — Você nã o precisa gritar! — Pelo jeito preciso, sim, pois você nã o quer me ouvir! Ou entã o você me ouve, sim, mas nã o acredita em mim. Prefere acreditar no que sua mã e diz. Acreditou mais em Morgana do que em mim. Desconhece o significado profundo do amor ou do casamento, pois só pensa em si mesma. Craig pegou o copo, bebeu o que restava e o colocou com violê ncia sobre a mesa. Reduzida ao mais absoluto silê ncio diante das crí ticas que lhe fazia, Samantha só conseguia encará -lo, sem perceber o quanto sua expressã o revelava a angú stia que ela sentia naquele momento. Craig a encarou com tristeza e deu um passo em direç ã o dela. — Ouç a pelo menos uma vez. Eu me apaixonei pela primeira vez na vida quando conheci você, mas só fui perceber isso ao partir de Londres e voltar para o Canadá. Regressei logo que pude e pedi você em casamento. Craig pegou-lhe os braç os como se, ao tocá -la, conseguisse convencê -la. Samantha suspirou. Finalmente Craig dizia que ela sempre quisera ouvir, algo que um dia acreditara ser verdade! Naquele momento ele declarava que havia se casado porque se apaixonara por ela. — Você está me ouvindo, Samantha? — ele indagou, puxando-a para si com muita suavidade. — Estou ouvindo, sim. Oh, por que você nã o me disse antes? — Imaginei que você soubesse. Nunca fui de falar muito a respeito dos meus sentimentos. Prefiro agir a falar. Quando casei com você obedeci aos impulsos do meu coraç ã o. Fiz aquilo que os meus instintos diziam ser bom para mim. Acredito que você tenha feito o mesmo. — Sim... penso que sim. — O primeiro ano do nosso casamento foi esplê ndido ou pelo menos me apareceu assim. Entã o você começ ou a mudar, a dar ouvidos ao que as outras pessoas diziam ao meu respeito, em vez de ouvir seu pró prio coraç ã o. E... precisei deixa-la partir. Tive de deixa-la aqui em Londres, pois você disse que era isso que queria. — Craig chegou ainda mais perto dela. — Nã o pretendo repetir o meu comportamento. Nã o vou deixa-la nunca mais. Se fizesse isso, você fugiria, como fugiu de Antí gua. Vou ficar e antes que esta noite chegue ao fim você vai confessar que quer a nossa separaç ã o termine, tanto quanto eu! Craig a beijou como tanto ardor que Samantha sentiu seus lá bios queimarem. Nã o tinha a menor defesa. O desejo se apoderou dela e exigia satisfaç ã o. — Mas por que você nã o veio antes? — ela murmurou, quase sem fô lego. — Se queria acabar com nossa separaç ã o, por que nã o veio quando os dois anos terminaram? — Porque estava à espera de notí cias suas. Achava que o primeiro passo deveria ser dado por você. E foi o que aconteceu, mas nã o exatamente como eu esperava. A inciativa partiu do meu pai. Ele me contou da sua visita ao advogado. Eu já estava decidido a vir até aqui quando ele sugeriu um encontro em Antí gua. Foi o que fizemos e eu comecei a perseguir a minha esposa fugitiva. Espero que a perseguiç ã o tenha chegado ao fim. Tenho razã o ou nã o? Ele acariciou-lhe suavemente o rosto, olhando-a o tempo todo com uma expressã o de desejo. — Sim — murmurou Samantha. — Eu ia pô r um ponto final na nossa separaç ã o... quando me encontrei com a Morgana nos degraus. Pretendia falar-lhe assim que melhorei, mas.... você tinha ido embora e achei que nã o me amava mais. — Amava sim, e te amo mais do que tudo — ele declarou com voz carregada de paixã o. — Quer que eu seja novamente seu amante e seu marido, Samantha? — Quero, sim! Todas as dú vidas e suspeitas que a atormentavam se dissiparam diante daquela declaraç ã o de amor e ela agiu obedecendo a seus instintos. Seguiu os impulsos do coraç ã o e o beijou se abandonando sem a menor reserva nos braç os dele.
Bem mais tarde, enquanto estavam deitados na cama de Samantha, onde haviam feito amor, ela lhe fez uma pergunta: — Onde iremos morar? — Onde você quiser — declarou Craig, cheio de generosidade, entrelaç ando as pernas com as dela. — Na casa perto de Toronto? — ela perguntou, roç ando o rosto de encontro a seu peito peludo. — Nã o. Podemos morar aqui em Londres. Vendi a casa. — Você vendeu aquela casa tã o bonita? Por quê? — Em primeiro lugar, porque você disse que a detestava. Em segundo lugar, porque recebi por ela uma oferta que nã o tinha condiç õ es de recusar. — Ah, é só nisso que você pensa? Comprar, vender e lucrar? — Nã o, nem sempre. Com frequê ncia penso em você e no quanto gosto de fazer amor ou estar juntinho da minha mulher. Nã o, nã o se afaste. Gosto que fique aqui, inclinada sobre mim, porque posso fazer o que quero. — Beijou-a delicadamente nos seios. — Nã o está contente por eu ter vindo? — Sim — ela gemeu e as sensaç õ es mais deliciosa se apoderaram dela. — Você me ama? — Ele perguntou e mais uma vez seus lá bios lhe queimaram a pele, como um rastro de fogo. Samantha voltou a gemer, diante daquela adorá vel tortura. — Eu te amo! Eu te amo demais! — Ela suspirou. — Pois entã o prove... — ele desafiou. Foi o que ela fez. Acariciou Craig até que ele, incapaz de resistir por mais tempo, a possuiu novamente, envolvendo-a numa onda de ternura. Na manhã seguinte, enquanto tomavam café, Craig sugeriu que poderiam passar quatro meses do ano morando em Antí gua e velejando por entre as ilhas; quatro meses no Canadá e quatro na Inglaterra. — Mas precisamos ser multimilioná rios para fazer isso! — Mas somos ricos. Quando meu pai morrer vou ser ainda mais rico. O que me diz disto? Inverno no Caribe, primavera na Inglaterra, verã o e começ o do outono no Canadá? Minha mã e disse certa vez que é a melhor maneira de aproveitar o que esses paí ses tê m a oferecer e me sinto inclinado a concordar com ela. Como já estamos quase na primavera, podemos começ ar ainda hoje a procurar um lugar para comprar. O que lhe parece? — Concordo inteiramente! Eu te amo, Craig! — Acho que é um amor um tanto esquisito... — ele disse, provocando-a. — Você só me ama quando faç o algo que lhe agrada ou quando a deixo agir como quer. Ainda deseja prosseguir na sua carreira? — Ah, já ia me esquecendo! Devo telefonar para Marilyn Dowell! — ela exclamou, correndo em direç ã o ao telefone. — Por quê? — Ela me procurou na sexta-feira e perguntou se eu gostaria de voltar a trabalhar na revista. — Mas você nã o tem necessidade de lhe telefonar. — Mas eu me comprometi! Acho que você nã o está querendo que eu aceite o emprego — ela o acusou, colando o telefone no gancho. — Nã o há uma oferta de trabalho para você na revista. Marilyn lanç ou mã o desse truque como desculpa para localizar você neste endereç o. — Mas por que ela fez isso? — Fui eu quem pediu. Telefonei de Toronto na sexta-feira e lhe pedi que verificasse se você se encontrava em Londres. Ela me ligou assim que falou com você e eu reservei uma passagem imediatamente. Precisava ter certeza de que você se encontrava aqui antes de começ ar a persegui-la novamente... Você se importa muito se nã o for possí vel um emprego na revista? Se quiser de fato voltar para lá, tenho certeza que posso conseguir alguma coisa, embora ela já nã o mais pertenç a à Clifton. Samantha estudou o rosto de Craig, imaginando se havia sinceridade no que ele dizia. — Você está falando sé rio? Nã o fará objeç õ es se eu voltar a trabalhar? — Nã o gostaria, mas també m nã o impediria. Aprendi que a gente deve viver a vida da maneira que bem entender. Você tem de resolver por si mesma se ainda quer seguir carreira. Vai aceitar o emprego? — Creio que nã o. Para dizer a verdade, nã o sei. Estava com medo de que Howard tivesse feito pressã o sobre Marilyn para ela me aceitar de volta, da mesma forma que a pressionou para me despedir. Nã o queria dever nenhuma obrigaç ã o a seu pai. E agora... nã o quero dever nenhuma obrigaç ã o a você. A resposta é nã o. Nã o quero que você tente me arranjar uma colocaç ã o na revista. Nã o quero que pressione Marilyn Dowell por minha causa. — Samantha notou um brilho irô nico no olhar de Craig. — Oh, você é tã o mal quanto Howard... Vive me espionando! — Vivo perseguindo você, amando você! Só agi assim porque te amo, porque me preocupo com você. Cheguei até mesmo a deixa-la sozinha durante dois anos porque senti que você precisava de um tempo para poder enxergar o nosso casamento e o nosso afeto sob uma perspectiva melhor. Sabia que a tinha levado a uma atitude precipitada. Eu tive de agir assim porque sentia medo de perde-la. O que mais posso dizer, a fim de convencê -la de que para mim você é mais importante do que qualquer pessoa neste mundo? Está entendendo o que digo, meu amor? — Estou tentando — ela murmurou, emocionada diante da profundidade e da forç a dos sentimentos de Craig. Beijou-o, sabendo, no fundo do coraç ã o, que nunca mais fugiria daquele amor.
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