Хелпикс

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Capítulo III



 

 

Melanie ficou completamente sem fala por um momento, olhando indefesa para Bothwell, como se ele fosse algum fantasma maligno.

— Deve estar havendo algum engano, sr. Bothwell — conseguiu dizer depois de reunir todas as suas forças. — Angus Cairney era meu tio-avô. Minha mãe era a única parente que ele tinha e, como ela já morreu, Monkshood foi deixada para mim.

Os olhos cinzentos de Bothwell se sombrearam com os longos cílios negros, que eram o único traço mais delicado naquele rosto rudemente másculo. As costeletas muito longas tornavam-no ainda mais sombrio, acentuando seu ar impositivo. Se usasse roupas diferentes caberia perfeitamente em outro momento histórico, mais primitivo. Mas, mesmo vestido como estava, Melanie teve a exata sensação de que, mesmo nos dias de hoje, ele era ainda daqueles que fazem suas próprias leis.

— Entendo — disse ele. — E quem foi que disse que Monkshood pertencia a você?

— Ora.... os advogados, é claro.

— Que advogados? — exigiu ele, duro.

— McDougall e Price.

— Ah! — fez Bothwell, passando a mão no rosto. — Eles entraram em contato com você em Londres?

— Sim, são os meus advogados.

Melanie de repente se empertigou. Percebeu que ele estava aproveitando o susto dela para tirar todas as informações que podia.

— Talvez agora possa me dizer por que achou que Monkshood era propriedade sua — exigiu ela, endireitando ainda mais os ombros.

Bothwell voltou para ela os olhos cinzentos, forçando-a a mover-se, incômoda. Ela não ia permitir que Sean Bothwell a intimidasse, mas na verdade ele a perturbava como nenhum outro homem havia conseguido até então. Era a atitude imprevisível dele que conseguia esse efeito. Era muito desconcertante não saber nunca o que ele ia fazer ou dizer em seguida. Melanie tinha sempre achado fácil lidar com os homens, mas Bothwell era diferente, por alguma razão.

— Angus Cairney era meu pai — disse ele apertando os olhos enquanto a encarava intensamente.

— O quê? — Melanie sentiu as pernas fraquejarem. Sacudiu a cabeça, confusa. — Mas... mas os advogados! Eles nem sabiam que Angus fosse casado!

— Ele não era mesmo — disse Bothwell olhando-a, provocador. Melanie sentiu o sangue colorir suas faces violentamente. Torcia as

mãos, nervosa. Tinha certeza de que ele devia estar se divertindo com a perturbação dela. Apertou os lábios, tentando encontrar algo para dizer, mas a afirmação dele era irrefutável.

Parecendo abrandar um pouco, Bothwell desviou dela os olhos, passeando-os pela sala. Acendeu um cigarro e caminhou até a janela. Estavam fechadas por venezianas, mas era possível ver o exterior através das barrinhas de madeira. Ele ficou de costas um tempo, olhando para fora, e Melanie sentiu-se aliviada por ter aquele momento para se recompor. Mas, mais cedo ou mais tarde, ia encará-la de novo e teriam de continuar a conversa.

Quando ele pousou de novo os olhos nela, Melanie sentiu uma horrível sensação de inadequação. Pela primeira vez lamentou não ter esperado Michael para vir com ela. Essa situação nunca teria ocorrido se ele estivesse junto. Ele teria insistido em tomar todas as informações primeiro, para depois fazer uma visita oficial ao lugar. Não teria nunca compactuado com aquela invasão impulsiva de uma propriedade particular.

— E então? — disse Bothwell num gesto largo. — O que pretende fazer com isto?

— Eu... eu... Oh, não sei — disse, apertando os lábios para que não tremessem. — Acho... quer dizer... sinto que não tenho mais nenhum direito sobre este lugar...

— Ora, vamos, srta. Stewart — disse ele, apertando os olhos frios. — Poupe-me as formalidades. Estou bastante consciente de que abalei o seu coraçãozinho, mas não deixe que isso perturbe sua cabeça. Certamente McDougall e Price hão de concordar comigo, nisso pelo menos.

— Seu... seu pai fez um testamento...

—  É, eu sabia. Mas imagino que deve ter sido feito há muito tempo.

— Sim — disse Melanie. desviando os olhos, incapaz de sustentar o olhar dele. — Talvez tenha feito outro depois...

— Deve ter esquecido que fez o primeiro — disse Bothwell, encolhendo os ombros largos. — Ele já era velho. Não dava muita importância a esses assuntos.

— Mamãe só falou nele algumas poucas vezes. Nunca o conheci.

— Ela devia ser a única parente do velho. Ele nunca se casou.

— Mas sua mãe... — Melanie controlou-se imediatamente.

— Minha mãe já era casada. Com outro — explicou ele, rude. — Mas não acho que deva se preocupar com os detalhes do meu nascimento.

— Estou me sentindo tão mal...

— Por quê? — perguntou ele friamente. — Não podemos ser responsabilizados pelos atos dos outros. Vou deixá-la agora para examinar a sua propriedade. Só uma coisa, porém: quando resolver vender a casa, eu sou o primeiro pretendente.

— Oh, por favor... — Melanie voltou-se para ele, juntando as mãos num gesto que parecia de súplica. — Por favor, não vá. Eu... Bem, gostaria que ficasse.

— Por quê?

— Afinal... afinal somos quase parentes, não é? — perguntou, tirando o gorro de pele e deixando os cabelos caírem como uma cortina clara e brilhante em tomo de sua face corada. — Acho que podíamos ser amigos. Eu gostaria de seu conselho.

— Você não me parece o tipo de mulher que aceita conselhos de ninguém — disse ele, encostando-se indolente e elegante no batente da porta.

— Por que pensa assim? — perguntou, dominando a indignação.

— Deve haver alguém em Londres que a aconselhou a não vir para Cairnside nesta época do ano. Você usa anel de noivado. Será que seu noivo não se preocupa com você ou essa jóia é um mero adorno, usado apenas para causar curiosidade?

Melanie olhou para o diamante quadrado que Michael tinha lhe dado de presente. Estava tão acostumada a usá-lo que nunca pensou que alguém fosse notar.

— Sou noiva, sim — disse devagar. — Meu noivo realmente sugeriu que eu esperasse até a primavera para vir. Mas acho que dá para entender que fiquei preocupada em deixar a casa vazia durante todo o inverno.

— Podia ter contratado alguém para cuidar dela. Os advogados podiam cuidar disso.

— Não pensei nisso.

— Por que, exatamente, queria vir pessoalmente? — perguntou Bothwell, cruzando os braços.

— Minhas razões não pareceriam razoáveis à sua maneira fria de enxergar as coisas — respondeu, impaciente.

— Vamos tentar!

— Queria ver a casa porque nunca tive uma casa própria antes. Nem mesmo morei, nunca, numa casa, em toda a minha vida. Sempre vivi em apartamentos e estava pensando, talvez, em vir morar aqui. O que é uma grande bobagem.

— Entendo — disse Bothwell, tragando o cigarro. — E seu noivo? Ele concorda em mudar para cá?

— Eu... ainda não falamos sobre isso — disse Melanie com um gesto quase involuntário. — Ele também é advogado, em Londres.

— Pois devia falar com ele — observou secamente.

— Acha que estou sendo boba? — disse, corando ainda mais.

— Por quê? Por conversar com seu noivo?

— Não. Sabe o que quero dizer. Por pensar em ficar com a casa,

— Se eu concordar, você vai achar que tenho interesses pessoais, não é? — disse ele, atirando o toco do cigarro na lareira vazia.

— Dadas as circunstâncias, acho que devia me dizer o que pensa.

— Porquê?

— Na verdade, a casa é muito mais sua que minha.

— Ah, não, srta. Stewart. A casa é sua.

— Você está fazendo questão de não me entender — disse Melanie, fixando nele os olhos. — Para que queria a casa?

— Para morar nela. Para que mais?

— Se eu fosse um homem, podíamos talvez chegar a alguma espécie de acordo...

— Se você fosse um homem, esta situação não teria acontecido. Você simplesmente venderia a casa e não inventaria essa bobageira sentimental de ter um lar e etc. ...

— Como ousa dizer isso! Se eu resolver me mudar de Londres, isso é assunto só meu.

— Se quer tanto sair de Londres, talvez deva examinar melhor os motivos que a levam a isso. — Os olhos cinzentos brilhavam frios e provocantes. — Talvez a razão não seja Londres.

— O que quer dizer?

— Sinto muito, srta. Stewart — disse ele, voltando-se em direção à porta —, mas não tenho (empo para ficar aqui discutindo a manhã inteira. Algumas pessoas têm de trabalhar, sabia? Com licença.

Melanie ficou olhando enquanto ele avançava pelo corredor. Sentia o corpo tremendo e a respiração entrecortada. Sempre que se defrontava com aquele homem ficava nervosa depois.

Depois de alguns minutos conseguiu retomar o controle de si mesma e olhou em torno outra vez. Era bobagem deixar-se influenciar pela amargura dele. Além disso, não tinha certeza se queria ou não ficar com a casa. Michael teria de concordar e ela não conseguia vê-lo sujeito àquele tipo de clima.

Para ela o lugar parecia perfeito. Havia muita liberdade e muita vida animal por ali e seria ideal para escrever os livros infantis com que sonhava.

Continuou sua exploração, descobrindo que o andar superior era muito parecido com o de baixo. A casa eslava inteiramente mobiliada, mas se resolvesse morar ali ia ter de fazer muitas modificações. Parou um momento para pensar por que é que Bothwell estava dentro da casa. Sacudiu a cabeça: afinal, ele tinha presumido que a casa era dele, portanto podia estar ali quando quisesse.

Era meio-dia e meia quando saiu de Monkshood para ir almoçar no hotel. Nevava ainda pesadamente. Surpresa, tinha encontrado um molho de chaves sobre a mesa da cozinha. Eram sem dúvida as chaves de Bothwell. Mas teria preferido que ele tivesse ficado com elas. Parecia tão definitivo entregá-las assim. Não conseguia evitar a sensação de culpa que a invadia naquele momento.

Caminhando sobre a neve macia, surpreendeu-se ao ver um carro esporte ultra-modemo parado em frente ao hotel, todo sujo de lama gelada. Parecia tão inadequado ao lado do enorme jipe! De quem seria? Talvez de algum outro hóspede.

O almoço era servido à uma, portanto teria tempo de ir até seu quarto para lavar o rosto e trocar de roupa. Não havia ninguém na recepção, mas ouviu vozes vindas do bar. Devia ser o dono do carro, tomando um drinque.

Quando tomou a descer foi diretamente para a sala de jantar e encontrou as irmãs Sullivan conversando com o outro senhor, perto do fogo. Elas a cumprimentaram muito sorridentes e apresentaram-na ao outro hóspede. O nome dele era Ian Macdonald e perguntou logo onde é que ela tinha ido para estar tão corada.

— Fui visitar Monkshood — disse, sorrindo para Jane. — A senhora disse que ficava perto da aldeia e consegui achá-la com facilidade.

— Ah, é? — Jane Sullivan disse, levantando as sobrancelhas em pretensa indiferença.

— Monkshood — ponderou Macdonald. — Por que uma moça como você estaria interessada num lugar velho daqueles? Foi posta à venda, afinal? Sean não falou que ia vender!

Melanie percebeu o olhar significativo que Elizabeth lançou para o homem, mas ele não se importou.   

— Ora, Elizabeth — protestou — todo mundo sabe que Sean é o dono de Monkshood. Pois não foi só isso que ele herdou do velho Angus. Ele é esperto demais.

Melanie abaixou a cabeça. Diante de tudo aquilo não podia revelar que Monkshood era dela. Ficou aliviada quando viu a criada entrar com as primeiras bandejas de almoço, e todo mundo se acomodou, cada um em sua mesa. Alaister sentou-se com Ian Macdonald e as irmãs Sullivan falavam sem parar. Melanie ficou contente por não ter de dizer mais nada.

A comida estava ótima. Uma sopa grossa seguida de um filé apetitoso, com torta de rins. A sobremesa era uma torta de maçã com creme. O menu podia não ser muito inspirado, mas era muito bem preparado c saboroso. Se continuasse comendo assim, ia acabar engordando.

Depois do almoço os outros hóspedes foram para seus quartos, mas Melanie sentou-se diante do fogo com sua segunda xícara de café.

Agora que já tinha visto a casa e feito sua própria avaliação, nada mais a detinha em Cairnside. Podia retornar a Londres como tinha planejado. Era boa a sugestão de Bothwell. Podia arrumar alguém para cuidar do prédio. O único problema que restava era apanhar seu carro, ainda na estrada. Claro que podia ir de trem e mandar buscar o carro depois, quando o tempo estivesse melhor, mas não queria isso, sem saber bem por quê. Talvez dentro de uns dois dias conseguisse encontrar alguma oficina que pudesse desencalhar o carro e, enquanto isso, podia se divertir tirando medidas para cortinas, tapetes, essas coisas.

Suspirou, olhando a neve que caía ainda pesadamente nas. janelas da sala de jantar. Se Michael soubesse de tudo ia exigir que ela voltasse imediatamente, mas ela não tinha nenhuma pressa. A não ser por suas discussões com Bothwell, estava se divertindo ali, e a neve, apesar de tudo, era uma novidade. Só voltaria a Londres quando se sentisse absolutamente pronta para isso.

De repente ouviu ruído de vozes e a porta se abriu. Bothwell entrou, acompanhado de uma moça que Melanie nunca tinha visto antes. Era tão alta quanto Melanie, mas mais magra. A tal ponto que o rosto era quase encovado. Os cabelos eram quase brancos de tão loiros e acentuavam ainda mais a palidez de sua pele. Apesar de não ser feia, suas roupas eram tão deselegantes que ela chamava atenção. Estava dependurada no braço de Bothwell, olhando-o com um ar de adoração.

Melanie sentiu de repente que não devia estar ali testemunhando a cena. E Bothwell a fez sentir ainda mais inadequada quando pousou nela os olhos frios. Melanie pensou em se levantar e sair, mas isso chamaria a atenção deles para ela. Em vez disso, encolheu mais as pernas e voltou o rosto para os troncos que queimavam perfumados na lareira.

Bothwell soltou-se da menina e pegou-a pela mão, arrastando-a até onde Melanie estava.

— Jennie, quero apresentá-la a uma nova hóspede do Black Bull. A srta. Stewart.

Melanie viu-se forçada a voltar-se e encará-los, pondo-se de pé, consciente do olhar com que Sean a examinava dos pés à cabeça.

— Como vai? — disse a moça, apertando calorosamente a mão de Melanie. — Meu nome é Jennifer Craig.

Melanie apenas sorriu.

— Eu moro perto daqui, depois da aldeia, às margens do lago — prosseguiu a moça. — Vai ficar muito tempo?

— Não. Creio que não — respondeu Melanie, surpresa com a franqueza da menina. — A menos que o tempo me prenda aqui.

— É. Está ruim mesmo, não é? — Jennifer riu. — Eu estava dizendo para Sean que a gente devia fazer uma festa sobre patins, se o lago congelar. Mas, sabe, a gente já está acostumado com esse tempo. Não é, Sean?

— É. É verdade — confirmou Bothwell, olhando para Jennifer com uma expressão tão doce que Melanie sentiu um aperto na garganta.

Ele nunca olharia para mim com tamanha ternura, pensou. E imediatamente tomou consciência do que tinha pensado, sentindo-se incômoda.

— Está de férias, srta. Stewart?

— Não exatamente... — Melanie disfarçou.

— A srta. Stewart veio para ver Monkshood — disse Bothweil, pousando novamente os olhos frios em Melanie.

— Monkshood? — perguntou Jennifer, surpresa. — Está interessada em casas antigas, é?

Mas antes que Melanie pudesse responder, Bothwell tomou a iniciativa.

— A srta. Stewart é a nova proprietária de Monkshood — informou ele, frio e cortante.

— Quer dizer... quer dizer que Angus, afinal de contas, tinha parentes? — perguntou Jennifer.

__ Um — acrescentou ele, sem nenhuma expressão.

— Oh, Sean! —exclamou Jennifer, olhando-o preocupada.

— Não fique tão abalada, Jennie — ordenou Bothwell, passando o braço pelos ombros magros da mocinha. — A srta. Stewart ainda pode resolver me vender a casa.

Jennifer suspirou e voltou-se para Melanie.

— Oh, faria isso, srta. Stewart? Nós... quer dizer, Sean queria tanto aquela casa.

— Eu... ainda não decidi o que vou fazer com a casa — disse Melanie, sincera, apertando as mãos juntas.

— O sr. Cairney sempre dizia que a casa ia ser de Sean um dia — contou Jennifer, emocionada.

— A srta. Stewart não está interessada nas razões por que queremos a casa — interrompeu ele rudemente. E, voltando-se para Melanie, concluiu; — Acho que vai partir logo, agora que já viu a casa, não?

— Também não resolvi isso ainda — exclamou, surpresa com a

expressão do rosto dele.

— Pois devia resolver logo — disse ele, duro. — O tempo está piorando e a previsão não é nada boa.

— Você deve ter esquecido que o meu carro ainda está lá na estrada —

respondeu, irritada.

— Não, não está — disse Bothwell, pegando um cigarro. — A oficina de Rossmore localizou o carro hoje de manhã. Deve estar sendo rebocado para cá agora.

— Mas... mas a moça do balcão disse que eles não iam poder... — Melanie estava desapontada.

— Falei com o gerente — explicou ele com um olhar pesado — e disse que você queria partir logo por causa do estado das estradas.                      

— Não me lembro de ter-lhe comunicado quanto tempo eu pretendia ficar aqui — disse, sentindo vontade de bater o pé no chão de tanta raiva. — Acho que devo lhe agradecer por ter cuidado do carro, mas ainda não sei quando é que vou partir.

Jennifer assistia à discussão com um ar muito preocupado. Melanie caminhou para a porta. Não tinha por que ficar discutindo algo que dizia respeito exclusivamente a si mesma.

Mas Bothwell chegou à porta antes, apoiando a mão na madeira escura, impedindo-a de sair.

— Se está preocupada com o estado da casa durante a sua ausência, não precisa ficar — aconselhou-a friamente. — Cuidei do lugar durante estes três meses, desde que Angus morreu, e posso continuar cuidando até que você resolva o que vai fazer.

— Obrigada, sr. Bothwell, mas há algumas coisas que quero fazer pessoalmente antes de partir.

— O quê, por exemplo?

— Não acho que tenha de lhe dar satisfações, mas, se quer saber, pretendo fazer uma limpeza na casa! — Não era verdade, mas Melanie não estava disposta a permitir que ele a mandasse embora de Cairnside a seu bel-prazer.

— Mas, srta. Stewart — interrompeu Jennifer. — Não pode fazer isso sozinha. A casa precisa de uma faxina completa. Está imunda!

— Isso não me assusta — disse Melanie, conseguindo sorrir. — Não fujo de trabalho pesado, srta. Craig. Na verdade, vou até achar divertido. Agora, se me dão licença...

Lançou um olhar provocante a Bothwell. Ele tirou a mão da porta, mas um lampejo brilhou em seus olhos diante da recusa de Melanie. Ela sorriu mais uma vez para Jennifer, saiu e fechou a porta.

Só quando estava subindo as escadas foi que percebeu quanto tremia. Entrou no quarto, mas não foi capaz de sentar-se. Caminhou de um lado para o outro. Por que é que Bothwell queria tanto que ela fosse embora logo? Que mal podia lhe fazer se ficasse ali? É claro que sentia por ele ter perdido a casa que dava como certa, mas ele não acreditaria nunca em seus sentimentos. E Melanie nada podia fazer contra aquele frio ressentimento dele. Era evidentemente um homem orgulhoso e arrogante, que não aceitaria nada de alguém como ela.

Desde o começo a atitude dele tinha sido de impaciência não disfarçada e deixava sempre claro que considerava-a irresponsável por não seguir os seus conselhos. Mas na verdade nunca tinha dado conselhos. Tinha dado ordens e era por isso que ela reagia tão violentamente contra ele. Bothwell não tinha nenhum direito de dizer a ela o que devia ou não fazer. E não tinha também o direito de considerá-la tola e sentimental só porque tinha confiado a ele quanto desejava uma casa própria.

Caminhou até a janela. A melhor coisa a fazer seria retornar a Londres imediatamente, como ele havia dito. Agora que já tinha garantido que a casa ia ser bem cuidada, podia deixar seus planos para a primavera, quando seria bem mais fácil convencer Michael de que a casa era linda. Além disso, ele poderia vir com ela da próxima vez. Seria muito animador.

Olhou em volta, examinando o quarto. Um enorme ressentimento crescia dentro dela. Não queria partir. Queria ficar e limpar a casa, exatamente como tinha inventado há pouco lá embaixo. Queria abrir as janelas para arejar as salas, queria ver fumaça saindo das chaminés e tudo limpo, brilhando.

Sua cabeça funcionava a todo vapor. O editor esperava que voltasse até o fim da semana, mas os rascunhos das ilustrações já estavam quase prontos e podiam esperar mais um ou dois dias. Considerando o número de quartos da casa, uma semana havia de ser suficiente para uma faxina completa. Conseguiria aplacar Michael por esse tempo. Além disso, ele estava muito ocupado e não ia sentir muito a falta dela.

Enfiou as mãos nos bolsos da calça. Sentia-se a cada momento mais animada com aqueles planos. Queria começar agora mesmo.

Desceu, decidida, e tocou a campainha da recepção. A moça loira surgiu da porta e sorriu ao ver que era Melanie.

— Quer a sua conta? — perguntou, já procurando entre os papéis do balcão.

— Não — respondeu com firmeza. — Quero apenas comunicar que vou ficar mais uma semana.

— Uma semana, srta. Stewart? — perguntou a moça. surpresa. — Mas seu carro acaba de ser trazido. Está aí fora. Sean tinha dito que a senhora ia embora amanhã de manhã.

— Acho que o sr. Bothwell se enganou — disse claramente, comprimindo os lábios, controlando a raiva. — Resolvi ficar.

— Bom, então vou ter de perguntar a Sean se não tem problema — disse a moça, confusa.

— Então pergunte — disse Melanie, respirando fundo. — E diga também a ele que, caso se recuse a me receber aqui no hotel, eu terei de ir morar em Monkshood!

 

 

                                        CAPITULO IV

 

Melanie se vestiu com cuidado para o jantar daquela noite. Por alguma razão sentia vontade de demonstrar a Sean Bothwell que sua irritabilidade não a afetava em nada. Pretendia manter seu ar de indiferença quando se encontrasse de novo com ele.

Escolheu um vestido de veludo cor de vinho. Era longo e reto, moldando seus seios de forma a realçá-los e caindo depois em dobras fartas até os tornozelos. O cabelo, repartido no meio, caía macio em volta do rosto, dando-lhe um ar bastante descontraído, uma vez que a única maquilagem que usava era uma sombra violeta enfatizando os olhos.

Satisfeita com a própria aparência, desceu os degraus até a sala de jantar. Foi saudada com alegria pelos dois velhos, que a olharam com visível admiração.

— Helen nos disse que você vai ficar mais uns dias — disse Ian Macdonald, levantando-se à entrada dela.

— Helen? — perguntou Melanie. — Ah, sim, a recepcionista. É. Vou ficar mais uma semana.

— Que foi que a fez mudar de idéia? — perguntou Elizabeth Sullivan, interessada. — O sr. Bothwell tinha dito que ia ficar só uns dois dias...

— Acho que gostei daqui — conseguiu dizer, sem demonstrar emoção. — Ainda está nevando?

Não estava. O céu estava claro, brilhante, pela primeira vez desde que ela deixara Fort William, no dia anterior. Sua pergunta teve exatamente o efeito que ela esperava — mudar o rumo da conversa —, e quando Alaister começou a dizer que achava que o lago logo ia congelar, todo mundo se esqueceu das razoes que poderiam ter provocado a permanência de Melanie em Cairnside.

Depois do jantar Melanie resolveu chegar até o bar. A coisa mais forte que tinha tomado desde que saíra de Londres fora café, e de repente sentiu vontade de tomar algo alcoólico.

O bar estava quase vazio quando ela entrou. Havia um rapaz bastante jovem atrás do balcão curvo, de madeira polida, cheio de luzes coloridas. Era um alívio ver alguém jovem por ali e Melanie sorriu para ele, pedindo um licor.

— Você é a srta. Stewart, não? — perguntou ele, servindo a bebida.

— Sou, sim — respondeu, apoiando o rosto na mão. — E você, quem é?

— Sou Jeffrey Bothwell. Irmão de Sean.

— Ah! — ela disse, meio surpresa. — Não sabia que ele tinha um irmão.

— Nem podia mesmo. Você só chegou ontem, não foi? E eu estava de folga. Passei a noite com uns amigos e só voltei hoje de manhã.

— Não vim ao bar ontem à noite — disse Melanie, virando o cálice entre os dedos. Queria saber mais. — Você gosta de trabalhar aqui no hotel?

— É bom. Trabalho só meio período. Estou numa escola de Glasgow, mas como estou de férias vim dar uma mãozinha. O hotel é negócio de família. Você deve ter conhecido minha irmã também.

— Irmã?

— É, a Helen. Ela fica sempre na recepção.

— Ah, claro — respondeu Melanie, surpresa.

— Nós todos ajudamos — disse o rapaz, polindo os copos. — Mas o hotel é de Sean agora. Ele é o filho mais velho.

O filho mais velho!

Essas palavras ecoaram na mente de Melanie. Intrigada, ela repetia a frase para si mesma quando percebeu que não estavam mais sozinhos. Havia entrado um homem alto. muito moreno, parecendo muito elegante e imaculado num smoking impecável e camisa branca brilhante. Era Sean Bothwell.

— Boa noite, srta. Stewart — disse polidamente, parando ao lado dela. — Creio que deixou um recado para mim com Helen.

Melanie teve de fazer um esforço para se controlar, pois todos os seus sentidos exigiam que colocasse a maior distância possível entre eles. Era-lhe impossível ficar insensível à presença perturbadora dele, sobretudo quando a olhava tão intensamente, com aqueles olhos cinzentos, estranhos, avaliando insolentemente a qualidade de seu vestido, detendo-se por um longo momento na alvura de seu colo e pescoço. Ela se viu encarando-o, numa tentativa de enfrentar aquela segurança com igual força. Mas aqueles ombros largos e a potência dos músculos que apareciam debaixo do tecido caro da roupa a excitavam, fazendo com que corasse involuntariamente.

Confusa e apressada, pegou o copo e tomou um gole grande, quase engasgando. Ele apenas esperou que ela ficasse mais controlada.

— Helen me disse que pretende ficar mais uma semana.

— É verdade — concordou, olhando novamente para ele. — Se isso não o incomoda.

— Por que incomodaria? — perguntou, sentando-se no banquinho ao lado dela e apertando os olhos num sorriso provocador.

Por alguma razão ele estava decidido a desconcertá-la. Ela, no entanto, preferia a arrogância dele do que aquela faceta nova, que lhe parecia mais perigosa. Talvez ele tivesse percebido que brigando com ela não conseguiria o que queria, tendo, portanto, optado por outros métodos para forçá-la a ir embora.

Jeffrey se afastou para atender outros clientes, deixando-os a sós. Melanie suspirou. Tomou mais um gole e se concentrou nas luzes coloridas do bar. Mas era inútil porque podia sentir o olhar dele o tempo todo. Tudo o que queria era que a deixasse e fosse atender aos outros clientes.

— O que é que está esperando, sr. Bothwell? — perguntou, irritada, voltando-se para ele. — Já confirmei o que tinha dito a Helen. Isto encerra o assunto.

— Achei que podíamos conversar — disse, inclinando a cabeça de lado e olhando-a ainda mais intensamente.

— Sobre o quê?

— Sobre o nosso relacionamento, talvez. Ou quem sabe sobre Monkshood.

— O senhor não quis falar disso antes, por que é que mudou de idéia de repente?

— Talvez eu esteja começando a perceber quanto você é decidida, srta. Stewart — disse ele, apertando os olhos de novo, com aqueles cílios enormes. — E então? O que me diz?

Melanie mordeu o lábio. Estava dividida entre a vontade de se afastar o mais que pudesse daquele homem perturbador e o desejo igualmente forte de tentar explicar a ele o que realmente sentia a respeito de Monkshood. Nb fim das contas, não deviam ser inimigos, pois não havia absolutamente razão para isso.

— Muito bem, então falemos sobre Monkshood — disse ela finalmente, ainda cheia de dúvidas. — Talvez a gente possa chegar a alguma espécie de acordo.

— Não aqui — disse ele, pondo-se de pé. — Prefiro conversar em particular.

— Oh, mas... acho que... não... — disse, confusa, arregalando os olhos.

— Vamos, srta. Stewart, não vai me dizer que tem medo de tomar um drinque sozinha comigo. — Ele deu a volta e entrou no balcão. — O que é que gosta mais? Uísque? Rum? Conhaque? Gim?

— Não quero nada, não, obrigada. — Melanie sentia-se inquieta.

— Ora, vamos, você deve gostar de alguma coisa. — Ele sorriu. — Uisque e gelo, não?

— Eu estou cansada, sr. Bothwell. — Melanie suspirou. — Talvez devêssemos deixar nossa conversa para outra hora.

Bothwell parou diante dela com uma garrafa de uísque e dois copos na mão, olhando-a intensamente.

— Está com medo de mim, srta. Stewart?

— É claro que não — disse Melanie, tomando o último gole de seu licor.

— Ótimo. Então vamos?

Ele indicou com um gesto que ela devia ir na frente e saíram ambos para a recepção. Alguém tinha deixado a porta da frente aberta e um vento gelado soprava de fora. Bothwell pousou a garrafa e os copos no balcão de recepção e foi fechar a porta, enquanto Melanie cruzava os braços sobre o peito, tremendo tanto de frio quanto de apreensão.

— Pensei que ia fugir de mim — disse, sardônico, ao voltar para o lado dela.

— Oh, por favor, sr. Bothwell, pare de querer brincar de gato e rato comigo. Estou certa de que o senhor deve ser um adversário bastante experiente, mas não gosto de jogos!

— E mesmo, srta. Stewart? Que pena. Pensei que todas as jovens emancipadas gostassem de se aventurar, verbalmente, pelo menos, em território masculino.

— Para onde vamos? — perguntou, olhando em torno, recusando-se a se deixar intimidar.

Bothwell deu a volta ao balcão, pegou as garrafas e abriu a porta.

— Aqui, srta. Stewart. Quer entrar?

Ele ficou no batente, esperando que ela passasse e entrasse na sala iluminada apenas pela lareira. Ela olhou em volta, nervosa, quando ele fechou a porta, mas Bothwell não fez nada demais. Apenas colocou a garrafa e os copos na mesa e acendeu um abajur que encheu o ambiente de uma luz dourada.

Era uma sala confortável, pequena e bem arrumada, com o equipamento de um escritório misturado a coisas mais caseiras. Além da grande escrivaninha e de dois arquivos, havia duas grandes poltronas de couro vermelho-escuro, ligeiramente gastas, mas muito confortáveis, e um divã antiquado acolchoado em veludo verde-musgo. A mesa estava cheia de papéis, numa espécie de bagunça organizada. A única coisa que parecia deslocada naquele ambiente era o telefone.

Melanie circulou lentamente pela sala, sentindo o calorzinho gostoso do fogo da lareira, enquanto Sean enchia os copos. Aceitou o seu copo e ficou parada, incerta, ao lado do fogo que crepitava, cheirando a resina.

— Sente-se — convidou ele, indicando uma das poltronas vermelhas e tragando metade do drinque num gole só.

Melanie hesitou um pouco, depois obedeceu, deixando o copo sobre a lareira. Não ia beber nada.

— Diga-me uma coisa — disse ele depois de terminar o uísque, enquanto se servia de outro. — Que preço acha que pode conseguir por Monkshood?

— Não sei — respondeu, surpresa. — Imagino que não seria muito alto.

— Cinco mil libras?

— Talvez. Mas acho um pouco demais. Quatro mil é mais possível.

— Sei — disse Bothwell, tragando de novo o uísque num gole só. — Quatro mil, é? Então, se alguém oferecesse oito mil, você acharia essa uma oferta generosa?

— Oito mil?! — exclamou, incrédula, encarando-o. — Ninguém ofereceria oito mil libras por Monkshood!

— Eu ofereço.

— O quê?! Você está brincando!

— Não. Não estou, não — respondeu, olhando-a muito intensamente. — Foi por isso que a chamei aqui. Queria fazer a proposta.

Melanie, que tinha se levantado, caminhou até a lareira e pegou o copo de uísque. Precisava de um gole, agora, para reanimá-la do susto. Não podia acreditar. Bothwell eslava oferecendo oito mil libras por uma propriedade que não valia nem a metade.

Esvaziou o copo e ele veio até ela, pegando-o de sua mão para enchê-lo de novo. Ela aceitou o novo drinque automaticamente, mas não bebeu logo.

— Por que faz tanta questão de Monkshood? — perguntou depois de longos momentos de silêncio. — Na certa deve haver outras casas por aqui. Por que Monkshood?

— Tenho as minhas razoes — respondeu ele secamente, servindo-se de mais um drinque. — Monkshood é conveniente, além de ser a única casa grande por aqui. Pelo menos é a única que está desocupada.

— Está me colocando um problema difícil, sr, Bothwell.

— Por quê?

— Porque eu não quero vender Monkshood.

— Pelo amor de Deus! — disse ele, batendo a mão na testa. — Por quê? Com oito mil libras você pode comprar uma casa de campo perto de Londres, que seria muito mais conveniente para você do que Monkshood.

— Não está entendendo, sr. Bothwell — respondeu ela, depois de tomar um gole. — Gosto da casa. Gosto desta área. Já lhe disse antes, não quero viver perto de Londres.

— Você está louca! — disse, violento, virando mais um gole da bebida. — O que é que essa casa pode significar para você?

— Significa algo que posso chamar de meu pela primeira vez em toda a minha vida! — respondeu ferozmente,

— Mas qualquer outra casa serviria — interrompeu ele, impaciente. — Você não tem nenhum vínculo especial com este lugar. Se eu tivesse lhe dito que aquela casa não era Monkshood e tivesse lhe mostrado qualquer outra casa, você nem teria notado a diferença.

— Teria, sim — respondeu depressa. — Olhe, você tem uma família com você. Irmãos, irmãs. Eu não tenho ninguém. Meus pais já morreram e eu era filha única. Para mim, Monkshood representa uma ligação com o passado, com minha mãe. Pelo menos pertencia a alguém que tinha o meu sangue, ainda que remotamente.

— Baboseira sentimental! Nunca ouvi tamanha bobagem em toda a minha vida. E você está pensando que o seu inestimável noivo, com a sua clientela elegante em Londres, vai acabar concordando em viver numa casa no meio das montanhas, a quilômetros de distância de qualquer sofisticação civilizada?

— Michael pode não concordar em viver na Escócia — respondeu, tremendo. — Estou preparada para enfrentar esse fato, mas isso não quer dizer que eu tenha de vender a casa. Podíamos mantê-la para passar férias e coisas assim...

— E ficaria absolutamente vazia durante o resto do ano todo!

— Isso. E era sobre isso que eu queria falar com você. Queria sugerir que fizéssemos um acordo para que ambos...

— Ah, pare com isso, por favor! — disse ele, selvagem. — Eu não quero nenhum acordo. Quero Monkshood e, juro por Deus, farei o impossível para conseguir aquela casa!

Com as pernas trêmulas, Melanie não esperou mais nada. Passou por ele, abriu a porte e saiu para a recepção. Estava muito mais frio ali fora, mas ela nem notou. Suas faces e todo o seu corpo estavam queimando. Como tinha podido imaginar que seria possível conversar com aquele homem? Ele era impossível, absolutamente intolerável.

Largou o copo pela metade em cima do balcão e subiu para o quarto. Atirou-se na cama. Sempre que falava com Bothwell sentia-se mole depois. Ele tinha a capacidade de reduzir todos os argumentos dela a uma tentativa infantil de ser adulta. E isso ninguém, nem mesmo Michael, com aquela cabeça treinada para os tribunais, jamais tinha conseguido fazer com ela.

Apagou a luz e caminhou até a janela. Abriu as cortinas. As estrelas brilhavam no céu negro. Na escuridão, a neve reverberava, revelando as formas das montanhas que dominavam tudo. Era sorte não se afetar nos espaços fechados, pois as montanhas, naquela noite, pareciam muito opressivas. Mas talvez fosse apenas a lembrança do que tinha acontecido que a fazia sentir-se assim. Fosse o que fosse, estava a ponto de chorar e em sua cabeça não via nenhuma razão plausível para isso.

Na manhã seguinte, as coisas pareciam melhores. A neve não estava derretendo e o ar estava frio e fino. Depois de tomar o café da manhã, Melanie vestiu roupas quentes e saiu para examinar seu carro. Tinha dado uma olhada no dia anterior, assim que o tinham trazido, mas agora queria ligar o motor e certificar-se de que ainda andava.

Não conseguia fazer o motor pegar, quando Jeffrey Bothwell saiu do hotel. Vestia um suéter vermelho e uma calça preta, os cabelos negros meio agitados pelo vento e por um momento ela pensou que fosse Sean. Quando chegou mais perto, viu que não era ele e saltou do carro.

— Entende de motores?

— Algum problema? — perguntou, chegando até ela.

— Acho que sim.

— Abra o capô. Vou dar uma olhada.

Melanie voltou para dentro do carro, puxou a alavanca e Jeffrey abriu o capô. Olhou lá dentro com um ar de sabichão. Melanie, de pé a seu lado, mexia-se sem parar para não sentir frio, esperando, impaciente, o veredicto,

— As velas estão molhadas — disse ele, afinal. — Sean disse que o carro ficou fora durante a noite, não é?

— É

— Então. A umidade invadiu o motor. Vai ter de esperar um pouco de sol para a coisa secar. Talvez amanhã já esteja tudo bem. Mas se ficar dando partida assim, vai acabar com a bateria.

— Muito obrigada — disse Melanie, batendo a tampa do capô e mordendo o lábio, nervosa.

— Qual é o problema? Está precisando do carro?

— Claro — respondeu, dando uma olhada no jipe. — Quero ir até a aldeia comprar umas coisas.

— Bom, não olhe para mim — disse Jeffrey, encolhendo os ombros. — Eu não tenho carro.

— Não? Melanie suspirou. — Sabe dirigir?

— É claro. Mas se está pensando em pedir o jipe emprestado é bobagem sua. Sean não ia emprestá-lo para mim.

— Sei. Acha que para mim ele empresta?

— Ninguém pega o jipe dele — declarou Jeffrey, definitivo. — Dá para ir andando. Não é longe.

— Não é a distância o problema — ela explicou. — São as coisas que vou comprar. Vai ser pesado para trazer de volta.

— Por quê? O que é que vai comprar?

— Tinta — revelou. — E equipamento de limpeza.

— Tinta? Equipamento de limpeza? — Jeffrey estava perplexo, sem entender nada.

De repente Melanie viu o carro esporte de Jennifer Craig subindo a estrada em direção ao hotel. A moça parou ao lado deles e desceu, sorridente.

— Oi. Vocês dois estão com uma cara! O que foi que aconteceu?

— Meu carro não quer pegar — disse Melanie, conseguindo sorrir. — O sr. Bothwell disse que as velas estão úmidas.

— Sr. Bothwell! Chame-me de Jeffrey, por favor — exclamou ele rindo. — Você entende de mecânica, Jennie?

— Não. Nada! —Jennifer riu.

Vestindo saia de tweed, jaqueta de pele e botas grossas, a mocinha estava mais deselegante que nunca, mas era agradável e Melanie concluiu que gostava dela.

— Mas talvez eu possa dar uma mão — continuou Jennie. — Onde é que quer ir?

— É muita gentileza sua — disse Melanie, mordendo o lábio. — Quero comprar umas coisas na aldeia, só isso.

— Está bem. Entre. Eu a levo.

— Ei, e eu? — exclamou Jeffrey, fazendo Melanie supor que ele devia ter algum encontro com Jennifer.

— Só tem dois lugares, Jeffrey — respondeu Jennifer. — E você não está querendo ir até a aldeia, está?

— Não — respondeu, encolhendo os ombros.

— Então. A gente volta logo. Entre e vá pedir para Josie lhe fazer um café. Ela vai adorar.

Jeffrey ameaçou dar um soco nela de brincadeira e, soltando um gritinho, Jennifer entrou no carro, abrindo a outra porta para Melanie.

Ela deu uma olhada para Jeffrey e entrou. Em um segundo estavam rodando.

Jennifer dirige bem, no estilo de Sean Bothwell, pensou Melanie, tentando achar alguma coisa para dizer.

— Está precisando de muitas coisas? — perguntou Jennifer, salvando a situação. — Devo avisar que as lojas aqui são muito simples. Só têm o essencial.

— Mas devem ter o que eu quero, sem problemas — respondeu, sorrindo. — Preciso de líquidos para limpeza, panos, essas coisas. E um pouco de tinta também.

— Desculpe a curiosidade — Jennifer olhou-a com o rabo dos olhos —, mas essas coisas são para Monkshood?

— São.

— Ótimo.

Melanie arregalou os olhos, surpresa, e voltou-se para a moça.

— Você não se importa? Quer dizer... eu achei que...

— Achou que só porque Sean quer a casa eu ia ficar chateada por você arrumá-la, não é? Mas não é assim, não. Eu mesma já tentei mil vezes fazer uma limpeza lá, mas Sean não deixa. Acho uma idéia maravilhosa.

— Ainda bem! — Melanie suspirou, relaxando. — Achei que estaria sendo meio desonesta aceitando a carona.

— Que bobagem. Estou até gostando de poder ajudar. Seu carro deve estar funcionando de novo amanhã. Já resolveu até quando vai ficar?

— Bom, eu pretendo ficar até Monkshood estar habitável de novo — explicou Melanie. —Talvez uma semana...

— Sei.

Estavam chegando à aldeia e Melanie viu que era bem pequena. Havia uma rua principal, de casas estreitas, uma pequena escola, a igreja e as duas ou três lojas que Jennifer tinha mencionado. A esquerda da rua, por entre as casas, Melanie viu pela primeira vez o lago Cairnross e olhou interessada quando Jennifer apontou sua própria casa, na outra margem do

lago.

— Você devia ter vindo no verão — comentou Jennifer, suspirando. — A gente nada, faz esqui aquático. Sean tem um bote.

Melanie apertou os lábios. Gostaria de dizer que estaria sempre em Monkshood, de agora em diante, mas não teria sido gentil, apesar das coisas que Jennifer tinha dito.

A mulher que cuidava da loja maior era muito atenciosa e, apesar de estar obviamente curiosa para saber quem era Melanie e por que queria todos aqueles pós, líquidos de limpeza e a tinta, a presença de Jennifer parecia intimidá-la, impedindo-a de fazer muitas perguntas.

Voltaram carregadas de pacotes para o carro.

— Não sei o que teria feito sem a sua ajuda. — Melanie riu por cima de uma caixa de detergente. — Obrigada mais uma vez.

— Esqueça — respondeu Jennifer. — Eu até que estou me divertindo. Acho gozadíssimo quando a sra. MacPherson fica tentando descobrir as coisas com meias palavras. Ela estava morrendo de vontade de saber o que é que uma turista como você pode fazer com coisas de limpeza. Aposto que vai espalhar pela aldeia inteira que o hotel de Sean está tão sujo que os hóspedes agora têm de limpar seus próprios quartos.

— Você está brincando! — exclamou Melanie.

— Talvez não — disse Jennifer, rindo enquanto abria a porta do carro. — Jogue tudo aí atrás. A gente arruma quando chegar na casa.

— Na casa? — perguntou Melanie, incerta, sentando-se em seu lugar.

— Claro. A gente já pode deixar tudo em Monkshood. Você não vai querer carregar tudo para lá depois, vai?

— Bom, não... — Melanie mordeu o lábio. — Mas será que... o sr. Bothwell não vai ficar bravo?

— E daí? Que fique! — Jennifer deu de ombros, ligando o motor. — Ele não manda em mim, sabia?

Melanie sentiu-se tentada a perguntar qual era exatamente a relação de Jennifer com Sean Bothwell, mas sentiu-se igual à sra. MacPherson, reprimindo-se por causa da atitude de Jennie.

Os portões estavam abertos e Jennifer entrou direto, indo parar diante da porta da frente.

— Tem as chaves? — perguntou.

— As chaves? — Melanie procurou nos bolsos o molho que Sean Bothwell tinha deixado para ela. — Aqui. Sabe qual é a da porta da frente?

— Deixe ver. — Jennifer saiu do carro, levando as chaves, e Melanie foi atrás. A mocinha descobriu logo qual era a chave certa e a porta se abriu rangendo.

— Meio impressionante, não? — comentou Jennifer enquanto ajudava Melanie a descarregar os pacotes. — O velho Angus não gastava nem um tostão que não fosse absolutamente indispensável na casa. Tinha de estar tudo caindo aos pedaços para ele cuidar de arranjar alguém para uma faxina. Mas também, coitado, ficou preso na cama durante os dois últimos anos de vida.                      

— É mesmo? — Melanie estava intrigada. — Continue. Conte-me mais sobre ele. Na verdade eu sei muito pouco.

Enquanto levavam todos os pacotes para a mesa da cozinha, Jennifer foi contando o que sabia sobre o parente da mãe de Melanie. Explicou que ele tinha nascido em Monkshood e vivido ali toda a sua vida, a não ser por um breve intervalo durante a Segunda Grande Guerra, quando tinha se alistado na Marinha.

— Parece que ele era muito atraente — continuou Jennie. — Papai diz que era maravilhoso de uniforme. Acho que deve ter sido mesmo, porque...

— Por quê? — insistiu Melanie quando a moça se interrompeu. Jennifer apertou os lábios e deu de ombros.

— Nada. Bom, isto é tudo?

— Acho que sim. — Melanie suspirou. — Acabei de trazer os últimos três.

— Por onde vai começar? — perguntou Jennifer, olhando para o teto,

pensativa.

— Acho que pela cozinha mesmo — respondeu Melanie, voltando os pensamentos para o trabalho que tinha a enfrentar. — A mim me parece o lugar mais lógico para arrumar primeiro. Acho que qualquer faxineira começaria pelo andar de cima, descendo aos poucos, mas quero arrumar a cozinha logo para poder fazer funcionar o aquecimento. Sabe acender esse fogão?

— Ah, sei, sim — respondeu Jennifer, olhando o enorme fogão de lenha. — A gente tinha um desses em casa há alguns anos. Acho que consigo acender sem problema. — Deu um suspiro. Depois, parecendo ter uma súbita idéia, perguntou: — Olhe, será que você não quer que eu ajude? Quer dizer, com duas trabalhando as coisas andam mais depressa, e posso fazer as coisas que não daria tempo para você fazer sozinha...

— Nossa — disse Melanie, encarando a mocinha —, acho que os seus pais ou... ou Bothwell não haveriam de deixar você me ajudar aqui. É um trabalho pesado.

— Eu não tenho medo de trabalho pesado, não. — Jennifer riu. — Da mesma forma que você, eu ia ficar muito satisfeita de botar esta casa brilhando.

— Mas... mas... — Melanie abriu os braços sem saber o que dizer.

— Nada de mas! — disse Jennifer, rindo bem-humorada. — Quer que eu ajude ou não?

— É claro que eu quero. Mesmo que não fosse para trabalhar, adoraria ter companhia. Esta lugar é solitário e, como você disse, meio impressionante.

— Então, tudo bem. Deixe que eu me encarrego de Sean e dos meus pais. — Ela olhou no relógio. — Passa um pouco das dez. Por que não começamos agora mesmo? E, olhe, meu nome é Jennie e sei que o seu é Melanie. Bobagem a gente ficar se chamando pelos sobrenomes. É meio antiquado, não acha?

— Nem sei o que dizer! — Melanie estava perplexa.

— Então não diga nada — aconselhou Jennifer. — Vamos começar de uma vez!

Era incrível o que tinha acontecido em tão pouco tempo. Enquanto Jennifer limpava o fogão, Melanie escarafunchou os armários e encontrou dois baldes grandes, que lavou antes de usar. Tirou o casaco mais pesado, afastou a mesa para um canto e começou a lavar o teto com detergente. Era cansativo ficar com os braços levantados o tempo todo e Jennífer a observava de quando em quando, lavando as paredes externas do fogão.

— Acho que fiquei com o trabalho mais fácil — disse ao terminar sua tarefa. — Quer que eu ajude? Ou prefere que acenda o fogão?

— Posso terminar sozinha — disse, baixando um pouco os braços. — Mas se você conseguir achar alguma coisa para acender o aquecedor, acho que seria bom. Eu agora estou suando por causa do exercício, mas o frio aqui deve estar forte.

— Não sei onde é que vou encontrar varetas secas — disse Jennifer, olhando em torno, pensativa. — A lenha que a gente encontrar por aqui vai fatalmente estar úmida, por causa da neve. Olhe, vou dar uma chegada na aldeia e comprar um pouco de lenha seca.

— Que chato! — Melanie mordeu o lábio. — Não tinha pensado nisso.                          ,

— Não tem importância — respondeu Jennifer, sem perder seu sorriso. — Eu vou. É só lavar as mãos.

Enquanto Jennifer estava fora, Melanie desceu da mesa para pegar água limpa. Enquanto o balde enchia, olhou o que já tinha feito. A parte limpa estava com um aspecto melhor, e quando tivesse recebido uma mão de tinta branca estaria melhor ainda. Era difícil limpar tudo aquilo com água fria, seus dedos estavam gelados, mas assim que Jennie acendesse o fogão poderiam esquentar a água.

Ouviu o ruído do carro chegando e foi até o hall esperar a moça. Mas assim que Jennie abriu a porta, Melanie viu por sua expressão que havia problemas.

— Que foi? — perguntou, ansiosa. Mas, antes que Jennie pudesse responder, uma outra figura surgiu por trás dela.

— Sean estava me procurando — esclareceu Jennifer, sentindo-se incômoda. — Nós nos encontramos na aldeia.

— Sei — respondeu Melanie, umedecendo os lábios subitamente ressecados. — Como está, sr. Bothwell? Veio ver como é que vai o trabalho?

— Não estou interessado no que está fazendo, srta. Stewart — rugiu ele, passando por Jennifer e avançando ferozmente para Melanie. — Mas não gostei nada da forma como envolveu Jennifer.

— Sean, eu já expliquei que... — Jennifer tentou dizer, agarrando o braço dele, desesperada.

— Deixe comigo, Jennifer! — gritou ele, sacudindo o braço com violência para se libertar da mão dela. — Muito bem, srta. Stewart. A senhorita sabia que eu não concordava com a sua tentativa de arrumar a casa e assim pensou que, se envolvesse Jennie, poderia dispor de um mediador, não é isso?

— Não preciso de. nenhum mediador, sr. Bothwell. Monkshood é minha. E se eu resolver reformá-la inteira, isso é problema meu. Não preciso de sua aprovação.

— Estou avisando, srta. Stewart...

— Sean, pelo amor de Deus! — Jennifer colocou-se entre os dois. — Isto é ridículo! Se está preocupado comigo, fale de uma vez, não fique inventando outras razões...

— E claro que estou preocupado com você — disse, baixando as sobrancelhas negras sobre os olhos cinzentos. — Mas, além disso, não aprovo os métodos da srta. Stewart!

— Querido, não seja bobo! — Jennifer enganchou o braço no dele. — A casa só tem a ganhar com as coisas que Melanie está fazendo. Então, posso acender o fogão?

— Não! — rugiu Sean, definitivo.

Jennifer apertou os lábios, com raiva, mas incapaz de afrontá-lo.

— Desculpe, Melanie — disse, sorrindo tristemente. — Eu bem que queria ajudar.

— Tudo bem, Jennie — respondeu, fechando os punhos, controlando com enorme esforço a sensação de injustiça que crescia dentro de si. — Eu compreendo.

— Duvido! — comentou Sean Bothwell, azedo.

E, empurrando Jennifer, saiu da casa, batendo com força a velha porta de madeira pesada.

 

 

                                         CAPITULO V

 

 

Melanie achou incrivelmente difícil trabalhar depois que eles se foram. Sentia frio. Antes, movida pelo entusiasmo da atividade, sentira-se aquecida, mas agora, subitamente, tudo parecia sem graça. Largou o pano que estava usando para limpar e vestiu o casaco de pele de carneiro. Antes de mais nada ia fazer funcionar aquele aquecedor e nada haveria de detê-la.

Mas era mais fácil falar do que fazer. Não sabia se Jennifer tinha ou não comprado alguma lenha. O fato é que não tinha na casa nada com que acender o fogo.

Decidida, Melanie saiu e caminhou o mais depressa que podia até a aldeia. O que tinha sido tão rápido de carro era uma caminhada bastante dura, sobretudo naquela superfície escorregadia. A melhora do tempo tinha trazido consigo uma queda de temperatura.

A mulher da loja estranhou quando ela pediu varetas para o fogo.

— A srta. ... srta. Craig esteve aqui agora há pouco comprando isso mesmo — contou ela, com óbvia curiosidade. — Pensei que fosse para a senhora.

— É. Mas preciso de mais algumas. — Melanie sorriu fingindo uma calma que não sentia. — Não se importa, não é?

— Aí está — disse a mulher, colocando diante dela um saco de plástico.

— Muito obrigada.

Melanie pagou, pegou o saco e saiu sem dizer mais nada. Estava tentando não pensar nas razões que teriam levado Sean Bothwell a impedir com tanta veemência que Jennifer a ajudasse, mas era difícil esquecer a cara dele, possesso como estava. Achava a solicitude dele com a mocinha ao mesmo tempo compreensível e perturbadora. Qual seria o envolvimento deles? Será que ele a amava? Por sua maneira de agir dava essa impressão. E se a amasse será que tencionava levar a noiva para viver em Monkshood?

Sacudiu a cabeça, confusa. Se assim fosse, poderia compreender a frustração dele. Mas não podia se deixar levar pela emoção.

Passou os portões e começou a subir em direção a casa. De repente uma lufada de fumaça a envolveu, seguida de outra e mais outra. Arregalou os olhos e olhou para a casa. De uma das chaminés elevava-se uma coluna de fumaça. Excitada, correu para a porta.

— Jennie! Jennie! Já voltei — gritou, ainda no hall.

Mas a casa estava vazia. Voltou para fechar a porta e encostou-se nela, confusa por um momento antes de voltar lentamente para a cozinha. Na sua ausência alguém tinha acendido o fogão e um brilho vermelho e quente inundava a cozinha. Melanie ficou olhando as chamas através da grade, sacudiu a cabeça, largou o saco plástico em cima da mesa e se encostou nela, sentindo-se fraca.

Havia algo de muito enervante em tudo aquilo e sentia vontade de sair da casa imediatamente. Mas nunca se abandonaria a atitudes tão intempestivas. Não era desse tipo. Em vez disso, tirou o casaco e voltou a limpar o forro.

Porém, já estava na hora do almoço e passou só mais quinze minutos trabalhando antes de descer da mesa e limpar as mãos num pano novo. Por precaução abriu a tampa do fogão para olhar. A chama inicial tinha diminuído e precisava de mais combustível. Descobriu que a porta de trás não estava fechada. Portanto, quem quer que tivesse vindo acender o fogão, devia ter entrado por ali. A carvoeira ficava ao lado da porta de trás e ela pegou uma boa quantidade de carvão que colocou sobre as chamas. Feito isso, bem satisfeita consigo mesma, trancou a porta dos fundos e atravessou a casa para sair pela frente.

Assim que chegou à porta da frente, viu, através dos vidros, a silhueta de um homem se aproximando.

Melanie não pôde conter um suspiro de susto e recuou um passo, para não ser vista. Não podia imaginar quem seria, a menos que Jeffrey tivesse vindo procurá-la.

Reunindo toda a sua coragem avançou novamente, mas antes que chegasse à porta ela se abriu subitamente. Para seu grande alívio, reconheceu imediatamente o visitante. Sean Bothwell olhava-a do batente com uma expressão impaciente.

— Está pálida, srta. Stewart — disse ele. — Trabalhar em temperaturas abaixo de zero não deve lhe fazer muito bem, Sobretudo estando tão acostumada aos confortos da vida moderna, como você mesma disse.

— Não estou trabalhando em temperaturas abaixo de zero, sr. Bothwell — respondeu, abotoando o casaco com dedos trêmulos. — Alguém acendeu o fogão para mim.

— Mesmo assim — disse ele, levantando as sobrancelhas —, vai levar um bom tempo p



  

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