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CAPÍTULO II



                                             

 

Emma sentou-se na cama, um pouco cansada, enquanto fazia as malas. Era ridí culo que Celeste tivesse desfeito tantas malas sabendo desde o princí pio que elas nã o iam ficar muito tempo no hotel. Mas Celeste nã o tinha a mí nima intenç ã o de arrumar coisa nenhuma quando tinha Emma para fazer isso por ela. Celeste adorava ter suas coisas ao redor, para estar segura de suas pró prias posses. Dando um profundo suspiro, Emma estudou seu reflexo no espelho. Via uma ré plica de si mesma, rosto e lá bios pá lidos, cabelos sem brilho.

Ia parecer ainda mais insignificante diante da figura esfuziante de Celeste, com seus faiscantes olhos azuis. Nã o podia deixar de se comparar desfavoravelmente à madrasta. A forte gripe que pegara a tinha deixado deprimida, fí sica e mentalmente. Na verdade, devia agradecer a Celeste por tirá -la da ú mida e gelada Inglaterra e trazê -la para o quente e delicioso clima de Veneza em plena primavera. Mas Celeste parecia esconder alguma coisa que ela até entã o nã o havia conseguido entender.

Pensativa, Emma voltou ao passado, lembrando o choque que tivera ao descobrir a paixã o de seu pai por uma mulher tã o jovem como Celeste. Especialmente porque isso tinha acontecido poucos meses depois da morte de sua mã e. Emma tinha sido forç ada a ser amá vel com a madrasta. Mas Celeste nã o tinha tempo para perder com meninas e acabou convencendo o pai de Emma a colocar a filha em um colé gio interno, embora seu salá rio de contador mal desse para pagar as mensalidades.

Emma tinha aceitado razoavelmente bem a vida no colé gio. Nunca tivera dificuldade para fazer amigas. Nas fé rias ia para a casa de seus tios, ano apó s ano, até que tivesse idade suficiente para passar as fé rias em casa sem interferir na vida de Celeste. Preocupada, via o pai se acabando aos poucos, sempre deprimido. Desconfiava que os constantes pedidos de dinheiro de Celeste estivessem causando essa depressã o.

Estava terminando a escola e se preparando para fazer uma faculdade, quando seu pai morreu. Ela entã o interrompeu os estudos para nã o mais voltar. O pai só possuí a a casa onde viviam, que deixou para a mulher. E a primeira providê ncia de Celeste foi vender o imó vel e sugerir a Emma que arranjasse um emprego e um quarto para morar. Foi difí cil para Emma adaptar-se, e ela sentiu um violento ó dio por sua madrasta, certa de que tinha sido a causa da morte precoce de seu pai. Mas o tempo curava muitas coisas e Emma, que tinha visto muito pouco seu pai desde que a madrasta tinha assumido tudo, nã o sentiu muita falta dele.

Ela soube depois que Celeste tinha ido para os Estados Unidos e esperava nunca mais vê -la. A madrasta escreveu uma breve carta avisando sobre seu segundo casamento e outra comunicando a morte de Clifford Vaughan, que a transformou numa mulher bastante rica. Emma nã o sentiu nem interesse nem inveja, pois afinal Clifford lhe era um homem completamente estranho, de quem apenas tinha ouvido falar.

Absorvida em seu trabalho de estudante de enfermagem, em um grande hospital de Londres, descobriu que podia esquecer completamente a presenç a de Celeste em sua vida e lembrar apenas de coisas que tinham acontecido quando ela era uma crianç a querida pelos seus pais. Compreendia que seu pai tinha sido um tanto fraco, pois do contrá rio Celeste nã o o teria moldado inteiramente à sua vontade, como fez. Durante a permanê ncia de Celeste nos Estados Unidos, Emma progrediu no segundo ano de enfermagem e o companheirismo que encontrou junto à s colegas compensou a falta de uma vida familiar. Tabalhava duramente, ganhava recomendaç õ es de seus superiores e achava que realmente tinha encontrado uma profissã o adequada para si mesma, finalmente livre da madrasta. Mas tinha pegado uma gripe sé ria, que se transformou numa pneumonia. Quando a crise passou, estava fraca e abatida, incapaz, de enfrentar, pelo menos por vá rias semanas, o cansativo trabalho de uma enfermeira principiante.

A inspetora lhe perguntou se nã o tinha algum parente que pudesse hospedá -la por uns tempos, até que ela estivesse completamente recuperada, de preferê ncia longe do ar poluí do das ruas de Londres. Emma nã o conseguiu se lembrar de ningué m. Os parentes de sua mã e, que costumavam recebê -la nas fé rias na é poca da escola, estavam fora de cogitaç ã o. Lembrava-se de como reclamavam toda vez que Emma aparecia, pois achavam que Celeste é quem deveria ficar com ela. Embora nã o duvidasse de que a receberiam, se pedisse, nã o queria sentir-se mais uma vez como parasita.

A inspetora nã o tinha conseguido sugerir qualquer outra coisa, e o problema ficou no ar até que uma carta de Celeste chegou de Nova York, convidando Emma para acompanhá -la numa visita à Itá lia, por algumas semanas. Celeste avisava també m que chegaria a Londres no dia seguinte, e pedia a Emma que fosse encontrá -la no aeroporto. A princí pio Emma ficou indignada. Como é que depois de tanto tempo Celeste escrevia praticamente ordenando que fosse com ela a Veneza? Mas aos poucos pensou melhor: sua situaç ã o financeira era pé ssima e ela nã o poderia passar algum tempo nem numa pensã o da esquina, muito menos na Itá lia. Alé m disso, Celeste lhe despertou a curiosidade. Por isso, no dia seguinte, tomou um ô nibus até o aeroporto e voltou com Celeste num tá xi, abarrotado com uma pilha de malas.

Celeste repetiu o convite na sala da suí te que tinha alugado no hotel Savoy. Emma, em sua modesta capa de chuva de plá stico, os cabelos molhados pela chuva que caí a, sentia-se mais uma criada de Celeste do que sua enteada. Pressentia que ali devia haver alguma coisa oculta e que a natureza gananciosa daquela mulher nã o podia ter mudado da noite para o dia. Dificilmente Celeste gastaria tanto dinheiro em diá rias de hotel por nada, mas Emma nã o conseguia perceber onde estava a coisa. Quando lhe contou que tinha sofrido uma pneumonia, Celeste demonstrou tanto charme e simpatia, que chegou a fí car inteiramente desarmada.

Celeste disse a Emma que entã o, nessas circunstâ ncias, nã o havia necessidade de mais demora. Daria algum dinheiro para que comprasse roupas adequadas à filha de uma rica senhora e depois das formalidades para obtenç ã o do passaporte, elas poderiam viajar para Veneza,

Já tinham passado dois dias no hotel Danieli, quando Celeste anunciou que elas iam se hospedar no palá cio que pertencia à madrinha de Celeste, a condessa Cesare. E, agora, Emma estava arrumando as malas, imaginando se ia conseguir desvendar o misté rio daquele convite. Por que Celeste a teria trazido? E por que, se ia ficar na casa da condessa, precisava de companhia? Se ela queria uma criada, podia ter contratado uma, o que lhe sairia bem mais em conta do que manter uma enteada em um quarto particular no Danieli e lhe dar dinheiro suficiente para que ningué m pudesse considerá -la uma avarenta. Emma nã o conseguia entender nada. Por que Celeste concordava em ficar em um velho e talvez mal cheiroso palá cio, quando tinha todo o conforto moderno e a animaç ã o desse luxuoso hotel?

Achava que Celeste nã o ia ficar com a condessa, uma senhora com quase oitenta anos, por razõ es puramente sentimentais. Nã o era disso! Entã o, por que estaria indo para lá? A condessa teria algum filho? E se tivesse, seria ele a razã o da excitaç ã o de Celeste? Afinal de contas, agora tinha tudo o que queria. Será que a idé ia de possuir um tí tulo de nobreza a estaria impressionando? Mas se fosse isso, Emma pensou de novo, continuava sem entender a razã o de ter sido incluí da no convite.

A porta da suí te se abriu e Celeste entrou, resplandescente com um vestido de seda que caí a docemente nas curvas suaves de seu corpo pequeno e perfeito.

— Emma — ela perguntou. — já terminou com as malas?

Emma levantou. Como era muito alta, sentia-se enorme ao lado da delicada Celeste, embora fosse bem proporcionada e nã o tivesse os ossos angulosos muitas vezes evidentes em jovens altas e magras.

— Ainda nã o — respondeu Emma. — Estava apenas tomando fô lego. Diga-me, Celeste, tem certeza que quer que eu vá com você a esse palá cio? Quero dizer, eu. . . poderia ficar aqui em algum lugar menor. Uma pensione mais barata.

O rosto de Celeste assumiu uma expressã o que Emma conhecia bem e que lhe provocava apertos no estô mago, quando era menina. Mas, agora, Celeste já nã o a intimidava tanto.

— É claro que vai comigo — disse Celeste, com um sorriso forç ado que contrariava a frieza de seu olhar. — Fomos ambas convidadas e naturalmente vai me acompanhar.

Emma encolheu os ombros magros. — Mas por que a condessa iria me convidar? — insistiu, e Celeste fez um movimento impaciente.

— Você faz perguntas demais! Onde está meu lencinho de chiffon verde? Vou usá -lo no jantar desta noite. A condessa vem jantar conosco aqui no hotel e partiremos amanhã cedo. — Ela olhava seu reflexo no espelho, evidentemente satisfeita. — A propó sito, você vai jantar conosco esta noite.

Desde sua chegada ao Danieli, Emma tinha sempre jantado no seu quarto, e Celeste jantava sozinha no salã o do hotel. Ela gostava do misté rio que criava sobre si mesma, sabendo que todos especulavam sobre a encantadora viú va loira que jantava sozinha todas as noites.

Emma arregalou os olhos, mas nã o fez mais comentá rios. O misté rio se aprofundava e uma leve suspeita estava nascendo dentro dela. Estava claro que Celeste queria impressionar a condessa com sua afeiç ã o pela enteada. Mas por quê? A menos que a condessa pensasse que Celeste tinha tomado conta de sua enteada quando Charles Maxwell morrera. Seria isso? A dolorosa verdade era que até agora Celeste tinha sempre considerado Emma um estorvo, e quanto mais depressa se livrasse dela, melhor.

Emma usava nessa noite um vestido de linho rosa-pá lido, que devia ter custado uma boa quantia à Celeste, mas nã o lhe ficava bem, pois a cor acentuava sua palidez. Ela precisava de cores mais definidas e Emma nã o podia deixar de pensar que Celeste tinha escolhido um tom pastel com a intenç ã o de desfavorecer sua aparê ncia. Era bem verdade que ela nunca teve muito dinheiro para gastar com roupas, mas as poucas que tinha eram adequadas e jovens, e nunca tinha antes sentido essa sensaç ã o de estar sendo manobrada para permanecer apagada. A condessa chegou à s oito horas e Celeste e Emma a encontraram no salã o de estar. Emma nunca tinha visto uma pessoa com um aspecto mais nobre em sua vida. Quando as apresentaç õ es terminaram, a condessa perguntou a Emma: — E você, querida, que achou de sua sú bita mudanç a de sorte? Emma olhou aflita para Celeste e entã o, desajeitada, sacudiu os ombros:

— Eu... é... é bem diferente do hospital...

Os dedos de Celeste apertaram seu braç o, dando um aviso.

— Hospital? — perguntou a condessa franzindo as sobrancelhas. Esteve no hospital, querida? Mas isso é muito desagradá vel na sua idade.

— Eu... eu... — começ ou Emma, mas Celeste ainterrompeu.

— Eu nã o contei a você em minha carta que Emma tinha tido uma pneumonia? E é claro, o hospital foi o lugar mais adequado para o tratamento.

Emma olhava intrigada para a madrasta. Se ela queria a confirmaç ã o de suas suspeitas, ali estava.

— Nã o, minha querida Celeste, você nã o me disse nada, mas nã o tem importâ ncia. Que sorte foi você ter vindo para a Itá lia, Emma. Vai achar sua recuperaç ã o aqui muito mais agradá vel do que em Londres, me atrevo a dizer. Conheç o aquela terra muito bem e aquele clima me apavora!

Emma engoliu em seco, incapaz de pensar direito por um momento. — Seu inglê s é excelente, condessa — ela murmurou sem graç a, incapaz de pensar em outra coisa para dizer.

— Obrigada, minha querida. Eu també m acho. — A condessa sorriu. — Vamos, tome seu Martini. Creio que é hora de irmos jantar. — Ela segurou o braç o de Celeste. — Agora, minha querida, precisa me contar tudo direitinho. Quero saber sobre esses seus dois falecidos maridos, e se está pensando em casar de novo. Aos trinta e trê s anos, sua vida mal começ ou. Nó s precisamos tornar sua estadia aqui uma coisa inesquecí vel!

Emma estava assombrada. Gostaria de alegar uma dor de cabeç a ou qualquer outra coisa, e deixar as duas a só s, mas sua educaç ã o a impedia de insultar a condessa dessa forma. Alé m disso, sabia muito bem qual seria a reaç ã o de Celeste se fizesse isso.

Entã o ela foi jantar com as duas, mas apenas brincou com a comida, enquanto ouvia a conversa entre a condessa e sua madrasta. A comida estava deliciosa. A minestra, uma sopa feita de vegetais e ervas, estava tã o aromá tica quanto saborosa, mas mal notou o que havia em seu prato. Mesmo a deliciosa sobremesa falhou em acordá -la da letargia em que ela tinha mergulhado. Para seu alí vio, a condessa conversou a maior parte do tempo com Celeste, e ela foi poupada de dizer mentiras. Celeste, no entanto, alterava completamente as coisas que poderiam ser de seu interesse.

— Pobre Charles — ela estava dizendo. — Ele ainda era tã o jovem quando morreu, mal chegando aos cinqü enta e trê s anos e tã o charmoso ainda! — Ela olhou para Emma. — É claro que eu e Emma dividimos nossas má goas e penso que ajudamos muito uma à outra nessa hora terrí vel de nossas vidas!

— É claro! — A condessa estava condoí da. — É sempre uma fase bastante difí cil, mas você teve a sorte de ter uma companheira de uma idade tã o pró xima da sua. Afinal de contas, minha querida, você nã o pode de modo algum ser tomada por mã e dessa moç a. Você s parecem irmã s.

O olhar que ela deu a Emma quando disse isso era mais claro do que mil palavras, mostrando que ela considerava Celeste muito atraente e delicada para ter uma irmã como essa. — Emma e eu somos muito amigas — disse Celeste, olhando para Emma de novo.

As coisas agora estavam quase claras para Emma. Celeste desejava se casar com o conde, e a condessa, com seu sentimento familiar, dificilmente levaria em consideraç ã o uma mulher que tivesse abandonado, sem remorso, sua enteada. Agora, de uma coisa estava certa: Celeste podia estar pensando que a compraria com essas fé rias, mas nã o ia conseguir enganar aquela velha senhora por muito tempo. Emma ficou imaginando como seria o tal conde. De meia-idade, feio e debochado, provavelmente, mas como Celeste nã o tinha hesitado em se casar nos Estados Unidos com um homem bastante idoso, só pelo seu dinheiro, dificilmente ela consideraria essas coisas importantes, quando comparadas com a noblesse que ela alcanç aria tornando-se contessa Celeste Cesare. Emma sentia-se enojada e envergonhada. Aceitando o convite, ela na prá tica se colocava de acordo com a fraude de Celeste e todo o prazer que pudesse sentir com essas fé rias seria destruí do. Tomou uma decisã o: comunicaria à madrasta que desejava voltar para Londres. Celeste podia ir para o seu desejado palá cio no dia seguinte e fazer o que quisesse, mas sem o seu apoio.

Estava pensando nisso quando a condessa lhe perguntou: — O que está achando de sua visita a Veneza, cara mia? Você se interessa pelos edifí cios antigos, museus e galerias de arte? Ou está apaixonada pelo Lido e pelas calmas á guas azuis do Adriá tico?

— Acho que é um lindo lugar — Emma respondeu polidamente. — Visitei o Palá cio dos Doges e esta manhã me sentei em um dos café s ao ar livre da praç a Sã o Marcos.

— Ah, sim, a praç a Sã o Marcos! Visitou a basí lica?

— Infelizmente ainda nã o. Nã o tive tempo para fazer isso com calma e nã o queria ir apressadamente.

A condessa juntou as mã os. — Ah, posso ver que tem prazer em ver coisas bonitas. Isso me agrada muito. Minha famí lia tinha uma grande coleç ã o de pinturas e esculturas, mas... Muitas tiveram que ser vendidas, o que nã o me impede de visitar galerias e igrejas onde existam verdadeiras fortunas em obras e tesouros famosos, para serem vistos e cobiç ados.

Ela riu, virando-se para Celeste. Sabe, Celeste, sua mã e e eu costumá vamos passar horas no Louvre quando é ramos jovens estudantes. Ela lhe contou isso? Celeste ficou hesitante. — É claro! — ela finalmente respondeu, mas Emma teve certeza de que era mais uma de suas mentiras.

Emma gostou muito de falar sobre arte com a condessa. Mesmo pobre, sempre se interessou por arte, especialmente pintura, e adorava museus. Era mesmo uma pena que no dia seguinte precisasse retornar a Londres. Quando o jantar terminou, Emma pediu licenç a e levantou. Agora podia sair sem provocar a ira de Celeste, pois tinha certeza de que a madrasta queria ficar a só s com a condessa para falar sobre o assunto que a tinha trazido a Veneza. Foi até seu quarto, pegou um agasalho leve e desceu de novo. Se ia embora pela manhã, pretendia aproveitar ao má ximo o final de noite. Nã o se importava muito se nã o era conveniente que uma jovem desacompanhada se aventurasse sozinha pelas ruas de Veneza. Emma sabia que os homens italianos eram conhecidos pelos seus avanç os amorosos, mas sentia-se perfeitamente capaz de se entender com qualquer atrevido que surgisse em seu caminho. Ignorava os olhares que lhe eram dirigidos, ou as casuais piadinhas que à s vezes eram feitas quando passava.

A Riva degli Schiavoni estava repleta de gente que circulava e conversava animadamente, e as gô ndolas partiam levando casais para um passeio inesquecí vel ao longo dos canais, com suas lanternas brilhando na escuridã o. Emma ficou tentada a entrar num café, mas sua coragem nã o deu para tanto. Ela nã o tinha trazido sua bolsa, senã o alugaria uma gô ndola para um passeio; pelo menos ali, ficaria livre da necessidade de olhar para os lados continuamente, vigiando a aproximaç ã o de estranhos. Finalmente voltou ao hotel, com uma certa depressã o começ ando a tomar conta dela. Ainda ia ter que enfrentar Celeste e isso nã o seria agradá vel. Conhecia o temperamento da madrasta quando era contrariada. Chegou ao Danieli e estava cruzando o grande salã o completamente distraí da, quando bateu contra o peito de um homem que vinha do bar. Ele a segurou, gentil.

Scusi, signorina. Si Io un mio sbaglio.

Non importa, signore — Emma murmurou depressa, com um sorriso. Ela notou que os olhos muito azuis do homem faziam uma avaliaç ã o completa de seu corpo. Havia nele algo que o distinguia da maioria dos italianos que encontrara nessa noite. Que ele era italiano, nã o havia dú vida, embora fosse bastante alto, coisa rara entre eles. Era elegante, tinha ombros largos e vestia um paletó esporte de altí ssima qualidade. Ela teve certeza de que era algué m especial; parecia completamente à vontade nesse ambiente luxuoso.

Sua pele era bastante bronzeada para um europeu, como se passasse, bastante tempo ao ar livre, e seus cí lios, longos e espessos, lhe davam um toque diferente no rosto de traç os marcantes. Era um homem muito atraente, nã o apenas por ser bonito e atlé tico, mas principalmente por um certo magnetismo que deixava uma mulher completamente consciente de sua pró pria feminilidade. Ele era bem mais velho do que ela, devia ter uns trinta e cinco anos. Emma nunca se sentiria atraí da por homens mais velhos. Jovens de sua idade sempre lhe pareceram mais divertidos do que os mé dicos quarentõ es do hospital. Mas naquele instante, todas as suas opiniõ es anteriores pareceram passar por uma revisã o e percebeu que, na verdade, tinha era muito pouca experiê ncia da vida.

O homem sorria, agora dizendo: — Parla lei italiano?

Emma suspirou e balanç ou os ombros. — No. Apenas algumas frases — continuou em inglê s.

— Entã o — agora ele també m falava inglê s, com um leve sotaque — você é inglesa! Diga-me, eu machuquei você?

— Nã o, claro que nã o — mentiu, pois tinha batido com o tornozelo em alguma coisa e estava sentindo um pouco de dor. Mas achou que, ia passar logo e preferiu nã o prolongar o incidente.

Bene. .. bem, entã o está passando fé rias aqui, suponho?

— Estou, mas... agora preciso ir — disse, percebendo que seria " cantada" se nã o fosse embora logo. Mas o homem lhe segurou o braç o.

— Nã o se vá, signorina. Me permita oferecer-lhe uma bebida, apenas para mostrar que aceita minhas desculpas.

— Agradeç o, mas nã o posso signore. Tenho amigos me esperando. Preciso ir. É claro que aceito suas desculpas. Foi uma falta mais minha que sua. Eu estava distraí da.

— Muito bem, mas pelo menos me diga seu nome.

— Está bem. Emma Maxwell — ela sorriu també m.

Bene, arrivederci, signorina.

— Adeus. — Emma foi até o elevador, sentindo que os olhos dele a seguiam.

Ficou excitada com aquele encontro e, embora decidida a realmente dizer a Celeste naquela noite mesmo que estaria embarcando de volta na manhã seguinte, passou antes em seu quarto e sentou diante do espelho para se olhar. De repente, achou que estava se comportando como uma idiota. O que podia querer um homem como aquele com uma adolescente boba como ela? Se fosse bonita como Celeste, entenderia, mas ela nada tinha de particular que pudesse chamar a atenç ã o de um homem. Seu cabelo loiro era liso demais e naquele momento caí a sobre seus ombros em mechas, meio despenteado pelo passeio. Sua pele era macia, mas estava pá lida. Ficaria bronzeada no sol quente de Veneza, se resolvesse ficar, pensou. Seus olhos, que sempre considerou seu ponto forte, eram grandes, verdes, e seus cí lios eram tã o longos quanto os daquele homem. Finalmente seu exame chegou ao seu vestido cor-de-rosa pá lido, que a deixava com ar de doente. Entã o decidiu que nã o importava o que acontecesse, pela manhã iria visitar as pequenas lojas que havia nos estreitos ao longo do canal, e comprar alguns tecidos para fazer ela mesma alguns vestidos em cores que realç avam um pouco seu tipo. Um vermelho vivo talvez, ou aquele maravilhoso azul que ela havia visto numa vitrine.



  

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