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CAPÍTULO III 5 страница



Fenny apertou o cá lice de vinho. Era verdade. Tudo que trouxera para Petaloudes fora seu amor por Lion, e ele nã o se importava nem um pouco com seus sentimentos, era apenas seu corpo que despertava nele o sentimento primitivo grego.

— Os casamentos arranjados me assustam. Tenho a impressã o de que sã o um negó cio, sem nem um pingo de amor. O que acontece, se uma garota nã o tem dote?

— Simplesmente é condenada a ser solteira o resto da vida. Ou contentar-se com as atenç õ es esporá dicas de homens casados. A Gré cia, de muitas maneiras, é um paí sduro. Sem dú vida alguma, uma estrangeira precisa ter muita coragem para se casar com um grego. Especialmente, uma garota como você.

— Como eu? Sim, eu mesma pedi uma vida complicada, nã o pedi?

— E como um drama grego. — Adelina riu. — É claro que é um segredo estritamente familiar, mas nã o levei muito tempo para arrancá -lo de Demetre. Lion ainda continua enamorado pela outra... por sua prima?

— Como você acabou de dizer há poucos instantes — Fenny engoliu em seco —, quando um grego se apaixona, é desesperadamente. Ou, entã o, nã o se apaixona. Ou é oito ou oitenta.

— E o que acontece com uma inglesa, quando se apaixona? — Adelina olhava curiosamente para Fenny. — Você está apaixonada por ele, nã o está? Você nã o podia fazer o que fez com ele. Se nã o fosse tã o atraente, acho que a teria esganado. Coitada! O ú nico dote que tem é seu belo corpo.

Fenny sentiu um calafrio percorrer-lhe a espinha. Foi uma verdade cruel, que penetrou nela como uma faca afiada.

— Ora, vamos! — Adelina disse. — Nã o é assim tã o mau. Você nã o precisa ficar envergonhada.

— Nã o estou — Fenny respondeu, quase sem forç as. — Nã o enganei Lion nem uma vez e de maneira alguma. Portanto, nunca vou sofrer por problema de consciê ncia. Já tenho muitos outros motivos para sofrer.

— Sabe? Você até parece uma grega, se oferecendo em sacrifí cio desse jeito. Graç as a Deus, eu nã o tenho esse desejo ardente de dar tudo pelo amor. Você é jovem e muito atraente, e o amor está lhe fazendo muito mal, anda muito triste. Seja como eu: dê menos e exija mais. Os homens gostam e esperam isso, nã o sabia? Os anjos fazem com que eles se sintam desconfortá veis.

Fenny foi forç ada a sorrir, ao imaginar Lion dominado por uma mulher.

— Lion já acha que sou uma atriz. Se tentasse agir como você age, Adelina, ele ia pensar que quero ganhar o Oscar.

— Um... Oscar? — Adelina olhava, confusa. — O que é isso?

— Um trofé u que é oferecido à melhor atriz de um filme.

— Ah, entendo. Entã o, o meu valente cunhado nã o percebe que tem uma esposa apaixonada? Por que ele acha que você casou com ele?

— Por dinheiro. Eu morava na casa de meu tio é era a parente pobre.

— Lion já se decidiu quanto a você, hein? Bem, se ele pensa que é uma mercená ria, entã o você deve se aproveitar disso. Diga-lhe que precisa de roupas novas e que vai voar comigo até o continente qualquer dia desses para uma visita ao meu costureiro e ao meu cabeleireiro Constantino, em Atenas. O que acha?

— Eu adoraria ir a Atenas. — Fenny estava aliviada por mudarem de assunto. — Nã o ligo muito para roupas, mas seria divertido visitar a cidade.

— Nã o há outra igual. Precisa conhecer a Acró pole e ver as ruí nas do Partenon. O templo foi dedicado à deusa-virgem Atena, e é melhor de se ver à luz da lua, quando as colunas e as está tuas parecem brancas. Durante o dia, parecem muito empoeiradas e cinzentas, com milhares de turistas correndo de um lado para o outro para tirar fotos.

— Você já foi a Londres? — Fenny perguntou, lembrando que Adelina nã o tinha ido com Demetre para o casamento,  

— Prefiro Paris. E tenho que confessar que minha maior paixã o sã o as casas de moda: adoro roupas. Felizmente, recebo uma mesada do meu pai, que é armador; caso contrá rio, acabaria levando Demetre à falê ncia. Você acha que formamos um casal estranho?

— Na verdade, nã o. — Fenny encostou a cabeç a na cadeira almofadada e tentou relaxar. — Ele adora você e a considera uma pessoa muito especial. Como você consegue resistir?

— Sim, é muito bom ser uma deusa aos olhos de um homem. — Seus lá bios escarlates se curvaram num sorriso. — Você sente inveja de mim?

Fenny considerou a questã o e se perguntou como seria, se conseguisse que Lion ficasse a seus pé s. Mas era algo impossí vel de imaginar. Ele era muito orgulhoso e tinha virilidade: nunca colocaria uma mulher num pedestal.

— Nã o. Você e eu somos dois tipos diferentes — Adelina disse, com esperteza. — Você precisa da expressã o fí sica da paixã o de um homem, mas eu me sinto mais feliz porser admirada. Eu nã o considero o má ximo da feminilidade ficar disforme, simplesmente para satisfazer o desejo de um homem ter um filho. Mas você gosta disso, nã o gosta? Nã o duvido que Lion exigirá um filho. — Adelina afastou-se do parapeito e olhou fixo para Fenny. — De uns tempos para cá, você anda um pouco pá lida. Por acaso está grá vida?

— Nã o! — Fenny negou com veemê ncia, porque nã o podia confiar na cunhada. Se dissesse a verdade, ela acabaria contando para Demetre e Lion també m saberia. Nã o queria que ele ficasse sabendo; nã o, por enquanto.

A crianç a nã o iria uni-los. A pequena vida que se alimentava de seu amor iria apenas separá -los definitivamente.

— Você parece ter muita certeza — disse Adelina. — Entã o as olheiras e o abatimento nã o querem dizer nada? Certamente, você nã o está fazendo regime: seu prato está vazio e nas travessas há muito pouco!

Fenny sobressaltou-se.

— Deve ser o calor. Nã o estou acostumada. Nã o temos esse tipo de tempo na Inglaterra, nem mesmo no verã o.

— Brrr... eu nã o conseguiria viver num paí s frio. Faç o questã o das minhas visitas à s casas de moda, mas adoro viver aqui nesta ilha, onde é tã o sossegado, o ar é tã o puro e há este mar maravilhoso.

— Uma das borboletas exó ticas do lugar. — Fenny sorriu.

— Gosto da comparaç ã o, querida. Bem, acho que já tomei muito de seu tempo. Agora, vou deixar que descanse. Estou feliz por Lion ter saí do do edifí cio quase que ileso. Kalenikta.

Adelina afastou-se, deixando no ar seu perfume francê s. Fenny sentou-se sozinha, até que começ ou a esfriar. Entã o, entrou e foi, nas pontas dos pé s, até o quarto de Lion para comprovar mais uma vez que ele estava bem. A luz de um abajur brilhava palidamente ao lado da cabeceira da cama, e foi um choque quando ela se inclinou e encontrou seu olhar.

— Lion...

— Olá! Estou me sentindo como se o tempo tivesse parado. Dormi muito?

— Algumas horas. Como está se sentindo?

— Um Lixo. Tudo o que consigo lembrar é de um clarã o e um estouro na cabeç a. O que aconteceu?

— Um terrorista colocou uma bomba no edifí cio em que você estava. Teve muita sorte...

— Quer dizer que os outros morreram... O que aconteceu com Zonar?

— Ele estava num restaurante, almoç ando, na hora da explosã o.

— Claro, agora me lembro. Ele disse que ia se encontrar com um velho amigo do colé gio, mas acho que era uma garota. — Lion sorriu, mas depois seus olhos se anuviaram. — É uma ironia os homens morrerem, quando estã o lutando para levar um pouco de paz para Chipre. Entã o, eu vim de helicó ptero, hein? E me colocaram na cama, como um bebê. Isso nunca me aconteceu antes.

— Você está com fome? Já passou bastante tempo e seria bom se comesse um pouco. Qualquer coisa que goste.

— Como está sendo atenciosa e educada. Aconteceu alguma coisa com os seus sentimentos, minha querida?

— Nã o seja desagradá vel!

— Ah, esses olhos azuis... quanta dor eles conseguem expressar. — Seus dedos escorregaram por baixo da manga do caftã de Fenny e apertaram a pele clara. — Suave e doce, sorrindo como um anjo falso, nã o é mesmo? Certamente, deve ter sido um grande desapontamento para você, quando Zonar lhe disse que ainda nã o era uma viú va. Que pena! Como você ficaria encantadora num vestido preto de seda. Que belo contraste faria com sua pele clara e seu cabelo dourado. Quando penso nisso, tenho até vontade de morrer para vê -Ia assim... mas, se eu morresse, nã o poderia vê -la. Que bobagem a minha!

— Lion, você é um bobo, mas eu me recuso a perder a calma hoje. Quer comer alguma coisa?

— Pã o preto, ostras e um potinho de manteiga quente, meu anjo de candura. E café.

— Logo estará tudo pronto. Oh, Lion, você é indestrutí vel, e todos estã o felizes com isso.

— Você també m?

— Fico encantada com seu apetite — brincou. — Manteiga, café e ostras a essa hora da noite!

— Você perguntou minha preferê ncia.

— Certo. Vou preparar as ostras eu mesma.

— Você?

— Claro. Nã o sou apenas pele branca e cabelo dourado, sabe? Uma vez, fiz um curso de culiná ria. Garotas sem graç a precisam aprender a cozinhar, já que nã o tê m outros atrativos — zombou. — Nã o vou demorar. Seu braç o está doendo muito?

— Dá para aguentar. Nã o precisa se preocupar em preparar comidas exó ticas para mim, kyria. Ficarei satisfeito com sanduí ches.

— Você terá exatamente o que quer, patrã o.

— Está sendo sentimental por causa dos meus ferimentos? Bem, nesse caso, nã o esqueç a o café, por favor!

— Nã o, senhor.

Ele estava procurando pelos charutos, quando ela saiu do quarto, para correr escada abaixo em direç ã o à grande cozinha. Durante o dia, ficava cheia de criadas trabalhando, poré m, naquele momento, tudo estava em silê ncio, e as luzes, apagadas. Fenny acendeu-as e caminhou para o refrigerador imenso, as pregas do caftã enroscando-se em suas pernas. Sempre havia ostras no congelador, porque Lion adorava. Rapidamente, começ ou a preparar uma dú zia para ele, fez um molho para servir junto, coou café, cortou o pã o em fatias e colocou um pratinho de manteiga numa bandeja.

Estava no meio dos preparativos, quando uma figura alta apareceu na porta.

— Meu Deus! Que atividade toda é essa?

Fenny desviou os olhos do que estava fazendo e sorriu para Zonar.

— Lion acordou e esta com fome. Pediu ostras, mas eu prepararia até um banquete, se ele quisesse. É maravilhoso vê -lo como antes.

— Imagino que sim! — Zonar instalou-se numa cadeira, olhando-a de modo irô nico. — Ele já começ ou a insultá -la?

— Umas trê s vezes.

— Entã o, realmente, está em forma.

— Quase. Mesmo que estivesse sentindo alguma dor, nã o diria nada. Você, que o conhece há mais tempo do que eu, deve saber disso.

— Quer dizer que ele prefere comer ostra e descansar a cabeç a machucada em seu ombro? Eu nã o faria a mesma escolha.

— Ele está um pouco fraco e precisa se alimentar. — Arrumou a bandeja, feliz por estar preparando uma refeiç ã o para o marido. Desejava poder fazer isso mais vezes, mas nã o estava em posiç ã o de perturbar a rotina do castelo. A cozinheira grega poderia ficar ofendida, se começ asse a usar a cozinha, e Lion seria o primeiro a dizer que pagava um bom salá rio para ter uma comida feita com esmero, e nã o para comer o que fazia uma principiante.

— Pode trazer o bule de café? — pediu a Zonar. — Suba e diga alguma coisa agradá vel a seu irmã o.

— Minha querida cunhada, ele cairia da cama, se eu ousasse dizer na cara dele que estou infernalmente feliz por ainda estar aqui para manter a famí lia de pé. — Zonar seguiu-a pela escada, levando o café. — Sinto-me como um criado grego.

— Fazer alguma coisa ú til nã o tira pedaç o. E nã o se atreva a magoar seu irmã o!

— Minha querida, ele é o rei desta selva e eu sou apenas mais um dos infelizes que ele maltrata. — Riu e acompanhou-a até o quarto. — Cá estamos, Lion, a seu serviç o e com o prato mais delicioso que já comeu na vida.

— As ostras... ou minha esposa? — Dirigiu um olhar penetrante para o irmã o e depois observou Fenny, que colocou a bandeja de pezinhos sobre seus joelhos. — O cheiro está muito bom.

— Espero que goste. Está se sentindo bem?

— Bem. — Destampou a travessa e provou o molho. — A quantidade exata de alho e vinagre. — Deslumbrante!

— Oh, ela nã o tem apenas um rosto bonito — disse Zonar. Instalou-se numa poltrona, observando o irmã o saborear o jantar com apetite. — Estou percebendo, Lion, que você se sente bem melhor. Escapou por um triz. Muitos dos membros do comitê nã o tiveram a mesma sorte.

Fenny saiu silenciosamente do quarto, deixando os dois conversarem a só s. Agradeceu a Deus pelo marido estar salvo e ter gostado da ceia que preparara.

Foi para a cama e adormeceu tranquila.

O dia já estava claro e o sol penetrava pelas janelas quando Fenny acordou. O sol ia alto, e imediatamente percebeu que dormira muito mais que de costume. Lion! Pulou da cama, vestiu o robe e entrou correndo no quarto dele.

A grande cama estava vazia, as cobertas, atiradas para o lado, e os travesseiros, ainda com a marca da cabeç a dele. Oh, nã o! Lion devia continuar descansando.

Kalimera, kyria.

Ela se virou, e lá estava ele, em pé na porta da varanda, olhando-a com ironia.

— Venha até aqui. Quero lhe mostrar uma coisa.

— Lion, por que nã o fica mais um dia na cama? O mé dico disse para nã o abusar.

— É o que planejo fazer. Venha!

Estendeu a mã o para ela, que obedeceu. Levou-a para a varanda, banhada pelo sol, e apontou-lhe o mar. Lá, naquele mar de á gua azul-esverdeada, navegava um lindo caí que preto, parecendo um navio de piratas que tinham decidido invadir a ilha. Como em tempos antigos, quando os moradores escondiam as jovens nas colinas, na esperanç a de mantê -las sã s e salvas dos conquistadores.

— Aquele é o Cirene — ele explicou. — Acaba de sair do estaleiro e está pronto para a primeira viagem. Gosta?

— É seu? Nunca tinha visto nada igual. Parece um navio de piratas. Sim, claro, só podia pertencer a você.

— Gostaria de fazer uma viagem nele pelo mar Egeu? Fenny o escutava, mas nã o acreditava. Era maravilhosodemais. Nã o podia ser verdade que Lion a estivesse convidando para um cruzeiro.

— Você nã o é uma boa marinheira?

— Realmente, nã o sei. Nunca fui testada.

Queria acreditar em tal viagem, naquele oceano fabuloso, naquele lindo caí que com grandes velas e cabeç as esculpidas na madeira — provavelmente, a deusa Cirene. Devia haver tantas pequenas ilhas gregas para serem exploradas. Queria isto com desespero, mas nã o podia ir navegar com ele. Nã o conseguiria sentir prazer algum, sabendo a todo instanteque todos os dias e todas as noites iriam levá -la inevitavelmente a lugar nenhum.

— Entã o, hoje vai ser testada. Já pedi que o drene venha nos buscar dentro de algumas horas.

Desviou os olhos do navio para o rosto de Fenny, e imediatamente uma sombra de mau humor apareceu em sua expressã o.

— Por que você está me olhando desse modo? Nã o está feliz de ficar sozinha comigo no caí que? A esposa atenciosa só existiu ontem à noite. Deixe de histó rias! Se a idé ia nã o lhe agrada, diga. Nã o estou tã o desesperado por companhia, portanto, nã o a forç arei a navegar contra a sua vontade, como faziam os corsá rios turcos que ocuparam estas ilhas nos velhos tempos. Claro, era inevitá vel que o sangue deles corresse nas veias gregas, mas nã o sou tã o cruel com você e nunca fui! Nó s dois sabemos muito bem disso, nã o é mesmo?

— Sim. — Afastou-se o má ximo que as mã os dele permitiram. Mas Lion continuou a segurá -la pelos pulsos, com forç a. — Você pode levar Zonar...

— Levar um irmã o? — Ele franziu a testa e torceu o nariz. — Deve estar ficando maluca. Minha querida, acha que é a ú nica mulher na minha vida? Se a viagem nã o lhe agrada, pode ficar descansada, que nã o terei dificuldades em arrumar uma outra. Há muitas que gostariam de ir comigo. Nã o se preocupe: estarei em boas mã os. Você mesma já sabe como as mulheres gregas me tratam... e até algumas estrangeiras. Imagino que o desapontamento de ontem lhe veio à cabeç a agora, que pena que eu nã o morri, nã o é? Eu cheguei bem perto, nã o foi? Se tivesse acontecido, você agora seria uma viú va jovem e rica, e alé m do mais estaria livre do nosso pacto. Faç o idé ia de quanto deve me odiar por estragar seus planos e nã o morrer naquela explosã o.

Fenny recuou, como se ele tivesse lhe dado uma bofetada.

— Farei o que você quiser, Lion. Irei navegar com você, se é o que quer. Farei tudo para deixá -lo...

— Vá para o inferno!

Ele a empurrou com tanta forç a que Fenny caiu contra as grades de ferro do parapeito, batendo as costas e gritando de dor. Ela agarrou-se ao parapeito e ficou olhando-o, chocada.

— Você é duro feito aç o, Lion. Você simplesmente nã o quer me entender e interpreta tudo errado, quando tento explicar. Nada... nada consegue mudá -lo, nem mesmo o fato de ter estado tã o perto da morte!

— Exato! Por que deveria alguma coisa me fazer mudar ou mudar quando você me forç ou a um casamento que fez mudar completamente a minha vida. Agora, se nã o se importa, desapareç a da minha frente... se é que tem amor à vida. E pensar que você agiu como um verdadeiro anjo, na frente do meu irmã o, ontem à noite! Fez-se passar por uma pobre esposa e escondeu seu desgosto, seu pesar, por trá s daquele sorriso doce e falso que está sempre pronta a vir a seus lá bios. Graç as a Deus, nã o terei que vê -la nos pró ximos dez dias. Vou colocar muitos quilô metros de oceano entre nó s e gostaria, do fundo do coraç ã o, que isso pudesse ser o fim de tudo.

— Nã o pense que també m nã o desejo a mesma coisa!

Fenny virou-se e, com as pernas tremulas, deixou-o sozinho. Em seu quarto, sentou-se na cama e pensou na terrí vel barreira que se erguera entre Lion e ela. Com a dramá tica rapidez de um furacã o, tudo tinha acontecido; um momento desastroso, depois o prazer antecipado de estar com ele, a só s, naquele navio. Seu corpo doí a da queda contra a grade, mas era no coraç ã o que sentia a pior das dores.

Iria embora!

A decisã o chegou de repente. Sim, era a ú nica coisa a fazer. Ele havia dito que ficaria longe da ilha durante dez dias, o que lhe daria tempo suficiente para preparar tudo para sua partida de Petaloudes. Alugaria um barco para levá -la até Atenas e, de lá, reservaria uma passagem de aviã o para a Inglaterra. Tinha algumas economias num banco inglê s, o bastante para se sustentar até o nascimento do bebê. Depois, como muitas mulheres, iria procurar um emprego e sustentar sozinha a crianç a. Nã o sentia medo. Daquela forma, teria algo mais precioso do que um braceletede ouro.

Graç as a Deus, ningué m sabia que carregava um filho de Lion. Havia apenas Kassandra, e ela nã o era um membro da famí lia, dificilmente falava e, menos ainda, sobre a vida dos patrõ es. De qualquer forma, a mulher só estava tentando adivinhar. E Fenny era uma estrangeira que havia entrado para aquela famí lia sem ser desejada. Entã o, quem sentiria sua falta? Desapareceria de uma vez por todas da vida dos Mavrakis e se estabeleceria em alguma parte da Inglaterra, onde pudesse ficar no anonimato.

Ainda naquela manhã escaparia do castelo e, quando voltasse da visita à capela nas colinas, Lion já teria partido no Cirene, navegando em alto-mar, cheio de ó dio e convencido de que ela nã o passava de uma embusteira mercená ria. Que ironia mais dolorosa, quando a ú nica coisa que queria dele era o amor que mantinha trancado a sete chaves, sem pensar em repartir com ela.

Ela o estaria enganando, quando partisse da ilha, levando consigo o filho que ele nunca iria ver. Tinha que ser assim, porque nã o conseguia mais suportar aquela vida de paixã o e tormento.

Há pouco, ele tinha sido fisicamente violento, pela primeira vez. Quando Fenny foi para a banheira, tomar uma ducha, descobriu manchas roxas no corpo. Talvez o marido nã o tivesse nem percebido como fora forte o aperto de suas mã os, empurrando-a para as grades de ferro do parapeito. Sentiu um frio no estô mago. Lion devia odiá -la profundamente, e a ú nica recompensa que podia lhe oferecer por se meter na vida dele, forç ando o casamento, era desaparecer para sempre.

Pediu que o café fosse servido no quarto. Em seguida, colocou um vestido branco simples e seu ú nico adorno era o bracelete de ouro com o desenho de Afrodite. Desceu silenciosamente, levando consigo o estojo de veludo com o colar de pé rolas. Aquela ida à capela para fazer uma oferenda aos deuses era agora uma desculpa vá lida para se afastar do elo por algumas horas. Quando voltasse, Lion já teria partido. Nã o haveria despedidas. Nã o teria um ú ltimo beijo para se lembrar dele, apenas um forte empurrã o que deixara marcas em seu corpo e sua alma.

Nã o havia ningué m por perto, quando foi à garagem, onde estavam guardados muitos carros de uso particular da famí lia. As chaves estavam na igniç ã o do carro de dois lugares e Fenny deu marcha à ré e desceu o caminho cheio de curvas, dirigindo-se para o portã o.

O sol agora estava realmente muito quente, e o automó vel esporte nã o tinha capota. Sentiu uma pontada na tê mpora. Devia ter lembrado de pegar um chapé u, mas todos seus pensamentos, naquela manhã, estavam concentrados na cena que tivera com o marido. Era um pesadelo que nã o esqueceria tã o facilmente.

Passou pelos portõ es e seguiu a estrada estreita e sinuosa do penhasco. Fenny prendeu a respiraç ã o ao avistar a silhueta do caí que no mar. Parecia irreal, tã o imponente, preto e belo, como uma pintura grega.

Suas mã os apertaram o volante.

— Vá com Deus, Lion — murmurou. — Eu o amei muito mais do que você pode imaginar.

Continuou a viagem, passando por imensas figueiras e oliveiras, e pelo caminhã o que levava os pastores até as colinas á ridas, onde pastavam os rebanhos de cabras. O ar estava puro como sempre, e borboletas voavam em torno das á rvores e ouvia-se o canto das cigarras.

Fenny seguia pensando em Lion e na vida que levara com ele. Teria muita coisa boa para se lembrar, mas nunca poderia esquecer o que acontecera naquela manhã.

De longe, já avistava a capela toda branca que brilhava ao sol, dominando as pequenas casas distribuí das na encosta da colina, seus telhados muito juntos. Viu as mulheres trabalhando agilmente com lã crua nas varandas da casa. Havia sombra e misté rio acima das arcadas ovais feitas de pedras brancas e grades enfeitadas de pedrinhas coloridas.

Fenny estacionou o carro perto do pá tio da capela e entrou. Muitas mulheres vestidas de negro estavam ajoelhadas, rezando baixinho. Nã o era muito iluminado lá dentro, as janelas eram ovais e coloridas. Foi direto para onde estava o candelabro aceso e depositou no prato de oferenda as riquí ssimas pé rolas que eram a prova de seu falso casamento com Lion. As pé rolas que nunca realmente tinham lhe pertencido.

Ajoelhou-se e fechou os olhos. Rezou para ter forç as para abandonar o homem que tanto amava e para ser capaz de resistir à falta de amor dele. Quando saiu da igreja, caminhou sob as á rvores nas ruas estreitas, atraindo olhares curiosos. Todos podiam perceber que era uma estrangeira

e alguns deviam estar imaginando quem era. A Inglaterra parecia estar a milhares e milhares de quilô metros.

Fenny respirou fundo e viu algumas borboletas amarelas danç ando no ar. Tinha esperado tã o desesperadamente tornar-se uma moradora da ilha, com os mesmos gostos, mesmos há bitos e a mesma lí ngua, esquecendo-se totalmente do tempo em que vivera na Inglaterra, antes de tornar-se membro da famí lia Mavrakis.

Mas isso nã o era para acontecer. Devia abandonar toda aquela beleza pagã e selvagem. Olhava para tudo dizendo adeus ao aroma forte de pã o recé m-assado, ao sol, à s pessoas que nunca conheceria.

Dirigiu-se ao pontilhã o sobre o mar e ficou observando os pesqueiros coloridos.

Depois, sentou-se à mesa de uma patisserie. Pediu suco de laranja ao garç om. O homem abriu um largo sorriso e, num inglê s bem aceitá vel, contou que tinha trabalhado num restaurante grego em Londres, perto da torre de vidro da companhia telefô nica,

— Mas senti saudade do meu pessoal — ele disse, servindo o refresco a Fenny. — Há muito movimento e desgaste em Londres. Entã o, economizei e voltei para casa. A kyria nã o gostaria de provar uma rosquinha ou uma torta de massa folhada de creme? Minha esposa é ó tima cozinheira de doces e bolos.

Era tã o agradá vel ver um rosto amigo, que Fenny sentiu-se obrigada a concordar e provar uma rosquinha. Ficou conversando com o homem por quase uma hora. Quando se despediu, ele lhe pediu, solenemente, que mandasse lembranç as para o sr. Mavrakis e lhe dissesse que estava muito feliz por ele nã o ter ficado muito ferido.

Fenny nã o podia contar que nã o ia mais ver o marido. Com um sorriso que tremeu um pouquinho em seus lá bios, prometeu transmitir o recado.

— É muito bom que o sr. Mavrakis tenha uma esposa bonita e simpá tica. — O grego curvou-se para ela. — Muitas felicidades, kyria.

Enquanto se afastava, Fenny teve a impressã o de que o mar fazia um barulho estranho: parecia chorar.

Cerca de dez minutos mais tarde, já se dirigia para o castelo. O povoado começ ava a diminuir de tamanho com a distâ ncia. A vista era tã o bonita, que Fenny deixou de olhar a estrada por um instante e virou a cabeç a para trá s. Foi naquele exato momento que um cã o selvagem saiu do meio das á rvores e correu latindo na frente do carro. Fenny tentou controlar o volante e pisou com forç a no freio. O carro derrapou, chegou à beira do precipí cio, deu um solavanco e, por milagre, voltou à estrada estreita, mas em sentido contrá rio. Descendo, em vez de subir.

O carro ganhou velocidade novamente e bateu no rochedo, pois Fenny nã o conseguia pará -lo. Alguma coisa tinha acontecido com o breque, que nã o funcionava. O automó vel parecia voar na direç ã o de uma curva fechada. O sol batia em cheio em seu rosto e ela nã o enxergava mais nada. O carro continuou batendo no rochedo até parar de vez.



  

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