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CAPÍTULO VIII



 

 

Na grande tenda, depois do jantar, Lorna parecia fascinada pela bela figura do sheik. O prazer de ter sido presenteado com o potro alazã o brilhava nos olhos castanhos, e havia um sorriso de indulgê ncia em sua fisionomia quando ele se dirigiu a ela.

— Eu també m tenho um presente para você — disse Kasim, aproximando-se.

Lorna desviou os olhos da revista francesa que estava lendo e viu na mã o dele um colar comprido de pé rolas.

— Venha cá. Deixe a revista de lado e ponha este colar. Aquela era a primeira vez que Kasim a presenteava com uma jó ia, embora houvesse ocasiõ es em que ele acariciava o ló bulo de suas orelhas e o pescoç o delicado como se desejasse vê -los cobertos de pedras preciosas.

— Nã o uso colares — Lorna falou, com nervosismo. — Sinto-me esquisita com jó ias no pescoç o.

Os olhos dele a examinavam. A tú nica de veludo e a calç a de seda tornavam-na ainda mais atraente. Como nã o se acostumara a andar com chinelos de bico levantado, os pé s estavam descalç os sobre o tapete macio, onde ela estava reclinada lendo a revista.

— Quero vê -la com este colar! — repetiu Kasim, em voz alta, e o cachorro que estava deitado a seus pé s levantou a cabeç a, assustado.

— E o que pretende fazer? Vai passar uma corda em volta de meu pescoç o para me puxar como se eu fosse um cavalo? — Lorna indagou.

— Uma corda de pé rolas, querida. Você prefere que Fedjr vá apanhá -la? Ele pode confundi-la com uma gazela...

— Antipá tico! — exclamou Lorna, jogando a revista no chã o e caminhando na direç ã o de Kasim.

Ela parou como uma está tua diante do sofá, mas foi puxada para baixo e forç ada a suportar o contato das mã os dele, enquanto Kasim colocava o colar de pé rolas em seu pescoç o. As pé rolas tinham o lustro de cetim.

— Pedras cultivadas? — murmurou Lorna, com insolê ncia.

— Um dia irá se arrepender de seu pouco caso, minha cara. Cada uma destas pé rolas daria para alimentar uma famí lia á rabe durante meses.

— Entã o por que nã o dá o colar para essas famí lias pobres? — replicou Lorna, fazendo menç ã o de retirar o colar as mã os dele, poré m, seguraram imediatamente seu braç o no ar. O olhar divertido desapareceu dos olhos castanhos, que brilhavam com a ferocidade de um leopardo.

— Se você tirar o colar, vai se arrepender — sussurrou entre os dentes. — É um presente meu para você, e irá me insultar recusando-se a usá -lo.

Ela també m estava tensa de raiva, enquanto os dedos dele apertavam cruelmente seu braç o.

— Você é realmente insuportá vel! Todos tê m de fazer sua vontade!

— Exatamente. Acha que daria a minha escrava um colar de contas?

— Nã o me chame assim! — Lorna gritou, fora de si, como se estivesse sufocada pelo colar em seu pescoç o.

— Por que nã o? Você nã o é minha escrava?

— Você me fez ser, e eu o odeio por isso!

— O mel atrai a abelha. A chama, a mariposa. A mulher bela, a cobiç a do homem. Conheç o muitas mulheres que ficariam encantadas em ser amarradas com colares de pé rolas.

— Nã o sou como as outras mulheres!

Os lá bios dela tremeram quando olhou para as pé rolas e perguntou a si mesma de que pescoç o aquele colar fora arrancado. O desenho era muito antigo. Era tã o comprido que poderia passá -lo em volta dos cabelos, do pescoç o, inclusive da cintura.

— Nã o, realmente você nã o é como as outras mulheres. Muitas exibem seus encantos à primeira vista. Mas estou descobrindo-a lentamente, arrancando uma a uma as pé rolas de seu coraç ã o secreto. — Tocou no peito dela e correu os dedos vibrantes pelo pescoç o.

Lorna levantou o braç o para defender-se de seu contato, e entã o Kasim enxergou a mancha azulada na pele clara.

— Fui eu que fiz isso?

— Quem mais poderia ser?

— Você se fere facilmente, como uma flor. — Ele deu um beijo na mancha azulada. — Vou apagá -la com uma pulseira.

Kasim levantou-se e apanhou uma caixinha de madeira, onde estava um bracelete largo de ouro, incrustado de pedras azuis.

— Sã o lá pis-lazú lis — ele murmurou, colocando o bracelete no braç o de Lorna.

Examinou-a com atenç ã o, vestida de seda e com as jó ias das mulheres orientais.

— Há um ditado que diz que a rosa se recorda da terra onde nasceu — murmurou Kasim no ouvido dela. — Nó s todos somos primitivos por natureza, inclusive você, com essa pele clara e esses olhos azuis...

Ela sentiu o contato leve da mã o dele sobre a seda que a cobria. Os olhos castanhos estavam mergulhados nos seus, ardentes como o fogo do deserto que sua frieza nã o podia apagar.

— E uma pena que seja uma mulher tã o fria, posso avivar sua chama, amiga?

Era a primeira vez que Kasim empregava essa palavra carinhosa, dita em espanhol. Com o rosto pró ximo ao dela, fitou-a com desejo, enquanto um sorriso brincava na boca, ao mesmo tempo, apaixonada e cruel. Lorna nunca tocara nele espontaneamente e foi assaltada pela vontade repentina de tocar no rosto moreno que parecia uma escultura de bronze. Fechou os olhos para nã o enxergar a cabeç a altiva que estava debruç ada sobre ela, sentindo-se traí da pelo desejo que a dominava també m. No instante seguinte, os lá bios dele pousaram sobre seus olhos. Ela o ouviu murmurar palavras de ternura em francê s e estremeceu sob o abraç o apertado.

— Vou verificar se guardaram meu potro para a noite — disse Kasim bruscamente, levantando-se do sofá. — Gostou do presente que ganhei? Poderá andar nele quando estiver mais manso. Você s. dois combinam muito bem... ambos sã o rebeldes e odeiam obedecer — acrescentou com um sorriso, afastando-se da tenda.

Algumas estrelas ainda brilhavam no cé u quando Kasim e sua comitiva se prepararam para partir em viagem, na manhã seguinte. As palmeiras do oá sis estavam escuras e imó veis sob o cé u da madrugada.

Lorna estava agasalhada com uma capa comprida de montaria e caminhava ao lado de Kasim, alguns passos na frente dos outros cavaleiros. Ao cavalgar pelo deserto sombrio, ela estremeceu com um arrepio de frio. Nã o era a primeira vez que passeava a cavalo de madrugada com Kasim, mas nesse dia daria adeus a ele... talvez para sempre.

Kasim estava muito absorto na contemplaç ã o do deserto que se estendia a sua frente para notar que, naquele momento, os olhos dela estavam cor de violeta por baixo do capuz. Ahmed cavalgava entre os cavaleiros embuç ados que iam atrá s. Ele fora encarregado de acompanhar Lorna de volta ao acampamento, e era de sua vigilâ ncia que ela pretendia fugir. Tinha um plano que poria em execuç ã o no momento oportuno. No dia seguinte, diria que estava com febre e que nã o tinha disposiç ã o para levantar-se da cama. À tarde, no momento em que todos se recolhiam para a sesta, abriria a parte detrá s de sua tenda com a tesoura que guardara consigo e fugiria no primeiro cavalo que encontrasse livre. Agora, estava acostumada aos cavalos á rabes, ariscos e velozes como o vento, e tinha a esperanç a de fugir para sempre do homem que a mantinha presa... que a tratava como uma escrava.

— Você está muito calada — Kasim disse, em dado momento. — O que está planejando?

O coraç ã o dela disparou dentro do peito. Ele tinha o dom de ler seu pensamento, de invadir a intimidade que ela tanto preservava.

— O nascer do dia no deserto sempre me deixa pensativa. É tã o misterioso... Talvez tenha sido assim que Adã o e Eva viram o mundo pela primeira vez.

— O deserto é eternamente o mesmo, mas nunca enjoa. Nisso ele se parece com algumas mulheres... Vai sentir falta de mim?

— Deseja ouvir uma resposta sincera?

— Nã o — respondeu, com um risinho. — Sei que nã o sofre por mim... E você, nã o tem curiosidade de saber se vou sentir sua falta?

— Seu amigo Kaid lhe oferecerá distraç õ es que sã o muito mais de seu agrado. Você nã o é um homem de emoç õ es, é um homem de aç ã o. Para você, sou uma criatura que deve ser domesticada. Depois de conseguir abaixar minha cabeç a...

— Sabe muito bem por que a guardo comigo — Kasim interrompeu-a. — Com esse manto branco, você se parece com o nascer do dia... Veja como ele surge lentamente, banhando a areia de um tom avermelhado...

A visã o era realmente sublime. O sol nascente parecia uma bola de fogo no horizonte, lanç ando um clarã o avermelhado que acentuava as ondulaç õ es do terreno e projetava sombras violá ceas sobre as partes mais escuras. As estrelas haviam desaparecido do cé u, com exceç ã o de uma.

Os olhos de Lorna brilharam. Lembrou-se de que seu pai costumava pintar aquela mesma paisagem durante os anos em que morara no deserto. A lembranç a foi tã o viva que ela deu, sem querer, um suspiro profundo.

— O que foi? — perguntou Kasim, voltando-se na sela.

— Estava pensando como seria bom tomar café em minha casa!

— Você é uma graç a! — disse ele, com uma risada alta. Kasim levantou a mã o, e todos os cavaleiros pararam. O sheik informou que iriam descansar durante uma hora e apontou para algumas rochas pró ximas dali, esculpidas pelo vento em formas curiosas.

— A lella deseja tomar café no deserto — ele explicou a sua comitiva.

Os outros olharam, surpresos, para o chefe. Normalmente, nã o costumavam descansar antes do meio-dia, e Lorna notou que estavam contentes e agradecidos com a sugestã o dela. Mais de uma vez, ela ouvira o comentá rio dos homens de que o sheik estava " enfeitiç ado" pela moç a de cabelos cor de ouro.

Ela acompanhou Kasim com o olhar enquanto galopavam em direç ã o à s rochas e lembrou-se confusamente de alguns episó dios ocorridos durante sua permanê ncia no deserto. Kasim, à s vezes, era um homem encantador, gostava de conversar, de jogar xadrez e de brincar com os cachorros na tenda, sem falar que adorava as crianç as e que aparecia muitas vezes com um garotinho sentado sobre seus ombros...

— També m estou com fome — disse ele de repente, interrompendo os pensamentos de Lorna. — É o ar do deserto...

Quando chegaram ao morro de pedras, todos desmontaram e juntaram galhos secos de tamarindo para fazer uma fogueira. Um dos homens retirou uma frigideira das bagagens e assou costeletas de cabrito na fogueira. Um outro, enquanto isso, esquentava á gua para fazer café.

Kasim reclinou-se numa pedra a uma pequena distâ ncia do acampamento improvisado. Com a tú nica branca, o turbante e a capa comprida jogada para trá s, sobre os ombros, representava uma figura tí pica do deserto.

Lorna sentiu o cheiro apetitoso da carne assada e o aroma penetrante que vinha do areal. As dunas que se estendiam a perder de vista, o ilimitado cé u azul e o homem alto apoiado contra a pedra fundiam-se na paisagem e criavam um quadro colorido, que ela lembraria sempre.

Atirou o chicote no chã o e olhou atentamente para a forma escura e contorcida que saí a lentamente de um buraco, na pedra onde Kasim estava reclinado, fumando distraidamente um cigarro. Ele nã o vira o animal que se arrastava a seu lado e que Lorna identificou corretamente como sendo um escorpiã o, cuja mordida poderia ser mortal.

O veneno do animal poderia libertá -la para sempre, pensou no primeiro instante. Toda a energia e a vitalidade seriam drenadas daquele corpo esplê ndido pela picada do animal.

— Kasim! — gritou, chamando-o pela primeira vez, desde que estava no acampamento, pelo nome. — Um escorpiã o está se arrastando a seu lado!

Ele viu o animal no mesmo instante e atirou o cigarro aceso em cima do escorpiã o. O bicho escuro caiu no chã o e foi pisado pelo sheik até ficar completamente esmigalhado. Mesmo em sua agonia mortal, a picada de escorpiã o poderia causar uma dor lancinante.

Kasim ergueu a cabeç a lentamente e encarou-a por um momento, em silê ncio.

— Por que me avisou? — perguntou por fim. — Esse bicho poderia me matar mais rapidamente que o punhal que você levantou contra mim.

— Nã o desejo essa morte a meu maior inimigo.

— Seu maior inimigo agradece, comovido. — Aproximou-se dela com dois passos largos e segurou-a pelos braç os.

O incidente do escorpiã o nã o fora notado pelos homens, que estavam entretidos em volta da fogueira, mas muitos pares de olhos se voltaram para Kasim e Lorna, surpresos, quando ouviram o grito dela.

— Solte-me!

O bule de café caiu das mã os do á rabe que o segurava em cima do fogo. Ningué m desobedecia a um desejo do prí ncipe, muito menos uma simples mulher! Naquele momento, poré m, o sheik aceitou a rejeiç ã o e deu um sorriso irô nico de resignaç ã o.

Depois de tomarem café e comerem as costeletas de cabrito, Kasim anunciou que iria continuar com sua comitiva. Ahmed levaria Lorna de volta para o acampamento.

— Você me prometeu que nã o tentará fugir — o prí ncipe lembrou-a, antes da despedida. — Nã o sabe andar sozinha nesses lugares perigosos, e tudo pode acontecer.

— Pois nã o, meu senhor — murmurou Lorna, com o rosto impassí vel.

— Nã o seja tola! — ele a repreendeu, com impaciê ncia. — Se você nã o reiterar sua promessa, vou ser obrigado a levá -la comigo, e nã o gostará de ser trancada com outras mulheres, enquanto eu estiver caç ando com meu amigo. Vamos, escolha!

— Está bem. Prometo que vou me comportar.

— Tenho minhas dú vidas — disse Kasim, erguendo o queixo dela e fitando-a demoradamente nos olhos. — Você é muito impulsiva...

— Aprendi que sua vontade é lei. Ou quer exibir sua escrava na casa de seu amigo?

— Nã o me faç a perder a paciê ncia! — exclamou, agora apertando com forç a o pulso de Lorna. — Há um momento, você salvou minha vida, e eu lhe sou grato por isso. Volte com Ahmed. Passeie com ele por onde desejar. O resto é com o destino.

Ele se afastou alguns passos e ajeitou as dobras da capa. Sua fisionomia estava tranqü ila, como se a raiva momentâ nea houvesse cedido lugar à resignaç ã o. Os homens do deserto acreditavam piamente no destino, e Kasim nã o era exceç ã o.

Deu o sinal de partida para os membros da comitiva e montou em seu cavalo. Percorreu com o olhar a vastidã o de areia, um oceano ondulante que se estendia a perder de vista.

— O deserto nã o é sempre calmo assim — ele falou para Lorna. — Muitas vezes este sossego é sinal de tempestade.

— Será? Ele me parece maravilhoso no momento...

— As coisas boas sempre tê m um elemento de perigo. — Os olhos castanhos a fitaram. — Adeus, nã o faç a nenhuma loucura!

Cavalgou para longe, sem olhar para trá s, deixando-a aos cuidados de Ahmed. As capas compridas esvoaç avam sobre o lombo dos animais, e uma nuvem amarelada acompanhou a

partida dos cavaleiros.

— Vamos! — disse Lorna para Ahmed, que a observava com o rosto sombrio, como se nã o estivesse satisfeito com a incumbê ncia de acompanhá -la de volta ao acampamento.




  

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