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CAPÍTULO IX



CAPÍTULO IX

 

O aeroporto de Corfu era pequeno, mas eficiente. A estrada que levava à casa de Harriet Tarrant era estreita e cercada por jardins murados e plantações de limão. A residência ficava nas colinas e suas paredes eram muito brancas, com portas em arco, varandas com grades de ferro e venezianas vermelhas. Os jardins eram uma orgia de cores. Em redor da casa havia um caramanchão enroscado numa vinha, da qual pendiam cachos de uva, e um pátio forrado com lajotas rodeava uma piscina, extremamente tentadora. Abaixo da casa, a encosta terminava em rochedos abruptos que mergulhavam nas águas verde-azuladas do mar Jônio.

Sophie gastou os primeiros dias na villa ocupada em se acostumar ao novo ambiente. Conheceu Nana e Spiro, os dois auxiliares de pesquisa de Harriet, e soube o que se esperava dela. Levantava-se cedo e ia dormir cedo, e as pílulas que seu pai lhe fornecera asseguravam-lhe um bom repouso noturno.

Imaginava que, àquela altura dos acontecimentos, seus pais e Simon estivessem na Bretanha. Eram as primeiras férias que eles passavam sem ela... Tentava não pensar em Robert e Emma, o que lhe era praticamente impossível...

Não conseguia imaginar o que acontecera, desde que deixara a Inglaterra, há duas semanas. Depois que seu pai fez o dramático comunicado sobre o estado de Emma, Robert mostrou-se taciturno e inabordável, negando-se a discutir sua provável paternidade.

Sophie ainda se sentia mal recordando o horror daquela noite terrível, quando seu pai destruíra de um só golpe tudo que ela sonhara e desejara. Não era de admirar que Emma se satisfizesse em conceder a Robert um momento de liberdade. Sabia que mais cedo ou mais tarde ele estaria ligado a ela por laços mais fortes do que os representados por um mero anel de noivado.

O pior momento fora quando Robert revoltou-se diante da revelação do dr. Kemble. Sophie pensou que ele agrediria seu pai, a tal ponto ficou enfurecido. Em seguida ele se voltou para ela, perguntando se acreditava no que o pai tinha dito.

Sophie tinha de acreditar. Sabia que seu pai não mentiria para separá-los. Quando, no entanto, ela disse isso a Robert, ele respondeu com uma série de ataques que a deixaram fraca e trêmula. Então, sem esperar mais nada, ele saíra intempestivamente de casa: indo só Deus sabe para onde.

Quando regressou na manhã seguinte, estava pálido, mas controlado. Fez as malas e disse a sua mãe que partiria para o canteiro de obras, em Cymtraeth. Quando veio, no fim de semana seguinte, Sophie estava pronta para partir com Harriet Tarrant.

O trabalho desempenhado por Sophie não era árduo. Ao contrário, sobrava-lhe bastante tempo para gozar da piscina e das belezas naturais da região. A noite muitas vezes sentia-se deprimida, mas conseguia preencher os dias.

Harriet Tarrant parecia apreciar bastante a companhia de sua jovem secretária. Quando não estava trabalhando na pilha de informações e correspondência que se acumulara durante sua ausência vinha sempre ao encontro de Sophie e conversava com ela, narrando trechos de sua vida com seu falecido esposo, que fora engenheiro de minas, e como lhe viera a idéia de escrever sobre mitologia grega. Sophie não falava muito sobre si mesma, limitando-se a conversar a respeito de seus pais e meio-irmãos, mas sua voz expressiva revelava muito mais do que ela supunha.

No final de sua segunda semana na villa recebeu uma carta de sua madrasta. Ao chegar, escrevera uma carta curta e formal, dando a seus pais notícias da viagem e contando-lhes que estava muito bem. Desde então não tivera o menor contato com eles e em conseqüência não se sentiu nem um pouco apreensiva ao abrir o envelope. No entanto seu conteúdo a abalou e Harriet Tarrant, sentada à sua escrivaninha a alguns metros de distância, observou sua expressão com preocupação. Sophie soltou um pequeno grito de protesto e a mão que segurava a carta tombou inerte. Harriet caminhou em direção a ela, passando o braço em redor de seus ombros, que tremiam, e indagando:

— O que foi, Sophie? Você está branca como papel! Venha, sente-se aqui.

Sophie sacudiu a cabeça com vigor.

— Eu... eu estou bem, sra. Tarrant. É Robert... Ele... está no hospital!

— Posso ler? — Harriet perguntou calmamente, e Sophie pôs a carta em sua mão, indo até a porta que se abria para o pátio apoiando as mãos no rosto, num gesto de desespero.

Harriet leu a carta rapidamente. Laura Kemble não poupara nenhum detalhe: Robert tivera um acidente no canteiro de obras, em Cymtraeth. Estava hospitalizado, gravemente ferido no rosto e na cabeça, com costelas fraturadas e contusões generalizadas.

Harriet voltou-se para a garota, tomada de pena.

— Oh, Sophie! Que coisa terrível! Acho que você há de querer que eu a dispense para ir para casa a fim de vê-lo, não?

Sophie voltou a sacudir a cabeça.

— Não.

— Não? — Harriet olhou novamente a carta, esboçando um gesto de surpresa. — Mas... eu pensei que...

— Robert não precisa de mim. Se prosseguir, verá que... Emma, sua noiva, está fazendo companhia a ele.

Harriet leu as últimas linhas da carta.

— E dai? Você é irmã dele e tem todo o direito de estar lá.

— Não — exclamou Sophie. — Não quero ir. Harriet lançou-lhe um olhar penetrante.

— Olhe, Sophie, não acredito em você. Sei muito bem que ainda não a conheço direito, mas você parece ser do tipo que se importa com a família.

Sophie tentou se dominar.

— Claro que me preocupo com eles, Eu... estou muito aflita com o que aconteceu com Robert, naturalmente. É que... não vejo o que posso fazer.

E você não acha que seus pais, particularmente sua madrasta, gostariam de sua presença neste momento? Meu Deus. Sophie, há tanta coisa que você pode fazer... Além do mais, tenho certeza de que sua madrasta gostaria de ver a sua volta mais um rosto familiar...

— Não! — Sophie tapou os ouvidos, — Não, não, não! Não me peça uma coisa desta! Por favor, não me peça!

Harriet deixou-a chorar um pouco e então fez Sophie tirar as mãos do rosto e enxugou-lhe as lágrimas.

— Muito bem — disse. — Que tal se você me disser há quanto tempo está apaixonada por esse seu meio-irmão, hein?

Foi para ela um alívio enorme confiar-se a Harriet, narrar toda a vergonha e humilhação por que tinha passado e que não pudera compartilhar com mais ninguém. Todos tinham-se deixado envolver — sua madrasta, Simon, seu pai, e até mesmo John Meredith não fora objetivo. Harriet Tarrant, entretanto, era muito direta, e seu veredicto foi surpreendentemente reconfortante.

— Com que então esta tal de... Emma voltou para sua casa, não? — ela observou pensativa. — E naturalmente você pensa que reataram o noivado.

— Tem que ser assim!

— Mas por quê?

Sophie olhou-a surpreendida.

— Como pode me perguntar isso?

— Mas é natural... Mesmo supondo que Emma está grávida e que se trata de um filho de Robert não há nenhuma lei que o obrigue a desposá-la!

— Mas... mas ele tem de fazê-lo!

— Por quê? Muitos homens na posição dele não o fizeram.

— Mas... — Sophie hesitou. — Robert não é assim.

— E como ele é? Sophie respirou fundo.

— Ele é um homem honrado.

— Você acha?

— Claro.

— Então você acha que esse homem honrado se descartaria de suas responsabilidades?

— Não compreendo.

— Sophie, você me contou que Robert disse que a criança não podia ser dele.

— Sim.

— Você acha que um homem honrado faria isso? Quero dizer, se a criança fosse dele?

Sophie sentiu-se confusa. Levantou-se da cadeira e andou inquieta pela sala.

— Não sei.

— Precisamente. Existe portanto a possibilidade de que a criança não seja dele.

— E de quem mais seria?

— Talvez não exista nenhuma criança — observou Harriet

calmamente.

Sophie engoliu em seco.

— Nenhuma criança? Mas meu pai é médico. Ele... ele saberia.

— Ele a examinou?

— Não sei. Acho... acho que não.

— Sei. Portanto só temos a palavra de Emma.

— Mas... ela não ousaria...

— Talvez ela tenha resolvido correr o risco. Os homens são notoriamente ciosos de sua masculinidade. Questionar uma eventualidade desta é como questionar sua impotência. E você me contou que Emma era amante de Robert, não? Foi ela quem lhe contou?

— Que importância tem isto?

— Quem sabe? Sophie suspirou.

— Sim, acho que contou. De qualquer maneira as pessoas têm relações, não é mesmo? E... Robert disse que... ele a havia usado.

Harriet ficou pensativa.

— Mesmo assim, tudo isso não passa de suposição, não está vendo? Se não está grávida, Emma foi muito esperta, não é? Ela deve ter adivinhado que Robert estava se retraindo. Confiar-se a seu pai foi um golpe de mestre. Ela sabia que ele jamais permitiria que você se envolvesse com Robert, se ela por acaso estivesse grávida.

Sophie torceu as mãos.

— Oh, sra. Tarrant, e se a senhora tiver razão?

— Se eu tiver razão, você cometeu uma tremenda injustiça com seu meio-irmão.

— E agora... ele teve um... acidente. — Sim, um acidente. Você irá vê-lo?

— Acha... que eu deveria?

— Oh, não, Sophie. — Harriet aspirou profundamente o cigarro. — É você quem tem de tomar suas decisões.

— Mas é claro que quero vê-lo! Oh, meu Deus, se seus ferimentos forem fatais!

— Acho que se fossem, sua madrasta teria usado de uma franqueza menos rude na carta.

— Sim, talvez tenha razão:

— Pois então vá. Converse com a tal de Emma, decida por si mesma se você acha que ela está grávida...

— Ela tentaria me enganar.

— Então você precisará tentar ser objetiva, ouviu? Vá ver Robert, fale com ele. Contanto, evidentemente, que ele esteja em condições de conversar com você. — Suspirou ao ver que Sophie franzia o cenho. — Sophie, talvez você tenha chegado a falsas conclusões e é preciso aceitar esse fato. Mas se a garota está grávida... Se a garota está grávida, você precisa pensar cuidadosamente antes de fazer qualquer julgamento. Se realmente ama Robert, talvez descubra que está preparada para perdoá-lo.

Sophie sentiu-se chocada.

— Quer dizer... que devo deixá-lo decidir o que ele quer fazer?

— O sexo é uma coisa curiosa, Sophie. Pode ser o coroamento final do amor entre um homem e uma mulher ou simplesmente a satisfação de uma necessidade humana desesperada. Se ocorre esta última circunstância, cabe a ambos garantir que nenhuma vida nasça de tal união. Mas se por um golpe do destino isto acontece, acha que o fato é suficiente para um homem desposar uma mulher a quem ele não ama? Quem se beneficiaria de tal ligação? Nem o homem nem a mulher, e muito menos a criança!

Sophie fez um gesto de espanto.

— Se meu pai pudesse ouvir o que a senhora está dizendo!

— Ele não aprovaria? — Sophie sacudiu a cabeça e ela acrescentou: — Então, ele está vivendo no passado. Felizmente as pessoas estão se tornando menos rígidas em suas atitudes ultimamente. Os casamentos não são traçados no céu; uma grande porcentagem é decidida no inferno, e ninguém deveria ser forçado a sacrificar sua vida por causa de um erro.

Sophie digeriu tais palavras lentamente.

— Mas eles eram noivos — comentou ela com honestidade.

— Concordo, é difícil. Mas imagino que Emma partiu para esse relacionamento com os olhos abertos. Não tenho a menor dúvida de que ela superará tudo isso. Tenho a impressão de que ela é uma jovem bastante auto-suficiente. Você acha que Robert correria o risco de permitir que uma coisa assim acontecesse se ele não tivesse certeza de que queria desposá-la?

— Eu... eu não sei o que pensar.

— Então comece a pensar em Robert. Seus ferimentos parecem bastante sérios. Já pensou como se sentiria se ele ficasse permanentemente inválido ou cego?

— Oh! Não diga isso, por favor!

— Isto a assusta?

— Sim. Sim!

— Então talvez seja melhor você ficar de fora.

— Não! Não é em mim que estou pensando, é nele! Aconteça o que acontecer, jamais mudarei em relação a ele.

Harriet sorriu.

— Fiquei tola, agora que estou envelhecendo. Acabo de perder a melhor assistente que tive até hoje.

Sophie encarou-a com firmeza.

— Se... as coisas não derem certo... posso voltar? Harriet jogou fora o cigarro.

— Acho que você nem precisa fazer esta pergunta, Sophie.

Sophie chegou a Penn Warren três dias mais tarde.

Apesar de ter comunicado por telegrama a data e a hora aproximada de sua chegada, não ficou surpresa ao ver que ninguém estava a sua espera no aeroporto de Londres. Mas, quando desceu em Hereford e constatou que lá também ninguém a esperava, sentiu que a tensão se apoderava dela. Saiu rapidamente da estação e quase deu de encontro com Simon. Contemplou-o silenciosamente, com os olhos molhados de lágrimas e ele tomou-a nos braços.

— Tudo bem, Sophie — disse calmamente. — Estou aqui.

A perua estava no estacionamento e Simon, muito gentil, conduziu-a até lá, acomodando-a no banco da frente e guardando suas malas no banco de trás. Então acomodou-se a seu lado e deu partida no motor, sem perguntar detalhes desnecessários. Sophie contemplou aquele perfil tão familiar com um olhar de gratidão. Era bom saber que, apesar de tudo, Simon não a abandonara.

Engolindo o orgulho, perguntou:

— Como... como é que ele está, Simon? Ficou muito ferido? Como foi que aconteceu?

— O que foi que minha mãe contou?

— Oh, disse que ele foi ferido na cabeça e no rosto, quebrou algumas costelas... Aconteceu no canteiro de obras?

— Sim — respondeu Simon.

— Mas como foi? Eles não costumam usar capacetes?

— Sim. Habitualmente usam.

— E então?

As mãos de Simon agarraram-se à direção.

— Por algum motivo desconhecido Robert não estava usando o dele. Foi atingido por uma viga mestra. Por sorte não morreu.

— Oh, não! — A voz de Sophie tremeu.

— É verdade. Foi uma imprudência da parte dele.

— Mas por quê? Por que ele fez isso?

— Está insinuando que ele agiu de propósito? Sophie sacudiu a cabeça.

— Não sei o que pensar.

— Bem, a mim também ocorreu. Sobretudo... sobretudo devido às circunstâncias.

— Oh, Simon! E seus ferimentos? São muito graves?

— Bastante. Inicialmente pensaram que tivesse fraturado o crânio, mas parece que se trata apenas de uma contusão grave. Seu rosto está muito machucado, vou lhe avisando. O aço da viga levou uma parte da bochecha. — Sophie fechou os olhos, horrorizada, e ele prosseguiu, esvaziando propositadamente sua voz de qualquer emoção. — Ele caiu de uma altura de uns cinco metros. Quebrou duas costelas e fraturou as pernas. Está cheio de contusões por todo o corpo.

— Oh, meu Deus! — Sophie voltou a abrir os olhos. — E quando foi que tudo isto aconteceu?

— Há dez dias.

— Dez dias! — Sophie arfou. — Mas eu recebi a carta de sua mãe há três dias. Será que ninguém podia ter telegrafado?

Simon concentrou-se na estrada.

— Mamãe ficou muito afetada por tudo isto — replicou. — Acho que até certo ponto ela põe a culpa em você.

— Em mim? Entendo. Ela tem todo o direito.

— Emma está lá em casa. Ficou lá em Caernarvon com minha mãe, mas Robert recusou-se a vê-la e seu pai sugeriu que ela viesse ficar conosco.

Sophie ficou surpreendida.

— Caernarvon? Está querendo dizer que Robert está no hospital em Caernarvon?

— Claro. Não sabia?

— Não. — Sophie engoliu em seco. — Achei que ele estaria aqui em Hereford. Que tolice de minha parte! — Olhou cegamente para fora da janela. Robert, Robert, murmurou interiormente. Estava a quilômetros de distância, em Caernarvon. Quando é que poderia vê-lo? Quando lhe permitiriam vê-lo?

Voltou-se ansiosa para Simon.

— Você me levará até Caernarvon?

Simon olhou-a de relance. — Quando? Hoje à noite é impossível.

— Então quando? Amanhã de manhã? Simon sacudiu a cabeça.   

— Isso depende de seu pai, viu? Ele queria que eu telegrafasse para Corfu, pedindo que você ficasse lá. Consegui convencê-lo de que você naturalmente haveria de querer vir para cá.

— Obrigada, Simon.

— Mas quanto a ir a Caernarvon... não sei, não.

— Mas eu tenho de ir, você não percebe? Preciso... preciso ver Robert.

— Por quê? Nada mudou.

— O que quer dizer com isso?

— Emma está mesmo grávida. Ela teve confirmação do fato

há duas semanas.

Sophie levou a mão ao estômago, pois uma forte dor parecia

dilacerá-la.

— Quem confirmou? Papai examinou-a?

— Claro que não. Sophie, tudo deu para trás nestas duas últimas semanas. Lembra-se de que devíamos partir de férias para a Bretanha?

— Lembro-me, sim.

— Pois saiba que todos os nossos compromissos tiveram de ser cancelados. Não há tempo de questionar algo que já é um

fato consumado.

Sophie respirou fundo.

— E Robert ainda nega que a criança é dele?

— Sophie, Robert não está em estado de admitir ou negar

o que quer que seja.

— Mas você disse que ele recusou-se a vê-la.

— Ele recusa-se a ver quem quer que seja. Até mesmo nossa mãe.

— O quê?

— É verdade. Ela permaneceu em Caernarvon para ficar próxima ao hospital, mas desde que ele recobrou a consciência ela não o viu mais.

Sophie estava atônita.

— Mas por quê? Simon deu de ombros.

— Estou tão perplexo quanto você.

— Mas você não tem a menor idéia? O rosto de Simon tornou-se tenso.

— Oh, sim, idéias eu até que tenho. Mas talvez você não gostasse de ouvir. .

— Por favor, diga.

— Está certo. Acho que a culpa é sua. Penso que Robert não se importava mais com o que pudesse acontecer com ele depois que você viajou. Acho que ele queria... se matar.

— Simon!

— Você pediu que eu dissesse. Agora ele descobriu que não deu certo e vai ficar marcado para toda a vida.

— Mas, Simon, o que eu podia fazer? Você mesmo disse que Robert e eu... bem, que nossos pais jamais concordariam.

Simon suspirou fundo.

— Eu sei. Mas você devia saber que eu tinha razões egoístas para querer que você me acreditasse. Acha que não tenho consciência de minha culpabilidade?

— Mas então você não vê que eu preciso ver Robert?

— Ele pode recusar-se a vê-la também.

— Mesmo assim tenho de tentar. Simon fez um gesto vago com os ombros.

— Discuta o assunto com seu pai hoje à noite. Você ainda não é maior de idade.

A noite caía quando eles entraram na propriedade de Penn Warren e o pai de Sophie veio a seu encontro. Parecia um pouco mais tenso, mas sua acolhida foi calorosa.

— Então você veio, Sophie — murmurou, após beijá-la. — Não vou dizer que estou arrependido. Simon sem dúvida disse-lhe que eu queria impedi-la de vir, mas agora você chegou... — Sorriu. — Senti muita falta de você — concluiu com simplicidade.

O pior momento ainda estava para vir. Foi quando Sophie entrou na sala de estar e viu Emma sentada com ar enfadado em uma cadeira próxima à janela, tricotando. Deu aquele seu sorriso de sempre, desprovido de sinceridade e, ao levantar-se, fez questão de demonstrar que suas mãos tremiam.

— Que bom vê-la novamente, Sophie — disse. Então retirou o lenço do bolso e assoou o nariz. — Mas se tivéssemos oportunidade de escolher, não haveríamos de querer nos encontrar nestas circunstâncias, não é mesmo?

Sophie olhou para seu pai, sem acreditar no que estava ouvindo, mas ele parecia não notar quanto o comportamento de Emma era afetado. Ao contrário, sorria para ela com muita simpatia, concordando com a verdade contida em suas palavras.

Sophie estremeceu ligeiramente e disse:

— De fato. É uma situação terrível.

Emma voltou a sentar-se, aparentemente entregue à dor, e o dr. Kemble caminhou em direção à porta.

— Você deve estar com fome, Sophie. O que gostaria de comer?

— Oh, nada, obrigada. Comi no trem — mentiu Sophie, sabendo que seria incapaz de engolir o que quer que fosse.

— Que tal um pouco de café?

— Pode deixar que eu faço. Sente-se, papai.

Foi um alívio refugiar-se na cozinha e dedicar-se à ocupação corriqueira de fazer café. Mas pouco durou pois, passados alguns minutos, a porta abriu e Emma entrou.

— Posso lhe dar uma mão? — ela perguntou, em voz suficientemente alta para ser ouvida na sala de visitas.

— Pode deixar que me ajeito, obrigada. — Sophie colocou o café no coador.

— Vou pegar as xícaras — Emma insistiu.

Enquanto dispunha as xícaras e os pires na bandeja, Emma olhou Sophie com ar interrogativo.

— Simon lhe contou?

Sophie sabia que aquilo acabaria por acontecer mais cedo ou mais tarde, mas ainda não estava preparada para o choque que aquilo lhe causou.

— Contou o quê? — perguntou.

— O nenê, é claro. — Emma comprimiu ligeiramente os lábios. — O casamento vai ter de ser antecipado. Aliás, foi sugestão de sua madrasta.

Sophie endireitou-se e voltou-se, tensa, a fim de enfrentar

a outra.

— Sim, eu já sabia a respeito do nenê. Emma sorriu com complacência:

— Você será tia.

— Não acha que deveríamos esperar até que Robert fique bom? Para que antecipar a cerimônia?

Emma tocou em seu ventre com um gesto bastante eloqüente.

— Não posso esperar tanto tempo.

— Disseram-me que Robert recusou-se a vê-la.

— Ele recusou-se a ver quem quer que seja — replicou Emma com frieza.

Sophie cerrou os punhos.

— Quero vê-lo.

— Robert recusará! Ele a culpa por tudo. Sophie enterrou as unhas na palma da mão.

— Mesmo assim quero vê-lo.

— Você está perdendo tempo.

— Espere e verá.

— Você acha que seu pai e principalmente sua madrasta permitirão que você lhe cause mais problemas?

— Não lhe causei problema algum...

— Causou, sim. Antes de você voltar para casa, não tínhamos dificuldades de nenhum tipo. Estávamos noivos, o casamento se aproximava e éramos felizes. Você chegou e arruinou tudo!

— Não acredito... no que você está dizendo — disse Sophie a muito custo.

— Nem quer acreditar. Você fica arrasada imaginando que outra mulher tem a atenção de Robert, não é mesmo? Você sente ciúme. Ciúme daquilo que somos um para o outro!

Sophie teve de reprimir o impulso de gritar para Emma, dizer-lhe que ela tinha razão, que sentia ciúme, sim, mas que não era verdade que eles seriam felizes juntos. Ou era? Afinal de contas, ela conhecia apenas parte da história: Mas não era possível que Robert tivesse mentido, não era possível!

Para seu alívio, o café acabou de coar e ela pediu a Emma que abrisse a porta, para levar a bandeja para a sala.

Apesar de se sentir ansiosa por conversar com seu pai a respeito de Robert, decidiu que seria mais fácil fazê-lo a sós. Teve de ouvir comentários a respeito do estado de Robert, dominando-se para não revelar seu desespero.

Mais tarde Emma foi lavar a louça. Compreendendo que Sophie desejava falar com seu pai, Simon deixou-os a sós. Imediatamente Sophie se sentou no braço da poltrona dele.

— Papai — murmurou —, quero visitar Robert amanhã. O dr. Kemble encarou-a ansiosamente.

— Não acho que seja uma boa idéia, Sophie. Robert não quer ver ninguém.

— Eu sei, mas quero tentar.

— Por quê?

— Por quê!? E você quem me faz esta pergunta? Seu pai inclinou a cabeça e encheu o cachimbo.

— O que você espera alcançar?

— Eu amo Robert, papai, e ele me ama.

Fez-se silêncio durante alguns momentos e em seguida o dr. Kemble disse calmamente:

— Sophie, seja sensata! Mesmo que ele goste de você, está tão comprometido com Emma como se já tivesse enfiado uma aliança no dedo dela.

— Temos apenas a palavra de Emma de que ela está grávida! — declarou Sophie com amargura.

— Sophie! O que é que você está sugerindo? Que razões teria Emma para me fazer confidências se ela não estivesse esperando uma criança? Naquele momento não estava em cogitação uma separação entre ela e Robert!

— Não mesmo?

— O que você quer dizer com isto?

— Oh, papai, uma mulher sabe quando um homem... Oh, Emma deve ter adivinhado!

— Não quero ouvir mais nada! — O dr. Kemble olhou contrariado para sua filha. — Esta história tomou rumos inconcebíveis. E favor nunca mais me tocar no assunto.

— Quer dizer que estou proibida de ver Robert?

Fez-se outra pausa significativa e então o dr. Kemble suspirou fundo.

— Acho que não posso proibi-la de ir. Tenha em mente, porém, que ele provavelmente se recusará a recebê-la.

— Isto quer dizer que posso ir?

— Ir? Ir onde? — A voz de Emma interrompeu a conversa e Sophie ficou tensa, imaginando há quanto tempo ela estivera ouvindo.

— Hum...Sophie vai visitar Robert — disse o dr. Kemble rapidamente.

— É? — Emma disfarçou sua irritação. — Quando? O dr. Kemble olhou novamente para sua filha.

— Não sei. Quando, Sophie? Sophie levantou-se.

— Amanhã. Simon me levará até lá.

— Pois também irei, se for possível. — Emma mostrava-se muito confiante.

O pai de Sophie hesitou, olhando-as alternadamente.

— Eu... Sim. Por que não?

Sophie ficou atônita, mas conseguiu fazer um ligeiro comentário e pediu licença para desfazer as malas. Então Emma ia para Caernarvon com eles. E daí? Isso não mudava as coisas.


 



  

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