Хелпикс

Главная

Контакты

Случайная статья





CAPÍTULO II



 

 

— Craig, nã o é que você está pensando! — disse Farley, recolhendo rapidamente a mã o e levantando-se, todo ruborizado. — Estava agradecendo a Samantha por sua presenç a e por se mostrar tã o disposta a ajudar...

— Sei, sei... — Craig parecia estar se divertindo, mas nã o era verdade. Havia uma certa aspereza em sua voz e o olhar que ele dirigiu a Samantha deixou-a gelada. — Estou muito surpreendido em encontrar você por aqui — ele disse, dirigindo-se a Farley. — Desde quando o semestre na universidade termina no meio de fevereiro?

— Com licenç a — murmurou Samantha, levantando-se. Nã o desejava de modo algum testemunhar uma briga entre dois irmã os. —Tenho o que fazer e sei que você s dois tê m muito o que conversar.

— Mas, Samantha, você me prometeu.... — disse Farley, desolado.

Ignorando o apelo do rapaz, ela passou por Craig, em direç ã o à casa, mas este lhe barrou a passagem e Samantha se viu comtemplando aquele peito largo e musculoso e os pelos negros que o cobriam. Ela cerrou os punhos, numa tentativa de controlar o í mpeto de tocá -lo.

— Nã o se retire com tanta rapidez — disse Craig, como toda calma. — É com você que quero falar, nã o com Farley. Venha nadar comigo lá na baí a. Depois poderemos tomar sol na praia.

— Nã o posso. Tenho o que fazer — ela murmurou, embora desejando aceitar o convite. Como seria bom nadar nas á guas transparentes do Caribe e em seguida deitar-se bem junto a Craig, possivelmente até mesmo repousar em seus braç os, nas areias douradas, à sombra dos coqueiros... — Nã o — repetiu Samantha, retirando-se para o interior da casa.

Sapatos de salto alto ecoaram nas lajotas e Carla surgiu no corredor que levava à ala da residê ncia onde Howard Clifton tinha sua suí te. Ela usava um vestido de algodã o estampado com flores brancas e negras, e seu rosto, de traç os marcados e sensuais, estava muito maquilado. Ainda assim eram evidentes as rugas que a ansiedade tinha esculpido, notando-se imediatamente a expressã o de angú stia em seus olhos negros.

— Howard ouviu o barulho do carro. Craig chegou, Samantha? Você foi encontrá -lo no aeroporto?

Carla possuí a um ligeiro sotaque e sua voz era suave e profunda. Quando ela falava Samantha sempre pensava no melado, espesso, escuro e lí quido... Carla era venezuelana. Tratava-se de uma pessoa generosa, mas muito temperamental, profundamente religiosa e totalmente dedicada a Howard e ao filho deles, Farley.

— Sim, Craig chegou. Está lá na piscina com Farley.

— Ah, nã o! — Cara parecia extremamente preocupada. — O que está dizendo a Farley?

— Nã o sei e nem quero ouvir.

— Achei que ele fosse ver o pai em primeiro lugar! Será que ele nã o tem sentimentos? Por acaso seu coraç ã o é feito de pedra?

— Nã o sei Carla, gostaria que você tivesse me avisado de que ele chegaria hoje.

— Mas como? Só fiquei sabendo hoje de manhã, quando a secretá ria dele telefonou de Toronto informando que ele acaba de tomar o aviã o. — Ela deu um passo adiante e encarou Samantha com curiosidade. — O que você teria feito se soubesse do fato?

— Teria partido de Antí gua. Nã o quero estar aqui enquanto ele també m estiver. Nã o posso permanecer nessa casa. Tenho de ir embora...

— Oh, nã o, você nã o pode nos deixar! É preciso que fique aqui. É preciso, Samantha! Howard nã o quer que você nos deixe.

— Gostaria de saber por quê. Até agora ignoro por que ele me convidou para vir.

— Mas ele nã o lhe disse? — Carla parecia ter ficado surpreendido.

— Nã o. Ele fala muito pouco quando vou encontrá -lo, sempre que estamos juntos me limito a ler para ele.

— É por isso que você tem de ficar! — disse Carla, com muita ê nfase. — Você pode fazer por Howard algo que eu nã o posso. Pode ler seus autores favoritos, tais como Dickens, Hemingway e outros. Nã o leio inglê s bem e nã o entendo a literatura inglesa e americana. Howard diz que você lê maravilhosamente bem e sente um grande prazer em ouvi-la. Ah, Samantha, você nã o pode partir agora! A sua vinda aqui para cá foi idé ia dele. Sabia que Craig viria, se você se encontrasse aqui. E pelo visto ele tinha razã o, nã o é mesmo? Assim que eu lhe disse que você estava conosco, ele largou tudo e tomou o primeiro aviã o — concluiu Carla, com uma expressã o de triunfo no olhar.

— Mas entã o quer dizer que... — disse Samantha, interrompendo-se ao ouvir a voz enfurecida de Farley.

— Dios! — exclamou Carla, desolada. — Preciso ir dar um jeito naqueles dois.

Ela caminhou apressadamente em direç ã o à piscina e Samantha seguiu pelo corredor, até a pequena suí te que lhe fora destinada.

A sala de estar, que tinha uma mobí lia simples, mas de muito bom gosto, estava exatamente como ela havia deixado naquela manhã.

Samantha se dirigiu ao quarto e parou, atô nita, ao ver o terno cinza e a camisa jogados sobre o acolchoado vermelho que cobria a enorme cama de casal. A elegante mala de Craig estava no chã o, aberta, cheia de roupas.

Craig, arrogante como sempre, presumia que Samantha fosse compartilhar o quarto com ele. Tinha invadido a privacidade dela, espalhando roupas pelo aposento e fazendo-a sentir sua presenç a. No entanto ela estava certa de que Carla havia ordenado a Jeremiah que acomodasse Craig num quarto do outro lado da casa, e bem longe dela...

Vozes irritadas chamaram-lhe a atenç ã o e ela foi até a janela que dava para o pá tio. Carla, Farley e Craig estavam lá. Carla e o rapaz falavam ao mesmo tempo e gesticulavam sem parar. Craig nã o fazia gesto sequer e os ouvia, imperturbá vel, de braç os cruzados.

Subitamente ele ergueu a cabeç a e olhou na direita da janela onde Samantha se encontrava, como se sentisse sua presenç a. Ela deu um passo para trá s e se retirou rapidamente do quarto, percorrendo o corredor que levava ao vestí bulo. Abriu a porta da entrada e saiu quase correndo, diminuindo o passo apenas quando se encontrava numa alameda que atravessava os jardins, em direç ã o aos rochedos à beira da praia.

Samantha desceu os degraus e notou que a praia estava deserta, a nã o ser pela presenç a de um pelicano, que imediatamente alç ou vô o. O sol e as sombras se refletiam nas areias amareladas e as ondas, de um verde muito claro, vinham morrer na praia. Sob um jirau de madeira, construí do especialmente para abrigá -las, havia duas pranchas de windsurfe.

Samantha tirou o longo vestido de algodã o. Usava um maiô negro, com listras azuis, muito justo, e que lhe valorizava o corpo bem-feito. Pegou uma das pranchas levando-a até a beira da á gua. Ajustou entã o o mastro no centro da prancha e empurrou-a para dentro do mar, até ela flutuar. Em seguida subiu, certificou-se de que lado o vento soprava e desfraldou a vela.

A prancha avanç ou, impelida pelo vento que inflava a grande vela vermelha e amarela. Samantha se equilibrou, dobrou os joelhos contrapondo-se à forç a do vento, e a prancha deslizou com velocidade ainda maior.

À semelhanç a de uma borboleta provida de uma ú nica asa, a prancha avanç ou pelas á guas rasas da baí a. O vento assobiava e Samantha entregou-se totalmente ao prazer de velejar. Seguiu em frente até chegar a uma ponta da areia, nas proximidades de um rochedo.

Logo que se viu perto da praia soltou a vela, que pendeu e caiu no mar. Entã o empurrou a prancha para o raso, tirou o mastro do orifí cio central e estendeu a vela para secar. Deitou-se em seguida na areia, sabendo que ali ningué m viria perturbá -la, pois a pequena praia era praticamente inacessí vel. Só se poderia chegar até lá num bote ou numa prancha de windsurf.

Era bom estar sozinha por um tempo e sentir o sol aquecer sua pele; estava contente por ter descoberto aquele lugar maravilhoso, nã o muito distante da residê ncia dos Clifton, Farley nã o apreciava o windsurfe e jamais a acompanhava em suas expediç õ es, desde que ela havia chegado à ilha.

Deitada de bruç os, Samantha fecho os olhos. Nã o poderia expor-se ao sol durante muito tempo e pretendia ficar ali apenas alguns minutos, a fim de queimar um pouco mais os braç os, pernas e ombros.

Que tranquilidade! Ouvia apenas o barulho suave do mar, o vento assobiando de mansinho entre as folhas das palmeiras e à s vezes alguma gaivota.

No entanto sua mente nã o estava nada tranquila. Achava-se mergulhada na mais completa confusã o, devido à presenç a de Craig.

Seria verdade o que Carla dissera? Howard a teria convidado para se hospedar naquela casa só por saber que Craig viria, se tivesse certeza da presenç a dela ali? Abriu os olhos e, tomando um punhado de areia, deixou-o escapar pelos dedos. Se Craig realmente quisesse tê -la encontrado, naqueles dois ú ltimos anos, nada o impediria de vê -la em Londres. Sabia onde ela morava, onde trabalhava, mas nunca a procurava, desde que se separaram, e jamais lhe pedira voltar a viver com ele em Toronto.

Teria concordado caso ele pedisse? Teria partido para uma reconciliaç ã o, se ele desse o primeiro passo nesse sentido? No fundo, sabia que sim. Desejava que ele surgisse subitamente, declarando que a amava e que nã o conseguia viver sem ela. Algumas vezes, quando estava deprimida, tinha í mpetos de se demitir do emprego e tomar um aviã o para o Canadá. Diria entã o a Craig que já nã o suportava mais ficar sozinha e que nã o desejava outra coisa alé m de voltar a fazer parte da vida dele. Somente o orgulho e a recordaç ã o de Morgana a tinham impedido de ceder a esse impulso.

“Morgana... ”, ela pensou e fechou os olhos, vindo-lhe à mente a imagem daquela criatura.

Morgana Taylor tinha cabelos ruivos e revoltos que lhe molduravam o rosto magro e triangular; seus olhos, muitos escuros, possuí am de vez em quando uma expressã o trá gica e os lá bios eram carnudos e sensuais, sempre pintados de vermelho. Ela era filha de um milioná rio canadense, mas tinha adquirido uma bela reputaç ã o como autora de romances bem escritos sobre a causa feminista. E um dia Craig deveria se casar com essa mulher...

Morgana havia surgido subitamente na mesa dos Clifton, num jantar em benefí cio do Centro dos Escritores, em Toronto. Sua pele muita clara e os cabelos ruivos eram ressaltados pelo vestido negro que usava. Cumprimentara Craig com uma voz macia e aveludada lanç ando-lhe um olhar provocador; um verdadeiro convite para a cama, como tinha parecido a Samantha. Ele se levantara, muito educado, apresentando Morgana a Samantha.

— É sua mulher? Meu querido, nã o tinha a menor idé ia de que você fosse casado! Quando isso aconteceu? E onde?

— Há quase um ano em Londres — dissera Craig, sorrindo — Imagine, daqui a pouco vamos comemorar o nosso primeiro aniversá rio juntos!

Morgana sentara-se ao lado de Craig, e a partir desse momento monopolizara a atenç ã o dele, dirigindo-lhe a palavra em voz baixa e ignorando completamente a presenç a de Samantha, Bill e Judy Felton, alé m de alguns escritores muito conhecidos que a empresa convidara para jantar.

— Quem é ela? — Samantha perguntara a Judy, quando as duas foram até o toalete.

— É a mulher com quem Craig iria casar, antes de conhecer você em Londres.

— E eles estavam noivos?

— Nã o exatamente. Morgana nã o se prende a convenç õ es antiquadas como um noivado, mas era ponto pací fico que iriam se casar. Eles se conhecem há anos. Conrad Taylor, o pai de Morgana, presidente de uma grande companhia de investimentos, e Howard Clifton sempre encararam esse casamento com grande interesse. Ele poderia significar també m a uniã o de duas fortunas imensas.

— E porque nã o deu certo?

— Ningué m sabe. Por que você nã o pergunta a Craig?

Samantha fizera isso ainda naquela noite, quando se preparavam para dormir, na elegante casa situada em um dos bairros da moda, nos arredores de Toronto.

— Judy me contou que você e Morgana Taylor estiveram para se casar — ela havia dito de repente, ao se deitar.

— É mesmo? — ele respondera com indiferenç a, vestindo a calç a do pijama.

— E é verdade ou nã o? — ela insistiu, um tanto incomodada com o que estava sentido.

Samantha estava casada com Craig há quase um ano e tinha acabado de perceber que desconhecia inteiramente a vida do marido antes que ele a tivesse conhecido. Estava apaixonada e fascinada demais pelo lado fí sico de seu casamento para pensar nas mulheres que ele teria encontrado até entã o. Pela primeira vez naquela noite soubera o que significava sentir ciú mes, o que a deixava chocada.

— Do que você está falando? — perguntou Craig, deitando-se ao lado dela.

— Algum dia você pretendeu casar com a Morgana Taylor?

Craig apagou o abajur e, depois de puxar Samantha para bem junto de si, passou-lhe um braç o em torno da cintura, entrelaç ando suas pernas com as dela. Ao sentir o cheiro má sculo que se desprendia daquele corpo. Samantha sentiu o desejo se apoderar dela.

— A ú nica mulher com quis casar foi você — ele murmurou, beijando-a e pondo um ponto final naquela conversa.

Nã o foi, poré m, o fim de Morgana. Ela surgia a todo momento, nas festas dadas pelos amigos de Craig, nos jantares a que ele e Samantha eram convidados, no clube de iatismo, no clube de golfe...

Em todos esses lugares procurava monopolizar a atenç ã o de Craig; ela o beijava e abraç ava, dizendo muito sorridente a Samantha que seu afeto era o de uma irmã.

— Crescemos juntos — dizia. — Nossos pais eram vizinhos.

Talvez, se tivesse mais o que fazer e se o tempo nã o se fizesse sentir com tanta intensidade durante os primeiros dezoitos meses de casamento, Samantha nã o sentisse tanto ciú mes de Morgana. Se pelo menos tivesse um emprego.

Havia feito essa sugestã o a Craig, chegando até a solicitar que ele a ajudasse a encontrar uma colocaç ã o em alguma editora, o que provocou a primeira briga sé ria do casal. Ele se recusava categoricamente a permitir que ela trabalhasse. Samantha nã o tinha aceitado essa atitude e ele se vingou, muito aborrecido, mergulhando num silê ncio irritante.

Se tivesse ficado grá vida, com uma grande responsabilidade, nã o sentiria tanto ciú me de Craig quando nã o estava com ela. Ele se ausentava com frequê ncia, pois tinha de viajar a negó cios para o exterior. Se acaso fosse mais velha e experiente, senã o fosse estrangeira em um paí s desconhecido, sem poder contar com o apoio de parentes e amigos mais chegados, a suspeita nã o teria minado o amor e a confianç a.

O que estava acontecendo era també m culpa de Craig. Ele tinha contribuí do para torna-la ciumenta e desconfiada, ao se recusar a comentar sua vida pessoal, antes de conhece-la. Nã o havia por que fazer tanto segredo.

Um dia soube que, numa de suas viagens de negó cios, ele havia estado com Morgana, chegando a se hospedar com ela no mesmo hotel. Magoada e confusa, Samantha o acusou de ter premeditado aquele encontro, mas ele, evidentemente, recusou.

— Pois entã o ela deve ter sabido para onde você ia e viajou até lá de propó sito, para ficar perto de você — ela afirmara, indignada.

— E por que ela faria uma coisa dessa?

— Porque na certa acha que você ainda lhe pertence.

— Eu lhe pertenç o? — Pois saiba que nã o pertenç o a ningué m, a nã o ser a mim mesmo. Acho bom você se convencer disso. Se você tiver mais um ataque de ciú mes, nó s nos separaremos.

— Ah, é assim? Quer dizer entã o que devo ficar trancada em casa, sem dizer nada, enquanto você e Morgana tê m um caso? E bem debaixo do meu nariz! Pois sabia que está redondamente enganado a meu respeito. Eu me recuso a ser enganada dessa maneira. Vou embora. Vou para casa.

— Para casa? Mas sua casa é aqui?

— Nã o é, nã o. Nã o me sinto à vontade nesta casa e muito menos neste paí s. Eu o detesto! Quero voltar para a Inglaterra que é o meu lar!

— Entã o nã o há outra soluç ã o, a nã o ser voltar — concordara Craig, com a maior calma.

Samantha ficar surpreendida e magoada ao ver que ele a deixava partir com tamanha facilidade.

Nos primeiros tempos foi maravilhoso voltar para a Inglaterra e se refugiar no afeto da famí lia. Nã o levou muito tempo para confessar a sua mã e as suspeitas de que havia um envolvimento amoroso entre Craig e Morgana Taylor.

— No fundo isso nã o me surpreende – declarou Brenda. Ambas passeavam por uma floresta, gozando o prenú ncio da primavera.

— Como assim?

— Tentei prevenir você, quando me comunicou que iria se casar com ele. Achei que você nã o queria enxergar a situaç ã o. — Brenda se exprimia com seriedade, num tom vagamente didá tico. Formada em psicologia educacional, gostava muito de analisar o comportamento das pessoas. — Craig vem de um meio tã o diferente... Alé m do mais, a vida toda se habituou a ter muito dinheiro. Nunca lhe faltou nada e sua atitude em relaç ã o à s mulheres tende a ser um tanto machista. Você nã o deveria ter se casado com ele. Seria preferí vel esperar, antes de assumir um compromisso. Se isso tivesse acontecido provavelmente teria decidido que ser mulher de um rico homem de negó cios com a mentalidade de um playboy nã o era bem o que você queria. Se esperasse, teria descoberto o que está sabendo agora e teria toda liberdade para mudar de idé ia. Quer continuar casada com ele?

— Nã o sei... Ainda nã o me fiz esta pergunta. Eu me sinto tã o confusa! No começ o fui muito feliz! Eu o amava e gostava de estar em sua companhia. Detesto quando ele viaja e me deixa sozinha. Nã o sei o que fazer de mim.

— Você poderia arranjar um trabalho. Será que nã o consegue uma colocaç ã o em alguma editora de Toronto?

— Craig nã o deixa.

— Nã o deixa? Mas como ele pode fazer isso?

— Vive dizendo que nã o quer que eu trabalhe. Se eu arranjar um emprego, ele vai interferir e me impedirá de ser contratada. Sugeriu que entrasse para algum grupo de mulheres que trabalhasse com assistê ncia social e foi o que fiz, mas nã o me acostumei.

— Nã o acreditava que minha filha um dia fosse permitir que um homem a dominasse desse jeito! Entã o nã o vê que cometeu um erro ao se casar com ele?

— Mas eu amo Craig!

— Pare de dizer bobagens! O amor româ ntico é mito e quanto mais cedo você perceber, melhor. Craig Clifton apressou esse casamento antes que você tivesse tempo de pensar. Provavelmente nã o conseguiria levá -la para a cama sem antes prometer que colocaria uma alianç a em seu dedo. Você sempre teve algumas reservas quanto ao sexo antes do casamento.

— Nã o é verdade! Craig jamais me pediu para dormir com ele antes de casarmos.

— Mas entã o por que ele, que afinal de contas vai herdar milhõ es de dó lares, escolheu justamente você?

— Eu costumava pensar que ele gostava de mim por aquilo que eu sou... — murmurou Samantha, sentindo-se muito infeliz.

— Mas agora nã o tem tanta certeza assim...

— De fato, nã o. Oh, mamã e, nã o sei o que fazer!

— Fique aqui por mais tempo e deixe Craig dar o primeiro passo.

Samantha concordou imediatamente com aquela sugestã o e demorou um mê s para que Craig se manifestasse. De repente ele apareceu e ela ficou tã o feliz ao vê -lo que se esqueceu de todas as suas dú vidas que surgiu uma discussã o entre eles.

— Prefiro morar perto de Londres – ela declarou.

— Por que?

— Porque me ofereceram um emprego.

— Onde?

— No corpo editorial da revista O Mundo da Mulher.

— Ela agora pertence aClifton.

— Eu sei. Lembro que foi por isso que você esteve aqui no ano retrasado. Veio fechar a compra da revista.

— Posso exercer pressõ es e fazer a revista retirar a oferta.

— Se você fizer isso, eu o deixarei. Craig, será que você nã o enxerga que nã o sirvo para ser sua mulher? Nã o fui criada para ficar trancada em casa, sem fazer nada. Quero voltar a trabalhar e provar que posso fazer carreira na á rea editorial! — Samantha fez uma pausa e repetiu as palavras de sua mã e. — Nã o deveria ter me casado com você, quando me pediu. Era preferí vel esperar, mas você me apressou.

Craig ficou muito pá lido, mas nã o discutiu mais com ela. També m nã o solicitou que voltasse para o Canadá e ficou a estudá -la friamente durante alguns momentos.

— Está bem. Entendi o recado. Você quer se separar e assim será. Talvez nó s dois precisemos de algum tempo para descobrir se realmente desejamos ficar casados. — Ele sorriu com ironia. — Acho que apressei você, nã o é mesmo? Foi preciso... — Craig se interrompeu e mordeu o lá bio, dominando-se logo em seguida. — Graç as ao nosso casamento, consegui o que queria em determinado momento e nã o me queixo. Você concorda om a separaç ã o.

— Por quanto tempo?

Ainda agora Samantha se lembrava de quanto havia ficado perturbada com aquela atitude tã o fria.

— O tempo necessá rio para você examinar melhor as coisas e descobrir o que deseja da vida. Dois anos bastam?

Dois anos pareciam uma eternidade e era tempo mais do que suficiente para ela saber o que queria.

— Sim — ela disse, muito infeliz. — Mas... nó s nos encontraremos de vez em quando, nã o é? Você virá me ver?

Craig a encarou e, ao notar a expressã o fria e implacá vel daqueles olhos, Samantha quase capí tulou, com vontade de ser jogar nos braç os dele. Estava a ponto de dizer que voltaria com ele par ao Canadá. Somente a lembranç a da vida tediosa que levava por lá, dos dias arrastados e solitá rios e, acima de tudo, de Morgana Taylor, a impediram de fazer um gesto sequer.

— Creio que nã o virei ver você — declarou Craig. — Acho melhor nã o nos encontrarmos. Tomarei todas as providê ncias necessá rias para que você receba uma pensã o.

Essa havia sido a decisã o a que chegaram e Craig voltou para o Canadá sozinho, convencendo-a, com sua atitude, de que estava aliviado por ter se livrado dela durante algum tempo. Agora poderia retomar os há bitos de solteiro; teria ampla liberdade de movimento e poderia praticar esportes perigosos, tais como pesca submarina e corridas de automó veis. També m estaria livre para sair com Morgana...

Mais magoada do que gostaria de admitir, Samantha aceitou o emprego na revista, decidida a dar duro e provar a si mesma o quanto valia.

No entanto sentia imensamente a falta de Craig. Escreveu-lhe vá rias vezes durante o primeiro ano de separaç ã o, mas ele nunca respondeu à s suas cartas. O orgulho foi mais forte do que tudo e ela parou de escrever. O segundo ano sem ele foi mais fá cil. Bem-sucedida no trabalho, Samantha começ ou a sair, acabando por se envolver com outro homem, Lyndon Barry. Ele escrevia para um jornal que funcionava no mesmo pré dio onde era publicada a revista O Mundo da Mulher.

Nã o se esqueceu de Craig e se deu conta, com grande pesar, de que aquilo jamais aconteceria. Uma mulher jamais esquecia o primeiro amor, mas tinha começ ado a aceitar que, talvez, Craig nã o tenha sido feito para ela. Chegou a pensar no divó rcio e até mesmo consultou um advogado, pedindo que a orientasse nesse sentido. Foi entã o que aconteceu o pior: a direç ã o da revista solicitou sua demissã o, pois se via obrigada a fazer cortes no corpo editorial.

Samantha procurava encontrar outro emprego, sem o menor sucesso, quando recebeu a carta de Carla contendo o convite de Howard Clifton. Entediada com o inverno na Inglaterra e com o fato de estar desempregada, ficou intrigada com aquele convite e o aceitou, num gesto impulsivo. Retirou do banco algumas economias, comprou uma passagem de ida e volta para Antí gua e roupas apropriadas ao clima tropical.

Agora se perguntava por que tinha vindo. Será que, inconscientemente, esperava rever Craig? Já se haviam passado mais de dois anos desde a separaç ã o e era temo de discutirem isso.

— Você costuma vir sempre a este lugar?

A voz de Craig, ligeiramente irô nica, soou bem junto dela.

Assustada e percebendo que as pernas e as costas começ avam a queimar, Samantha ergueu a cabeç a e sentou-se rapidamente.

Ele estava de pé, ao lado dela, e gostas de á gua lhe escorriam pelo corpo bronzeado. Junto a Craig se encontrava a outro prancha de windsurfe, pousada sobre a areia.

— Como sabia que estava aqui?

— Vi você sair da praia e resolvi segui-la — ele disse, sentando-se ao seu lado. — Como vê, ainda sei manobrar uma prancha de windsurfe... Lembra o quanto nos divertimos, quando você tomou as primeiras liç õ es nas Bahamas?

A expressã o de Craig era francamente sensual e ele sorriu, como se quisesse dar um outro sentido ao que dizia. Ao falar em diversã o, ele se referia implicitamente ao fato de que, naqueles dias, Samantha tinha aprendido a fazer amor. Era uma maneira sutil de tocar na intimidade que havia existido entre eles.

Algo de muito perturbador se agitou no í ntimo de Samantha, em reaç ã o ao modo como ele a encarava e isso lhe despertava o desejo.

Lá estava ele, bem perto, irradiando uma forte sensualidade. Bastava Samantha estender um pouco a mã o e tocaria aquela coxa peluda e musculosa.

Craig se estendeu subitamente na areia, colocando as mã os debaixo da cabeç a.

— E aqui estamos, tomando sol, embora você alegasse que tinha muito o que fazer... — ele comentou.

— Nã o será por muito tempo — disse ela, levantando-se. — Vou voltar.

Samantha fez menç ã o de pegar a prancha, mas, quando menos esperava, tropeç ou e caiu. No mesmo instante Craig procurou ajuda-la.

— O que aconteceu?

— Ora, você muito bem o que aconteceu — ela disse com irritaç ã o, livrando-se dele com um gesto brusco. — Foi você quem estendeu a perna e me fez tropeç ar!

Samantha se levantou imediatamente, decidida a entrar no mar, mas Craig segurou-a pelo pulso. Ela lhe deu um empurrã o, mas tropeç ou novamente e perdeu o equilí brio, caindo no mar. Subitamente ele a agarrou pela perna.

Samantha afundou e engoliu um bocado de á gua. Presa pelos braç os musculosos de Craig, foi puxada para a superfí cie. Ele a obrigou a se levantar e apertou-a de tal forma de encontro ao corpo que ela sentiu a perturbadora prova de sua virilidade bem junto de si.

Samantha o encarou. Havia uma ameaç a sensual no modo como os lá bios de Craig se abriam à medida que se aproximavam dos dela. Lutando o quanto podia contra a paixã o que ameaç ava dominá -la, ela tentou mais uma vez livrar-se dele.

— Nã o, Craig, nã o quero, nã o quero!

— Claro que quer, meu amor! Nó s dois queremos. Já faz tempo, muito tempo... — ele murmurou com voz rouca de desejo, começ ando a beijá -la, enquanto com as mã os lhe acariciava todo o corpo.

Ela precisou apelar a todos as suas reservas de autocontrole para nã o corresponder à quele beijo. Quando finalmente Craig se afastou, Samantha partiu para o ataque.

— Você nã o mudou nem um pouco, nã o é mesmo? Ainda acha que pode aparecer quando bem entende e controlar a situaç ã o, mesmo depois de dois anos de separaç ã o, e isso sem a menor explicaç ã o e sem levar em conta os meus sentimentos. Por favor, me solte. Quero ir embora. Nã o aguento mais este lugar. Você estragou tudo, vindo para cá.

Craig a soltou imediatamente a ela foi fincar o mastro na prancha.

Julgou que ele a seguiria, mas quando se voltou para olhá -lo ele corria em direç ã o ao mar. Protegendo os olhos contra os reflexos do sol na á gua. Samantha o viu mergulhar.

Craig surgiu mais adiante, afastando-se rapidamente, por meio de braç adas vigorosas. Com uma expressã o de tristeza, ela ajustou o mastro à prancha. Craig sempre tinha sido um amante forte e de poucas palavras indo diretamente ao que desejava. O mesmo acontecia com ela, até surgir Morgana...

— Vamos ver quem chega primeiro na praia? — Ele gritou, aparentemente nã o se importando com o fato de ter sido rejeitado.

Samantha sentiu-se um tanto desencorajada. Jamais conseguiria sequer abalar aquele homem. Nunca poderia magoá -lo, a exemplo do que ele lhe fazia.

— Está bem, mas você tem que me dar vantagem. Nã o sou tã o boa quanto você numa prancha de windsurfe.

As duas pranchas deslizaram sobre o mar e, na â nsia de chegar antes de Craig, Samantha fez algumas manobras ousadas. Por duas vezes o mastro e a vela giraram, jogando-a dentro do mar. Nesses momentos Craig se aproximava, perguntava aos gritos se ela estava bem e esperava até que subisse na prancha e voltasse a velejar.

Samantha chegou à praia antes dele, mas nã o sabia se isso havia acontecido por velejar mais rapidamente do que Craig ou se ele tinha permitido que vencesse. Em seguida levaram as pranchas, velas e mastros para o pequeno abrigo sob as á rvores.

— Você vai ver seu pai agora? — ela perguntou, julgando que deveria lembra-lo de seus deveres. — Carla ficou preocupada, pois você nã o foi vê -lo, quando chegou em casa.

—Sim, ela me disse — comentou Craig com certa frieza. — Mas você me conhece muito bem... Há certas coisas que devem vir em primeiro lugar.

— O que você quer dizer com isso?

— Já fiz você lembrar que ainda é minha mulher e que tenho o direito de beijá -la quando quiser. Agora posso visitar meu pai e tentar descobrir o que tem na cabeç a — declarou Craig, dando um passo adiante. E beijou-a com impulsividade, antes que Samantha pudesse dizer qualquer coisa.

Ela quase perdeu o equilí brio, diante daquela inesperada e apaixonada demonstraç ã o de amor e dessa vez nã o conseguiu controlar suas reaç õ es. Quis se apoiar nele para nã o cair no chã o, mas Craig se afastou rapidamente em direç ã o à casa.

 

 



  

© helpiks.su При использовании или копировании материалов прямая ссылка на сайт обязательна.