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CAPÍTULO VI



Assim que entrou no enorme salã o, Cherry foi praticamente agarrada por Rafael, que a segurou pelo braç o e a levou até um sofá, de onde ficaram observando os danç arinos.

— Estava procurando você — disse ele, zangado.

— Qual é o problema? — perguntou Cherry, ansiosa.

— Francisca me provocou uma má goa da qual nunca mais vou me recuperar — gemeu, colocando a mã o sobre o coraç ã o.

— Ora, vamos, fale sé rio. O que foi que ela disse a você?

— Estou falando sé rio — protestou ele. — Disse tudo que era necessá rio para matar meu amor por ela. Parece que eu sou a causa de toda a infelicidade dela: por minha causa Ric esteve de mau humor todo o dia; por minha causa ele nã o a convidou para danç ar; por minha causa ele danç ou a cueca com você vá rias vezes.

— Nã o! — murmurou Cherry, abalada.

— Sim. É assim que a cabeç a dela funciona. Nã o sou um monstro? Nã o causei todo esse sofrimento à mulher que amo? Infelizmente a ló gica do raciocí nio de Francisca me escapa.

— A mim també m — suspirou Cherry. — Ela nã o é ló gica.

— Tem razã o — concordou Rafael, com um sorriso carinhoso. — Embora já seja uma mulher, age como adolescente. Ainda está presa ao í dolo da sua adolescê ncia, Ricardo, esperando que ele desç a do seu pedestal e a leve para cima com ele. Convidei-a para danç ar a cueca comigo, e sabe o que ela fez? Bateu os pé s, me chamou de estú pido e saiu, dizendo que ia procurar Ricardo e pedir que a levasse para casa.

— Ela me encontrou com ele no jardim.

— Posso saber o que aconteceu lá? — perguntou Rafael, curioso.

— Outra tempestade, com gritos e lá grimas — suspirou Cherry. — Deixei os dois lá e vim embora. Acho que suas tentativas de chamar a atenç ã o dela se voltaram contra mim. Ela acha que estou usando você para conquistar Ricardo, e tenho certeza de que vai fazer o possí vel para que eu vá embora de Vallera.

Madre de Dios! Desculpe. Nã o queria que isso acontecesse. O que vou fazer agora? Pense em alguma coisa, Cherry, por favor!

— Vou tentar, mas talvez seja melhor nã o fazer nada e deixar que as coisas aconteç am naturalmente. À s vezes vale a pena ser paciente.

— Paciê ncia... — Riu, desconsolado. — A minha já está se esgotando. Por Dios! — Empalideceu de repente. — Olhe lá. A pantera vem entrando.

Cherry sentiu um frio na espinha. Parado na porta, Ricardo corria os olhos pelo salã o. Mesmo à distâ ncia, dava para ver que os olhos dele brilhavam de raiva.

Fez um sinal para ele, que a viu, e caminhou na direç ã o dos dois.

— Apanhe seu casaco e vá para a perua imediatamente — ordenou, com voz suave. — Vou me despedir dos dei Monte e desç o em seguida.

Si, senor— falou com tanta humildade quanto Francisca.

— Ai, caramba! — exclamou Rafael. — A pantera ruge e todos trememos, até mesmo você. Nã o a invejo por voltar com ele para Vallera. Quer que eu vá junto?

— Para quê? Para nos proteger? — perguntou Cherry, rindo. — Nã o, obrigada. Mas por que nã o vai até a perua se despedir de Francisca?

— Pela maneira como estou me sentindo agora, acho que é a ú ltima despedida — murmurou, triste.

Rafael abriu a porta do carro e Cherry entrou na frente. No banco de trá s, sentada em silê ncio, Francisca olhava para a frente, impassí vel, e nã o respondeu ao cumprimento de Rafael.

Logo depois, Ric apareceu, disse alguma coisa a Rafael e entrou no carro.

Um silê ncio pesado caiu sobre eles, só quebrado de vez em quando por um suspiro de Francisca, que chorava baixinho. Cherry até sentiria pena dela se nã o estivesse tã o abalada e confusa. Pela primeira vez era a vilã de um drama de amor, a mulher sofisticada da cidade que vem roubar os dois homens mais importantes da vida da pobre mocinha do campo.

Se Francisca soubesse que se sentia tã o confusa quanto ela, e que ambas estavam à mercê de Ric, que nã o se importava com mulher nenhuma, que as via como objeto...

Como se adivinhasse os pensamentos dela e quisesse ironizar, Ric começ ou a assobiar a canç ã o que os mú sicos estavam tocando quando os dois se encontraram no abrigo do jardim.

— Gostaria que nã o assobiasse essa mú sica — explodiu Francisca. — Eu a odeio.

— Mas eu hã o — respondeu Ric. — Ela expressa o que estou sentindo agora.

— Ai, ai, ai — gemeu Francisca. — Nunca pensei que você pudesse ser tã o indelicado comigo, tã o bruto!

— Como você gosta do papel de parente pobre, a quem ningué m presta atenç ã o, nã o é? Se tiver um pouco de juí zo, nã o diga nada a mamã e. Nã o esqueç a do aviso que lhe dei no jardim.

Si, senor— sussurrou Francisca, mais humilde que nunca. — Desculpe. Sinto muito.

— Espero que sinta. — Acelerou o veí culo pela estrada irregular, e todos se calaram.

Vallera surgiu ao longe, iluminada pelo luar indiferente. O carro tomou o caminho da casa, os pneus cantando, e logo chegou ao pá tio enluarado, a que as á rvores e a fonte davam um aspecto fantasmagó rico. Cherry, louca para se ver livre daquela situaç ã o, foi a primeira a descer do carro.

— Obrigada, senor. Boa noite.

Francisca, nã o menos ansiosa por se afastar da raiva de Ricardo, passou correndo por ela e entrou na mansã o. Achando que talvez pudesse consolá -la, Cherry a seguiu.

— Espere! — ordenou Ricardo. Sem forç as para desobedecer, Cherry parou.                                                

— Nã o terminamos nossa conversa — disse Ricardo, com voz suave, embora Cherry sentisse a dureza do aç o oculta sob a maciez das palavras.

— Amanhã? — sugeriu Cherry, ansiosa.

— Agora.

—Felipe... — murmurou, esperanç osa.

— Ele pode esperar um pouco. Deve estar dormindo. —: Estou cansada e preciso levantar cedo.

— Desculpa de mulher — ironizou. — Venha. Ricardo a segurou pelo braç o e levou-a até a porta do quarto secreto. Abriu a porta e empurrou-a para dentro.

O cô modo usado pelo antigo dono como local de encontro com a amante agora parecia transformado em escritó rio. No centro, uma escrivaninha antiga repleta de papé is; a um canto, um armá rio de aç o e outra mesinha com uma má quina de escrever em cima.

— Sente-se — disse Ric, apontando para uma cadeira que ficava de frente para a escrivaninha. — Minha mã e e eu estamos plenamente satisfeitos com seu trabalho neste ú ltimo mê s — explicou, com voz fria. — Gostarí amos que aceitasse trabalhar em bases mais permanentes, Você poderia ficar mais um ano. Depois reestudarí amos a situaç ã o. Gostaria?

Sentado atrá s da escrivaninha, colocando um objeto entre eles, Ricardo parecia querer deixar claro que estava tratando de negó cios. O abraç o no jardim devia ser esquecido; os momentos passados na fiestanã o tinham significado nada para ele.

Ela hesitava entre a vontade de ficar e o impulso de fugir daquele homem antes que ele rompesse a armadura que ela havia construí do para se proteger.

— Espero que o que aconteceu na casa dos Del Monte nã o influencie a sua decisã o — continuou, no mesmo tom frio de negó cios.

Pensando que ele se referia nã o ao pró prio comportamento, mas ao de Francisca, Cherry concluiu que ele queria dar a entender que ela nã o tinha condiç õ es de continuar numa casa onde nã o era querida por uma das mulheres.

— Ê difí cil nã o me deixar influenciar — começ ou. — Como sabe, nã o estou acostumada a ser insultada.

Com a resposta de Cherry, ele contraiu o rosto e ficou rí gido: era uma reaç ã o totalmente diferente da que ela esperava. Tinha suspeitado de que ele ia rir, como no dia em que a insultou em La Paz.

— Eu nã o... — começ ou, mas calou-se; em seguida, prosseguiu, á spero — nã o foi um insulto.

Surpresa com a tentativa de defender Francisca, Cherry se mostrou incré dula.

— É mesmo? — perguntou, com uma risada irô nica. — Pois eu acho que foi. E pensando na possí vel repetiç ã o de tal episó dio, nã o posso ficar em Vallera, nem mesmo por Felipe.

Por algum tempo ele ficou calado e tenso. Quando falou foi num tom muito diferente do anterior.

— E se eu lhe garantir que o episó dio nã o se repetirá, concorda em ficar?

Talvez Francisca, advertida pelo homem que adorava, nã o a ofendesse mais com palavras. Mas ainda podia fazer coisas que criassem uma atmosfera desagradá vel para Cherry.

— Está em dú vida. — Irritado, levantou-se e veio se sentar mais perto dela. — Por que nã o esquece aquele insulto, como você diz, e finge que nã o aconteceu nada? Por que nã o apaga tudo e começ a outra vez?

Sentiu um impulso incontrolá vel de aceitar o desafio, de lutar para nã o se deixar vencer, mas lembrou do que sentira ao beijá -lo no abrigo da casa dos dei Monte e teve medo.

— Nã o sei se serei capaz — murmurou, desprezando-se por demonstrar tanta inseguranç a.

Nã o ficou surpresa ao ouvi-lo soltar uma imprecaç ã o e criticar com rispidez o comportamento do sexo feminino. Ricardo se levantou, caminhou até o fundo da sala e se virou para olhar para ela. Por um momento ficou ali, alto e desdenhoso, muito parecido com o pai.

— Acha que nã o vai se arrepender amanhã? — perguntou, tentando conter a ironia da pró pria voz.

— Acho que nã o. — Cherry se levantou, pronta para sair, aliviada por ele nã o levar a conversa adiante.

— Entã o vá dormir. Buenasnoches, senorita.

Ela saiu para o pá tio enluarado, oprimida pela beleza da noite, e entrou silenciosamente na casa.

Dormiu mal, pois nunca se sentira tã o indecisa antes. Uma luta interior entre o instinto e a razã o a dilacerava. O instinto dizia: " fique"; a razã o aconselhava: " vá embora".

Finalmente o dia amanheceu, livrando-a das torturas da noite. Felipe acordou e a rotina recomeç ou; uma rotina que a liberava de pensar no problema.

Embora o dia em Vallera continuasse no ritmo normal, aparentemente nã o afetado pelo incidente em Sucre, Cherry avaliou que as emoç õ es de Francisca, bem como as suas pró prias, se agitavam sob a aparê ncia de tranqü ilidade. Nã o havia como apagar os erros do passado e recomeç ar novamente. O rosto pá lido de Francisca e seus olhos vermelhos de chorar falavam com eloqü ê ncia. Quando Cherry tentava conversar com ela, a moç a se afastava sem uma palavra.

À tardinha, Cherry continuava tã o indecisa quanto antes, desejando que um acontecimento qualquer a fizesse decidir num sentido ou noutro. Como em resposta à s suas preces, o carro de Rafael surgiu numa curva e parou perto dela. Ele desceu, acenou para Cherry e ajudou o pai a descer.

— Meu pai achou que devia vir e descrever com detalhes os acontecimentos de ontem na fiesta— explicou, enquanto caminhavam na direç ã o da casa. — Vim també m para me certificar de que você e Francisca tinham chegado bem. Imagino que a viagem tenha sido um tanto desagradá vel...

— Um pouco — respondeu Cherry rindo, feliz por vê -lo. Deixando que o pai fosse sozinho encontrar dona Bianca, Rafael

acompanhou Cherry até o quarto de Felipe.

— Já perdi as esperanç as — disse Rafael. — Decidi me afastar e esquecer. Mas nã o é fá cil. Gosto de Sucre e meu pai depende de mim. Qual é seu problema, Cherry?

— Preciso decidir ainda hoje se continuo trabalhando aqui ou nã o. E nã o consigo chegar a uma conclusã o.

— Pensei que você gostasse daqui.

—E gosto, mas... e Francisca?

— Que pena! — murmurou, compreensivo.

—Depois dos incidentes de ontem, acho que o melhor é eu ir embora o quanto antes.

— Entendo. — Pararam na porta do quarto, mas ele nã o entrou. — Gostaria de partir amanhã? — perguntou Rafael, os olhos brilhantes.

— Seria possí vel?

— Claro. Posso levar você até Cochabamba, e de lá tomamos um aviã o até o altiplano.

—Nó s?

Si. Vou a La Paz ver se consigo um cargo de professor. Talvez seja minha chance de esquecer Francisca. Podemos viajar juntos.

— É muita gentileza sua, mas nã o quero lhe dar trabalho.

— Trabalho nenhum. Ajudei você a decidir?

—Ajudou muito. Vou para La Paz com você. Mas preciso comunicar minha decisã o a dona Bianca e ao sr. Somervell. Vai ficar pá ra o jantar?

— Nã o. Temos outro compromisso.

— Entã o como posso comunicar a você minha decisã o?

— Vou viajar amanhã à tarde. Se decidir ir comigo, peç a a Ric que a leve até minha casa. Adios, por enquanto, Cherry... Agora vou dizer a Francisca que vou embora.

Depois que Rafael e donDiego foram embora, Cherry levou Felipe para a visita diá ria à avó. Entrou nos aposentos da velha senhora com uma profunda sensaç ã o de tristeza. Provavelmente aquela seria a ú ltima vez que conversava com a gentil patroa, que havia sido tã o bondosa com ela.

Esperava encontrar Ric lá, mas dona Bianca estava sozinha, sentada a uma belí ssima escrivaninha antiga, importada da í ndia há muitos anos.

Depois que Felipe foi devidamente inspecionado e admirado, Cherry o colocou sobre um lenç ol estendido no chã o, num lugar onde pudesse receber um pouco de sol.

— Ric foi a Potosi e só vai voltar amanhã. — Dona Bianca fez uma pausa, e Cherry adivinhou que ela queria lhe dizer mais alguma coisa.

— Acho que ele falou com você ontem à noite sobre sua permanê ncia em Vallera — disse, olhando com firmeza para Cherry.

— Sim, ele tentou apressar um pouco as coisas — respondeu Cherry, calma.

— Ele queria saber sua resposta antes de viajar. Nã o sei por quê Você. faz bem em nã o se apressar, mas eu gostaria de saber sua resposta agora.

Era difí cil discutir com a bondosa e frá gil senhora, e Cherry pro curou as melhores palavras para nã o magoá -la.

— Preciso voltar à Inglaterra. Nã o posso ficar, embora me sinto muito honrada com sua confianç a.

— Lamento muito, senorita— disse dona Bianca, um pouco surpresa. — Quando conversamos outro dia, tive a impressã o de que ficaria. Nã o vou pedir que me explique o porquê da sua decisã o, mas gostaria que soubesse que estou a par do incidente ocorrido ontem com Francisca, e no qual você esteve envolvida. Conhecendo-a tã o bem, posso imaginar o que aconteceu. Ela geralmente me conta tudo, mas hoje fechou-se num silê ncio teimoso.

— O sr. Somervell nã o lhe contou o que aconteceu? — perguntou Cherry.

— Perguntei, mas ele nã o quis dizer nada. — Deu de ombros, murmurou " mulheres! " com certo desprezo, e saiu..

Cherry pensou muito no que devia dizer. Pela primeira vez na vida parecia que ela tinha cometido um deslize e estava prestes a cometer outro, como se, abandonando Vallera, estivesse sendo egoí sta em relaç ã o a todos, até mesmo com Francisca. Mas nã o podia dizer a dona Bianca o que havia acontecido no dia anterior. Se Francisca podia calar, ela també m podia.

— É uma pena, mas a srta. Sorata e eu nã o nos damos muito bem Como esta é a casa dela, e eu sou apenas uma empregada temporá ria acho melhor ir embora. Nã o gostaria de causar maiores aborrecimentos.

Dona Bianca olhou-a em silê ncio, com uma expressã o de extrema tristeza.

— Nã o acredito que suas palavras venham do coraç ã o, Cherry. Nem acredito que esteja sendo sensata. Na verdade, está fugindo, e isso me surpreende. Nã o pensei que fosse pessoa de se deixar vencer com facilidade. Mas a decisã o é sua. Quando pretende partir?

— O sr. Mendoza vai para La Paz amanhã e se ofereceu para me Sevar até Cochabamba, se eu puder ir encontrá -lo em Sucre.

— Parece que já está tudo planejado — disse dona Bianca, surpresa. — Vai ser difí cil ir a Sucre amanhã, já que Ricardo nã o está aqui. Mas talvez possamos encontrar algué m que a leve.

— Obrigada. Espero que minha partida nã o cause inconvenientes à senhora. Tem algué m para cuidar de Felipe?

— Tenho uma pessoa em. mente. Nã o tã o competente quanto você, mas capaz de cuidar bem dele. — Cherry já se sentia desligada de Vallera, desligada da famí lia, e isso provocou uma estranha reaç ã o nela. Queria ser parte de Vallera, queria pertencer à famí lia. Queria ficar.

— Está bem, entã o vá com Rafael amanhã — disse dona Bianca. — Quando chegar à Inglaterra, nã o deixe de escrever contando como foi a viagem. Fico preocupada com pessoas que viajam para longe, e gosto de saber que chegaram bem ao seu destino.

— Vou escrever — respondeu Cherry, emocionada.

Naquele instante, Felipe começ ou a chorar e Cherry pediu permissã o a dona Bianca para levá -lo para o quarto. A permissã o foi concedida e a entrevista terminou.

Deu banho em Felipe e colocou-o na cama, ajudada por Marita, que explodiu em lá grimas ao saber da partida de Cherry. Quando a menina estava mais calma, ambas desceram para a cozinha, onde encontraram Francisca, que parecia mais bem-humorada.

— Ouvi dizer que vai nos deixar amanhã — falou gentilmente, mas sem olhar para Cherry.

— Sim, se eu conseguir chegar até Sucre amanhã à tarde. Francisca concordou com a cabeç a, como se já soubesse dos planos da outra.

— Eu levo você — disse Francisca, em tom confidencial. — Tia Bianca nã o vai se importar que eu use o carro.

Muchas gradas, senorita— agradeceu Cherry. — É muito gentil.

— De nada — respondeu Francisca, maliciosa.

Sua partida tinha sido arranjada tã o fria e facilmente, que ela ficou imaginando como algum dia pô de pensar que teria dificuldade em ir embora de Vallera. Seria assim tã o fá cil se Ricardo estivesse lá e usasse seu incrí vel poder de persuasã o para convencê -la a ficar? Jamais saberia, e jamais tornaria a vê -lo, pois quando ele voltasse de Potosi ela estaria voando para La Paz.

Relembrando momentos da viagem de La Paz a Potosi, em companhia de Ricardo, Cherry arrumou as malas com a habitual eficiê ncia, mas profundamente triste. Recordou a promessa feita a si mesma de que aproveitaria ao má ximo aquela oportunidade. Estavam lhe oferecendo uma boa posiç ã o num lugar maravilhoso. Entã o por que estava indo embora? Ela sabia muito bem a resposta. Ia embora por medo... medo de ser ferida outra vez por aquele homem dominador, que encarava o casamento como a forma mais fá cil de dar uma mã e a dois ó rfã os.

A noite foi outro tormento, e a manhã trouxe outra vez o sol esplendoroso e o cé u azul que jamais tinham abandonado Vallera desde a chegada dela. Quando tudo estava pronto, deixou Felipe em companhia da chorosa Marita e desceu para se despedir de dona Bianca, cuja resignaç ã o provocou lá grimas em Cherry.

Adios, senorita— murmurou delicada, apertando com forç a a mã o de Cherry. — Foi um prazer imenso conhecê -la. Vou pensar em você muitas vezes.

Cherry saiu depressa da sala, temendo nã o resistir à emoç ã o, e foi se encontrar com Francisca. Como nã o havia sinal da moç a no pá tio, onde estava estacionado o carro negro de dona Bianca, foi até a cozinha. A cozinheira informou-a de que a patroa havia descido até a despensa para pegar alguns ingredientes para o almoç o.

Com medo de nã o conseguir chegar a Sucre a tempo, Cherry desceu para chamar Francisca. A moç a nã o respondeu ao chamado nem apareceu. De repente, um ruí do suave chamou a atenç ã o de Cherry, seguido do som de uma porta que batia. Tornou a subir as escadas da despensa e tentou abrir a porta, mas o trinco estava fechado à chave. Bateu com forç a na madeira maciç a, esperando ser ouvida pela cozinheira, mas ningué m respondeu. Tornou a chamar Francisca e nã o obteve resposta. Num lampejo, percebeu o que estava acontecendo: Francisca nã o estava na despensa, nem esteve.

Cherry se sentou em um dos degraus e esperou que a cozinheira desse pela sua ausê ncia. O importante era nã o entrar em pâ nico Afinal, nã o sofria de claustrofobia, como Elizabeth. Olhou para o reló gio. Dez e meia; só por um milagre conseguiria chegar a Sucre. Teria que esperar até o dia seguinte para ir embora.

De cinco em cinco minutos, tornava a bater na porta, mas, depois de uma hora ali dentro, desistiu. Com fome, abriu um frasco de compota de pê ssegos, comeu-os e bebeu a calda. Por falta de bebida nã o morreria de sede, pensou Cherry, olhando para as garrafas de vinho e pisco. O tempo foi passando e Cherry, para se distrair e nã o entrar em pâ nico, começ ou a examinar o conteú do das arcas que uma vez Francisca havia lhe mostrado. Estava tã o distraí da com os ricos vestidos de brocado, as mantilhas e os leques antigos, que nã o ouviu o som dos passos que se aproximavam.

Buenas tardes, senorita— disse uma profunda voz masculina. Cherry, surpresa, deixou cair o leque que segurava. Levantando a

cabeç a, encontrou os olhos azuis de Ric, que a observavam com a costumeira ironia.

— Que surpresa, senorita— disse ele. — Costuma vir sempre aqui?

— Nã o, é a primeira vez que venho... sozinha — respondeu Cherry, o coraç ã o batendo loucamente. — Como entrou aqui?

— Pela porta da cozinha. De que outra maneira poderia entrar?

— Nã o o ouvi chegar.

— Você estava embevecida demais com as roupas — respondeu Ric, zombeteiro. Aproximou-se e estendeu as mã os pá ra ajeitar o xale que Cherry tinha vestido num impulso de fantasia.

Ela prendeu a respiraç ã o, dominada pela forç a vibrante de Ricardo. De repente, um objeto brilhante, pendente do peito dele, chamou sua atenç ã o: era o medalhã o. Sem perceber o que fazia, ela estendeu a mã o e segurou o disco de prata maciç a.

— Por que nã o me disse que o medalhã o era seu? — perguntou Cherry.

Ricardo retirou o medalhã o das mã os dela e colocou-o dentro da camisa.

— As coisas já estavam bastante confusas.

— Mas como é que ele foi parar no cestinho de Felipe?

— Estava com Elizabeth. Eu o dei a ela — respondeu, frio. Percebendo que ele nã o diria mais nada, a menos que ela insistisse,

Cherry aproveitou a intimidade que o ambiente proporcionava e arriscou uma pergunta:

— Por que deu o medalhã o a ela?

A expressã o de Ric se contraiu, e por um momento ela pensou que ele nã o fosse responder.

— Por que será que as. mulheres sã o sempre tã o curiosas a respeito dos atos mais irracionais dos homens? Por que o irracional as fascina? Eu preferia esquecer aquele episó dio.

— Entendo. Foi um erro que você apagou para poder recomeç ar outra vez.

Ele sorriu com ironia.

— Exatamente. Apaguei Elizabeth da minha mente e comecei outra vez. Enquanto ela esteve aqui, me deixei levar pelo romantismo e imaginei que estava apaixonado por ela. Era bonita e divertida, mas o que pretendia era conseguir um marido. Para testá -la, trouxe-a até Vallera. A mulher que quisesse se casar comigo teria que gostar de Vallera e sentir-se bem aqui.

— O famoso teste — ironizou Cherry.

— Talvez — admitiu Ric. — No começ o ela pareceu gostar da fazenda, mas aos poucos foi ficando inquieta. Disse que precisava voltar à Inglaterra para ver a famí lia antes de se comprometer. O pedido parecia razoá vel, por isso acompanhei-a até Lima, onde ela passou alguns dias com lsabella. Dias que vivemos em româ ntico enlevo — acrescentou.

A confissã o provocou no coraç ã o de Cherry uma dolorosa pontada de ciú me.

— Antes de ir embora — continuou Ricardo, amargo —, ela me pediu que lhe desse o medalhã o como prova de amor, em troca de um pingente com o retrato dela. Fui tã o tolo que concordei, e prometemos devolver os presentes se mudá ssemos de idé ia em relaç ã o um ao outro. — Fez uma pausa, depois acrescentou, em voz baixa: — Como você sabe, o medalhã o me foi devolvido de forma um tanto inesperada, dois anos depois da nossa separaç ã o.

Deu as costas a Cherry e foi até as prateleiras de vinho, retirando uma garrafa. Ela percebeu que a angú stia que Ric havia sentido ao rever o medalhã o e saber que Elizabeth havia casado com o irmã o ainda o atormentava.

— Ela nunca se comunicou com você, para dizer que havia mudado de idé ia?

— Acho que ela se decidiu por meu irmã o ainda em Vallera, porque foi lá que ficou conhecendo Juan e soube que ele tinha sido nomeado para a embaixada de Londres. Ou ela teve medo de me dizer, ou entã o queria ter os dois, para garantia. Só depois que voltei a Vallera é que comecei a perceber que ela nã o seria a esposa ideal para mim. Mandei de volta o pingente que ela havia me dado e fiquei esperando a devoluç ã o do medalhã o. Ele nã o chegou nunca e minha mente sofreu uma espé cie de choque, de desequilí brio, e me deixei dominar por minhas emoç õ es. — Deu de ombros, fatalista. — Coisas que acontecem.

— Sim, coisas que acontecem com freqü ê ncia. — Cherry suspirou, e Ricardo olhou para ela, compreensivo.

— Com você també m — observou ele. — Eu imaginei que havia acontecido alguma coisa semelhante a você. Reconheci aquela tristeza tã o familiar.

— Nã o contei a você antes porque pensei que fosse rir de mim. Tinha esperanç as de que Edwin me amasse como eu o amava, mas ele se casou com minha irmã.

— A irmã o bonita e inteligente? Entã o sua experiê ncia é mais parecida com a minha do que eu supunha. Imagino que Elizabeth procurou Juan em Londres e transferiu sua afeiç ã o para ele, o que era muito conveniente, pois sabia que ele poderia dar á ela mais do que eu era capaz.

— Mais do que ela desejava?

Si. — Sorriu com ironia triste. — Metade da fortuna dos Matino e uma vida que eu nã o invejava. Eu só poderia lhe oferecer Vallera. Mas e você? Conseguiu, aqui, apagar o engano que cometeu?

— Sim, acho que consegui.

— E há alguma coisa escrita na nova pá gina? Um outro engano, talvez, do qual teria fugido se Francisca nã o a tivesse trancado aqui?

— Nã o entendo por que Francisca me trancou aqui. Ela nã o precisava me assustar a fim de que eu fosse embora. Já estava acertado que eu iria.

— O gesto de minha prima nã o tem nada a ver com a desilusã o que ela sofreu por minha causa. Foi um gesto frio e calculista, pois ela nã o suportava a idé ia de você viajar para La Paz com Rafael.

— Meu Deus! — O espanto roubou as palavras de Cherry. — E onde é que ela está agora?

— Em Sucre. Ou talvez em La Paz, no seu lugar. Pelo menos nã o está aqui, nem o carro de mamã e. Minha mã e me contou tudo, por isso fiquei surpreso ao encontrá -la aqui. Vim buscar vinho, pois temos convidados para jantar.

— Acho que nã o estou entendendo. Por que Francisca nã o queria que^eu viajasse com Rafael?

— Admita que você s dois eram insepará veis e viviam se abraç ando quando ele nos visitava. Alé m disso, passaram todo o dia juntos, na fiesta— argumentou Ric, sé rio.

— Tí nhamos planejado tudo, para chamar a atenç ã o de Francisca — suspirou Cherry. — Ele achava que ela sentiria ciú mes- se demonstrasse interesse por mim.

— Ah, entã o é isso? — exclamou Ric, recolocando na prateleira a garrafa que segurava. — Quando as atenç õ es do cavaleiro fiel começ aram a diminuir, Francisca ficou confusa. Sem querer renunciar aos sentimentos que tinha por mim, começ ou a sentir medo de perdê -lo també m. Nã o admira que tenha se comportado daquela maneira ontem! Nã o admira que a tenha trancado aqui!

Rindo muito, com os olhos brilhantes, ele se aproximou dela.

— Eu nã o ia fugir com ele, como você sugeriu — objetou Cherry, zangada.

— Mas ia fugir — brincou Ric.

— É mesmo? — Cherry se revoltou. — Entã o, me diga: por que é que eu estava fugindo?

— Acho que sei por que — murmurou Ric enigmá tico, provocando a curiosidade dela.

— Por quê? — desafiou Cherry, mal podendo conter a emoç ã o.

As mã os na cintura, o olhar em chamas, Ric se aproximou dela, ameaç ador.

— Pare de agir como se nã o soubesse do que estou falando -ordenou. — Nã o gosto de mentiras.

Indignada, Cherry o encarou com firmeza e replicou:

— E eu nã o gosto das suas evasivas. Por que acha que eu estava fugindo? Só porque vou embora de Vallera?

— Acho que ia fugir porque tem medo de se apaixonar outra vez, se ficar.

Ele acertou no alvo e Cherry, para esconder seu embaraç o, buscou refú gio no sarcasmo.

— Como você é perspicaz! Com certeza també m sabe quem é pessoa por quem posso me apaixonar?

— Com certeza, sei — respondeu, desafiador. Ela tentou nã o se deixar prender na armadilha preparada por ele, mas a curiosidade foi mais forte.

— Quem?

— Eu, é claro.

— Claro! Por que nã o pensei nisso? — Apesar da ironia, mal conseguia se sustentar sobre as pernas trê mulas. — RicSomervell, você é o homem mais pretensioso que já conheci!

— Se nã o gosta de evasivas, por que protesta ao ouvir a verdade? Nã o acho que eu seja pretensioso; conheç o as mulheres, só isso. O há bito de flertar é muito ú til. Ensina muita coisa, a homens e mulheres, sobre o sexo oposto. Durante o tempo em que viajamos juntos, Cherry, aprendi muita coisa sobre você. Na noite da fiestafiquei conhecendo ainda mais.

A lembranç a dos beijos trocados no pequeno refú gio do jardim fez

Cherry corar. Por um instante, ela o odiou com todas as forç as do seu ser.

— Você nã o é só pretensioso. É inescrupuloso, també m — explodiu.

— À s vezes — concordou Ric, indiferente. — Quando desejo alguma coisa. E acontece que desejei você desde que danç amos a cueca juntos, em La Paz.

Tudo começ ou a girar ao redor de Cherry, que perdeu o equilí brio e caiu sobre o armá rio que havia atrá s dela. Rá pido, Ric segurou-a pelos ombros e, sendo um oportunista sem igual, aproveitou ao má ximo a oportunidade, envolvendo-a nos braç os. Por um momento, encararam-se sem dizer nada. Ambos sabiam que a entrega podia resultar em amargura e dor, mas sabiam també m que podia resultar em felicidade.

De repente, como se tivesse decidido mandar a cautela à s favas, Ric se inclinou e beijou-a; um beijo cheio de fogo, que a deixou ansiosa por mais.

— Sente-se insultada?.

Surpresa, Cherry afastou-se um pouco.

— Nunca me senti insultada com seus beijos!

— Mas ontem, quando pedi a você que nã o deixasse o episó dio na casa dos dei Monte influenciar sua decisã o, disse que se sentia insultada.

— Pensei que estivesse se referindo à atitude de Francisca — exclamou Cherry, para quem o comportamento distante de Ric, no dia anterior, agora se tornava claro. — Entã o foi por isso que se comportou daquela maneira orgulhosa e distante!.

— Fui orgulhoso e distante?

— Muitas vezes. Você se fecha em si mesmo e fica mais distante que os Andes.

— Parece que o poeta Rafael deixou suas marcas em você — brincou. — Se fui um pouco distante, é porque Francisca me disse que você me via apenas como um patrã o e nã o tinha intenç ã o de modificar esse relacionamento. Mal pude acreditar, depois da maneira como você...

— Psiu! — murmurou, colocando os dedos sobre os lá bios dele.

— Nã o fique me lembrando das minhas fraquezas.

— Considera mesmo uma fraqueza? — perguntou, com suavidade.

— Ainda pretende fugir, se essa espé cie de coisa continuar a acontecer?

Sem perda de tempo, ele segurou seu queixo e tornou a beijá -la com paixã o, obrigando-a a ceder e a se entregar, até que ambos se viram quase sem fô lego.

— Vai continuar? — perguntou Cherry, trê mula, se apoiando nele.

— Se ficar aqui, a danç a da conquista vai continuar até que você se renda — murmurou, suave.

— E se eu for embora? — perguntou temerosa, pensando em Elizabeth, que o havia deixado e o havia perdido.

Ric nã o respondeu imediatamente, como se estivesse enfrentando uma luta interior entre a emoç ã o e o orgulho.

— Se for embora — disse por fim —, acho que irei atrá s de você e a obrigarei a voltar.

— Obrigará? — perguntou, indignada com a idé ia de que ele poderia usar a forç a para conseguir o que queria.

— Sim, obrigarei. Tenho mé todos de persuasã o que você ainda nã o conhece — ameaç ou com suavidade. Segurou o rosto dela com ambas as mã os e beijou-a sem piedade.

—Vai ficar, Cherry? — perguntou minutos mais tarde.

Quase sem fô lego, a blusa meio aberta, o rosto em chamas, Cherry se rendeu completamente, mas ainda tentou fingir indiferenç a.

— De que me adianta ir embora, se você vai me obrigar a voltar? Acho que vou arriscar. Afinal, gosto de danç ar a cueca com você.

Com uma risada sonora, apertou-a contra o peito com mais forç a.

—Nã o se dá por vencida, nã o é? Ê isso o que mais amo em você: sua recusa em se deixar derrubar.

— Ama? — perguntou confusa, embora a felicidade ameaç asse explodir dentro dela.

Si, amor. Te quieromucho, querida. — A suavidade da lí ngua castelhana deu à confissã o uma beleza tã o convincente que Cherry acreditou na sinceridade dele.

— Mas você uma vez me disse que amor era uma bobagem das mulheres.

— Naquela ocasiã o, eu acreditava nisso. E sua resposta me disse muito sobre você, que você se casaria somente por amor, e por mais nenhum motivo. Por isso quis que ficasse aqui algum tempo. Tinha esperanç as de que um dia, quando perdesse o medo de ser ferida, aprendesse a me amar e aceitasse ser minha esposa. — Fez uma pausa e continuou: — Hoje, quando voltei e descobri que você tinha ido embora, fiquei desesperado. Meu primeiro impulso foi correr atrá s de você. Mas aí me lembrei do que você tinha dito sobre ser insultada e hesitei. Pensei que você havia preferido Rafael e, pela primeira vez, compreendi que a amava, que a queria nã o apenas como mã e das minhas crianç as ou como governanta da casa. mas por mim mesmo. Compreendi també m que nã o conseguiria viver sem você.

Outra vez Cherry o impediu de continuar.

—Psiu! — murmurou, com suavidade. — Agora é minha vez. Tequieromuchissimo. Amo-o com loucura; você estava certo a respeito da fuga. Tinha medo de ser ferida outra vez.

A paixã o brilhou novamente nos olhos dele. Mas, antes que pudesse abraç á -la, um ruí do de passos o interrompeu.

— Cherry, Cherry! Você está aí? Você está bem?

Rafael parecia abalado, e trazia Francisca pela mã o. Com os longos cabelos libertos do coque que normalmente usava, e soltos sobre os ombros numa massa brilhante, a moç a parecia incomparavelmente mais jovem e indefesa. Tentava em vã o se livrar das mã os de Rafael.

— Sim, estou bem —garantiu Cherry. — Mas o que está fazendo aqui?

— Esperei você até muito depois da hora combinada, e já estava a ponto de partir sozinho quando essa menina tola chegou... a pé.

— A pé? — exclamou Ric. — Por quê?

— Houve um acidente — explicou Rafael. — Mas felizmente ela nã o se machucou e o carro nã o ficou muito danificado. Depois de severo interrogató rio, ela acabou confessando que tinha trancado você aqui. Tive medo de que ningué m a descobrisse, por isso vim o mais depressa que pude.

— Ai, ai, ai! — gemeu Francisca. — Sou tã o infeliz! Ric olhou com impaciê ncia para Rafael.

Por Dios, nã o pode dar um jeito nela? Por que nã o a leva para um lugar discreto e nã o a trata como tratou Cherry tantas vezes?

Si, si, senor. Pretendia fazer isso. Venha, chiquita, vou lhe ensinar quem é o seu senhor. — exclamou Rafael.

Sem dizer mais nada, puxou a panterinha pela mã o, escada acima. Depois de alguma resistê ncia, ela se rendeu e o seguiu humildemente.

— Boa sorte! — gritou Ric, rindo como nos velhos tempos, quando a amargura ainda nã o o havia tornado irô nico. — E agora vamos continuar — acrescentou, virando-se para Cherry.

No alto da escada, a enorme porta se fechou com estrondo. Olharam um para o outro, primeiro assustados, depois com malí cia.

— Quando será que vã o perceber que nos trancaram aqui? — perguntou Cherry, rindo.

— Daqui a muito tempo... espero — respondeu Ric, abraç ando-a. — Precisamos recuperar o tempo perdido.

 

FIM


 

 



  

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