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CAPÍTULO XI



CAPÍTULO XI

 

Durante a viagem até o mosteiro, para encontrar a filha, Bob Carmichael tentou contar a Miranda o que lhe acontecera. Mas primeiro contou que Susan estava morta, e a tênue esperança que sua presença despertou em Miranda dissipou-se para sempre. Pelo menos o pai de Lucy estava vivo.

Esmagada no banco da frente entre Bob e Rafael, Miranda tentava se concentrar no que o cunhado estava dizendo, enquanto se-tia a pressão da coxa de Rafael contra a sua, e o ombro dele apertando o seu. A uma certa altura perdeu o equilíbrio e, casualmente, pôs a mão na perna dele para não cair, tirando-a rapidamente. Mas â mão direita de Rafael pegou sua mão e segurou-a.

— Foi uma tempestade terrível — dizia Bob. — O avião não estava cheio e vínhamos sentados no fundo. Acho que todos os que viajavam na frente morreram imediatamente. Estávamos perdendo altura e os picos pareciam cada vez mais perto. Não sei honestamente o que aconteceu. Talvez a cauda tenha batido no rochedo, mas o que quer que tenha sido, espatifou-se, e o resto do avião caiu no desfiladeiro. — Ele sacudiu a cabeça. — Claro que naquela hora não sabia de nada. Tanto Susan quanto eu estávamos muito feridos. Oh, sim, Susan ainda estava viva depois da queda, mas ambos pensamos que Lucy tivesse morrido. Acho que foi isso que destruiu a vontade de viver de Susan. — Fez uma pausa, extremamente emocionado, e Miranda sentiu um pouco de sua dor.

— Sinto muito! Não pretendo ser mórbido. — Fez uma pausa e continuou: — Fomos encontrados, quase mortos, por alguns índios de uma remota aldeia na montanha. Não falavam inglês, claro, e quando consegui dizer alguma coisa, Susan já estava morta. Não sei quanto tempo fiquei naquela cabana, entre a vida e a morte — três, talvez quatro meses, não sei. Os habitantes da aldeia eram pessoas simples. Não tinham recursos médicos, nenhum contato real com o mundo exterior! — Olhou para Rafael. — Talvez possa entender isso. Talvez conheça essas pessoas. São muito independentes. Usaram tudo que sabiam para me ajudar. Se eu ia morrer, eles até que fizeram o que podiam.

O rosto de Rafael estava sério.

— Não sou índio, señor — disse, calmamente. — Mas são pessoas honradas.

Bob fez um gesto de impaciência.

— Não estou criticando o que fizeram por mim, señor. No entanto, não enviaram mensagem alguma às autoridades, avisando que eu ainda estava vivo; e só quando pude andar e falar é que começou a correr de boca em boca que havia um estranho vivendo nas montanhas.

Rafael torceu a boca, com ironia.

— Duvido que essas pessoas tenham algum contato com, como disse, autoridades. — Sacudiu a cabeça. — Autoridad, señor, significa algo diferente para eles.

Bob não estava convencido.

— Bem, de qualquer forma, cheguei a um lugar chamado Suestra. Eu... estou com a perna direita parcialmente paralisada, sabe, e andar não é fácil para mim. Mas estava vivo! Acho que foi há seis semanas. Foi o tempo que levei para me identificar, conseguir algum dinheiro e voltar à Inglaterra. Quando fui procurar você, David Hallam, seu patrão, contou-me que minha filha talvez estivesse viva.

Miranda lançou a Rafael um olhar desajeitado, depois olhou para Bob, encorajando-o.

— Sabe que... que Lucy não se lembra... de nada, não sabe? — perguntou, retirando com relutância a mão que Rafael estava segurando. Havia algo clandestino nessa atração intensa de um pelo outro e, embora quisesse desesperadamente entregar-se a ele, não podia permitir isso. Ele só a levaria ao desastre e à desilusão... Além disso, Bob precisava dela. Rafael não. Bob estava respondendo agora.

— Eu sei. Don Rafael me explicou. Tinha acabado de chegar à hacienda e estava conversando com... dona Isabella. É isso mesmo? Sim? Bem, eu estava falando com ela quando don Rafael apareceu. Ela me contou que seu outro filho, Juan, gosta muito de Lucy.

Miranda lançou outro olhar a Rafael, porém ele estava com as duas mãos no volante e parecia concentrado no terreno incerto que levava ao mosteiro.

— É lá? — exclamou Bob, curvando-se e apontando com a mão.

— É — respondeu Miranda. — Não está muito longe.

Bob soltou um grito e impulsivamente colocou um braço em volta dos ombros dela.

— Oh, Miranda! — murmurou, apertando o rosto no pescoço dela. — Não tem idéia do que isso significa para mim, depois de todos esses meses! Graças a Deus tenho você, agora que Susan se foi. Vai me ajudar com Lucy, não vai? Quem sabe... — Levantou a cabeça e olhou-a nos olhos. — Quem sabe, podíamos fazer alguma coisa, hein?

Miranda estava horrorizada.

— Oh, Bob, por favor... — começou, sentindo-se ficar vermelha do pescoço até o rosto. — Eu... eu... Olhou para Rafael pedindo ajuda e encontrou os olhos escuros antes que ele se virasse de novo para a estrada.

Lucy foi correndo cumprimentá-los, como sempre. Reconhecera o carro e talvez estivesse esperando que Rafael a levasse para passear. Rafael saiu do carro e um sorriso tímido ergueu os cantos da boca da menina. Depois, ele se debruçou no carro e pegou o pulso de Miranda com punho de aço, fazendo-a sair também.

— Miranda! — exclamou Lucy excitada, e Miranda se sentiu aquecida pelo entusiasmo de sua voz.

— Olá, querida — disse, enquanto Lucy vinha correndo em sua direção. — É tão bom vê-la de novo! — E um nó se formou em sua garganta enquanto a menina a abraçava.

— É bom ver você também, Miranda. — Tio Juan disse que estava doente e não podia receber visitas, mas eu queria vê-la! Tio Juan disse que íamos vê-la juntos... — talvez hoje!

Miranda olhou por cima dos ombros para o carro.

— Bem, agora estou aqui, Lucy. E... e trouxe alguém para vê-la.

Lucy deu automaticamente um passo para trás. Miranda tomou-lhe a mão.

— Querida, não vá embora, por favor! Vá... vá e veja quem está no carro. É... é alguém que está morrendo de vontade de ver você. Alguém que você ama... muito.

Lucy ficou imóvel por alguns segundos e depois foi relutantemente até o carro. Espiou dentro do veículo escuro e seus olhos se arregalaram descrentes.

— É... é... oh!, não, não pode ser, não pode ser! — E irrompeu em soluços histéricos. Se Rafael não a segurasse e a fizesse voltar para o carro, de onde Bob Carmichael estava saindo, teria fugido.

— Olá, Lucy — disse ele, enquanto Rafael continuava a segurar o corpinho rebelde entre as mãos. — Lembra de mim, não é? Diga que lembra! Papai veio de tão longe para buscá-la!

Miranda tentava alegrar o espírito dizendo-se que agora que o cunhado estava aqui e Lucy começava a recuperar a memória, Juan não tinha mais poder sobre ela — sobre nenhuma das duas.

Mas não estava adiantando. Talvez fosse ainda por causa da fraqueza. Ou seria apenas a certeza de que nada mais a prendia ao vale? Não sabia, mas estava muito deprimida. Tanto pior para as maquinações de padre Domênico, pensou sem malícia. Não havia mais razão para dona Isabella esperar que Juan abandonasse sua posição na propriedade e deixasse um vácuo que só Rafael poderia preencher. Sem dúvida ela não desistiria, e talvez encontrasse mesmo outro método para manter o filho mais velho a seu lado; mas Miranda não teria nada a ver com isso.

Não percebeu que Rafael se aproximava.

— Vou levar seu cunhado e Lucy até a hacienda, señorita — afirmou, formalmente. — O sr. Carmichael deseja agradecer a minha mãe e a meu irmão pela hospitalidade. Está pronta?

Miranda torceu as mãos.

— Quando... quando Bob pensa partir?

— Hoje à tarde. — Rafael encolheu os ombros. — Veio de carro, mas é uma viagem longa e desconfortável pela estrada. Me ofereci para levá-lo a Puebla de helicóptero.

— Sei. — Miranda engoliu em seco. — Bem, minhas coisas estão em sua casa. Ficarei aqui até Bob ir à hacienda e voltar, se... se não se incomoda.

Rafael deslocou o peso de um pé para o outro.

— Vai com seu cunhado?

— Claro. Bob... Bob vai precisar de mim. Ele... ele não se arranja muito bem com a casa.

A expressão de Rafael tornou-se escura de raiva.

— Vai viver com ele?

Miranda fez um gesto de desamparo.

— Claro. Por que não?

— Quando estiver pronta, señorita...

Miranda levantou-se e olhou-o ansiosamente.

— O que esperava que eu dissesse, Rafael? Não vou dormir com ele, se é isso que está pensando.

Rafael virou-se e começou a voltar.

— Os outros estão esperando, señorita — disse e afastou-se.

Londres era úmida e fria e embora fosse julho não tinha nada de verão.

Bob e Lucy não tinham casa própria — os Carmichael haviam vendido a casa e armazenado a mobília quando partiram para a América do Sul — e foram morar com Miranda provisoriamente. Não que ela se importasse. Desde que deixara Rafael na sala de espera do aeroporto em Puebla sentia-se privada de qualquer emoção e ficou satisfeita por contar com a presença deles para encher o apartamento vazio.

Bob não desejava de forma alguma voltar a trabalhar na América do Sul, embora a firma tivesse lhe oferecido o antigo emprego de volta. Concordaram, então, que ele ficaria um ano em Londres até sentir os pés no chão novamente.

Lucy começou a ir à escola no dia em que Miranda voltou ao banco, e foi aí que os problemas começaram.

Não que individualmente tivessem problemas. Bob estava visivelmente feliz por ter companhia novamente; David Hallam ficou tão aliviado por Miranda ter voltado, que se esqueceu de ficar zangado porque as duas semanas de licença tinham se transformado em quatro; e Lucy achou a escola uma novidade, depois de tanto tempo.

Mas a escola acabava às quatro horas e Miranda chegava por volta das cinco e meia, o que significava deixar Lucy sozinha por uma hora e meia.

No começo, Miranda tentou trabalhar na hora do almoço e sair às quatro. David não gostou muito mas, temendo perdê-la novamente, concordou por um período limitado. No entanto, ao fim de duas semanas, sem que Bob tivesse feito o menor esforço para arranjar as coisas, Miranda resolveu levantar o assunto.

— Estive pensando — retrucou Bob, em resposta às dúvidas de Miranda. — O que eu preciso mesmo é de uma empregada, não? Mas não temos lugar para uma empregada aqui.

— Mas você podia... mudar para outro apartamento ou uma casa. Podia arrumar uma empregada, Bob. Pode se permitir isso.

— Eu sei.— Bob aproximou-se mais dela no sofá. Lucy estava deitada. Ela dormia no quarto com Miranda, e, Bob, no sofá-cama. — Miranda, não quero uma empregada. Quero casar com você. Não! Espere! — Ela ia interrompê-lo. — Sei que é cedo demais, sei que Susan morreu há menos de um ano, mas não vê que seria a solução ideal?

Miranda levantou-se do sofá.

— Não, Bob. Não. É impossível.

— Por quê? Por que é impossível? Não há mais ninguém. Ninguém importante, isto é. Você me disse que não está interessada em Hallam. Por que é impossível?

— Porque não o amo, Bob. — Miranda abriu as mãos. — Por favor, tem de acreditar em mim. Não mudarei de idéia.

Bob deixou caírem os ombros. Tinha o olhar derrotado e ela sentiu pena dele, mas isso não era suficiente para um casamento.

— Sabe que se me deixar procurarei outra pessoa, não sabe? — perguntou ele, baixinho. — Não adianta, Miranda. Não sou homem de viver sozinho. Susan sabia disso. Ela entenderia.

— Por favor, faça como quiser. Procure uma casa ou um apartamento. Contrate alguém para cuidar de Lucy. Irei vê-los sempre que puder, mas não posso me casar com você, Bob.

Depois disso, a situação entre eles ficou um pouco tensa. Miranda não tinha percebido como ele se introduzira na sua vida, ajudando-a na cozinha, enxugando a louça, tornando-se útil sempre que possível. Depois que soube que Miranda não tinha intenções de casar com ele, começou a deixar suas coisas desarrumadas, não enxugava mais a louça, nunca entrava na cozinha a não ser para perguntar algo quando ela estava lá. Felizmente, Lucy parecia não ter notado a diferença e, por causa dela, Miranda tentou comportar-se como se nada estivesse errado.

Finalmente Bob anunciou que encontrara um apartamento. Ia mandar entregar a mobília no dia seguinte e ele e Lucy partiriam em dois dias. Miranda tentou mostrar entusiasmo, mas a atitude de Bob deixava pouco lugar para a amizade. Nunca se sentiu tão só, nem mesmo no vale. Lá tinha de pensar em Lucy — agora não tinha ninguém.

O pior era voltar para casa na noite seguinte à partida de Bob e Lucy — voltar para um apartamento vazio. David a convidara para jantar naquela noite, adivinhando que se sentiria só, e ela aceitara com gratidão. Ia buscá-la às sete e meia e, ao subir os degraus às cinco e trinta, se deu conta que ainda tinha duas horas para se aprontar. Parecia uma eternidade.

Enfiou a chave na fechadura e abriu a porta. Parou surpresa ao ver um homem deitado no sofá-cama. Por um minuto pensou que Bob tivesse voltado, que algo tivesse acontecido a Lucy; porém sua entrada perturbou seu visitante, e enquanto ele se levantava vagarosamente ela ia se encostando na porta, até fechá-la, com estrondo.

— Rafael! — disse, ofegante. — Oh, Deus, é você, não é? Eu... eu não estou sonhando, estou?

Rafael se aproximou, agarrando seus pulsos e abraçando-a, tão apertado, que não ficou dúvida de que era ele mesmo e não um sonho. Por um instante, só a abraçou, depois afastou-se e olhou para ela.

— Sonho... ou pesadelo? — perguntou roucamente e ela sentiu os lábios tremerem enquanto murmurava:

— Sonho... oh, sim, sonho, Rafael!

Um instante depois ele a beijava, beijos apressados e famintos que não deixavam dúvidas quanto à necessidade que tinha dela. Murmurava coisas em sua própria língua, entre os beijos sufocantes na orelha, pescoço, boca; passava as mãos pelo cabelo dela, acariciando-o, tomando posse dela aos poucos de uma maneira que ela nunca experimentara. — Minha — murmurava ele, com intensa satisfação. — Minha, não é?

Miranda não respondeu. Bastava estar em seus braços. Não queria fazer fantasias em cima de algo que podia se evaporar facilmente à temperatura mais fria do bom senso.

Finalmente Rafael afastou-a, olhando com indisfarçável prazer sua aparência desarrumada — o cabelo desfeito, a boca sem batom, as faces coradas, a curva redonda dos seios entre os botões da camisa que se abrira.

— Ah — murmurou ele, a boca claramente sensual. — Você é uma feiticeira, Miranda. Pôs um feitiço em mim. Sem você, sou um navio abandonado.

Miranda se mexeu, meio embaraçada com o exame dos olhos dele, mas ele não a soltou.

— Não tenha vergonha, querida — disse roucamente. — Tem um belo corpo... e pretendo possuir cada centímetro dele, está entendendo? — Depois deixou cair as mãos de lado. — Não quer saber por que estou aqui?

Os dedos de Miranda procuraram os botões da blusa, mas as mãos de Rafael a impediram.

— Veja — disse roucamente, puxando-a de novo. — Não posso manter as mãos afastadas de você. Dios, venha mais para perto... mais. Oh, Miranda, eu a desejo tanto!

Os sentidos de Miranda estavam inflamados. As palavras dele embriagavam mais que o vinho. Assim mesmo, afastou-se, deixando o sofá entre os dois.

— Por que... por que está aqui, Rafael? — perguntou, aparentando uma calma que estava longe de sentir.

Se esperava que ele se zangasse com sua retirada ficou agradavelmente surpresa. Em vez disso, ele se sentou perto da lareira vazia e disse:

— Estou aqui porque estou apaixonado por você, Miranda. Acho que me apaixonei há bastante tempo.

Miranda apertou as mãos.

— Mas... sua carreira...

— Que carreira? — Seus olhos a acariciavam. — Tenho várias.

— Não me provoque, Rafael. Constância me contou que você ia... ingressar no sacerdócio.

A expressão de Rafael tornou-se séria.

— Sim. Sim, ia.

— Então como pôde desistir tão levianamente...

— Não desisti levianamente — corrigiu-a, e sua voz endureceu um pouco. — Mas desde que encontrei você percebi que não tenho a vocação que pensava ter.

— Mas você não... — Miranda estava inquieta. — Rafael, em momento algum me levou a crer... — Parou, mordendo os lábios. — Padre Domênico o persuadiu a mudar de idéia?

— Padre Domênico? — Rafael franziu a testa. — Porque padre Domênico devia me persuadir a mudar de idéia?

Miranda sacudiu a cabeça, depois explodiu:

— Sua mãe queria que desistisse, não queria? Ela pensou que se eu me casasse com Juan e ele tivesse de abandonar a propriedade você seria forçado a voltar! Mas depois Bob chegou e... bem, a situação mudou, não? Achei que iam tentar alguma outra coisa e, de fato, tentaram. Tentaram! — Sua voz se transformou num soluço e num instante Rafael estava a seu lado.

— Do que está falando? — murmurou gentilmente, apertando o rosto dela no seu peito. Ela desabotoara a camisa dele, antes, e, como não tivesse feito nada para abotoá-la novamente, seu rosto estava encostado na pele dele. — Acha, honestamente, conhecendo minha mãe como a conhece, que ela me encorajaria a deixar o sacerdócio para casar, não com uma moça inglesa, mas com uma protestante? Oh, não, querida, a escolha não agradou nem um pouco a ela.

Miranda não podia acreditar. Ele realmente tinha dito quê pretendia casar com ela?

— Mas não me explicou... — começou Miranda.

— O que há para explicar? — Rafael falou depressa, como se não conseguisse controlar suas emoções por mais tempo. — Está bem, bem. Se quer explicações, vai tê-las. Eu me senti atraído por você e o princípio. Acho que percebeu isso também, não é? Foi minha primeira dúvida que estava fadada a encher meus dias de indecisão, e as noites de desespero. Já tinha me decidido a esse respeito e fiquei doente de tanto desejá-la.

— Oh, Rafael!

— Si. Tinha ciúme de Juan, das gêmeas, de qualquer um que estivesse perto de você. No entanto, eu mesmo ficava afastado. Aquele dia no lago, quando caí em cima de você na praia, acho que teria feito amor ali mesmo se não estivesse atento à presença da criança. Sabia que eu a queria, não sabia? — E quando ela fez que sim, embaraçada, ele sorriu. — Não é de admirar que me achasse tão abatido no caminho de volta. Você pensou que eu estivesse doente. Estava, mas não fisicamente. — Sacudiu a cabeça, com as lembranças. — E, finalmente, houve aquela noite na minha casa quando estive tão perto de dar um passo irrevogável. Por que me impediu? Não percebeu que se tivesse dormido com você nunca a teria deixado? Não sou como os outros que conheceu. Desta vez será por toda a vida, amada, não se engane.

Miranda libertou-se dos braços dele.

— Eu... eu não entendo, Rafael. Pensa que... que minha recusa naquela noite em sua casa foi por medo? Medo de que você me abandonasse? O que quer dizer com "não é como os outros homens que conheci"?

Rafael tentou puxá-la novamente, mas ela resistiu.

— O que importa o que eu penso? — perguntou, impaciente. — Estou aqui, agora; estamos juntos. — Suspirou. — Nem sempre fui honrado, Miranda. Antes, quando era jovem, quando meu pai estava vivo, tive muitas mulheres. Pensei até que estava farto das mulheres... e então a conheci.

Ela se afastou dele e caminhou até a porta.

— Gostaria que fosse embora agora, por favor.

— Miranda! — Rafael olhou-a, incrédulo.

— Não, foi isso mesmo que quis dizer. Sua mãe nunca me aceitará como sua... sua mulher.

— Minha esposa — corrigiu-a gravemente, atravessando o quarto e parando ao lado da porta que ela abrira. — Minha mãe está ansiosa por recebê-la na hacienda. Depois que você partiu, há três semanas, sabia que seria impossível tirá-la de minha cabeça. Estava em meus pensamentos a cada minuto do dia. Tinha de vê-la novamente para descobrir se você também sentia o mesmo. Disse a minha mãe que pretendia casar com você, se me aceitasse. Pode imaginar o furor que isso causou? Depois, quando estava mais calma, disse que se eu voltasse à hacienda, ela aprovaria nosso casamento. Eu me casaria de qualquer forma, entende? Mas se tiver sua aprovação, melhor. No entanto, isso não é tudo. Tenho permissão dela para dividir a terra da propriedade entre os arrendatários. Cada um trabalhará para si, e não para o engrandecimento de um pedaço de terra inanimado, verdad? — Virou-se para sair. — Sinto muito se não tem os mesmos sentimentos que eu. Minhas desculpas.

A porta fechou-se atrás dele, deixando Miranda mais agitada do que antes. Tudo que disse era verdade? Tinha realmente a intenção de casar com ela?

Escancarou a porta, o nome dele nos lábios, mas o corredor estava vazio, não ouvia os passos na escada.

Fechou a porta novamente e foi até o sofá-cama. Depois, com dedos trêmulos, pegou o telefone. Não podia sair com David esta noite. Duvidava que pudesse sair com qualquer outro homem de novo.

Por volta da meia-noite, já havia telefonado aos melhores hotéis onde pensou que ele pudesse estar, mas nada descobrira. Estava deitada, sem sono e de olhos secos, incapaz de acreditar que tivesse sido tão estúpida a ponto de mandá-lo embora. Era tão melindrosa assim? Tão orgulhosa?

Rafael tinha seus motivos para supor que ela tivera amantes. A sociedade em que ele vivia não era como a de Miranda, onde as mulheres podiam ser iguais aos homens sem dar mais do que desejavam. E apesar de tudo, queria casar com ela! Ou tinha querido. Quem sabia o que estava sentindo agora?

Apertou o rosto no travesseiro, desejando poder chorar ou fazer qualquer coisa para destruir essa fachada de torpor que fazia sua cabeça e estômago doerem de emoção contida.

Depois ouviu o barulho da chave na fechadura e pulou da cama, o corpo todo tenso. Rafael ainda tinha uma chave, pensou confusa. Estaria de volta? Ou devolvera a chave a Bob e Bob estava voltando para tentar persuadi-la a mudar de idéia? A hipótese de ser um intruso não lhe ocorreu.

Saiu da cama, vestindo o penhoar. Estava muito quente e, desde que voltara do México, tinha se acostumado a dormir sem roupa. Abriu a porta do quarto e espiou. Não havia luzes, mas uma figura entrando silenciosamente pela porta principal. Seu coração pulou na garganta e quase a sufocou.

— Rafael? — sussurrou, desesperadamente. — É você, Rafael?

Tocou o interruptor e a luz inundou a sala.

— Quem esperava que fosse, querida? — perguntou zombando, deixando cair um pacote no sofá. Com um pequeno grito ela se precipitou pela sala até cair nos braços dele.

Entre beijos, murmurou incoerentemente:

— Mas porque... por que se foi? Por que me deixou?

— Mas... não é isso que estou fazendo desde que pus os olhos em você pela primeira vez? — perguntou, roucamente. — Nem sei se você queria que eu voltasse, afinal.

— Oh, sim, sim! — Apertou-se cotra ele, sentindo resposta imediata. — Oh, Rafael, eu o amo! — E passando os braços em volta do seu pescoço, beijou-o.

Por alguns minutos houve silêncio no apartamento; depois Rafael recuperou-se, os olhos turvados pela emoção.

— E vai se casar comigo?

— Quando quiser. — Fez uma pausa. — Por que foi embora? Só para me dar uma lição?

Rafael deu um meio sorriso.

— Em parte. E também para trazer isso. — Pegou o pacote. — Acho que se esqueceu que ainda tenho sua calça e camisa, no?

— Nossa! Tinha esquecido!

— Eu não. — A boca de Rafael torceu-se em zombaria. — Guardei-às junto de mim desde que as deixou no carro.

— Oh, Rafael! — Ela balançou a cabeça. — Mas onde esteve para demorar tanto? Onde está hospedado?

— Tenho um primo distante que é padre e trabalha num hospital dirigido por sacerdotes, num lugar chamado Maidenhead, conhece? — E quando ela fez que sim, prosseguiu: — Meu primo me convidou para ficar com ele e concordei. Não esperava encontrá-la tão facilmente. Pensei... bem — não tem importância.

— Não? Claro que tem! O que pensou?

— Bem... admito que pensei que seu cunhado estivesse aqui. Pensei ter de... persuadi-la a deixá-lo.

— Rafael!

— Bem... — Ele deu de ombros, se desculpando. — Não importa. Voltei ao apartamento de meu primo e descobri que não podia relaxar. Disse a mim mesmo que ia voltar amanhã, mas não adiantou. Precisava saber... hoje mesmo.

Miranda apertou o rosto quente contra o peito dele.

— E agora?

Rafael encolheu os ombros.

— Isso é com você. Iremos ao México assim que for possível. Casaremos lá, na capela. Padre Domênico gostaria de celebrar a cerimônia, entende? Naturalmente seu cunhado e Lucy serão bem-vindos às comemorações. Ê claro que providenciarei as passagens.

— Oh, Rafael! — Miranda olhou para ele com adoração. — Não sabe como me faz feliz.

Rafael apertou-a mais forte contra o peito.

— E você, querida? Agora vai me fazer feliz? — perguntou, possessivamente.

— Se é isso que quer... — Miranda não podia lhe negar nada. Mas Rafael segurou-a por mais alguns instantes, depois a afastou.

— Não — disse roucamente, sacudindo a cabeça. — Não, vamos esperar, amada. — Ele sorriu. — Vá para a cama, querida — insistiu, acariciando-a com os olhos. — Vá para a cama antes que eu mude de idéia por motivos puramente pessoais.

 

FIM

 

 

 



  

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