Хелпикс

Главная

Контакты

Случайная статья





CAPÍTULO VII



 

 

Afinal de contas Samantha acabou passando a noite sozinha. Quase nã o conseguiu dormir e só conciliou o sono quando o dia nascia. Ao despertar, o sol estava alto e ela calculou que fossem umas dez horas.

Percebeu que Craig estivera no quarto antes que ela acordasse, pois as portas do armá rio estavam abertas e a calç a e o sué ter que ele usava na vé spera estavam jogados em cima de uma cadeira. No banheiro o espelho ainda embaciado, devido ao calor do chuveiro, e a toalha molhada també m denunciavam sua presenç a.

Apó s tomar um banho, Samantha vestia uma bermuda branca e uma camiseta azul-marinho. Pendurou novamente as roupas, perguntando-se por que nã o as guardavas nas malas. Ainda estava um tanto entorpecida, devido à falta de sono. Foi para o pá tio e deu a volta em torno da piscina, em direç ã o à saleta onde era servido o café da manhã.

O sol brilhava, no cé u azul, os pá ssaros cantavam e a á gua da piscina era um verde muito claro. Os hibiscos de cor escarlate e as primaveras roxas e agressivas tinham sido lavadas pela á gua da chuva e pareciam brilhar mais do que nunca.

A mesa estava posta, mas apenas para uma pessoa. Jeremiah apareceu assim que Samantha entrou na sala, desejou bom dia e lhe ofereceu bananas com creme, ovos, torradas e café.

— Você por acaso encontrou a minha bolsa, Jeremiah? — ela indagou.

— Sim, senhora, e entreguei hoje de manhã ao sr. Craig.

— Ah, sei. Onde é que ele está agora?

— Acho que está com o sr. Clifton.

— Obrigada.

Assim que terminou de comer Samantha foi até a suí te de Howard Clifton e bateu à porta. Carla lhe disse que entrasse.

Ela e Howard estavam sentados à mesa, tomando o café da manhã.

Os raios do sol banhavam o quarto, mas Craig nã o estava ali.

— Bom dia, Samantha. Você está com boa aparê ncia! — disse Carla, amá vel e acolhedora como sempre. — Já tomou café?

— Sim, obrigada. Estou à procura de Craig. Jeremiah disse que ele estava aqui com você s.

— Craig saiu já pouco. Foi até a cidade. Ele nã o lhe disse nada?

Naturalmente fora ver Morgana, imaginou Samantha, repelindo imediatamente essa idé ia. Nã o tinha a menor razã o para sentir ciú me daquela mulher. Pelo menos era isso que Craig afirmava.

— Nã o, ele nã o me disse nada. Só conseguir dormir agora de manhã. Craig deve ter saí do antes de eu acordar. Falou quando volta?

— Na hora do almoç o — disse Carla, levantando-se. — Com licenç a, Howard. Preciso conversar com Elena a respeito do almoç o. Vou mandar Jeremiah tirar a mesa. — Ela se inclinou, beijou o marido no rosto e fez menç ã o de se retirar.

— Fique comigo, Samantha — ordenou Howard, vendo que ela se dispunha a seguir Carla. — Vamos até o pá tio. Quero conversar com você. Descobriu onde começ aram aqueles boatos?

— Descobri, sim.

Samantha entregou a bengala em que Howard sempre se apoiava. Ele estava com melhor aparê ncia do que na vé spera e seus olhos brilhavam. Puseram-se a andar lentamente. O ar perfumado pelas centenas de rosas que desabrochavam nos canteiros; de longe vinha o barulho das ondas quebrando de encontro aos rochedos.

— Fui ver Lyndon, o jornalista que o entrevistou. Perguntei onde ouviu o boato e ele disse que tudo partiu de uma mulher que se encontrava hospedada no hotel. Pela descriç ã o que ele fez adivinhei que se tratava de Morgana Taylor.

— Ah! E onde você acha que ela obteve essa informaç ã o?

— Nã o tenho a menor idé ia — Samantha interrompeu-se, pois nã o gostou do pensamento que acaba de lhe ocorrer. — A menos que Craig tenha conversado com ela... Ontem à noite ele me disse que sabe que eu consultei um advogado em Londres, a respeito do divó rcio, mas nã o tenho a menor idé ia de como ele descobriu.

— Fui eu quem lhe contei — disse Howard, com rispidez.

— Quando?

— Assim que recebi a informaç ã o de Londres.

— Oh, nã o entendo! — disse Samantha, bastante perturbada. — Nã o disse que a ningué m que iria procurar um advogado, a nã o ser a Lyndon Barry. Só ontem é que ele ficou sabendo que sou casada com Craig. Como foi que o senhor descobriu?

Tinha chegado até a grade, no fim do pá tio, e Howard contemplava a bela vista da baí a. A seu lado Samantha estudava aquele perfil de á gua. Era, sem dú vida, um homem muito astuto.

— Fui informado por certas pessoas de Londres, que trabalham para a companhia e que vivem de olho em você, a partir do momento em que decidiu se separar de Craig.

— Quer dizer que fui espionada? — ela indagou, horrorizada com aquela declaraç ã o. — Como o senhor foi capaz de fazer uma coisa destas?

— Chame de espionagem, se quiser — ele replicou, sem se deixar abalar pela acusaç ã o. — Agora posso lhe dizer que Craig se casou com você só para me desafiar. Conrad Taylor e eu há muito discutí amos a possibilidade de fusã o de nossas empresas e pretendí amos consolidar essa fusã o atravé s do casamento de Craig com Morgana. Conrad chegou mesmo a estabelecer o casamento com condiç ã o essencial para essa fusã o. Craig se recusou a cooperar e foi para a Inglaterra, onde acabou se casando. Como você nã o é de famí lia rica eu fiquei desconfiado e cheguei a acreditar que se casou com ele devido à sua riqueza e posiç ã o social. Daí a pouco mais de um ano você voltou para a Inglaterra e insistiu em arranjar um emprego. Achei que as minhas suspeitas se confirmavam e mandei vigiá -la. Como lhe disse ontem, nã o queria que você fizesse com Craig o que Ashley fez comigo. Assim que soube que você consultou um advogado decidir agir.

— Como assim?

— Eu a convidei a vir para cá, apó s tomar providê ncia para que você fosse dispensada da revista. Assim nã o poderia usar o trabalho como pretexto.

— Quer dizer que foi o senhor quem pressionou MarylynDowell!

— Nã o costumo pressionar ningué m — declarou Howard Clifton, com muita frieza. — Simplesmente dou ordens e exijo que sejam cumpridas.

— Mas eu poderia nã o ter aceitado o seu convite. O que a senhora faria, nesse caso?

— Mas você aceitou. Veio até aqui e o mesmo aconteceu com o Craig, conforme eu esperava. Ontem você mesma disse que a separaç ã o chegou ao fim e que nã o haverá mais divó rcio. Fico contente por saber que meu pequeno plano deu certo. Tive igualmente a oportunidade de conhece-la melhor. Minha cara, durante sua permanê ncia cheguei à conclusã o de que nã o se casou com Craig por dinheiro. Casou com ele porque o amava, nã o é mesmo?

— E... como foi que o senhor descobriu?

— Ouvindo, observando e també m porque, pelo visto, você nã o hesitou em aceitar o meu convite. Esperava ouvir notí cias de Craig e até mesmo se encontrar com ele aqui, nã o?

— Sim... — murmurou Samantha.

— Começ ava a se ressentir dessa separaç ã o, mas nã o queria dar o primeiro passo e meu filho nã o tomava nenhuma atitude nesse sentido. Foi entã o que lhe ocorreu procurar um advogado, com a esperanç a de que Craig fizesse algo. Quando lhe disse ao telefone que você tinha ido consultar um advogado, Craig quis tomar o primeiro aviã o para a Inglaterra. Sugeri, poré m, que você s se encontrassem aqui, longe de certas influê ncias na vida dele, sobre as quais me falou. Meu filho me contou que sua mã e nunca o aprovou.

— Mamã e acha que Craig tem a mentalidade de um playboy no que se refere à s mulheres, e que se casou comigo apenas para...

— Para leva-la para a cama — concluiu Howard, com um brilho matreiro no olhar. — Nã o o censuro. Você é uma mulher extremamente atraente, talvez um tanto confusa, mas inteligente. Graç as a Deus nã o se trata de uma criatura submissa e é a mulher ideal para Craig. Ele é um tanto inclinado a dominar as pessoas, a fim de conseguir o que quer, e você faz muito bem em enfrentá -lo. Agora você sabe que sou um velho intrigante, Samantha, sempre manipulando as pessoas. Estou perdoado por espioná -la, mandar despedi-la e convidá -la para vir até Antí gua? Minhas intenç õ es foram as melhores possí veis.

— Sim, eu o perdô o, mas, já que foi honesto comigo, creio que devo fazer o mesmo em relaç ã o ao senhor. Craig e eu estamos apenas fingindo que nossa separaç ã o chegou ao fim.

— Fingindo?

— Sim. Ele me pediu para agir assim durante alguns dias.

— Por acaso ele disse por quê?

— Nã o, mas tive a impressã o de que era para agradar ao senhor.

— E você nã o fez a menor objeç ã o em concordar com esse... fingimento?

— Nã o... pelo menos eu... — Samantha interrompeu-se, dando se conta de que, no fundo, nã o sabia por que tinha concordado com a sugestã o de Craig.

— Talvez você tenha resolvido que é melhor ficar com os ané is, quando se perdem os dedos — disse Howard com o ar malicioso de sempre. — Está absolutamente certa. E durante quanto tempo vai durar a farsa?

— Nã o mais de uma semana, como disse Craig.

— E quando a semana chegar ao fim?

— Poderei voltar para Londres, se quiser.

— Se você quiser... Hum... Pelo visto, Craig é bem mais sutil do que eu poderia imaginar. Talvez tenha aprendido alguma coisa com o pai... É possí vel que você nã o queira voltar para Londres, nã o é mesmo?

— É possí vel sim.

— E se você nã o voltar, o que acontecerá?

— Oh, nã o sei... Nã o sei! Depende do que Craig fizer! — disse Samantha, um tanto desorientada. — Bem... com licenç a. Preciso encontrar algo que nã o conseguir localizar ontem.

— Claro, mas espero vê -la mais tarde — disse Howard, autoritá rio como sempre, enquanto voltavam para a sala. — Há algum tempo que você nã o lê para mim e paramos na metade do romance de Hemingway. Quero saber o fim e, portanto, nã o vá para a praia ou para qualquer outro lugar antes de terminar a leitura. Promete?

— Prometo, sim. Virei hoje à tarde.

Samantha foi diretamente para o quarto, certa de que Craig devia ter posto a bolsa em algum lugar em que ela pudesse vê -la. Nã o conseguiu encontra-la, poré m, e isso significa que nã o poderia partir de Antí gua naquele dia, ou melhor, nã o poderia partir enquanto Craig nã o voltasse para casa e ela nã o lhe pedisse a bolsa de volta.

Mas uma vez estava encurralada. Na verdade, isso nã o importava tanto. Sentiu-se estranhamente aliviada, pois aquele assunto já nã o lhe pertencia mais. No fundo, nã o queria partir. Ficaria até o fim da semana, conforme Craig tinha pedido, e só entã o tomaria uma decisã o.

“É possí vel que você nã o queira voltar, nã o é mesmo? ”, havia sugerido Howard Clifton.

Como aquele homem era esperto e malicioso! Como a tinha estudado bem, analisando com precisã o seu comportamento! Parecia conhecê -la melhor do que ela mesma e tinha adivinhado os motivos que a levaram a consultar um advogado. Quando terminaram os dois anos estipulados por Craig para a separaç ã o, ele nã o dera o menor sinal de vida. Samantha, desesperada, pretendia pedir ao advogado que entrasse em contato com ele sugerindo um divó rcio, na esperanç a de que ele tomasse alguma atitude. Antes que conseguisse agir, Howard foi informado e interferiu. Foi despedida do emprego, de acordo com as instruç õ es dele, e recebeu o convite para ir a Antí gua. Conforme Lyndon dissera, ela havia caí do numa armadinha, aliá s com toda facilidade, e voltara a se encontrar com Craig.

Craig, por sua vez, viera porque sabia que ela estaria presente. Aliá s nã o fazia o menor segredo em torno do assunto. Seguira-a atravé s das ilhas quando ela partira com os Wallis porque queria fazer amor com ela e pedir-lhe para fingir que a separaç ã o havia chegado ao fim.

Samantha mordeu o lá bio. Seria possí vel que o tivesse entendido mal e que ele, no fundo, desejasse reatar o casamento? Nã o era possí vel, pois Craig havia estipulado um limite de tempo, talvez nã o mais do que uma semana. Em seguida ela poderia regressar a Londres se quisesse. Nã o teria agido assim se quisesse que Samantha ficasse com ele.

Mas por que Craig queria que ela fingisse? Seria apenas para satisfazer seu pai, conforme Lyndon havia sugerido? Ou haveria alguma outra razã o? Ela nã o tinha como saber. Mas por acaso teria de saber? Craig nã o poderia fingir que a separaç ã o acabara pelo fato de amá -la e querê -la de volta?

Samantha vestiu um maiô, pô s uma saí da de praia e saiu do quarto. Tinha a intenç ã o de praticar um pouco de windsurfe. O tempo estava ó timo, o vento soprava firme e o sol esquentava. Seria preferí vel aquilo a ficar sentada em casa, tentando analisar a situaç ã o dela com Craig, imaginando o que ele estaria fazendo na cidade e se fora ao encontro de Morgana.

Durante meia hora Samantha percorreu a pequena baí a em vá rias direç õ es, praticando o windsurfe com uma habilidade cada vez maior. Nã o caiu na á gua uma vez sequer. Refrescada pelo exercí cio, guiou a prancha até sua praia favorita, pretendendo tomar um pouco de sol antes de voltar para casa.

Aproveitou a oportunidade de estar sozinha, tirou o maiô e o colocou sobre uma pedra para secar. Em seguida deitou-se de costa na areia quente e fechou os olhos. A paz e a tranquilidade eram fantá sticas. O sol nã o estava excessivamente aquente e acariciava sua pele, queimando as partes que nã o costumavam ser expostas. As ondas batiam de leve, de encontro aos rochedos, e o vento sussurrava por entre as folhas das palmeiras. Reinava a mais completa paz.

“Você costuma vir aqui com frequê ncia? ”

Assustada, Samantha abriu os olhos rapidamente e sentou-se, cobrindo os seios com os braç os. Olhou à sua volta, mas nã o viu ningué m. A praia estava deserta e nenhuma outra prancha de windsurfe tinha se aproximado. A seu lado nã o havia nenhum homem alto, bronzeado...

Levantou-se e vestiu o maiô, pois poderia haver algué m entre os rochedos, espionando. Voltou a deitar-se, desta vez de bruç os, e fechou os olhos, esperando sentir uma vez a paz de espí rito que aquele lugar encantado lhe proporcionava.

Sentia-se, no entanto, intranquila. Diante de si só enxergava Craig, só ouvia sua voz, calma e profunda, zombando dela. Descobriu que ansiava por sua presenç a. Gostaria realmente de ter-lhe ouvido a voz.

Se pelo menos ele viesse, seguindo-a atravé s da baí a... Se estivesse lá, devorando-a com o olhar, sorrindo com ar de provocaç ã o, acariciando-a, tomando-as nos braç os! Como o desejava!

Samantha apertou as mã os e gemeu, tomada por uma sú bita paixã o. Nã o podia ficar mais lá. Tinha de voltar para casa, revê -lo, dizer-lhe que bastava de fingimento. Queria declarar que o amava e que deseja viver com ele para sempre. Levantou-se rapidamente e foi correndo até a prancha. Ajeitou o mastro, empurrou a prancha para dentro da á gua, subiu nela e se afastou da ilhota.

Ao chegar à praia, amaldiç oou o tempo que levaria para carregar o equipamento até o depó sito onde eram guardados. Mal continha o desejo de rever Craig, de lhe falar, de tocá -lo e confessar o seu amor. Vestiu a saí da de praia e as sandá lias e subiu os degraus correndo. Na metade do caminho ficou sem fô lego e sentou-se num banco de madeira.

Apó s se recuperar, ia continuar subindo a escada quando ouviu o barulho de saltos altos. Uma mulher com um vestido de voil azul vinha a seu encontro. Morgana parou diante de Samantha, bloqueando o caminho e sorrindo com uma falsidade insuportá vel.

— Olá! Carla disse que talvez você estivesse na praia e resolvi vir ao seu encontro. — Olhou para os cabelos encharcados de Samantha e ficou muito espantada. — Mas o que andou fazendo? Até parece que se afogou!

— Estava praticando windsurfe.

— Ah! E você é craque nisso?

— Mais ou menos. Você já tentou?

— De modo algum! Desteto esportes aquá ticos. Nã o gosto de me molhar.

— Exatamente como uma gata — observou Samantha e Morgana lanç ou-lhe um olhar desdenhoso. — Bem, com licenç a. Tenho de ir tomar um banho e trocar de roupa.

— Ainda nã o — disse Morgana. — Precisamos conversar e tenho muito para lhe dizer. Onde foi que aprendeu a praticar windsurfe?

— Foi Craig quem me ensinou, durante nossa lua-de-mel. Diga o que precisa e entã o vou poder me trocar. É importante?

— Para mim, sim. Nã o sei por que você está insistindo tanto — ela declarou e em seus olhos surgiu um brilho desagradá vel.

— Insistindo? O que você quer dizer com isso?

— Nã o sei por que permanece aqui. Naturalmente acha que, com isso, Craig vai voltar com você, pois a sua presenç a o faz lembrar o tempo todo que sã o legalmente casados. Estou muito surpreendida com a sua atitude. Julguei que tivesse mais amor-pró prio e que nã o concordaria com o comportamento de Craig. Para dizer a verdade, fiquei muito contente quando soube que você decidiu se separar. Achei que ganhou um ponto para a causa do feminismo, ao se recusar a ser dominada por ele. Pensei até que, divorciando-se dele, fizesse um acordo conveniente.

— Nã o duvido de que você tivesse agido assim caso se encontrasse na minha posiç ã o.

— Evidentemente! Tinha certeza absoluta de que você faria o mesmo.

— E estava tã o segura que chegou até mesmo a espalhar boatos nesse sentido!

— De fato, falei com algumas pessoas, amigas minhas e de Craig. Elas me perguntaram como andava o casamento de Craig, pois sabiam que nó s somos í ntimos.

— Pois a sua credibilidade entre os amigos deve ter diminuí do bastante, quando Craig lhe disse que estamos juntos e que nã o vamos nos divorciar — replicou Samantha, em atitude de desafio.

Descobriu, poré m, que começ ava a tremer. Estava tã o indignada com aquela mulher que teve de enfiar as mã os nos bolsos da saí da de praia, para nã o esbofeteá -la.

Imediatamente a atitude de Morgana se modificou. Deu um suspiro abafado e se aproximou de Samantha.

— Oh, minha cara! Sinto tanta pena de você! É tã o ingê nua, tã o fá cil de conduzir! Saiba que nã o é pá reo para um homem como Craig. Ele é sofisticado demais para uma criatura como você. Imagino só os argumentos que deve ter usado para convencê -la a nã o se divorciar dele. Naturalmente foi encorajado pelo pai, pois Howard nã o querer que você se divorcie e peç a uma pensã o. Ele detesta perder dinheiro desse jeito. Nã o me espantaria se Howard lhe oferecesse dinheiro para você fingir que a separaç ã o terminou. Em outras palavras, ele nã o hesitaria em compra-la.

— Pois você se engana! Ele nã o me comprou — disse Samantha, cerrando os punhos com mais forç a ainda. Estava indignada. — Por favor, me deixa passar — disse, mas Morgana voltou a barrar o caminho, sorrindo, mais falsa do que nunca.

— Mas entã o a coisa é pior que eu pensava... — ela murmurou. — Os dois conseguiram convencê -la... Você está cometendo um erro terrí vel. Esperava que tivesse aprendido com o primeiro erro.

— Como assim?

— Eu me refiro ao fato de ter se casado com Craig. Imagino que tenha se apaixonado por sua aparente honestidade. Isso nã o deixa de ser uma tentaç ã o, sobretudo quando combina com a riqueza, com a capacidade de praticar esportes perigosos e com a reputaç ã o de um verdadeiro gê nio das finanç as. Imagino que você teve diante de si um verdadeiro prí ncipe encantado, que veio resgatá -la da pobreza.

— Nã o é verdade! Nã o sou como Cinderela e nunca vivi na pobreza.

— Mas acredito que viveria feliz para sempre com Craig apó s casar-se com ele, nã o é mesmo? Quanta ingenuidade! Acho inacreditá vel que ainda existam mulheres como você. Nã o sei como pode continuar a agir assim, em face da realidade. Naturalmente deve pensar que Craig foi fiel durante os dois anos em que esteve separada dele. Posso lhe garantir que nã o e você conseguirá se divorciar dele com a maior facilidade.

— Nã o quero ouvir mais uma palavra! Deixe-me passar! — Samantha chegou a agarrar o braç o de Morgana, que a encarou com ó dio e, de repente, tirou o corpo.

Desesperada, ela tentou se equilibrar, mas nã o conseguiu. Por trá s dela nã o havia nada, a nã o ser os degraus que levavam a outro patamar, alguns metros abaixo. Samantha gritou e tudo girou à sua volta; as rochas, os arbustos e á rvore. Finalmente se chocou contra alguma coisa e desmaiou.

Demorou muito tempo antes que ela recobrasse a consciê ncia. Quando acordou estava deitada em sua cama e sentia dores em todo o corpo. O quarto estava quase na escuridã o e ela imaginou como teria chegado até lá. Pensar era um esforç o, pois sua cabeç a doí a demais, mas recordou que tinha ido praticar windsurfe e que tivera pressa sú bita de ver Craig, de lhe comunicar algo... Por acaso o teria encontrado?

O esforç o era demais e começ ava a sentir-se tonta novamente. Como teria chegado até lá? Nã o se lembrava de ter entrado na casa. Lembrava-se apenas de ter voltado à praia, apó s o que guardara a prancha e encontrara Morgana.

A ruiva lhe havia barrado a passagem, impedindo-a de ir até a casa, ao encontro de Craig. Morgana sempre estava entre os dois! Atormentava-a e a empurrava, quando ela tentava passar, fazendo-a perder o equilí brio e cair!

— Oh, nã o! — Ela deu um gemido abafado e imediatamente algué m se aproximou.

— Samantha!

Era a voz de Craig. Finalmente o encontrara! E agora, o que lhe diria? Abriu os olhos e tentou erguer a cabeç a. Uma dor aguda se apoderou de todo o pescoç o e ela gritou.

— Nã o se mexa. — Craig sentou-se na beira da cama, ao lado dela. — Você nã o de fazer o menor movimento, até o mé dico vir examiná -la. Corri um grande risco, trazendo-a para cá assim que a encontrei. Você nã o sabe o que aconteceu? Como foi que caiu? Tropeç ou?

A garganta de Samantha estava seca e era difí cil falar.

— Encontrei Morgana... Ela... nã o queria me deixar passar. Tentei dar a volta e devo ter pedido o equilí brio...

— Morgana?! Tem certeza de que a encontrou?

— Sim.

— Mas ela partiu de Antí gua hoje de manhã! Foi o pai dela quem me deu a notí cia, quando fui vê -lo. — Craig se inclinou e colocou a mã o em sua testa. Samantha queria contradizê -lo e garantir que Morgana estivera lá, mas as palavras nã o vinham. — Acho que você deve estar com febre. Talvez esteja delirando e imagine que a viu. O mé dico deve estar chegando — anunciando, se afastando.

O dr. Williams, que cuidava de Howard Clifton, era um homem agradá vel e estudara na Inglaterra. Examinou-a com cuidado e declarou que ela havia tido muita sorte por nã o quebrar a perna, a bacia ou a espinha. Estava com um pulso torcido, muitas equimoses e tinha passado por um grande choque.

— Se quiser posso providenciar para que ela seja removida para o hospital e ser tratada lá — ele disse a Craig.

Samantha tentou falar, mas nã o conseguiu. Olhou para Craig fixamente, procurando mostrar que nã o queria ir para o hospital e ficar entre gente estranha. Desejava permanecer ali. Craig compreendeu e se voltou para o mé dico.

— Podemos cuidar dela aqui mesmo, se a senhora disser o que é que preciso fazer. Nã o é mesmo, Carla? — ele perguntou, olhando para sua madrasta, que estava no quarto.

— Claro que sim! Ela receberá todos os cuidados necessá rios. — Carla deu um passo adiante, de tal modo que Samantha pudesse vê -la.

— Vamos tomar de você, querida. Nã o tenha medo. Dentro de alguns dias estará nova em folha.

Passaram-se, entretanto, alguns dias antes que Samantha voltasse a sentir-se bem. Demorou uma semana para conseguir se mover sem muita dor, falar com desembaraç o, pensar com coerê ncia e lembrar-se de tudo o que tinha acontecido no dia da queda.

Certa manhã Samantha acordou sentindo-se muito bem. Seus pensamentos estavam muito claros e ela queria ver Craig. O tempo todo, quando as noites e os dias se alternavam e ela estava sob a influê ncia dos calmantes e outros remé dios, percebia a presenç a de Craig no quarto. Ele ficava quase sempre sentado numa cadeira, ao lado da cama. Nã o lhe dirigia muito a palavra, como se sentisse que ela nã o queria falar. Em alguns momentos lia para ela notí cia de revistas ou jornais ou entã o lhe enviava recados de Howard. Havia contato como tinha sido encontrada inconsciente nos degraus. Carla dera por falta dela na hora do almoç o e ele fora até a praia, à sua procura.

Samantha tentou lhe falar mais uma vez a respeito de Morgana e de como tinha certeza de que ela a empurrava. Craig prestou atenç ã o, mas Samantha teve a sensaç ã o de que ele nã o acreditava, pois a interrompeu, insistindo para que ela descansasse e nã o falasse. Tratou-a com ternura, mas també m com autoridade, como se ela fosse uma crianç a. Ao sair do quarto, seu lugar foi tomado pela enfermeira que ele havia contratado para cuidar dela.

Nesse dia, no entanto, ela sentiu-se suficientemente forte para discutir com ele e insistir que Morgana estava a seu lado quando caí ra. No momento em que Craig viesse vê -la, ela estaria vestida, sentada numa cadeira, e provaria que nã o delirava e nem tinha alucinaç õ es, devido aos remé dios. Já nã o era mais uma invá lida. Convalescia e estava em pleno processo de recuperaç ã o. Craig teria de acreditar no que ela ia dizer a respeito de Morgana. Esperava igualmente que ele acreditasse nela quando lhe contasse por que estava à sua procura, quando declarasse que o amava e que queria pô r um ponto final naquela separaç ã o.

A enfermeira relutou em deixa-la se levantar, mas acabou cedendo aos seus argumentos. Quando Carla entrou no quarto para ver como ela ia, Samantha estava sentada perto da janela do pá tio, olhando os reflexos do sol sobre a á gua da piscina.

— Estou tã o melhor! — disse a Carla. — Eu tinha de levantar.

Craig está em casa? Gostaria de falar com ele. Tenho tanto o que dizer, agora que voltei a ficar boa!

A expressã o de Carla se modificou e ela passou de alegria que sentia ao notar a melhora de Samantha a uma declarada tristeza.

— Oh, sinto muito, querida, ele nã o está. Sei o quanto Craig queria que você melhorasse! Ele passou tantas horas neste quarto ao seu lado, quando você dormia, à sua disposiç ã o caso você acordasse e quisesse algo.

— Ele nã o está? Por acaso foi a St. John? — perguntou Samantha, tentando disfarç ar seu desapontamento.

— Nã o. Volto para Toronto.

— Como? O aviã o de Toronto só parte à noite!

— Ele viajou no vô o de ontem, mas tenho certeza de que comunicou o fato quando estava com você. Almoç aram juntos, nã o se lembra?

Samantha já havia notado, aliá s com bastante irritaç ã o, que todos duvidavam de sua capacidade de se lembrar das coisas, achando que ela sofria de amné sia como resultado da queda.

— Lembro, sim, mas ele nã o disse que iria viajar... — Samantha interrompeu-se, tentando lembrar com exatidã o o que Craig lhe dissera ao deixa-la na vé spera. — Ele disse que nã o jantaria comigo porque nã o estaria presente... — murmurou, falando mais para si do que para Carla. — Acrescentou que já havia ficado por aqui mais tempo do que deveria.

— É verdade. Craig veio apenas por alguns dias, enquanto você estava aqui e, apó s sua queda, nã o quis deixa-la. Agora, poré m, precisou voltar, para cuidar de alguns negó cios. Ele se preocupa em excesso. Com Howard costumava acontecer a mesma coisa. Eu nunca sabia quando ele chegava ou quando partia. Felizmente isso acabou e para mim é muito melhor. Acontecerá o mesmo com você um dia. Está vendo? Craig disse que partiria.

— Disse, sim, de certo modo — reconheceu Samantha e seu olhos se encheram subitamente de lá grimas. — Eu bem que gostaria que... — Ela se interrompeu mais uma vez, muito decepcionada.

— Você se levantou cedo demais, Samantha! Acha que ficou boa da noite para o dia. Deite novamente, descanse um pouco mais e hoje à noite poderá sair mais uma vez da cama.

Subitamente desanimada, Samantha deixou Carla leva-la para a cama. Deitou-se obedientemente e fechou os olhos. O Fingimento tinha chegado ao fim. Craig voltara para Toronto e já era mais necessá rio prolongar aquela encenaç ã o e tentar enganar os outros. A situaç ã o tinha se prologando um pouco mais porque ela havia caí do e se machucara. Craig achara que era dever ficar ao lado de Samantha, até se recuperar. Tudo aquilo fazia parte da combinaç ã o. Agora, poré m ela partirá como costumava fazer, sem dizer adeus, sem comunicar para onde ia, deixando-a livre para regressar a Londres, se assim o desejasse.

 



  

© helpiks.su При использовании или копировании материалов прямая ссылка на сайт обязательна.