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CAPÍTULO VIII



CAPÍTULO VIII

 

Quando Miranda desceu novamente, vestindo uma calça simples de algodão azul e uma blusa branca, uma criada nativa a esperava no saguão.

— Dona Isabella me mandou buscá-la, señorita — disse, com forte sotaque. — Vem comigo?

Dona Isabella e Lucy estavam numa pequena sala de visita; quando Miranda apareceu, mandou a empregada sair e disse:

— Lucy já me contou o que aconteceu, señorita.

Miranda olhou para a expressão presunçosa da criança.

— É mesmo?

— Sim, señorita. — Infelizmente contou a todos, inclusive aos hóspedes de meu filho.

— Sinto muito.

— Parece que foi muito descuidada, señorita. Foi sorte meu filho estar perto para salvá-la.

Miranda franziu a testa e olhou novamente para Lucy, que estava inocentemente observando os trejeitos de uma mosca.

— Eu... eu não sei o que Lucy lhe contou, señora — começou baixinho —, mas eu não estava precisando de socorro. Sei nadar muito bem. Foi tudo um mal-entendido.

— Não é a opinião que tenho dos fatos. Mas não desejo discutir isso. Basta dizer que seu comportamento causou certo embaraço a meu filho, aliás a ambos os meus filhos, e seria conveniente ficar em seu quarto pelo resto do dia.

Miranda pôde sentir as faces arderem. Sentia-se como uma criança repreendida e desejou que dona Isabella tivesse escolhido uma ocasião mais adequada para falar com ela, quando Lucy não estivesse presente. Tinha quase certeza de que a menina achava tudo isso extremamente divertido.

— Muito bem, señora — tentou se recompor —, só isso?

— Não. Falei com meu filho e ele permitiu que Lucy almoce em seu quarto. Depois será levada de volta ao mosteiro.

Agora foi a vez de Lucy ficar desconcertada.

— Oh, tia Isabella... — exclamou e foi imediatamente silenciada pelo olhar de reprovação no rosto de dona Isabella.

— Já está combinado, Lucy — disse, com firmeza. — E agora, vai me desculpar. Devo voltar a meu filho e nossos convidados.

Uma vez sozinha, Lucy começou a ficar inquieta, evitando o olhar de Miranda, que a observou por alguns minutos e depois disse:

— Bem? Vamos subir? Já que nós duas fomos banidas da mesa do almoço...

Lucy olhou para ela, com expressão preocupada.

— Não está zangada comigo?

— E por que eu devia estar zangada com você, Lucy?

— Não sei. — Lucy ficou vermelha. — Eu... eu só pensei que pudesse estar.

— O que está querendo dizer é que andou inventando histórias e tem medo que eu vá puni-la por isso, não?

— Não. — Lucy levantou os ombros. — Eu só disse que você tinha caído do tronco e que o tio Rafael a tinha salvado.

— Só isso? — Miranda segurou-a pelos ombros e olhou diretamente para seu rosto perturbado. — Tem certeza de que foi só isso?

Lucy agitou-se, pouco à vontade.

— Tenho. 

— Tem certeza?

— Tenho. Pelo menos... bem, eu... disse que você... que...

— Que eu o quê? — Miranda estava impaciente.

— ...que você gritou pedindo socorro!

— Oh, Lucy! — Miranda estava horrorizada. — Sabe que isso não é verdade.

— Bem! Você podia ter gritado, não podia? E... e tio Rafael carregou você de volta à praia, não foi?

Miranda sacudiu a cabeça.

— Não me surpreende que dona Isabella esteja tão aborrecida. Deve pensar que caí de propósito.

— Por que pensaria isso? — Lucy parecia intrigada.

— Ora, não se preocupe. Bem, vamos almoçar juntas? Parece que não temos muito a dizer uma à outra.

Inez serviu-lhes a refeição no terraço do quarto de Miranda. Era muito agradável sentar-se à sombra do telhado comendo mariscos servidos com salada fresca, frutas, queijo e café forte. Miranda falou pouco durante a refeição, mas sentia os olhos de Lucy fixos nela e perguntou-se o que a menina estaria pensando.

Depois que Inez tirou os pratos, Lucy saiu da cadeira e começou a andar pelo quarto, com curiosidade. Passou os dedos na escova e no pente de Miranda sobre a penteadeira e destampou um frasco de perfume, cheirando-o.

— É um quarto bonito, não é? — E foi a primeira vez que falou espontaneamente.

Miranda tentou não se encorajar demais.

— É muito bom — disse, com indiferença. — Estou acostumada a lugares menos luxuosos.

— Na Inglaterra? — Lucy franziu o nariz.

— Claro.

— Mora em Londres, não é?

— Sim. — Miranda foi cautelosa.

— Eu sei. Tio Rafael me contou.

— Tio Rafael?

— Sim. Hoje de manhã, no lago. Estava me contando que as pessoas vêem de todos os lugares do mundo para ver Londres. Falou sobre o Palácio de Buckingham, onde mora a rainha. Eu vi a rainha, não vi?

— Sim...

— Eu sei. — Lucy sacudiu a cabeça. — Disse a tio Rafael que tinha visto.

Miranda passou a língua nos lábios.

— Lembra-se então?

— Claro. — Lucy fungou.

Miranda suspirou, incerta, mal ousando prosseguir para não destruir esse frágil início.

— Você... você se lembra com quem estava quando viu a rainha?

Lucy franziu a testa, obviamente fazendo esforço para se lembrar. Depois, sacudiu a cabeça e as esperanças de Miranda se desvaneceram.

— Não. — Abriu uma gaveta, arregalando os olhos ao ver as peças íntimas. — São suas?

— Sim. — Miranda tentou disfarçar seu desapontamento. De que adiantava? Não ia chegar a lugar algum. Lucy fechou novamente a gaveta.

— Gostaria de ter umas roupas assim — murmurou, com esperteza.

Miranda mordeu o lábio. Depois se lembrou das fotografias que estavam na bolsa e decidiu mostrá-las à garota.

— Lucy! Traga-me a bolsa, sim?

Foi mais fácil do que Miranda esperava. Lucy ficou a seu lado, depois de levar-lhe a bolsa, curiosa para saber por que Miranda pedira a bolsa. Com dedos trêmulos, ela tirou a carteira com as fotografias que carregava sempre e começou a brincar com elas. Como esperava, a curiosidade de Lucy levou a melhor e ela curvou-se sobre o ombro de Miranda.

— Essa... essa sou eu! — exclamou, finalmente.

— Isso mesmo! — Miranda tentou dar um tom casual à voz.

— Por que está me mostrando essas fotos?

— Não estou. Ninguém lhe pediu para olhar.

Lucy calou-se, segurando nervosamente o vestido. Depois olhou para a fotografia que estava por cima da pilha. Olhou-a por alguns segundos e uma expressão perturbada passou por seu rosto. Porém nenhum sinal de reconhecimento.

Miranda suspirou. Estaria errada fazendo aquilo? O choque de ver fotografias dos pais podia fazer mal à menina?

— Quem... quem é essa? — perguntou Lucy, com relutância, apontando para uma mulher na foto.

— Essa... essa é minha irmã, Lucy.

— Sua irmã? — Lucy apertou os lábios. — Quer dizer, é a senhora que disse que era... minha mãe?

— Sim.

Lucy começou a tremer.

— Bem... bem, eu não a conheço.

— Está bem. — Miranda juntou as fotografias, desejando nunca ter começado tudo aquilo.

— Não está nada bem. — Lucy torcia as mãos. — Eu... eu devia reconhecê-la, não é? Se é minha mãe.

— Acalme-se, Lucy. — Miranda guardou a carteira na bolsa. — Venha, vou mostrar o que trouxe para você.

— Para mim? — murmurou. — Mas eu quero... primeiro quero olhar as fotos.

— Agora não.

— Por que não?

— Primeiro, vou mostrar o que trouxe para você. É um pequeno pingente...

— Não. Quero ver as fotografias! — Lucy se abaixou e pegou a bolsa. — Vamos, me mostre!

Miranda abriu novamente a carteira com certa relutância, mas Lucy arrancou as fotos de sua mão e começou a olhá-las, com dedos trêmulos, amassando os cantos na pressa. Observando seu rosto, Miranda viu que nenhuma delas parecia despertar qualquer lembrança, e que a confiança da menina desaparecia. Depois, subitamente, os olhos dela brilharam e segurou uma das fotos por um instante, antes de olhá-la novamente.

— Este... este é Fluffy, não é? — E começou a chorar.

— Você... se lembra... do seu gatinho?

Lucy fez que sim, soluçando descontroladamente.

— Você sabe que é você com Fluffy, não sabe?

— Quando... eu... era bem... pequenininha, não é?

— Isso mesmo. — Miranda respirou profundamente. — Lembra-se de mais alguma outra coisa?

Lucy balançou a cabeça.

— N... não.

— Bem, não tem importância. Enxugue os olhos. De qualquer forma, já é um começo. Pelo menos você se lembra de Fluffy.

Lucy esfregou os olhos com as costas das mãos, aceitando um lenço de papel que Miranda lhe oferecia, e pegou novamente a fotografia.

— Onde... está Fluffy? — perguntou, finalmente. Miranda temia essa pergunta.

— Ele... ele está na Inglaterra.

— Com mamãe e... e papai?

— Não. — Miranda sacudiu a cabeça. — Ele está com uma certa sra. Cross, agora.

— Mas ele é meu!

— Eu sei, querida. Mas... bem, vocês iam viajar e não dá para levar gatos para fora do país, a menos que você os deixe em quarentena por meses e meses, na volta.

— O que quer dizer isso?

— Bem, quando você leva um gato ou um cachorro ou qualquer animal para fora da Inglaterra, tem de deixá-lo numa espécie de canil, ao voltar. Sabe, há leis muito rígidas sobre isso. Além disso, se você tivesse trazido Fluffy para a América do Sul, ele podia ter apanhado uma doença horrível e morrido.

Lucy anuiu vagarosamente.

— Mas ele estará lá quando eu voltar?

Miranda quase engasgou.

— Bem, eu... eu acho que sim.

Lucy arrastou os dedos; já quase completamente calma agora.

— Que bom! — disse, com ar distraído. — Gostaria de ter um bichinho.

Miranda, que nunca imaginara alcançar resultados tão rápidos, sentiu-se tentada a prometer a Lucy que poderia ter meia dúzia de bichos das mais variadas espécies se concordasse em voltar à Inglaterra. Mas não prometeu. O suborno não era uma base sólida para um bom começo; nem a força bruta. E, no mais, estava começando a achar que talvez Rafael tivesse razão. Se pudesse dar a Lucy um pouco mais de tempo, poderia conseguir tudo. E, no fundo, sabia que deixar o vale... e Rafael era algo que não gostaria de encarar, por enquanto...

Lucy perguntou se podia levar a foto dela com Fluffy para o mosteiro e mostrá-la a padre Esteban. Miranda naturalmente concordou e ficou meio aliviada por Juan não vir vê-la na hora de partir. Detestaria vê-lo zombar de seu pequeno triunfo.

Miranda passou o resto do dia no quarto. De vez em quando ouvia as vozes que vinham do pátio, mas estavam muito longe para que distinguisse quem estava falando. Ficou desapontada quando Inez veio informá-la de que devia jantar no quarto. Porém Constância apareceu à noitinha e fez companhia a Miranda.

— Mamãe está muito zangada com Rafael — disse ela, repetindo os gestos de Lucy, examinando os diversos frascos sobre a penteadeira. — Veio à hacienda duas vezes sem falar com ela e, hoje à tarde, quando ela mandou Diaz com um recado convidando-o para o jantar, mandou dizer que era impossible!

— Então... ele não vem?

— Não. E mamãe convidou padre Domênico para jantar.

— Ah, sei.

Constância andava pelo quarto, pequena elegante no vestido de seda turquesa. Depois parou subitamente e disse:

— Diga-me, señorita, Rafael realmente salvou sua vida hoje de manhã?

— Não... não exatamente.

— Mas ele a tirou do lago, verdad?

— É... tirou.

Constância sacudiu a cabeça.

— Mamãe também ficou muito aborrecida com isso. Sabe, Rafael, tem... evitado essas situações.

Miranda encarou-a, desejando que ela se explicasse melhor. Mas Constância, assim como Carla, devia achar que o que tinha dito já era suficiente. Com um suspiro, a jovem mexicana encaminhou-se até a porta. Antes de sair, perguntou:

— Conseguiu algo com a niña?

— Um... um pouco — Miranda hesitou.

— Quê? — A jovem tornou a entrar no quarto.

— Eu... eu mostrei a ela algumas fotos. Lucy reconheceu um gatinho, um bichinho de estimação que tinha na Inglaterra.

— A si? — Constância parecia impressionada. — Foi tudo o que se lembrou?

— Temo que sim.

— No obstante, já é um começo. — Constância sorriu. — Darei a Juan a boa notícia.

— Não! Isto é, preferia que não contasse a ele — concluiu Miranda, fracamente. — Deixe... deixe a própria Lucy contar.

— A fondo. — Constância encolheu os ombros. — Não direi nada. — Olhou para o elegante relógio de ouro que tinha no pulso. — Se hace tarde. Preciso ir. Adios, señorita! Até amanhã.

Na manhã seguinte, foi apresentada à noiva de Juan, Valentina Vargas. Ela estava com Juan no pátio quando Miranda desceu. Uma mulher mais velha os acompanhava e Miranda achou que devia ser a mãe da moça.

Relutou em unir-se a eles. Viera à procura de Juan com a intenção de pedir a Diaz que a levasse ao mosteiro para ver Lucy, mas, assim que Juan a viu, levantou-se e fez as apresentações, demonstrando algo parecido com alívio. Devia ser difícil ficar à vontade ao lado da namorada, com a mãe dela por perto e sem outra pessoa para distraí-la. Para não ser rude, aceitou uma das cadeiras de vime que ele lhe ofereceu e o café. Então, sentou-se cautelosamente e esperou que dona Isabella ou Constância ou até mesmo Carla aparecesse para liberá-la.

A sra. Vargas virou-se para ela e disse:

— É a tia da menina que conhecemos ontem, señorita?

— Sim, sou.

Miranda forçou um sorriso, no entanto não houve sorriso algum nos dois rostos brancos como cera a sua frente. As duas eram muito parecidas — nobres, de expressão bastante suave e rostos emoldurados por cabelos negros que formavam um bico de viúva nas amplas testas.

— E quando pretende levar a criança de volta para a Inglaterra, señorita? — prosseguiu a sra. Vargas.

Miranda olhou de relance para Juan.

— Tão logo seja possível, señora. Eu... as coisas estão complicadas, porque Lucy não se lembra de nada.

— Foi o que dona Isabella nos contou, — A sra. Vargas franziu a testa, depois virou-se e disse a Juan: — O que não consigo entender é por que a criança passa tanto tempo aqui. Nem por que a srta. Lord está aqui.

O rosto de Miranda ardeu embaraçado, mas Juan veio rapidamente em seu auxílio.

— A srta. Lord é nossa hóspede, dona Maria. É nosso desejo que fique aqui.

— Certamente o problema é das autoridades, verdad?

— Fiz dele um problema meu, dona Maria. — Juan foi firme. — A niña é... como dizer... deliciosa, no?

— O que Juan quer dizer, mama, é que... gosta da criança — disse Valentina, falando pela primeira vez desde que fora apresentada a Miranda.

A sra. Vargas franziu ainda mais as sobrancelhas.

— Gosta da criança? — repetiu. — O que quer dizer com isso, Juan?

— Gosto dela, si. Disse isso a Valentina.

A sra. Vargas soltou uma exclamação de impaciência.

— Talvez haja tempo, Juan, de você ter crianças suas para... gostar. — Havia um tom de desdém em sua voz.

Juan sacudiu os ombros largos.

— Não há mal algum em me preocupar com a niña, dona Maria. Ela é... vulnerable.

— Acho que... o que don Juan está querendo dizer é que, antes da minha vinda, Lucy não tinha ninguém — aventurou-se Miranda. — Tem sido muito bom para ela, e Lucy também gosta muito dele.

A sra. Vargas encarou-a friamente.

— Acho que meu futuro genro é capaz de se explicar claramente, gracias, señorita.

Miranda pegou a xícara e deu alguns goles. Ou fazia isso ou dizia algo de que ia se arrepender mais tarde. Assim mesmo, chegou a ter pena de Juan se com o tempo, Valentina ficasse parecida com a mãe.

A sra. Vargas voltou sua atenção para Juan, mas ele começou a falar com Miranda antes que ela pudesse recomeçar o ataque.

— Desejava me ver, señorita?

Miranda pôs a xícara sobre a mesa.

— Bem, sim. Eu... eu queria saber se Diaz podia me levar ao mosteiro hoje de manhã. Já... já que o senhor tem hóspedes... — Esta última observação tinha acabado de lhe ocorrer, e achou que ajudaria a fortalecer seu pedido.

Foi a vez de Juan parecer aborrecido.

— Diaz trará a niña para a hacienda por usual, señorita.

— Ne! — Os dedos de Valentina seguraram seu pulso. — Prometeu cavalgar comigo, Juan. Deixe a señorita ir ao mosteiro, querido. Seria muito mais conveniente.

Miranda sabia que Juan devia estar travando uma batalha consigo mesmo. Não era fácil tomar uma decisão.

— Valentina tem razão, Juan — afirmou a sra. Vargas, com ênfase. — Vocês dois têm muito pouco tempo para ficar juntos. Não é conveniente que essa criança... essa intrusa, interfira nos programas de vocês. Diga à srta. Lord que vá ao mosteiro. Quanto mais cedo esta situação se resolver, melhor.

Juan ficou calado por um longo instante, depois cobriu a mão de Valentina com a sua.

— Muito bem, amada. A srta. Lord pode ir ao mosteiro como deseja. Mas vai trazer a niña de volta para o almoço, no?

Valentina aceitou essa condição, mas Miranda sentiu que ela fazia isso à força. Mais uma vez, achou que o futuro de Lucy no vale não era uma perspectiva realista; e mais cedo ou mais tarde Juan teria que admitir isso.

Essa certeza fortaleceu a decisão de Miranda de conquistar o afeto da menina a qualquer custo. E, depois do episódio da tarde anterior, Lucy estava mais disposta a aceitar a tia como alguém que, longe de ameaçá-la, se preocupava com seu bem-estar.

Passaram a manhã nos gramados do mosteiro, correndo e jogando bola, brincando de esconde-esconde no velho cemitério ao lado da colina, atrás dos muros decrépitos. Diaz, que voltara à hacienda depois de levar Miranda ao mosteiro, não apareceu na hora do almoço e padre Esteban insistiu que o acompanhassem numa refeição simples. Comeram cereais e frutas, com leite de cabra. Diaz só voltou às quatro da tarde, avisando que Lucy não era esperada na hacienda aquele dia. Miranda voltou com ele relutante, ciente do rostinho desapontado de Lucy.

Encontrou uma das gêmeas no saguão. Pensou que fosse Constância e cumprimentou-a. Mas, quando a moça se virou, viu que era Carla. Surpreendeu-se com a aparência de Miranda, toda cheia de grama, e comentou languidamente.

— Andou tropeçando no gramado, señorita? Está... desgrenhada.

Miranda evitou uma resposta áspera e disse:

— Estive brincando com Lucy, señorita. E não me importo muito com minha aparência.

— Não mesmo, señorita? Por quê? Porque um de meus irmãos está totalmente absorto por sua bela noiva, e o outro com, digamos, outros problemas?

Miranda caminhou em direção às escadas. Não discutiria com Carla. Por outro lado, teve vontade de perguntar o que significava exatamente "outros problemas".

— Viu Rafael hoje? — perguntou Carla, quando Miranda começou a subir a escada.

— Não. — E parou.

— Foi o que pensei. Parece que ninguém mais o viu desde sua infeliz viagem ao lago, verdad?

— Está insinuando alguma coisa, señorita?

Carla encolheu os ombros, assumindo uma expressão inocente.

— Não! Estou... preocupada com meu irmão, só isso. Mas não vou detê-la mais. Tenho certeza de que está com pressa de... de ficar apresentável de novo.

Os punhos cerrados de Miranda denunciaram sua indignação. Mas ela mordeu a língua e subiu.

Enquanto tomava banho, algumas das coisas que Carla disse voltaram a atormentá-la. Ninguém tinha visto Rafael desde ontem de manhã? Ele estava resfriado e ficou ensopado ao tentar salvá-la. Teria piorado? Não... se estivesse doente, mandaria um bilhete à hacienda, pelo menos para a mãe.

Mas mandaria mesmo? Lembrou-se de como era independente. E duvidou de que fosse afligir a mãe com seus problemas. E se estivesse doente e só naquela casa de pedra, perto do rio? Quem iria cuidar dele? Quem lhe faria comida?

Saiu da banheira e procurou a toalha felpuda para se enrolar. Subitamente, o luxo do ambiente a incomodou. Sentiu uma vontade enorme de saber se Rafael estava bem — ou se ela estava exagerando a importância da tosse dele. Amanhã, disse a si mesma decidida enquanto se enxugava. Amanhã saberia. De um jeito ou de outro. Quando Diaz a levasse ao mosteiro, e sem dúvida a sra. Vargas ia providenciar isso, pediria a ele que primeiro passasse pela casa de Rafael.

 



  

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