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CAPÍTULO VII



CAPÍTULO VII

 

Seguiram por uma trilha que Miranda ainda não percebera. Era um pouco melhor do que um caminho de cabras, de difícil acesso.

— Onde estamos indo? — perguntou finalmente Lucy, provavelmente sentindo o corpo tenso de Miranda ao seu lado.

— Até um lago, Lucy — disse, calmamente. — Sabe o que é um lago, não?

— Claro! — respondeu Lucy, indignada. — Mas onde? Como pode haver um lago nas montanhas?

— Freqüentemente há lagos nas montanhas — retrucou Miranda. — As montanhas formam bacias naturais onde a água se reúne. Principalmente depois de chuvas como a de ontem.

Rafael balançou a cabeça.

— Não é esse o tipo de lago que estamos procurando, señorita. Mas vai ver logo.

Nisso, emergiram diante de um pequeno canyon e Rafael parou o carro para que pudessem olhar para baixo. Na base do canyon, Miranda pôde ver o brilho verde-azulado da água, ligeiramente nevoento à luz da manhã, contrastando com as paredes luxuriosamente verdes do canyon e com as rochas nuas.

— Um fenômeno natural — informou Rafael, apreciando a surpresa das duas. — Conseguem ver a fumaça que sai da água? Há uma nascente quente que alimenta o lago. A água está sempre morna.

— É... é lindo! — exclamou Miranda. — Mas... vamos descer? Rafael fez que sim com a cabeça, dando novamente a partida.

— Mais um pouco. Há um planalto sobre o lago. Podemos descer facilmente de lá.

— Mas como subiremos de novo? — lamentou-se Lucy, quando o veículo começou a íngreme descida.

— Não banque o rato, Lucy — brincou Rafael, a tensão da voz velava o tom casual das palavras. — Não é uma aventura?

— Não gosto daqui! — declarou Lucy, trêmula.

Olhava para as montanhas acima deles com inquietação óbvia e seus dedos agarravam nervosamente o tecido do vestido. A agitação da menina distraiu a atenção de Miranda da observação entusiástica dos arredores e ela franziu a testa. Seria essa a intenção de Rafael ao traze-las para cá? Assustar Lucy, para que ela pudesse ficar chocada ao lembrar algum outro canyon, alguma outra montanha?

— Quero voltar ao mosteiro — insistiu Lucy, colocando o polegar na boca, um gesto que Miranda reconheceu com uma pontada. Se ainda havia alguma dúvida de que a criança não fosse Lucy, esse gesto a teria eliminado. Susan perdia mais tempo e mais palavras tentando persuadir Lucy a não chupar o dedo do que com outro hábito qualquer que ela tivesse.

— Não seja tola, Lucy — disse ela, colocando o braço em volta da criança; ao fazer isso, acidentalmente roçou o ombro de Rafael com os dedos. Ele se afastou do toque e ela retirou o braço rapidamente, contentando-se em segurar as mãos de Lucy. — Querida, não há nada a temer. Raf... don Rafael sabe o que está fazendo. Não há perigo.

— Eu não gosto daqui — continuou Lucy, chorosa. — É tão... tão deserto.

— Não está sozinha, niña — disse Rafael, tomando todo o cuidado ao parar o carro num pequeno promontório sobre o lago. — Pronto! Já chegamos! Não vai chapinhar no raso?

Lucy olhou-o, pouco à vontade.

— É... é muito fundo? — perguntou, contendo as lágrimas com dificuldade.

Rafael saiu do carro e, abaixando-se, levantou a criança nos braços.

— Venha! Vou lhe mostrar, si? Comigo não vai ter medo, no? Quando Rafael resolvia exercer seu charme, que até agora Miranda só vira dirigido à mãe e às irmãs, ninguém, nem mesmo Lucy, podia permanecer insensível.

No canyon estava muito mais quente e o sol brilhava na água de modo convidativo. Miranda desejou ter trazido um maio, mas não achou que fosse precisar.

Rafael tirou um pedaço de plástico do carro e estendeu-o no chão. Depois esticou-se sobre ele, visivelmente disposto a deixar que Miranda lidasse com Lucy sozinha. Mas a garotinha estava mais interessada em explorar o lago. E, após lançar um olhar desajeitado a Rafael, Miranda resolveu segui-la.

Sentia-se vagamente ressentida com Rafael, que abandonava sua responsabilidade tão indiferentemente. Mas o que poderia ele fazer? Cabia a ela, Miranda, a tarefa.

— Você não se lembra mesmo de mim, Lucy?

Lucy desviou o olhar rapidamente.

— Não.

— Tem certeza?

— Claro que tenho certeza. Oh, veja! Não é uma borboleta linda? Qual será seu nome?

Miranda olhou com impaciência para a borboleta.

— Não sei. Atalanta, talvez, ou algo parecido — respondeu de qualquer jeito, mencionando o nome da primeira borboleta que lhe veio à cabeça. — Lucy, você não quer se lembrar?

— Não é uma atalanta — afirmou Lucy decidida. — É menor e tem uma espécie de marca branca e preta perto do alto das asas.

— Não estou particularmente interessada na aparência de uma atalanta — retrucou Miranda. — Lucy, quando descemos você se lembrou de alguma coisa, não foi? Algo que a assustou? — Depois, parou bruscamente. — Como sabe o que é uma atalanta?

Lucy ergueu as sobrancelhas pequenas.

— Lucy, não há atalantas na América do Sul, isto é, no México; só na Europa. Isso não prova que o que eu lhe digo é verdade? Como conheceria as borboletas inglesas se não tivesse vivido na Inglaterra, se não fosse inglesa?

— Provavelmente li em algum lugar — disse, encolhendo os ombros frágeis.

— Oh, Lucy!

Lucy olhou relutante a sua volta e Miranda pôde ver que seus lábios tremiam.

— Eu não sei quem sou, não sei mesmo. E mesmo que eu seja quem você diz, quero ficar com tio Juan! — Afastou-se chutando as pedras.

Miranda perdeu a paciência. Era demais! Simplesmente não podia resolver nada sozinha! Não sabia como. Nunca lidara com um amnésico antes. Como poderia saber o que fazer, o que dizer? Sentiu um nó na garganta e, como não podia dirigir sua raiva contra ninguém, deixou Lucy e caminhou rapidamente até Rafael.

Ficou olhando para ele, com raiva, e mais ainda por perceber a atração que sentia por aquele homem. Como se sentisse o olhar dela grudado nele, Rafael abriu os olhos. E, com uma exclamação em sua própria língua, levantou-se de um salto.

— Sí, señorita?

— Queria lhe perguntar, señor. Alguém... isto é, algum médico, viu a criança?

— Claro! O doutor Rodrigues...

— Não me refiro a um clínico geral! — exclamou ela, interrompendo-o com desprezo. — Estou falando de um especialista! Alguém especializado em amnésia e distúrbios mentais.

— Eu sei o que é um especialista, señorita — retrucou ele brandamente e ela pôde sentir as faces queimando contra a vontade. — E a resposta é sim. Meu irmão trouxe o doutor Delgado da Cidade do México há algumas semanas.

— E qual foi o diagnóstico?

— Eu aceito a opinião dele de que é apenas uma questão de tempo para que ela recupere a memória.

— O senhor aceita... — Miranda fechou os punhos. — Mas disse que era médico! Não discutiu com ele a esse respeito?

— Perdoe-me, señorita, não disse que era médico.

— Disse que podia colocar o título antes do nome!

— E posso. Mas não sou um especialista, señorita.

— No entanto, o señor deve ter uma opinião. Eu... eu não sei o que fazer.

— Señorita, como já disse, não está dando tempo!

— Não tenho tempo!

— Então talvez devesse pensar mais um pouco. — Rafael estava ficando impaciente. — Señorita, veio até aqui para encontrar uma criança que viveu neste vale durante quatro meses, compartilhou da vida de nossa comunidade e se acostumou a nossas maneiras. Em uma ou duas semanas espera poder mudar tudo isso? Digo-lhe, é cedo demais, rápido demais! Não se pode esperar que ela aceite uma mudança tão drástica sem protestos. Naturalmente, se ela a tivesse reconhecido...

— Mas não reconheceu, não é? — As lágrimas brotavam dos olhos de Miranda quando se voltou para ele. — Então o que devo fazer? Levar, talvez, quatro meses para convencê-la de que é minha sobrinha? Não posso. Não tenho tempo... nem dinheiro.

Rafael encolheu os ombros largos.

— Concordo; é uma situação difícil.

— Difícil? Difícil? — Miranda pôde ouvir sua voz se tornar estridente, mas não pôde evitar. — É impossível! Cada vez que tento falar com ela, parece que cria um bloqueio mental contra mim. Não sei o que dizer p^ara conseguir sua confiança. Não pode me ajudar? O senhor tem experiência. Por favor!

Impulsivamente, estendeu a mão e agarrou seu braço bronzeado. A pele dele estava fresca sob seus dedos úmidos e ela sentiu um desejo urgente de chegar mais perto dele. No entanto, suas esperanças momentâneas foram rejeitadas quando Rafael arrancou o braço de seu toque e afastou-se dela.

— Não posso fazer nada — ele declarou, com voz áspera. Quando seu olhar se sentiu irresistivelmente atraído para o rosto tenso dele, Miranda ficou chocada ao ver a expressão daqueles olhos. Chegou a acreditar que Rafael a odiava e suas frágeis esperanças de conseguir ajuda se dissiparam. Mexeu a cabeça desconsolada. Sabia que sua companhia o irritava, mas não tanto.

— Eu... eu sinto muito — começou, com voz trêmula. — Eu... eu devia pensar melhor antes de apelar para qualquer pessoa da... da família Cueras!

Um espasmo de dor apareceu no rosto dele.

— Não diga isso! Não é verdade. Eu a ajudaria, se pudesse. Mas não posso.

— Ajudaria mesmo? Por quê? Obviamente, me despreza. Não consigo imaginar porque razão o senhor, assim como seu irmão, quer Lucy aqui.

— Meus sentimentos nada têm a ver com sua sobrinha, señorita — afirmou Rafael, friamente. — Por dios, por que não consegue aceitar que está precipitando as coisas? Fique mais um pouco. Já lhe disse que minha mãe a hospedará.

— Não gosto de ficar na hacienda — declarou, pouco à vontade.

— E, de qualquer forma preciso voltar à Inglaterra. Só porque suas irmãs e sua mãe podem se dar ao luxo de não fazer nada, não significa que todos tenham a mesma regalia... ou gostariam de ter. Para dizer a verdade, gosto de meu trabalho. E não quero perder o emprego.

Os dedos de Rafael se fecharam sobre o medalhão que trazia no peito.

— Então não há mais nada a dizer.

— Não há? — Miranda olhou para ele, com raiva. — Acredita honestamente que seu irmão me deixará levar Lucy sem lutar?

— Padre Esteban providenciará para que meu irmão faça o que é melhor para a criança, señorita.

— Que ambíguo! E o que pensa que ele vai fazer? Como pode meu modesto apartamento comparar-se à opulência tão óbvia da hacienda? Padre Esteban depende da boa vontade de seu irmão para se manter, não? Todos nós temos de viver, señor.

— Não seja amarga, señorita. A situação se resolverá sozinha. Como sempre.

— Gostaria de acreditar nisso. — Miranda fitou com ar de infelicidade o outro lado do lago onde Lucy estava chapinhando sobre as rochas, com os dedos na água. — Oh, Deus, gostaria... gostaria...

Parou incerta. O que desejava? Nunca ter vindo? Que nunca tivesse acontecido um acidente? Oh, isso sim, claro. Mas, se não tivesse vindo ao vale do Lima, nunca teria conhecido Rafael Cueras. E, apesar de tudo, era uma circunstância que nunca teria evitado. Mas por quê? Por quê?

Ele não tinha tempo para ela — na verdade, a desprezava. E nas poucas ocasiões em que imaginou existir uma certa atração entre os dois, ele rapidamente desfez a impressão com frieza e rejeitando qualquer aproximação física.

O que Carla quis dizer com relação a Rafael não estar interessado em mulheres? Não era verdade... não podia ser verdade...

Estava tão absorta em seus próprios pensamentos, que só percebeu que Rafael se afastara quando ouviu o som da risada de Lucy, do outro lado da água, e viu que ele estava brincando com ela, apontando para alguma coisa abaixo da superfície.

Sentiu uma dor no estômago e deixou-se cair sobre o plástico, com as pernas cruzadas, o queixo apoiado nas juntas dos dedos. O que havia com ela para Rafael a desprezar tanto?, perguntou-se, sentindo-se infeliz. Olhou para a ponta dos dedos do pé. Estava desorientada.

Olhou para cima e viu que os dois tinham saído de perto do lago e estavam subindo nas rochas do outro lado do canyon. Rafael segurava a mão de Lucy, que caminhava a seu lado. Miranda apertou os lábios, tentando não sentir inveja.

Ele não podia ter deixado mais claro que não apreciava sua companhia, e a única coisa que Miranda podia esperar era que estivesse encorajando a criança a ter confiança em outras pessoas além de Juan. Porém, mais uma vez, se sentia excluída. E a imensa solidão que a invadia aumentou umas trezentas vezes.

Levantando-se, caminhou pela beira do lago, ignorando deliberadamente Rafael e Lucy. Um tronco de árvore podre boiava na água. Nenhuma orquídea delicada o adornava; até as parasitas sabiam que estava morto. Miranda chutou-o desatenta, sentindo certo alívio ao se machucar. Mas, quando uma barata enorme pousou sobre o tronco, por um instante, parecendo olhá-la, não conseguiu evitar um arrepio.

Afastou-se com uma careta e viu um enorme nenúfar, meio escondido pelo tronco podre. A barata tinha desaparecido e, sem hesitar, Miranda subiu no tronco esponjoso e caminhou cuidadosamente sobre ele. Agachando-se, estendeu a mão para a flor, sem perceber que seu peso fez o tronco se inclinar até derrubá-la no lago.

Voltou à tona ofegante. A água estava morna, mas as roupas molhadas a incomodavam.

Nos primeiros instantes dramáticos só se preocupou em alcançar o raso, e até tinha se esquecido Rafael, quando o viu emergir a seu lado, sacudindo a água do cabelo.

— Não se assuste! — exclamou ele, preocupado. — Vou ajudá-la.

— Eu... eu posso me arranjar sozinha — protestou Miranda. Rafael a ignorou, segurando sua cabeça com uma das mãos e nadando vigorosamente de volta à margem. Quando alcançaram o raso, deixou que ela ficasse em pé por um instante, enquanto ele próprio tomava pé. Depois, levantou-a nos braços novamente e carregou-a até a praia cheia de seixos onde estava o plástico. Miranda quase delirou com essa reviravolta inesperada e ficou tentada a fingir um terror que não sentia, só para poder passar os braços pelo pescoço dele.

Mas um acesso de tosse o pegou desprevenido e Rafael teve que colocá-la no chão mais depressa do que ela esperava. Miranda tropeçou, e teria caído se ele não agarrasse seu braço. Só que o peso dela fez com que eles perdessem o equilíbrio e caíssem, o corpo de Rafael pesando em cima do dela, deixando-a quase sem fôlego.

— Oh, perdone, señorita — murmurou ele automaticamente, apoiando-se nas mãos atrás da cabeça dela, olhando bem dentro dos surpresos olhos verdes.

— Eu... estou bem — tentou dizer, recuperando o fôlego. — Não... não me machucou.

Rafael moveu a cabeça vagarosamente para cima e para baixo, mas seus olhos escuros não abandonaram o rosto dela. Pousaram na face corada, nos cílios escuros, na boca suavemente entreaberta. Miranda sentiu algo que jamais sentira e enquanto ele continuava apoiando o corpo no dela, sentiu o endurecimento dos quadris e a crescente onda de desejo que se apoderava dos dois. Desta vez não estava enganada e uma estranha letargia percorreu seus membros.

— Rafael! — suspirou dolorosamente. Mas, com uma mudança de humor assustadora, a expressão de Rafael se endureceu e se transformou em desgosto e raiva.

— Cristo! — grunhiu ele, levantando-se e afastando-se dela. — Estoy loco rematado! — Fechou os punhos ao longo das pernas, enquanto sua roupa pingava água. — Levante-se! Levante-se, señorita! Vamos embora... imediatamente!

Lucy, que observava tudo do outro lado do lago, aproximou-se deles correndo, mas fez uma careta do desapontamento ao ouvir as últimas palavras de Rafael.

— Vamos embora, tio Rafael? Mas por quê? Por quê? — Olhou com ressentimento para Miranda. — Por que ela não pode tirar a roupa e secá-la ao sol? Por que temos de ir embora só porque ela foi estúpida?

Miranda levantou-se indignada. Já tinha agüentado o suficiente.

— Talvez não tenha percebido, Lucy, mas seu... don Rafael... também está ensopado! — gaguejou.

— Eu sei. Porque precisou salvá-la!

— Ninguém precisava me salvar — respondeu Miranda, amargamente. — Sou perfeitamente capaz de alcançar o raso sozinha. — Olhou de relance para Rafael e sentiu raiva dele, por apagar tão friamente o momento devastador que a deixara tão fraca, ferida e estranhamente vulnerável. Mas, pelo menos, provara uma coisa, pensou com entusiasmo. Ele não era indiferente às mulheres; não era indiferente à sensação de um corpo de mulher contra o dele...

— De qualquer forma — Lucy prosseguiu —, tio Rafael pode tirar a camisa. As calças secarão rapidamente.

— Seu tio precisa se vestir — retrucou Miranda selvagemente, percebendo que o bem-estar dele não era de sua conta; no entanto, não conseguiu evitá-lo. — Já apanhou um resfriado da outra vez!

— Bem, você não devia ter subido naquele velho tronco estúpido! Pensei que os adultos tivessem mais juízo!

— Chega, Lucy! — Rafael fez a menina calar-se com uma rápida ordem. Enquanto falava, desabotoava a camisa, tirando-a. Apesar das calças estarem grudadas, ele parecia ter recuperado o controle. — Vamos embora, como eu disse. Imediatamente. A señorita pode tirar as roupas molhadas e enrolar-se no cobertor que tenho no carro. Eu sobreviverei até voltarmos.

Miranda quis protestar que ele, mais do que ela, precisava despir a roupa molhada. Mas percebeu que de nada adiantaria o que pudesse dizer. Além disso, o que mais queria era sair daquele belo canyon e voltar à hacienda, onde pelo menos poderia ficar a sós com seus pensamentos.

Até Lucy tinha percebido que não adiantava discutir e então, depois que Miranda tirou a camisa e a calça atrás do carro e enrolou o cobertor como um sarongue, vieram embora.

Miranda não pôde deixar de perceber que Rafael tossia mais na viagem de volta. E, durante o percurso da estreita trilha, começou a tremer ao ar frio. Quis dizer alguma coisa, qualquer coisa que mostrasse que se preocupava com o que acontecia a ele. Mas uma olhada em seu rosto foi suficiente para calar qualquer construção de simpatia.

Chegaram ao vale por volta do meio-dia e Rafael acelerou através da aldeia até a hacienda, prestando pouca atenção aos cumprimentos que recebia. Um carro estranho estava no pátio quando brecou junto à fonte. Se ele o reconheceu, não fez comentário algum — só esperou com impaciência que elas descessem. Depois, com um breve "Adios", foi embora.

E só quando estava subindo os degraus, Miranda se lembrou da camisa e da calça que deixara no banco de trás do veículo. Sentia os nervos latejarem. Torcia para não encontrar ninguém.

Lucy a acompanhou em silêncio, e Miranda não fez nenhuma tentativa para conversar com ela. A manhã toda fora um desastre e sentia-se mal. Quando entraram no imponente saguão, Lucy saiu correndo — sem dúvida para ver Juan — e Miranda se dirigiu às escadas.

— Srta. Lord!

O tom chocado da mãe de Rafael fez Miranda parar e voltar-se relutante para falar com sua anfitriã. — Buenos dias, dona Isabella.

— Mas o que é isso? — Dona Isabella ignorou seu cumprimento — Señorita, qual é a explicação para esse traje? Onde esteve? O que andou fazendo? Onde está a menina?

Miranda suspirou, segurando com mais firmeza o cobertor em volta dos seios.

— Eu... caí no lago, foi isso.

— Caiu? No lago? — Dona Isabella esticou os lábios. — Estava com Rafael?

— Sim. — Miranda fez uma pausa. — A senhora... sabia, não? Jezebel lhe deu o recado?

— Sim. Mas... então, onde está meu filho?

— Ele... ele foi embora, señora. Sabe, ele também estava molhado.

— Rafael estava molhado? — Dona Isabella fechou os dedos. Estava visivelmente impaciente para saber cada detalhe dessa história complicada. — Vai me contar, por favor, por que meu filho também se molhou.

— Claro! Mas eu não podia me vestir primeiro, señora? Este cobertor é muito... desconfortável. E está ensopado.

Dona Isabella encarou-a friamente. Não se importava muito com o conforto de Miranda, mas seu inato senso de cortesia fez-lhe calar a resposta que tremia em seus lábios.

— Muito bem — concordou, finalmente. — Mas deve descer rapidamente e me contar o que aconteceu. Temos convidados. A noiva de meu filho, srta. Vargas, e os pais estão nos visitando. Seria conveniente não falarmos de tais coisas na presença deles.

— Sim, dona Isabella.

— E a pequena? Voltou ao mosteiro?

— Não. — Miranda sacudiu a cabeça. — Acho que foi procurar Juan, isto é, don Juan, señora.

Dona Isabella estalou a língua com raiva.

— Oh, mas isso é muito desagradável! Devo ir procurá-la imediatamente. Não posso permitir que interrompa a conversa de meu filho com a noiva e os pais. Vou procurá-la. Diaz deve levá-la de volta ao mosteiro.

— Oh, mas... — Miranda estendeu a mão, num apelo. — Não... não podíamos, Lucy e eu, almoçar juntas, em meu quarto? Quero dizer, assim teríamos mais tempo de nos conhecer.

Dona Isabella considerou o pedido, e depois anuiu.

— Não vejo por que não — admitiu, de má vontade. — Na verdade, poderia resolver o problema. Juan tem certeza de que quer que a criança fique, mas Valentina pode ter outras idéias. Além disso, os pais poderiam não aprovar tal situação. Acho que sua sugestão é muito boa, señorita.

— Obrigada, señora.

Era uma concessão mínima, porém, enquanto despia o áspero cobertor e tomava banho no banheiro luxuosamente decorado, Miranda quase desejou que Juan não desse permissão. De alguma forma, duvidava que Lucy viesse a considerá-la uma substituta conveniente do tio Juan; e depois dos acontecimentos daquela manhã, os nervos de Miranda estavam em pedaços.

 



  

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